Na salutar convivência com o Mestre Jesus, o evangelista Matheus em suas anotações, destaca o seguinte texto: “Dá conta da tua administração…” o que nos leva a tecer alguns comentários acerca disto, sem a pretensão de direcionar ou impor nossa interpretação sobre o entendimento de qualquer outra que já tenha sido firmada.
Quando alguém se encontra responsável pela administração de qualquer coisa, naturalmente, está sujeito a ganhos e perdas, dependendo da forma que imprime a própria administração, levando-o a contabilizar os sucessos quando bem empreendido ou, arcar com o ônus do fracasso quando mal sucedido neste tentame, porém, ciente que a responsabilidade lhe compete exclusivamente.
Vejamos o que implica administrar a existência de um indivíduo, em suas diversas facetas, começando pelas suas necessidades mais elementares, como a alimentação, por exemplo.
Jesus, o Divino Amigo estabelece que “nem só de pão vive o homem”, logo, podemos deduzir que ao lado do alimento material, com todos os recursos nutritivos e saudáveis para o equilíbrio orgânico, faz-se necessário incluir os nutrientes da alma, através do cultivo dos bons pensamentos acerca da paz, da saúde, do trabalho, do lar, das afeições de amigos e familiares que fazem parte da convivência em comum, com gratidão pelas bênçãos que felicitam a todos, e que muitas vezes ficam esquecidas por falta de reconhecimento.
Entretanto, o homem possui necessidades outras que precisam ser bem administradas, como as emoções e sentimentos, alicerces indispensáveis para um bom equilíbrio mental, tão imprescindível nos dias que correm, onde as situações de competição e disputa exigem respostas imediatas frente aos desafios, sem prejuízos psíquicos que alterem o equilíbrio e a harmonia intima da criatura, evitando-se os estresses, as depressões e os transtornos comportamentais, responsáveis por largas parcelas das enfermidades de caráter emocional, que desestruturam as defesas naturais que todos possuem, com graves reflexos o corpo físico.
Devemos ainda citar, a administração dos sonhos, aspirações e ideias de progresso e evolução, adequando-os, quando possível, as necessidades de uma sociedade cada vez mais exigente quanto a “performance” dos cidadãos que a compõem, onde a informação, o conhecimento, a especialização e a competência cada vez mais massificantes e específicas, excluem do seu seio, os indivíduos sonhadores, idealistas, visionários, sem espaço para devaneios mentais ou esperançosas utopias, como se fossem crimes imperdoáveis que precisam ser extirpados.
Além disso que foi exposto, o homem enquanto ativo dentro da coletividade, se relaciona no trabalho, na família, na escola, nos agrupamentos sociais e religiosos, onde naturalmente será cobrado por todos, na administração do seu tempo, para atender a cada um desses setores, cumprindo as exigências que lhe estão afetas por decorrência das tarefas assumidas.
Seja no trabalho por força de contrato e salário, cujas clausulas exigem o cumprimento sem o que não há remuneração, na família, como pai ou companheiro no papel de provedor, com responsabilidades no amparo e educação dos filhos, na assistência pessoal e material aos demais membros do clã familiar, caso existam, assim como, procurando estudar com a finalidade de alargar os horizontes do conhecimento pessoal, objetivando equipar-se de instrumentos capazes de impulsioná-lo nos degraus do progresso, sem perder de vista seu papel como cidadão, que não deve ser um peso ou fardo difícil para a sociedade onde encontra-se inserido. É sempre preferível encontrar-se na condição de atender o próximo, que situar-se como aquele que depende da caridade alheia, ou dos programas sociais do poder público para sobrevivência.
Assim, onde quer esteja o homem, certamente em seu entorno, encontrar-se-á também, inúmeros motivos impulsionando-o a prestar contas de sua administração, seja no plano individual, familiar ou social, existe implícito na sua ação uma relação de direitos e deveres, que não se deve ignorar, embora as cobranças sejam sempre alardeadas de maneira altissonantes, enquanto os deveres costumam passar desapercebidos.
Por isso, o texto de Matheus com que iniciamos nossos comentários, é extremamente oportuno e atual, o que equivale dizer em nossa modesta apreciação que “Dá contada tua administração…” pode ser um estímulo para todos esforçarem-se em manter seus deveres retamente cumpridos.
Inocência da Caridade