Compreendemos a dor que se aprofunda como impiedoso aguilhão, no coração de mãe, ao ver o seu filho querido em tão tenra idade, partir inesperadamente do aconchego de seus braços, inesperadamente, sem qualquer explicação satisfatória e racional, compreensível ao entendimento materno, que impotente ante o infausto acontecimento, busca recompor o equilíbrio perdido, a fim de resignar-se ante os caminhos traçados pelo destino.
Nestes momentos, quase sempre as palavras de conforto ao coração enlutado, caem no vazio, sem condição de balsamizar as chagas abertas no sentimento de perda, porém, o conhecimento da Doutrina Espírita se apresenta como uma tábua de salvação, para esclarecer as finalidades e motivações de uma jornada tão curta para uma existência que prometia ser promissora.
Naturalmente, uma jornada curta, seja de alguns anos, alguns meses ou dias, ou mesmo uma jornada de algumas horas, quando não se apresenta frustrada ainda no ventre materno, em severa obediência aos Códigos Superiores da Vida, todas elas, guardam imponderáveis antecedentes, que se perdem na romagem dos tempos, e no entanto, são necessidades dos espíritos ali envolvidos, para leva-los ao progresso evolutivo e consequente processo de auto aperfeiçoamento.
Quando alguém em jornada curta vem à terra, para passar por estas circunstâncias, em que seu passado apresenta uma nódoa, uma mancha ou estigma, resultantes das Divinas Leis que foram defraudadas, necessita dos recursos existentes nos mecanismos de amparo da Misericórdia de Deus, a fim de retificar roteiros equivocados e comprometedores, para poder retomar o caminho da harmonia e do equilíbrio, momentaneamente abandonado por invigilância ou indiferença.
Uma jornada curta representa uma oportunidade de recomeço ao suicida, que inconscientemente deu cabo da própria vida, tentando evadir-se das adversidades e sofrimentos da existência que levava, como se isso fosse possível.
De outras vezes são oportunidade de retificação de caminhos, daqueles que colocavam a vida em jogo, através da prática de esportes violentos, agressivos ou radicais, dos confrontos armados, das disputas da cobiça por heranças e patrimônios, ou do exibicionismo das brincadeiras de mau-gosto, apontando armar para o próprio ouvido ou do amigo de forma infeliz.
Essas jornadas curtas guardam profundas lições para o espírito eterno, que no cômputo geral, após as necessárias reflexões compreende que alguns anos, meses ou dias, nada representam como prejuízo em sua evolução, pelo contrário, permite ao espírito imortal compreender melhor a Justiça Divina, que supostamente, ao punir o réprobo, oferece as condições necessárias para a reparação dos danos.
Quanto aos pais, que os receberam por tão pouco tempo, sem entenderem a finalidade de uma vida tão curta, sofrem dores pungentes na alma e no coração, necessitando trabalhar a própria resignação, diante de fatos para os quais não existe solução, a não ser a aceitação, acerca da ação da justiça, porquanto, sob o sol da Misericórdia Divina, todos serão amparados, tanto o ente que partiu, aparentemente sozinho, quanto os que aqui ficaram.
Por isso, pais que recebem em seus lares esses espíritos, devem agradecer a Deus a presença desses anjos em suas vidas, que apesar do rápido retorno à vida espiritual, deixaram muitas lembranças risonhas, de ternura e afetividade que ensejaram momentos alegres e esperançosos, restando agora, lágrimas furtivas e olhares distantes e tristonhos diante do berço vazio.
E em razão disso a Doutrina Espírita em tão boa hora, alarga a compreensão das criaturas, aumenta o discernimento ante a apresentação de novos paradigmas, reafirmando que estamos todos fadados a viver nossa imortalidade, dentro ou fora do copo, porém, sempre presente na vida imortal.
Aceitar, com resignação os desígnios de Deus que ainda não compreendemos, e procurar conviver em equilíbrio e harmonia a presente jornada provacional, posto que são ocorrências que conduzem em seu bojo, muitas bênçãos de renovação e progresso.
Indiscutivelmente sabemos quanto sofrem esses corações; quanto a saudade maltrata os sentimentos e machuca os corações; quanto é dolorido uma maternidade frustrada no nascedouro ou, o aborto espontâneo de uma natimorto ou anencéfalo, deixando na retaguarda um rastro imenso de aflitivas indagações sem as correspondentes respostas.
Temos que entender que a vida prossegue, incessantemente, e os espíritos que vieram nessas circunstâncias, depois do necessário refazimento, onde poderão remodelarem seus perispíritos lesados ou deformados, poderão renascerem em futuro próximo, talvez até nos mesmos lares, reatando os mesmos laços afetivos momentaneamente rompidos, para nova jornada de permuta de afeição e carinho, porquanto, Deus é Amor, e é em nome desse amor que a benção da reencarnação se faz mais uma vez, para harmonia das leis, amparo aos que se encontram em aflições e bem-aventuranças aos que choram em nome do amor de Deus, nosso Pai.
Inocência da Caridade