Ary Brasil Marques
No mundo moderno, nada funciona sem dinheiro. Tudo o que se consome, tudo o que a pessoa necessita para viver, depende de recursos financeiros.
As entidades assistenciais e as entidades religiosas não fogem à regra, e dependem de recursos e de receita para poderem fazer frente às despesas de manutenção, contas de água, de luz, de telefone, de transportes, de encargos com empregados, de aquisição de materiais de limpeza, de materiais de escritório, de livros, de conservação de seus imóveis, etc.
A maioria das religiões encontra solução para esses problemas com a cobrança de dízimo de seus fiéis. Embora não condenando os que utilizam dessa prática, os espíritas não acham ser ela aplicável ao movimento por não se identificar com as normas do dai de graça o que de graça recebeste.
As organizações espíritas geralmente têm como receita a mensalidade de seus associados, de caráter facultativo, bem como de doações espontâneas recebidas de pessoas físicas e jurídicas, além de campanhas, eventos sociais e venda de materiais recebidos como doação.
Algumas entidades realizam noites de pizza, noites italianas, bingos entre os simpatizantes em ocasiões festivas esporádicas, lucro na venda de livros e outras ações eventuais. Lutam elas com dificuldades mas mesmo assim não costumam falar em dinheiro aos frequentadores. Falar em dinheiro é tabu dentro dos centros espíritas, que se limitam, às vezes, a pedir colaboração de modo bem tímido.
No Joanna de Ângelis, além de outras realizações no campo da assistência social, há um trabalho maravilhoso de amparo às gestantes, chamado de Projeto Mãe Maria. Semanalmente esse projeto realiza reuniões com as futuras mamães, pessoas carentes moradoras das favelas da região, com aulas sobre saúde, higiene pessoal, cidadania, puericultura e assuntos jurídicos, ministradas por médicos, advogados e outras pessoas especializadas. Cada curso, que acontece geralmente duas vezes por ano, tem ao todo 14 aulas. Ao final de cada curso, cada mãezinha do grupo recebe um enxoval completo para seu bebê.
Além disso, as crianças pertencentes àquelas famílias carentes recebem auxílio em cestas básicas.
Tudo isso é feito com recursos adquiridos em campanhas, solicitação de doações a empresas e trabalho de voluntários na confecção de roupinhas para os recém-nascidos.
Considerando o fato de que o dinheiro é ferramenta indispensável para se movimentar qualquer empreendimento, beneficente ou não, acredito que se pode sugerir como uma possível solução para obtenção da receita necessária, a organização, em forma de empresa, de uma pequena indústria de confecções.
As roupas produzidas por essa empresa, que poderia ter voluntários que trabalham gratuitamente e também empregados assalariados, teriam duas alternativas de saída. A primeira como doação aos assistidos. A segunda como venda ao público, com renda revertida em favor da organização.
Essa sugestão teria duas grandes vantagens. Primeiro o de proporcionar receita para suportar as despesas de funcionamento. E ainda proporcionar trabalho digno a pessoas carentes, desempregadas, que além de ganhar o salário estariam colaborando em trabalho assistencial de alto valor social.
De qualquer maneira, temos que parar de considerar o dinheiro como tabu, pois é ele que, na vida material, movimenta o mundo.
SBC, 06/07/2007.