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BEZERRA DE MENEZES – BIOGRAFIA

ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
Apontamentos biobibliográficos

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti nasceu em 29 de agosto de 1831 na fazenda Santa Bárbara, no lugar chamado Riacho das Pedras, município cearense de Riacho do Sangue, hoje Jaguaretama, estado do Ceará.
Descendia Bezerra de Menezes de antiga família, das primeiras que vieram ao território cearense. Seu avô paterno, o coronel Antônio Bezerra de Souza e Menezes tomou parte da Confederação do Equador, e foi condenado à morte, pena comutada em degredo perpétuo para o interior do Maranhão, e que não foi cumprida porque o coronel faleceu a caminho do desterro, sendo seu corpo sepultado em Riacho do Sangue. Seus pais, Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, desencarnou em Maranguape, no dia 29 de setembro de 1851, de febre amarela; a mãe, Fabiana Cavalcanti de Albuquerque, nascida em 29 de setembro de 1791, desencarnou em Fortaleza, aos 91 anos de idade, perfeitamente lúcida, em 5 de agosto de 1882.
Desde estudante, o itinerário de Bezerra de Menezes foi muito significativo. Em 1838, no interior do Ceará, conheceu as primeiras letras, em escola da Vila do Frade, estando à altura do saber de seu mestre em 10 meses.
Já na Serra dos Martins, no Rio Grande do Norte, para onde se transferiu em 1842 com a família, por motivo de perseguições políticas, aprendeu latim em dois anos, a ponto de substituir o professor.
Em 1846, já em Fortaleza, sob as vistas do irmão mais velho, o Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra, conceituado intelectual e líder católico, efetuou os estudos preparatórios, destacando-se entre os primeiros alunos do tradicional Liceu do Ceará.
Bezerra queria tornar-se médico, mas o pai, que enfrentava dificuldades financeiras, não podia custear-lhe os estudos. Em 1851, aos 19 anos, tomou ele a iniciativa de ir para o Rio de Janeiro, a então capital do Império, a fim de cursar medicina, levando consigo a importância de 400 mil réis, que os parentes lhe deram para ajudar na viagem.
No Rio de Janeiro, ingressou, em 1852, como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia.
Para poder estudar, dava aula de filosofia e matemática. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em março de 1857, solicitou sua admissão no Corpo de Saúde do Exército, sentando praça em 20 de fevereiro de 1858, como cirurgião tenente.
Ainda em 1857, candidatou-se ao quadro dos membros titulares da Academia Imperial de Medicina com a memória “Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento”, sendo empossado em sessão de 1º de junho. Nesse mesmo ano, passou a colaborar na “Revista da Sociedade Físico-Química”.
Em 6 de novembro de 1858, casou-se com a Sra. Maria Cândida de Lacerda, que desencarnou no início de 1863, deixando-lhe um casal de filhos.
Em 1859 passou a atuar como redator dos “Anais Brasilienses de Medicina”, da Academia Imperial de Medicina, atividade que exerceu até 1861.
Em 21 de janeiro de 1865, casou-se, em segunda núpcias com Dona Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira esposa, com quem teve sete filhos.
Já em franca atividade médica, Bezerra de Menezes demonstrava o grande coração que iria semear, até o fim do século, sobretudo entre os menos favorecidos da fortuna, o carinho, a dedicação e o alto valor profissional.
Foi justamente o respeito e o reconhecimento de numerosos amigos que o levaram à política, que ele, em mensagem ao deputado Freitas Nobre, seu conterrâneo e admirador, definiu como “a ciência de criar o bem de todos”.
Elegeu-se vereador para Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 1860, pelo Partido Liberal.
Quando tentaram impugnar sua candidatura, sob a alegação de ser médico militar, demitiu-se do Corpo de Saúde do Exército. Na Câmara Municipal, desenvolveu grande trabalho em favor do “Município Neutro” e na defesa dos humildes e necessitados.
Foi reeleito com simpatia geral para o período de 1864-1868. Não se candidatou ao exercício de 1869 a 1872.
Em 1867, foi eleito deputado-geral (correspondente hoje a deputado federal) pelo Rio de Janeiro. Dissolvida a Câmara dos Deputados em 1868, com a subida dos conservadores ao poder, Bezerra dirigiu suas atividades para outras realizações que beneficiassem a cidade.
Em 1873, após quatro anos afastados da política, retomou suas atividades, novamente como vereador.
Em 1878, com a volta dos liberais ao poder, foi novamente eleito à Câmara dos Deputados, representando o Rio de Janeiro, cargo que exerceu até 1885.
Neste período, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, que veio proporcionar-lhe pequena fortuna, mas que, por sua vez, foi também o sorvedouro dos seus bens, deixando-o completamente arruinado.
Em 1885, atingiu o fim de suas atividades políticas. Bezerra de Menezes atuou 30 anos na vida parlamentar.
Outra missão o aguardava, esta, mais nobre ainda, aquela de que o incumbira Ismael, não para o coroar de glórias, que perecem, mas para trazer sua mensagem à imortalidade.
O Espiritismo, qual novo maná celeste, já vinha atraindo multidões de crentes, a todos saciando na sua missão de consolador. Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de “O Livro dos Espíritos”, em 1875, foi oferecido a Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos, que se ocultou sob o pseudônimo de Fortúnio.
Foram palavras do próprio Bezerra de Menezes, ao proceder a leitura de monumental obra: “Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito, entretanto tudo aquilo era novo para mim […]. Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no Livro dos Espíritos […]. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou mesmo, como se diz vulgarmente, de nascença”.
Contribuíram também, para torná-lo um adepto consciente, as extraordinárias curas que ele conseguiu, em 1882, do famoso médium receitista João Gonçalves do Nascimento.
Mais que um adepto, Bezerra de Menezes foi um defensor e um divulgador da Doutrina Espírita. Em 1883, recrudescia, de súbito, um movimento contrário ao Espiritismo e, naquele mesmo ano, fora lançado por Augusto Elias da Silva o “Reformador”, órgão oficial da Federação Espírita Brasileira e o periódico mais antigo do Brasil, ainda em circulação. Elias da Silva consultava Bezerra de Menezes sobre as melhores diretrizes a seguir em defesa dos ideais espíritas.
O venerável médico aconselhava-o a contrapor-se ao ódio, o amor, e a agir com discrição, paciência e harmonia.
Bezerra não ficou, porém, no conselho teórico. Com as iniciais A. M., principiou a colaborar com o “Reformador”, emitindo comentários judiciosos sobre o Catolicismo.
Fundada a Federação Espírita Brasileira em 1884, Bezerra de Menezes não quis inscrever-se entre os fundadores, embora fosse amigo de todos os diretores e sobremaneira, admirado por eles.
Embora sua participação tivesse sido marcante até então, somente em 16 de agosto de 1886, aos 55 anos de idade, Bezerra de Menezes, perante grande público, em torno de 1.500 a 2.000 pessoas, no salão de Conferência da Guarda
Velha, em longa alocução, justificou a sua opção definitiva de abraçar os princípios da consoladora doutrina.
Daí por diante Bezerra de Menezes foi o catalisador de todo o movimento espírita na Pátria do Cruzeiro, exatamente como preconizara Ismael. Com sua cultura privilegiada, aliada ao descortino de homem público e ao inexcedível amor ao próximo, conduziu o barco de nossa doutrina por sobre as águas atribuladas pelo iluminismo fátuo, pelo cientificismo presunçoso, que pretendia deslustrar o grande significado da Codificação Kardequiana.
Presidente da FEB em 1889, ao espinhoso cargo foi reconduzido em 1895, quando mais se agigantava a maré da discórdia e das radicalizações no meio espírita, nele permanecendo até 1900, quando desencarnou.
O Dr. Bezerra de Menezes foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, da Sociedade Físico-química, sócio e benfeitor da Sociedade Propagadora das Belas-Artes, membro do Conselho do Liceu de Artes e presidente da Sociedade Beneficente Cearense.
Escreveu em jornais como “EL Paiz”, redigiu “Sentinela da Liberdade”, os “Anais Brasilienses de Medicina”, colaborou na “Reforma”, na “Revista da Sociedade Físico-química” e no “Reformador”. Utilizava os pseudônimos de Max e Frei Gil.
O dicionarista J. F. Velho Sobrinho alinha extensa bibliografia de Bezerra de Menezes, relacionando para mais de quarenta obras escritas e publicadas. São teses, romances, biografias, artigos, estudos, relatórios, etc.
Bezerra de Menezes desencarnou em 11 de abril de 1900, às 11h30min., tendo ao lado a dedicada companheira de tantos anos, Cândida Augusta. Morreu pobre, embora seu consultório estivesse cheio de uma clientela que nenhum médico queria; eram pessoas pobres, sem dinheiro para pagar consultas. Foi preciso constituir-se uma comissão para angariar donativos visando a possibilitar a manutenção da família. A comissão fora presidida por Quintino Bocaiuva.
Por ocasião de sua morte, assim se pronunciou Leon Denis, um dos maiores discípulos de Kardec: “Quando tais homens deixam de existir, enlutasse não somente o Brasil, mas os espíritas de todo o mundo”.

Fonte: Texto incluído nas obras que integram a Coleção Bezerra de Menezes, publicada pela FEB (Federação Espírita Brasileira).

ANÁLIA FRANCO – BIOGRAFIA


Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 10 de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919. Seu nome de solteira era Anália Emília Franco.
Após consorciar-se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.
Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo.
Anteriormente a 1875 diplomou-se Normalista, em S. Paulo.
Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à “Roda” da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho.
Não eram, como até então “negociáveis”, com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre.
Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras.
Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original “Casa Maternal”. Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos.
A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele “escândalo” em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora.
Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de “meus alunos sem mães”. Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno “abrigo” para as crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade.
A curiosidade popular tomou-se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus “alunos sem mães”, em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou-se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos.
Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.
Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada “Álbum das Meninas”, cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título “Às mães e educadoras”. Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República.
O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”, no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.
Em seguida criou várias “Escolas Maternais” e “Escolas Elementares”, instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o “Liceu Feminino”, que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de “Escolas Maternais” e de três anos para as “Escolas Elementares”.
Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo-as ao mesmo tempo.
O seu opúsculo “O Novo Manual Educativo”, era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.
Em 10 de dezembro de 1903, passou a publicar “A Voz Maternal”, revista mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.
A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.º 18, em S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques n.º 23.
Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior,
Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas Escolas públicas.
Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à
Doutrina Espírita.
Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: “A Égide Materna”, “A Filha do Artista”, e “A Filha Adotiva”. Foi autora de numerosas peças teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando-se “Hino a Deus”, “Hino a Ana Nery”, “Minha Terra”, “Hino a Jesus” e outros.
Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a “Chácara Paraíso”. Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio Feijó.
Nessa chácara fundou Anália Franco a “Colônia Regeneradora D. Romualdo”, aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.
A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital.
Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, ideia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o “Asilo Anália Franco”.
A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História do Espiritismo.

Fonte: Site www.espiritismogi.com.br

ALBERT SCHWEITZER – BIOGRAFIA

Albert Schweitzer (14 de janeiro de 1875, Kaysersberg – 4 de setembro de 1965, Lambaréné, Gabão) foi um teólogo, músico, filósofo e médico alsaciano.

Albert Schweitzer nasceu em Kaysersberg, na Alsácia, então parte do Império alemão (hoje uma região administrativa francesa).
Formou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Estrasburgo, onde, em 1901, o nomearam docente. Tornou-se também um dos melhores intérpretes de Bach e uma autoridade na construção de órgãos.
Aos trinta anos, gozava de uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis universidades europeias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor de sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pronta ao serviço. Dirigiu sua atenção para os africanos das colônias francesas que, numa total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da selva.
Em 1905, iniciou o curso de medicina, e seis anos mais tarde, já formado, casou-se e decidiu partir para Lambaréné, no Gabão, onde uma missão necessitava de médicos. Ao deparar-se com a falta de recursos iniciais, improvisou um consultório num antigo galinheiro e atendeu seus pacientes enfrentando obstáculos como, o clima hostil, a falta de higiene, o idioma que não entendia, a carência de remédios e instrumental insuficiente. Tratava de mais de 40 doentes por dia e paralelamente ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma linguagem apropriada, dando exemplos tirados da natureza sobre a necessidade de agirem em benefício do próximo.
Com o início da I Grande Guerra, os Schweitzer foram levados para a França, como prisioneiros de guerra. Passaram praticamente todo o período da guerra confinados num campo de concentração, neste período Albert escreveu sobre a decadência das civilizações.
Com o final da guerra, reiniciou seus trabalhos como se nada tivesse acontecido, e ante a visão de um mundo desmoronado, dizia: “começaremos novamente, devemos dirigir nosso olhar para a humanidade”. Realizou uma série de conferências, com o único intuito de colher fundos para reconstruir sua obra na África. Tornou-se muito conhecido em todos os círculos intelectuais do continente, porém, a fama não o afastou de seus projetos e sonhos.
Após sete anos de permanência na Europa, partiu novamente para Lambaréné. Desta vez acompanhado de médicos e enfermeiras dispostos a ajudá-lo. O hospital foi levantado numa área mais propícia, e com o auxílio de uma equipe de profissionais pode dedicar algumas horas de seu dia a escrever livros, cuja renda contribuía para manter os pavilhões hospitalares.

Extasiou o mundo com sua vida e sua obra, e em 1952, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, como humilde homenagem a um “Grande Homem”.
Morreu em 4 de setembro de 1965, em Lambaréné, no Gabão.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A GERAÇÃO DA ESPERANÇA

Ary Brasil Marques
Nosso planeta está precisando de esperança. Os homens estão envolvidos em clima de pessimismo, de dúvidas, de descrença. Há pessoas que acreditam não haver mais solução para o planeta Terra, divulgando o caos e se transformando em profetas do apocalipse.

Ontem tivemos a oportunidade de assistir um espetáculo maravilhoso proporcionado pela nova geração, enchendo nossa alma de alegria e de esperança. Fui assistir a formatura de minha neta Gabriela, aluna da Unidade Jardim do Colégio Pueri-Domus de Santo André.

Com apenas 11 anos de idade, Gabriela demonstrou, assim como o fizeram seus colegas de igual faixa etária, que o nosso planeta tem jeito, tem futuro, será salvo dos ataques predatórios que sofreu ao longo de milhões de anos por parte do ser humano.

As crianças fizeram um espetáculo voltado inteiramente para os problemas planetários. Pela música, pela palavra e pelos gestos, elas nos mostraram o momento atual, o aquecimento global, a devastação das florestas, a ameaça de extinção de várias espécies de animais, o tsunami, a seca em várias regiões e outros problemas decorrentes da ação do homem.

Ao contrário dos profetas do apocalipse, a nova geração está buscando soluções e acreditando que nós podemos trazer de volta o equilíbrio planetário pela conscientização e o trabalho de amor na preservação do meio ambiente e na reeducação de nossos costumes.

Através de cartazes, elas nos deram sugestões para que esse objetivo seja alcançado, como o uso de combustíveis não poluentes, a economia e o uso racional da água, a reciclagem de objetos para evitar a contaminação do meio ambiente e a preservação das florestas.

Ao final, uma das professoras nos trouxe um belo poema seu e um outro produzido por uma das crianças, ambos focalizando o planeta, o que levou a platéia vibrar de emoção.

Em seu poema, a professora nos falou da necessidade de ternura. Ternura para com o nosso semelhante, ternura para com as florestas, ternura para com as aves e para com os animais.

Falou-nos também de cuidado e de ação. Da ação positiva em relação à vida, ao meio ambiente, ao próximo.
Vimos renascer a esperança. Finalmente, toda uma geração de jovens, de futuros dirigentes de nosso planeta, se volta, com decisão, para a preservação e para a renovação.

Nosso futuro está garantido. Ao ver a decisão, a coragem e a determinação dessa maravilhosa juventude, imaginei um jogo de futebol. Estamos no intervalo. No primeiro tempo estávamos perdendo o jogo. Mas a firme determinação de todos os nossos jogadores, a vontade férrea e a confiança de todo o grupo, fez com que o time que entrou em campo no segundo tempo jogou tudo o que sabe, com valentia, com determinação, e virou o jogo, transformando uma derrota iminente em grande vitória.

O mesmo acontecerá com a nossa querida Terra, pois está chegando uma nova geração que tem vontade, tem amor e quer fazer um trabalho sério, diuturno, para virar o jogo.

A geração da esperança trará por certo ao planeta Terra a conquista do equilíbrio da vida, e isso nos levará à nova civilização do terceiro milênio, e a vitória de todos acabará com as derrotas sofridas nos dias de hoje.

SBC, 06/11/2007.   

A FORÇA DA ALEGRIA

Ary Brasil Marques

Nosso mundo anda triste. As pessoas estão preocupadas com os problemas da vida, com a violência, com as drogas, com a corrupção dos políticos, com a falta de empregos e com o dinheiro cada vez mais curto.

Na televisão, para cada momento alegre, há dez momentos tristes, de tensão, de horror, de medo.

Precisamos mudar esse estado de coisas. Precisamos de um antídoto para eliminar tantos motivos de stress e de tristeza. Temos que encher o nosso coração de amor e de paz. Haverá algum remédio para isso?

Existe sim. O remédio se chama alegria. Vamos povoar nossa mente com alegria. Vamos sorrir. Vamos cantar. Vamos bailar.

Quando temos oportunidade de assistir a um espetáculo de arte e beleza, de música, de sons harmoniosos, nosso coração fica mais leve, mais sensível. O mundo nos parece menos hostil, menos violento, menos preocupante.

Outra coisa boa é o riso. O riso franco das crianças em suas brincadeiras, a gargalhada dos jovens, a emoção incontida da alegria sem barreiras, sem censura deixa as pessoas em alta vibração. Nosso coração se enche de esperança, de bem estar, quando cultivamos a alegria.

Um grupo de estudantes de medicina está promovendo um projeto de puro amor. Trata-se de levar alegria aos hospitais, com pessoas se vestindo de palhaços, levando aos pacientes dessas organizações uma outra face da vida. Não se fala em doenças, em remédios, em injeções. Palhaçadas leves, risos, acrobacias, música, alegria. E essa terapêutica do riso tem conseguido verdadeiros milagres, ajudando muito na recuperação de doentes.

Seria bom que os homens substituíssem o semblante carrancudo, triste, preocupado, pelo rosto radiante repleto de alegria. Alegria é saúde. Alegria é vida!

Vamos todos então decretar, a partir de agora, uma nova maneira de viver. Vamos cantar mais, sorrir mais, dançar, bailar, agradecer ao Senhor da Vida a maravilhosa oportunidade de estarmos encarnados na Terra, escola bendita que levará todos nós, um dia, à plenitude do saber e do amor.

SBC, 09/06/2007.

A FELICIDADE

Ary Brasil Marques

A meta de todas as pessoas que vivem na Terra é alcançar a felicidade.

O que é felicidade? Para muitos, felicidade é ter saúde, muito dinheiro e pouco trabalho.

Acontece que a conquista desses valores está subordinada à lei de causa e efeito, e ninguém consegue alcançar aquilo que não merece. Todos nós estamos em processo de aprendizagem e vamos colhendo, ao longo do caminho, o que plantamos no passado remoto ou recente.

Por outro lado, a Terra é um planeta de expiação e provas, e a imensa maioria da população ainda está no estágio primitivo de pobreza e de submissão aos mais poderosos.

Dessa forma, as pessoas que conseguem atingir mais progresso, mais cultura, melhores condições econômicas de viver sem problemas financeiros e problemas de saúde, são como uma ilha de felicidade cercada de tristezas, de miséria, de violência, de guerras, de revolta por todos os lados.

Não se pode ser feliz quando milhões de irmãos nossos passam fome, não têm empregos, não têm possibilidades de um futuro melhor. Ser feliz quando os demais estão sofrendo, além de gerar inveja e violência por parte dos excluídos da sorte, não permite nunca uma felicidade completa.

Qual será então o paradigma da felicidade na visão espírita?

Acreditamos que é preciso mudar o foco. Deixar de lado o nosso egoísmo, nossa busca de prazeres e de comodidades, e centrar nossa meta na construção de um mundo novo.

Nosso planeta sofre intensamente diante das agressões do ser humano, que como predador destrói o meio ambiente, a fauna, a flora, o clima.

A consequência disso é a reação da natureza, aumentando a inquietação de todos e o desequilíbrio geral que traz muito sofrimento e medo do futuro.

Será possível a felicidade no momento em nosso planeta? Haverá alguém realmente feliz, totalmente feliz?

A Doutrina Espírita nos ensina que a forma de alcançar a felicidade é seguir o único caminho existente para isso. O caminho é Jesus.

Como seguir Jesus? Será aceitando Jesus simplesmente como nos ensinam muitas religiões?

Seguir Jesus é buscar o caminho que ele traçou. Jesus nos deixou a lição maior. Ele nos disse que temos que amar a Deus sobre todas as coisas e amar igualmente o nosso próximo.

Felicidade é viver no amor. Plantar amizades, plantar carinho, plantar respeito, plantar fraternidade. Enxugar lágrimas. Ajudar e amparar os que sofrem. Amar a natureza. Ter paz no coração e levar essa paz aos semelhantes.

Felicidade é sufocar o egoísmo e buscar o altruísmo. É dividir o excesso que temos com nosso irmão que não tem nada.

Felicidade é saber perdoar. Compreender nosso irmão que ainda está em estágio inferior e muitas vezes age no mal porque não sabe o que faz.

Felicidade é a alegria de servir. Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Irmã Dulce, Chico Xavier, são alguns exemplos de pessoas que alcançaram a felicidade na Terra.

Quando todos pensarem mais no semelhante do que em si próprio, nosso planeta estará em condições de ser promovido a planeta de regeneração e a planeta feliz.

Enquanto isso não acontece, sejamos pioneiros, trabalhadores de boa vontade, semeando o bem e o amor.

Felicidade, queridos irmãos, não é um fim, mas um meio. Felicidade é a busca incessante de amor e de paz, e ela é encontrada no trabalho, na fé, no prazer de servir.

SBC, 24/01/07.

A DESPEDIDA DE UM AMIGO

Ary Brasil Marques

Nosso querido amigo Geraldo está nos deixando. Ele está sendo transferido pelos nossos mentores espirituais para uma região de luz. Sua tarefa na Terra, na atual encarnação, está terminada.

Para nós, seus amigos e parentes, é difícil a separação. Estamos buscando a aceitação. Ficar sem o convívio de pessoas queridas ainda causa para nós, dor e sofrimento.

A aceitação fica mais fácil quando temos a certeza da imortalidade. Sabemos que somos espíritos imortais e que aquilo que chamamos morte é apenas uma passagem de um plano para outro. A nossa permanência na escola da vida terrena é temporária. Somos alunos e com isso passamos por avaliação de nosso aproveitamento durante o tempo de nossa vida aqui.

Geraldo passou no teste. Ele conseguiu acumular uma bagagem luminosa que leva agora para o plano espiritual.

Foi um vencedor. Soube angariar amigos. Foi aprovado em seu trabalho espiritual. Conseguiu aprovação também como chefe fiel de uma família cristã. Sua maior vitória, porém, foi contra a insidiosa moléstia que o acometeu.

Há doenças que funcionam como um mata-borrão. Absorvem e limpam o espírito de todas as marcas negativas trazidas de vidas anteriores. A cura não acontece sempre no plano físico, mas é certa no plano espiritual.

A paciência, a resignação, a ausência de revolta contra os desígnios do Criador, dão àqueles que souberam enfrentar de frente o momento de dor, como aconteceu com o Geraldo, e revestem essas pessoas de uma aura maravilhosa de vencedor.

Geraldo agora está recebendo uma promoção. Sua área de trabalho passa a ser outra. Isso não impede que ele venha, sempre que for permitido pelo poder superior, ajudar aos seus amigos e parentes que aqui ficaram.

Querido irmão e amigo Geraldo. Sua amizade e seu carinho ficarão conosco. Sentiremos saudades, mas sabemos que o espaço que nos separa desse mundo de luz para onde você está indo, é bem pequeno. O amor, querido amigo, vence todas as barreiras do tempo e do espaço, e une para todo o sempre as almas afins.

Receba o nosso carinho e o nosso agradecimento por tudo de bom que você nos deu.

Que Deus, o nosso Pai de Amor e de Bondade, lhe receba no mundo real e eterno.

SBC, 04/09/2007.

A CULPA

Ary Brasil Marques

Todas as religiões dão uma importância muito grande à culpa e ao pecado. Geralmente os crentes se colocam diante do Pai como pecadores rastejantes, cheios de culpa e de remorsos, implorando      o perdão e se julgando indignos dele.

Está na hora de mudarmos esses velhos conceitos. Está na hora de eliminarmos de nosso coração aquele bichinho incômodo que é o sentimento de culpa. Está na hora de entendermos que todas as nossas experiências, boas ou más, servem apenas de meios de aprimoramento, e nossas quedas, ao invés de nos aborrecerem, devem ser encaradas como oportunidades maravilhosas de progresso, de aprendizagem, de evolução.

Jesus, o Mestre maior, nos ensinou o perdão. E o perdão deve começar conosco mesmo. Devemos nos perdoar, assim como o princípio do amor também é conosco mesmo. Só conseguiremos amar o     semelhante se antes aprendermos a nos amar.

E para nos amar, temos de nos perdoar. Nada de ficar remoendo culpas, nada de nos encher de remorsos. Se erramos, aprendamos com nosso erro a nos     corrigir, a não errar mais; tiremos de nosso erro os aspectos positivos, pois eles servem para nos impulsionar na senda do progresso. 

É caindo que aprendemos a nos levantar. É cometendo erros que encontramos meios de sacudir o espirito de sua inoperância e de achar caminhos novos de progresso. O que devemos fazer é uma análise profunda e sem choramingas de nossa atuação diante da vida, diante de nossos semelhantes, diante de Deus, e, em encontrando falhas, o que é muito natural pois somos ainda     todos espíritos inferiores em fase inicial de progresso, procurar reparar tais falhas e erros com decisão e muito amor.

Espelhemo-nos nos exemplos do Cristo e procuremos modificar nossa vida para melhor com um trabalho sério, contínuo, efetivo, mantendo o coração aberto e livre de falsos sentimento de culpa.

A ideia do pecado é uma ideia superada. Pecado é o ato de todos aqueles que ainda não tiveram a felicidade de encontrar o caminho maravilhoso traçado pelo Mestre. Mas pecado é também o exercício do livre arbítrio nas experiências de aprendizado. O Pai de amor e de bondade nos outorgou o direito de procurarmos seguir adiante com nossas próprias pernas, e o fato da nossa inexperiência faz   com que muitas vezes a gente erre, siga por caminhos tortuosos, mas ‚ exatamente esse exercício do livre arbítrio que nos faz progredir e avançar.

Deixemos, pois, de lado a ideia de culpa e do pecado, e lembremo-nos sempre das palavras de Pedro que nos diz que o amor cobre a multidão de pecados. Eis aí o segredo. O amor cobre todos os pecados. Se partirmos com decisão para o amor, começando por nos amar a nós mesmos, e amarmos com A maiúsculo a todos os nossos semelhantes, ao mundo em que vivemos, a natureza, a beleza, as artes, aquilo que é bom e belo, não teremos necessidade de ficar pelos cantos chorando as nossas fraquezas e as nossas culpas.

SBC, 25/04/2007.

A CRIANÇA DO SÉCULO XXI


Ary Brasil Marques
O homem passa na Terra por quatro grandes fases: a infância, a mocidade, a idade madura e a velhice.

Cada uma dessas etapas deve ser aproveitada ao máximo, para que o espírito adquira os conhecimentos e as experiências necessárias na sua encarnação.

A primeira etapa é básica no aprendizado do espírito. Além dos ensinamentos importantes obtidos pela criança nessa fase, é o tempo que ela pode e deve brincar.

Muitos pais, hoje, estão sobrecarregando as crianças com um grande número de obrigações, de cursos, de aulas de natação, de música, de práticas esportivas, de computadores, etc.

Sem tirar o mérito dessas atividades, que são importantes, acredito que as crianças não podem perder o direito de brincar. Elas precisam de menos cobrança, de menos responsabilidade e de mais lazer.

A criança não pode queimar etapas, ser precocemente transformada em adulto. Ela terá tempo para isso.

O tempo das brincadeiras e da alegria está sendo substituído por horas e horas em frente de um computador, com prejuízo para o sono e a saúde das crianças. Elas são verdadeiros mestres na informática, mas a maioria delas não conhece as músicas e os jogos infantis de antigamente. Por outro lado, são sobrecarregadas de lições e de tarefas escolares.

É muito justo querer que as nossas crianças sejam cultas, falem mais de uma língua, cantem e dancem com perfeição, mas elas não podem ser tratadas como atletas se preparando para competições, sem horário livre, sendo cobradas a todo momento.

Ontem foi o dia da criança. E nossas crianças já não são crianças. A adolescência vem rapidamente, o tempo passa depressa. E o tempo, inexorável, fará logo a transformação da mesma para adulto.

Deixem as crianças serem crianças, enquanto elas podem. Incentivemos as mesmas a brincar, livres como passarinhos, felizes, risonhos, sem cobranças.

SBC, 13/10/2007.  

A CANECA


Ary Brasil Marques

Zé Bernardino era muito medroso de pegar doenças pelo contágio com outras pessoas. Vivia lavando as mãos, usando álcool para as desinfetar e evitava a todo custo o contato físico com aquele povo ignorante, como ele dizia, de sua cidade.

Morava no interior de Minas Gerais, em uma pequena cidade. Zé Bernardino era um pesquisador. Lia livros e jornais da Capital, e se interessava muito pelas descobertas da Ciência no que se refere aos cuidados de higiene e de alimentação. Julgava-se muito acima em cultura dos demais habitantes da cidadezinha onde morava.

Um dia, Zé Bernardino comprou um carro. Um Ford 1937 novinho. Exultou! Agora podia realizar o seu sonho que era de viajar, conhecer outras cidades, aumentar seus conhecimentos.

Para testar o carro, certa vez saiu pela manhã em direção a uma cidade próxima. Seriam 60 quilômetros de aventura, e ele estava eufórico. Sentia-se grande, poderoso, dominador.

A estrada não tinha pavimentação, era de terra batida, mas bem conservada e considerada uma das melhores da região. Dirigiu cantarolando por um bom tempo.

De repente, o carro começou a ferver. Saia uma fumaceira danada do capô, e depois de algum tempo o motor parou de funcionar. Restou só a fervura, a fumaça.

Inexperiente, tentou de todas as maneiras resolver a situação, sem sucesso. O carro não pegava. Esse carro não anda mais. E agora?

O sol ia alto. Era dia de intenso calor. Zé Bernardino resolveu deixar o carro ali e ir à procura de um mecânico na cidade.

Começou a andar de volta à cidade. Parecia que tinha andado tão pouco, e agora achava tão longe. Foi andando e o sol esquentando cada vez mais.

Nosso herói suava às bicas. Tinha uma sede enorme, e não via casa alguma onde pudesse pedir um copo de água.

Depois de uma caminhada enorme, que para ele era ainda maior por não estar acostumado a andar a pé, e o sol lhe castigando muito, viu uma casinha à beira da estrada.

Apertou o passo. Chegando à porta da casa, gritou:

– Ô de casa.

Foi atendido por uma mulher de aspecto repugnante. Era velha, cabelos escorridos e sujos, um enorme papo e um vestido andrajoso.
– Dona, estou morrendo de sede. A senhora poderia me arranjar um copo com água?
– Peraí. Vo buscá.

A velha foi até lá dentro da casa e trouxe uma caneca com água. A caneca era esmaltada, mas toda suja e com marcas de líquidos escorridos.

Zé Bernardino olhou para a caneca. Ela lhe dava náuseas. Percebeu, examinando melhor, que a caneca tinha um pequeno racho em um dos lados, mais escuro do que o resto da caneca.

Pensou Zé Bernardino, talvez seja ali, nesse racho, que ninguém usou para beber. Tinha vontade de sair correndo, mas a sede era muito grande.

Com todo o cuidado, para não encostar seus lábios em outra parte da caneca, bebeu a água pelo racho. Dos males o menor.

A velha deu uma risadinha e disse:

– Dotô, eu também uso esse rachinho pra bebê. É ai que eu ponho o meu beiço, pruque dá certinho pra mim.

Zé Bernardino deu um enorme grunhido, e depois inundou a sala com todo o líquido que havia bebido, em estrepitoso e escandaloso vômito.

Tadinho do Zé Bernardino.

SBC, 07/08/2007.