ONDE ESTÃO OS FANTASMAS?

Ary Brasil Marques
A minha infância foi pontilhada de casos de aparições, de fantasmas e de medo. Histórias terríveis eram objeto de assunto dos mais velhos. Havia uma empregada em casa de minha avó que tinha por hábito contar essas histórias para as crianças. Ela falava de entes do outro mundo, de mula sem cabeça, de monstros, de lobisomem, de gente que já havia morrido que aparecia às pessoas na porta do cemitério, e atribuía tudo isso a coisas sobrenaturais, fantasmagóricas, horripilantes. Temia-se muito e o medo fazia com que um simples estalo de móveis era tido como manifestação dos espíritos, das almas penadas e dos duendes.
Quando menino, cheguei a morar em uma casa, na cidade de Alfenas, que era mal assombrada. De fato, ali, muitas vezes fiquei com os cabelos em pé ao ouvir, de meu quarto, barulho de pratos e talheres caindo ruidosamente na cozinha e passos pela casa. Quando íamos conferir, não havia nada, nem pratos nem talheres. A cozinha estava em ordem, quieta e vazia. Esse fato só terminou após a realização de uma sessão espírita, em cuja sessão manifestaram-se três mulheres, irmãs, que haviam morado naquela casa e que julgavam ainda estar vivendo lá.
O mundo mudou. As crianças hoje já não temem monstros, lobisomem ou mula sem cabeça. A Doutrina Espírita veio trazer luz e explicações para tudo, e os fatos sobrenaturais deixaram de ser maravilhosos e passaram a ser encarados com naturalidade. Os espíritos que estão no plano espiritual podem, em algumas circunstâncias, vir até nós e até se comunicarem conosco por meio da mediunidade. Só que, ao se tornarem fatos naturais, perderam a condição de maravilha, de aberrante, de inusitado. Por essa razão, perderam também o interesse do grande público, sempre querendo ver algo diferente.
Fatos naturais acontecem todos os dias. Não chamam a atenção. Não trazem medo às crianças. A presença de um ser desencarnado se tornou mais rara, principalmente porque agora não é mais fenômeno sobrenatural.
Onde estão os fantasmas? Fatos espíritas acontecem em todo o mundo, a toda hora, mas passam despercebidos.
Ninguém mais teme os fantasmas. E os espíritos, nos dias de hoje, procuram vir até nós para nos ensinar, para nos esclarecer, para dialogar conosco e não mais para nos amedrontar.

SBC, 12/06/2007.