Ary Brasil Marques
Muita gente ora a Deus em momentos críticos de sua existência, pedindo que Ele faça um milagre que lhe permita sair da situação aflitiva em que se encontra.
Esse pedido é feito muitas vezes para tentar reverter coisas irreversíveis, como por exemplo a cura de uma doença incurável ou a salvação em um grave acidente.
Vamos analisar o milagre segundo o nosso ponto de vista. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Ele é o nosso criador, infinitamente bom e justo, e perfeito em todos os seus atributos. É claro que Ele tudo pode, inclusive derrogar as leis que criou. Mas será que Deus faria isso?
Acreditamos que todas as coisas que nos acontecem são efeitos cuja causa está em nós mesmos, em nossos atos pretéritos nessa ou em vidas anteriores, e que sua ocorrência faz parte da realização da lei de causa e efeito a que estamos sujeitos. A lei não tem a finalidade de nos punir, mas sim de nos educar. Somos espíritos imortais, e a morte do corpo físico não é o fim de nossa existência.
Em nossa opinião, caso Deus quisesse fazer um milagre para nos livrar daquilo que em nossa opinião é um mal, Ele estaria nos tirando a oportunidade de aprender e de progredir.
Dirão alguns que há muitos casos comprovados de milagres. Há pessoas que são desviadas dos locais de acidentes por acontecimentos fortuitos. Outros são curados de doenças incuráveis por intervenção de espíritos superiores ou pela sua fé, e isso caracteriza um milagre.
Como ficamos então? Há ou não há milagres?
Acho que o que é considerado milagre nada mais é do que a conquista de um espírito encarnado. Por mérito seu, por conquistas espirituais que tenha alcançado, muitos conseguem alterar em parte os efeitos de seu débito cármico. Eles conseguiram pagar suas dívidas através de outros meios.
Um caso famoso comentado no meio espírita é o daquela pessoa que trabalhava com afinco na ajuda ao semelhante, na prática da caridade e na divulgação do Evangelho. Um dia perdeu um dedo em um acidente ocorrido na fábrica onde trabalhava. Seus companheiros no Centro Espírita que atuava estranharam que uma pessoa de tantos méritos não tenha obtido auxílio da espiritualidade e o poupado da dor e da perda.
Em resposta os mentores lhes explicaram que aquela pessoa tinha um débito cármico e que deveria perder todo o braço, mas que em virtude de seu trabalho espiritual, granjeou méritos que fizeram com que a perda do braço ficasse reduzida à perda do dedinho.
Em resumo, Deus tudo pode mas o que consideramos milagre é apenas uma forma diferente do cumprimento da lei.
SBC, 28/07/2007.