O BARRICACHO



Por vezes, na atividade
Das viagens, do transporte,
O animal em disparada
Promete desastre e morte.

Por mais que sustenha a rédea
E colabore o cocheiro,
Em tudo, paira a ameaça
De rumo ao despenhadeiro.

Trabalhos imprescindíveis
Sofreriam dilação,
Se o condutor não agisse
Com firmeza e precisão.

Antecipando o terror
Da descida, abismo abaixo,
O montador ou o cocheiro
Recorrem ao barbicacho.

Reage o animal teimoso,
Rebela-se e pinoteia,
Mas tudo cessa de pronto,
Na apertura da correia.

Se busca saltar de novo
Sob fúria mais violenta,
Eis que lhe vaza a boca
Espuma sanguinolenta.

De queixo posto no entrave,
Qualquer coice dado a esmo,
Se pode ofender os outros,
Dói muito mais nele mesmo.

Em pouco tempo o rebelde,
Agora sem mais descanso,
Trabalha tranqüilamente
Humilde, bondoso e manso.

Assim, também muita gente
Em falsa compreensão,
Ao invés de trabalhar,
Faz queixa e reclamação.

*

Contudo, à beira do abismo,
Antes da queda ao mais baixo,
Recebem os linguarudos
As bênçãos de um barbicacho.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier