Ary Brasil Marques
Falar aos jovens que terminam mais uma etapa em suas vidas e se preparam para adentrar ao Mundo Real, não é fácil.
Uma coisa é estar na condição de orientador, de professor, de dirigente; outra coisa muito diferente é participar, como personagem ativo, do cenário da vida.
Olhando para nosso mundo, constatamos que há uma profunda mudança nos conceitos, nos conhecimentos, na ética, em tudo. As velhas estruturas nas quais se baseavam a educação e o preparo de todos nós para a realidade da vida, ruíram como castelo de cartas.
A queda do muro de Berlim representa a derrocada das velhas fórmulas e o nascimento de uma nova época, em tudo diferente do mundo que encontramos quando nos tornamos adultos.
De repente, os valores mudaram. O falso moralismo, a rigidez de um comportamento repleto de hipocrisia, a própria moral, foram sepultados pela nova onda.
O progresso vertiginoso da tecnologia e a busca incessante do ser humano pela conquista da felicidade, trouxeram para todos uma nova consciência.
No preparo da juventude para os desafios de uma nova época, além da inteligência que é e sempre será necessária, surge agora a necessidade de um preparo emocional, pois só esse novo fator poderá proporcionar-nos equilíbrio e firmeza para suplantarmos os obstáculos e as asperezas do caminho.
Buscando um símbolo para motivar os queridos jovens que estão no limiar de seu ingresso no mundo competitivo e de tecnologia tão avançada, lembrei-me das palavras do maior e mais extraordinário personagem que pisou a face da Terra: – “se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis para essa montanha: arreda-te daqui para lá e ela se transportaria.”
O grão de mostarda representa a fé. Fé em Deus, Pai de Amor e de Bondade infinitos; Fé em nós mesmos, que somos todos centelhas divinas, criados para alcançarmos a plenitude e a felicidade; Fé na humanidade, em nosso semelhante; Fé no progresso e na construção de um mundo melhor, mais justo, mais alegre, mais homogêneo, mais fraterno.
Uma imagem se desenhou em minha mente. Dentro de um cercado, estão dois burrinhos, amarrados um ao outro por uma canga, de modo que onde um for, o outro terá que ir também.
Nas duas extremidades opostos do cercado, uma porção de alimento e água. Cada um dos burrinhos, com fome e sede, procura caminhar para a sua porção, mas ao se movimentar, arrasta consigo o companheiro que está preso a si pela canga. E não saem do lugar. É uma tarefa impossível, pois os interesses de cada um estão em lados opostos.
Depois de muita luta, surge uma ideia luminosa. Os dois burrinhos resolvem colaborar um com o outro. Ambos, juntos, vão até o primeiro canto, onde um deles se alimenta. Depois, ainda juntos, vão até o outro lado e o burrinho que não havia comido tem sua vez de se alimentar.
Essa imagem mostra claramente que tudo nos é possível se juntarmos as forças. Não há mais lugar em nosso mundo para o egoísmo, para o individualismo, para o egocentrismo.
A crise em que se debate nosso planeta, nossos governos, nossas economias, nossas instituições, é o começo da grande transformação que há de vir.
Para vencermos, teremos que ter fé em nós mesmos, fé em nosso semelhante, e espírito de equipe. Deixando de lado o conceito de que para vencermos, alguém tem que perder, construiremos um mundo novo baseado na solidariedade, no trabalho firme e no cultivo da alegria interior.
Meus jovens, o futuro será o que vocês fizerem dele. Em suas mãos, na sua aplicação e tenacidade, na harmonia que vocês tiverem, surgirá como resultado fantástico, um mundo melhor, mais alegre, mais feliz. De cada um de vocês e de todos nós, juntos, dependerá a humanidade do futuro.