Sou dos que acreditam que nós espíritas precisamos ser mais audaciosos, mais ousados (vide pergunta 932 – O Livro dos Espíritos). Principalmente na divulgação da Doutrina Espírita, pois em outros campos até que estamos indo bem. Acontece que, infelizmente, alguns companheiros espíritas estão sendo ousados onde não deveriam ser.
Explico: existem veículos de divulgação espírita (jornais, revistas, televisão) que divulgam em seus artigos ou programas as divergências existentes entre os espíritas, seja no campo das ideias, seja no campo pessoal.
Talvez, repito, “talvez” esses polêmicos artigos ou programas até pudessem ser úteis à divulgação de nossa amada Doutrina, se seus autores ou apresentadores soubessem colocar em seus textos o respeito e a caridade que devem existir também entre os espíritas. Mas o que se vê são palavras ferinas, pseudamente sustentadas em razões “lógicas”.
É verdade que existem no meio espírita muitos procedimentos que merecem correções ou mudanças. O Movimento Espírita comete erros, como qualquer outro movimento religioso. Por quê? Porque somos seres imperfeitos, portanto, passíveis de erros. Mas, procurar corrigir, ou tentar corrigir erros dos outros com ofensas é, no mínimo, falta de bom senso e, pior, contraria o princípio harmônico do Espiritismo.
Há algum tempo li num jornal espírita um ferino e indelicado artigo com ferrenhas críticas a um proeminente espírita. Além de eu e muitas pessoas terem lido aquele artigo, alguns pastores protestantes também o leram. Foi um prato cheio para eles. Se, sem motivos, aquela facção do protestantismo gosta de criticar o Espiritismo, imagine só tendo fatos reais para criticar…
O que fizeram os pastores com aquele “rico” material em suas mãos? Pois bem, em rede nacional, divulgaram em seu canal de televisão o mencionado artigo enfatizando o fato que “nem os próprios espíritas se entendem”.
Pena que o autor daquele artigo em jornal espírita não conhece e não aplica aquele antigo ditado: “roupa suja se lava em casa”. E por desconhecê-lo, prejudicou a divulgação do Espiritismo.
Algum tempo depois da ocorrência do incidente acima, uma das revistas espíritas mais tradicionais do país escreveu um belíssimo editorial enfocando os erros cometidos por alguns órgãos espíritas, em relação às críticas entre espíritas. Alertava aquele editorial sobre a necessidade de haver maior compreensão e bom senso entre os espíritas. Foi um texto respeitoso e muito bem escrito. Um alerta necessário.
Mas veja só, caro leitor, em abril de 1.999 tive o desprazer de ler nessa mesma conceituada revista espírita (que, lembro-lhe, havia alertado aos demais veículos de comunicação espírita sobre os malefícios da má imprensa) um artigo onde ela cometia o mesmo erro que antes condenara.
Essa revista também esqueceu que “roupa suja se lava em casa”. Fez ela um desserviço à divulgação da Doutrina. E, pela sua importância e tradição no meio espírita, o desserviço dessa revista foi imenso.
Existem divergências entre padres, pois que são humanos. Existem divergências entre pastores protestantes, pois que são humanos. Existem divergências entre espíritas, pois que somos humanos. Mas, você já leu em algum jornal ou revista católica ou protestante alguma crítica aos seus seguidores? Certamente não.
Eles têm uma assessoria de imprensa que orienta-os: “roupa suja se lava em casa”. O que o leitor quer ler são textos consoladores e não discussões efêmeras onde o ego e a maledicência do autor predominam.
Diz nos Kardec, com sua sabedoria e bom senso (vide “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIX, item 348):
“As reuniões que se ocupem exclusivamente das comunicações inteligentes e as que se dedicam ao estudo das manifestações físicas, têm cada uma sua missão; nem umas nem outras estariam no verdadeiro espírito do Espiritismo, se se olhassem mal, e aquela que atirasse a primeira pedra na outra, provaria só com isso a má influência que a domina; todas devem concorrer, embora por caminhos diferentes, ao objetivo comum que é a procura e a propagação da verdade; seu antagonismo, que não seria senão um efeito do orgulho superexcitado, fornecendo armas aos detratores, não poderia senão prejudicar a causa que pretendem defender”.
Adaptando-se o texto de Kardec para a questão da má imprensa espírita, o que se vê hoje, com alguma frequência, excetuando a boa imprensa espírita (que há, e em bom número), são autores ou apresentadores de televisão fornecendo armas aos detratores da Doutrina Espírita.
Diz o Espírito Fénelon (vide “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXXI, item 13):
“Perguntastes se a multiplicidade de grupos, em uma mesma localidade, não poderia engendrar rivalidades desagradáveis para a Doutrina. A isso responderei que aqueles que estão imbuídos dos verdadeiros princípios desta Doutrina, veem irmãos em todos os espíritas e não rivais; aqueles que vissem outras reuniões com olhos de ciúme, provariam que há entre eles ideia preconcebida de ciúme, provariam que há entre eles ideia preconcebida de interesse ou de amor-próprio, e que não estão guiados pelo amor da verdade.
Asseguro-vos que se essas pessoas estivessem entre vós, aí semeariam logo a perturbação e a desunião. O verdadeiro Espiritismo tem por divisa benevolência e caridade, exclui toda outra rivalidade que não seja a do bem que se pode fazer; todos os grupos que se inscreveram sob a sua bandeira, poderão se estender a mão como bons vizinhos, que não são menos amigos, embora não habitem a mesma casa.
Os que pretendem ter os melhores Espíritos por guia devem prová-lo, mostrando os melhores sentimentos; que haja, pois entre eles luta, mas luta de grandeza d’alma, de abnegação, de bondade e de humildade; aquele que lançasse a pedra em outro, provaria só por isso que é solicitado pelos maus Espíritos. A natureza dos sentimentos que dois homens manifestem a respeito um do outro, é a pedra de toque que faz conhecer a natureza dos Espíritos que os assistem”.
Tomemos muito cuidado com a pedra que eventualmente atiramos nos nossos irmãos espíritas, pois, repetindo a frase final de Fénelon (do texto acima):
“A natureza dos sentimentos que dois homens manifestem a respeito um do outro, é a pedra de toque que faz conhecer a natureza dos Espíritos que os assistem”.
Alkíndar de Oliveira