VINÍCIUS – BIOGRAFIA

Pedro de Camargo – Vinícius

Pedro de Camargo, mais conhecido por “Vinícius”, pseudônimo que ele adotou e usou por mais de cinquenta anos de trabalho contínuo e perseverante na Doutrina, foi, não há dúvida, o maior educador e evangelizador espírita dos nossos tempos.
Também se dedicou, de corpo e alma, ao setor de assistência social, embora nunca deixasse de acentuar que o objetivo máximo da Terceira Revelação é iluminar as consciências, é anunciar pela palavra, e confirmar pelo exemplo, as verdades do Reino de Deus.
Na tribuna, na imprensa, no rádio e através de seus livros, o grande saber e as virtudes de Vinícius sempre estiveram presentes, esclarecendo-nos e convidando-nos à ascensão. Ao seu bondoso espírito aliava o conhecimento intelectual e intuitivo das coisas humanas e divinas, o que o fazia respeitado, e venerado mesmo, entre os companheiros de lides doutrinárias.
A começar de 1.939, desenvolveu, pelas ondas hertzianas, da Rádio Educadora de São Paulo, um programa evangélico sempre ouvido com agrado e proveito por todos os interessados. Foi diretor- superintendente da primeira “estação dos espíritas” (hoje extinta), a Rádio Piratininga – PRH-3, fundada em 1.940.
Seus esforços a prol da Unificação do movimento espírita brasileiro foram relevantes, e ele próprio esteve lado a lado de outros confrades nas reuniões que conduziram à criação do Conselho Federativo Nacional, tendo sido aquele que, ao encerramento dos trabalhos do Pacto Áureo de 5 de outubro de 1.949, proferiu, a convite do presidente da FEB, belíssima prece.
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Pedro de Camargo nasceu em Piracicaba, Estado de São Paulo, no dia 7 de maio de 1.878. Foram seus pais Antônio Bento de Camargo e Sebastiana do Amaral Camargo. Entre os cinco filhos do casal, três homens e duas mulheres, ele era o quarto.
Fez os seus primeiros anos de escolaridade no “Colégio Piracicabano”, educandário metodista, de fundação norte-americana. Nessa época, a diretora do estabelecimento era a missionária Martha H. Watts, de quem ele guardou sempre uma lembrança querida e uma grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da morte da missionária, ocorrida nos Estados Unidos da América:
“Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.
Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu. Os princípios salutares de moral que ministrou-me, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem-me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo-lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi”.
Cedo, perdeu o pai, e cedo começou a ganhar a vida. Entrou para o comércio. Trabalhava com seus irmãos mais velhos.
Jovem ainda, e influenciado por um amigo, resolveu estabelecer-se. Esse amigo, José Bento de Carvalho, morava em Santos e, de quando em vez, viajava para Piracicaba, a fim de colocar as suas mercadorias – secos e molhados finos. Foi dentro desse ramo que Pedro de Camargo deu início ao seu negócio.
A casa chamou-se “O Garrafão”. Teve êxito, prosperava rapidamente. Todavia, pouco tempo depois, ampliando-a deu preferência a “louças e ferragens”. Também o nome da casa foi mudado para “As Duas Ancoras”, onde trabalhou por muitos anos, e sempre bem sucedido. Não chegou a ser rico, porém nunca lhe faltou nada, nem à sua família. Amparou muita gente, e jamais alguém lhe bateu à porta que não fosse atendido e bem socorrido. Que o digam os piracicabanos de seu tempo.
Ele e José Bento de Carvalho foram sempre muito amigos – amigos do peito. Ambos bem jovens, já abraçavam com entusiasmo a religião espírita, nela tendo encontrado, afinal, explicações racionais que em vão buscaram nas demais doutrinas religiosas, inclusive no Metodismo.
Casou-se em primeiras núpcias com D. Elisa Runcke, de quem enviuvou muito cedo. Desse consórcio tiveram uma filha (já falecida) a quem deram o nome de Martha, em homenagem à querida mestra.
Em segundas núpcias casou-se com D. Messiota de Campos Pereira, de Juiz de Fora, Minas Gerais, falecida em 26 de novembro de 1.952. Desse casamento deixou cinco filhos, um homem e quatro mulheres.
Viveu em Piracicaba até o ano de 1.937, ali tendo dirigido a Igreja Espírita “Fora da Caridade Não Há Salvação”. Transferindo-se para a cidade de São Paulo, em 1.938, nessa capital permaneceu até a data de sua desencarnação.
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Pedro de Camargo educou todos os filhos no Colégio Piracicabano, que então estava sob a direção de Miss Lila A. Stradley, com quem ele manteve boas relações de amizade. Foi procurador do Colégio por muitos anos. O Colégio Piracicabano era, na época, um dos melhores educandários do Estado de São Paulo e, até mesmo, do Brasil. Seguindo os currículos e os métodos das escolas norte-americanas, atraía para lá famílias distintas e tradicionais da Capital.
O único filho varão de Vinícius cursou em seguida a Escola Politécnica de São Paulo, e alcançou o cargo de diretor da Secção de Engenharia Nuclear do “Reator” de São Paulo.
Educação esmerada receberam as filhas, todas casadas, exceto D. Ruth.
Onze netos e dois bisnetos encontraram no coração amoroso de Vinícius um segundo lar.
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Por muitos anos presidiu a “Sociedade de Cultura Artística” de Piracicaba. Levou para lá os melhores artistas.
Nunca se afinou bem com a política. Muito moço, ao assumir a cadeira de vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do Partido Republicano, disse, entre outras afirmativas, o seguinte:
“Não sou político, isto é, não me comprometo absolutamente com as ideias de um partido ou com os princípios que os constituam, porque os partidos têm suas disciplinas e não desejo seguir outra disciplina que não seja a do dever e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência”.
E – como dizia ele mais tarde – porque agi de conformidade com este critério, não me quiseram mais!
Sua vida intelectual; dedicou-a ao estudo do Evangelho à luz do Espiritismo. Poucos se aprofundaram tanto no assunto. Era, de fato, um apaixonado admirador do Mestre, tanto que todas as suas obras escritas tiveram esses títulos: “Em Torno do Mestre”, “Na Seara do Mestre”, “Nas Pegadas do Mestre” e “Na Escola do Mestre”, as três primeiras publicadas pela Federação Espírita Brasileira. É ainda de sua autoria o opúsculo – “Cinquentenário d’O Piracicabano”.
Foi grande orador, sempre dentro do seu tema predileto, emocionando a quantos tinham a ventura de ouvi-lo. Conselheiro da Federação Espírita do Estado de São Paulo, ali introduziu as suas apreciadíssimas Tertúlias Evangélicas, realizadas todos os domingos pela manhã, com o comparecimento de grande assistência.
Perene admirador da Casa de Ismael, sempre lhe consagrou inteiro apoio, tendo colaborado por dezenas de anos no “Reformador”, com artigos que primavam pela essência altamente doutrinária e evangélica, num estilo escorreito e, ao mesmo tempo, fluente e didático. Essa colaboração escrita, ele a estendeu a inúmeros outros órgãos da imprensa espírita brasileira.
Chegou a ser presidente da União Federativa Espírita Paulista, e durante mais de uma década foi diretor-gerente de “O Semeador”, órgão da Federação Espírita do Estado de São Paulo, fundado em 1.944.
Presidiu o “Instituto Espírita de Educação” até 1.962, obra de grande relevância em S. Paulo. Como parte desse Instituto, surgiu em 1.955 o Externato Hilário Ribeiro, elogiadíssimo por quantos o visitam.
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Havia alguns anos que os achaques naturais de uma idade avançada impediam-no de maiores atividades, daí porque sua colaboração escrita e falada quase desapareceu.
A última carta que ele endereçou ao presidente da FEB, Sr. A Wantuil de Freitas, datada de 14 de Agosto de 1.965, foi escrita com a ajuda do seu filho, e dizia assim num certo trecho:
Guardo com grande carinho a fotografia da reunião de 1.949. Os resultados dessa reunião, se não foram completos, foram todavia testemunho do que já se conseguiu a respeito da unificação.
As saudades não matam, mas maltratam. Outro dia encontrei uma velha fotografia do Manuel Quintão, que veio aumentar ainda, se possível, as recordações saudosas daqueles dias. Lembrei-me do Dr. Guillon Ribeiro, do Leopoldo Cirne, do Frederico Fígner e de outros companheiros. Ainda tenho a esperança de vê-lo, aqui, em São Paulo, na primeira oportunidade.
A minha grande distração que era ler e escrever um pouco; estou impedido de fazê-lo, em virtude dessas dificuldades dos sentidos, particularmente da vista”.
Às 20 horas do dia 11 de outubro de 1.966, o Espírito de Vinícius passava à Pátria Espiritual. Foi-lhe dado, então, ver, olhos não mais enevoados, os companheiros a que ele se referira em sua carta, rodeados por uma multidão de criaturas que se beneficiaram com seus ensinos, todos homenageando-o pelo brilhante êxito de sua missão de evangelizador nas terras brasileiras.

Tal foi a existência de Vinícius, toda ela dedicada à causa da educação e do soerguimento moral das criaturas humanas. Daí porque, dias depois de atravessar as aduanas do Além, ele pôde transmitir bela e confortadora mensagem aos seus amigos e companheiros da Casa de Ismael, participando-lhes a sua feliz ressurreição nos planos da Vida Maior!