Ary Brasil Marques
Cada semana vou retratar uma pessoa que marcou a minha vida e que nos legou exemplos maravilhosos.
Como primeiro a figurar nessa grande galeria, hoje falarei de Jerônimo Mendonça.
Quando jovem, Jerônimo tinha um corpo atlético que costumava admirar ao espelho se julgando um Tarzan. Uma doença insidiosa surgiu em sua vida, sem aviso prévio. Dores nas pernas e a paralisação progressiva dos membros do corpo. Numa sequência, Jerônimo passou do uso da bengala à muleta, depois à cadeira de rodas e acabou ficando em uma cama tipo maca totalmente imobilizado.
Uma pessoa que desde jovem perdeu todos os movimentos de seu corpo e depois ainda ficou cego, e não obstante continuou sorrindo, cantando e proferindo palestras e palavras de otimismo a quem dele se aproximasse, é exemplo para todos.
Jerônimo não tinha nada para se alegrar, mas era alegre. Ainda soam em meus ouvidos os seus brados “Que beleza!” que eram sua marca registrada.
Nunca se queixou. Pelo contrário, mesmo com as suas enormes limitações, construiu, administrou obras assistenciais e levou consolo pelo telefone ou pessoalmente a centenas de pessoas. Seu único instrumento que sobrou, uma voz forte e maravilhosa, esteve diariamente a serviço do bem.
Há pessoas que se queixam de problemas da vida, mas esses problemas são muito pequenos em comparação aos que Jerônimo enfrentou em sua existência.
Caso uma mosca pousasse em seu rosto, ele não tinha condição por si mesmo de a afastar. Permanecia de costas, imóvel, podia usar apenas a sua voz. Não conseguia se virar, trocar de posição, dependia de terceiros para a sua higiene pessoal ou para se alimentar. E qual era a reação de Jerônimo? Cantava.
Contava casos. Ditava livros. Pregava o Evangelho, na prática. Sempre sorrindo, sempre distribuindo amor.
Jerônimo ganhou de presente uma viatura, na qual era acomodado em sua maca, e viajava levando sua palavra de fé e de esperança a um grande número de cidades brasileiras. Santo André teve a felicidade de o receber por diversas vezes.
Tivemos a oportunidade de o visitar em sua cidade de Ituiutaba. Lá conhecemos várias obras de Jerônimo. Asilo, orfanato, assistência à cadeia pública levando o Evangelho aos presos e o Centro Espírita que ele frequentava.
Certa vez, em Ituiutaba, Jerônimo conversava com um grupo de pessoas. De súbito, ele disse: “Minha mãe acaba de cair lá na rua.”
Não sabemos como ele percebeu isso, pois estava longe, dentro da casa. Mas realmente sua mãe, naquele momento, caíra na rua, felizmente sem maiores consequências.
Sua mediunidade era extraordinária e ele foi muitas vezes a Uberaba falar com o nosso querido Chico Xavier. A reunião dos dois médiuns era sempre um acontecimento memorável.
Em minha existência, conheci muita gente. De todos os grandes homens que conheci, Jerônimo Mendonça foi o mais paciente, o mais humilde e o trabalhador mais atuante no serviço do bem.
Por tudo isso, ele é o meu personagem da semana número um.
SBC, 11/07/2007.