O AMOR COBRE A MULTIDÃO DE PECADOS

Ary Brasil Marques
O tema que nos foi proposto sugere a análise inicial da definição da palavra pecado. O que é pecado? Desde crianças, fomos educados a nos considerar pecadores, e sempre estamos pedindo perdão a Deus por nossos pecados… Segundo o conceito das religiões, todos nós temos ao nascer o pecado original, decorrente do pecado cometido por Adão e Eva, expulsos do paraíso por um Deus rigoroso e enérgico.
Procuramos no dicionário o significado de pecado. Lá encontramos a seguinte definição: “Pecado é a transgressão dos preceitos e das leis da Igreja.” Analisando essa definição, concluímos que todos aqueles que não pertencem a essa ou a qualquer outra igreja não podem ser considerados pecadores por não estarem sujeitos às leis e preceitos que não conhecem.
O pecado é confundido frequentemente com os erros que cometemos. Quando erramos, somos taxados de pecadores, e procuramos de imediato pedir perdão a Deus por esses erros. Na realidade, erro não é pecado. Erro é a tentativa fracassada do acerto. No processo da evolução, no caminho de nossa aprendizagem, erramos muitas e muitas vezes, até aprendermos. Aqui entra em cena magnífica lei automática de reajuste, criadas por Deus, chamada Lei de Causa e Efeito. Por essa lei, o ser humano colhe ao longo do caminho tudo aquilo que plantou. Assim, quem planta bananas, por exemplo, jamais colherá maçãs.
É uma lei perfeita, idealizada pelo Criador justo e perfeito, mecanismo automático que faz com que a criatura que erra, livre para fazer as tentativas necessárias à sua aprendizagem, colha as experiências negativas até que, por um processo de repetição, errando, caindo, levantando, tornando a errar, caindo de novo, adquira finalmente a experiência necessária e acabe aprendendo.
Tomemos como exemplo uma criança. Quando ela nasce, não sabe andar nem falar. Na sua evolução, vai experimentando imitar os adultos. Assim aprende a falar e a andar. Nas tentativas que faz, erra, cai, se machuca, mas é isso que lhe dá a experiência para se firmar e conseguir êxito.
Outro exemplo: Para aprendermos a andar de bicicleta, caímos muitas vezes. No princípio somos inseguros, e o erro é o instrumento que funciona como uma alavanca de aprendizagem. Quem não experimenta não erra, mas também não aprende.
O erro implica na aprendizagem e na reparação. O perdão que todos queremos ter é a alegria de superarmos a nós próprios e vencer as dificuldades. Deus nos deu o livre arbítrio para usarmos livremente tentando aprender.
Erramos, e errar é humano. Caímos, sofremos as consequências de nosso erro. Tantas vezes que forem necessárias. E aprendemos. E evoluímos.
No processo de colheita daquilo que plantamos, as consequências negativas dessa colheita são erroneamente atribuídas como castigo divino. Ao contrário do que pensamos, Deus não castiga ninguém. Ele é soberanamente justo e bom, e nos ama intensamente. Ele nos criou simples e ignorantes, nos deu o livre arbítrio, e nos espera a todos felizes e perfeitos lá na frente, quando atingirmos a plenitude destinada a todos os filhos de Deus.
Há duas formas de se aprender e de quitarmos as dívidas que contraímos com os nossos erros. Uma, a mais dolorosa, é o retorno em forma de sofrimento, do que erramos.
A outra, em forma de trabalho na aplicação do amor incondicional a nossos semelhantes, no perdão, no serviço desinteressado, na prática do bem.
Essa segunda forma justifica a frase dos apóstolos que muitos atribuem a Jesus, mas que na realidade é de Pedro: “O amor cobre a multidão de pecados.”
Como confundimos erros com pecados, a nossa prática do amor cobre sem dúvida tudo aquilo que fazemos de errado. Pagamos não em moeda da dor, instrumento maravilhoso de resgate. Pagamos em serviço, em amor, e ai nos lembramos de inúmeras criaturas que passaram pela Terra servindo e amando.
Nos lembramos de Madre Teresa de Calcutá, da Irmã Dulce, de Chico Xavier e de tantos outros que, com amor, nos mostraram o caminho suave da evolução com menos dor, e com mais amor.

SBC, 23/10/2003.