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MEDIUNIDADE

MEDIUNIDADE
A mediunidade, um dos aspectos da Doutrina dos Espíritos, que trata das relações entre os espíritos durante o transcorrer do intercâmbio mediúnico, suas expressões manifestadas, e as decorrências extraídas dessas manifestações, é o grande laboratório experimental do aspecto científico do Espiritismo, por meio do qual se comprova a realidade do Espírito, a verdade por eles reveladas, as consequências morais dos fatos acontecidos, e os desdobramentos que a eles se seguem, influindo diretamente na filosofia da vida do indivíduo, no seu processo de amadurecimento e evolução espiritual.
Embora não seja o aspecto, mais relevante do Espiritismo, é por intermédio da mediunidade, quando exercida com nobreza de propósitos, fidelidade aos preceitos Kardequianos e dignidade impoluta, sem concessões ao orgulho e a vaidade, sem interesses outros pela fama e destaque nas vitrines do mundo, que as revelações dos Espíritos Superiores, de caráter universalista, chegam a presença da Humanidade, propondo novos paradigmas, capazes de transformar o mundo para melhor, ao transformar o homem, erguendo-o moralmente, do patamar da ignorância reinante ainda restrita à ciência materialista, para leva-lo a familiarizar-se com as manifestações dos espíritos e, a realidade da ciência do Espírito, procedente do mundo das causas e os reflexos que se fazem presentes no mundo dos efeitos, que é o mundo material.
A mediunidade, que tem seu futuro motivador assentado sobre o intercâmbio mediúnico, não estaciona no fenômeno mediúnico propriamente dito, por que o fenômeno é apenas o meio, o instrumental de que os espíritos se servem, para ministrar suas lições àqueles que se encontram reencarnados na terra, em transitório estágio de aprendizado, como a certeza da existência de dimensões espirituais, reguladas por Leis Morais, tão matematicamente corretas, coerentes e lógicas, quanto os mais infalíveis cálculos que a Matemática terrena é capaz de propiciar.
Como a mediunidade é um canal ou veículo de comunicação entre dois mundos ou, se quiser duas realidades distintas, ela carrega em si, um propósito nascido nas Estâncias Superiores da Vida, dirigido àqueles que se encontra na existência, na retaguarda do conhecimento verdadeiro, propósito este, constatado pelas revelações das Leis Superiores da Vida, contida nas noções de Justiça Divina exarada na 1ª Revelação, conhecida como Os Dez Mandamentos, veiculadas pelo médium Moisés, dotado de extraordinários dons mediúnicos conforme relatam as anotações do Antigo Testamento.
A história da formação do povo judeu, assim como a saga das doze tribos de Israel, encontra-se pontilhada de fenômenos mediúnicos, que determinam o conhecimento de leis morais reguladoras das relações sociais, da hierarquia, dos direitos e deveres de uns para com os outros, mostrando que o fenômeno mediúnico chega até um determinado ponto, a partir do qual, os propósitos dali extraídos, avançam para critérios e normativas, comportamentos e atitudes dos indivíduos isoladamente, ou da sociedade como um todo.
Na atualidade, como se pode observar, os fenômenos mediúnicos ostensivos, estão cada vez mais raros, parecendo que chegaram os tempos previstos pelo profeta Joel, quando estabeleceu que: “no final dos tempos, o Espírito do Senhor derramar-se-á por toda carne, homens e mulheres profetizarão, os jovens terão visões e os velhos sonharão sonhos”, alerta este que pode ser interpretado como um tempo, onde o intercâmbio mediúnico será popularizado, porque será mais estudado, sem as fantasias e equívocos que o envolvem, e, mais compreendido por todos, para que os ensinamentos que eles encerram sejam adotados com naturalidade, sem a necessidade do impacto que a aura de sobrenatural provoca nas mentes ingênuas e influenciáveis que ainda existem no seio dos povos.
Disso tudo decorre sem dúvida alguma, que as paisagens terrenas, tudo se encontra em constante transição, em obediência aos Códigos Superiores da Vida, conforme esclarece a Doutrina Espírita, quando destaca, na LEI DO PROGRESSO no capítulo acerca das LEIS MORAIS que “O PROGRESSO É INESTANCÁVEL”.

José Maria de Medeiros Souza, pelo Espírito Espírita, Jean – Marie Lachelier.

ARTHUR LINS DE VASCONCELLOS LOPES – BIOGRAFIA

Arthur Lins de Vasconcellos Lopes

Em 21 de março de 1.952, desencarnava na cidade de São Paulo, onde residia, o Dr. Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, sendo sepultado, conforme seus desejos, no jardim do Sanatório Bom Retiro, em Curitiba, cidade que muito amou.

Contribuiu largamente para a expansão do Espiritismo no Brasil, prestando assinalados serviços à Doutrina Espírita.

Levantou e apoiou inúmeras obras de caridade e beneficência, nas quais até hoje lhe abençoam o nome, devendo-se-lhe o prédio onde se acha instalada a Federação Espírita Paraibana.

Desenvolveu importante obra de assistência social, sem paralelo no meio espírita nacional.

Pacificador por excelência, padrão do verdadeiro homem de bem, tolerante em todos os sentidos, sempre à frente de todas as iniciativas que exigissem responsabilidade e denodo, foi alçado à posição de líder pelos próprios espíritas brasileiros.

Trabalhou ativamente no propósito de unir as famílias espíritas de nossa Pátria, tornando-se um dos que mais concorreram para a concretização do célebre “Pacto Áureo”, em 5 de outubro de 1.949, o qual efetivou a unificação tão ardentemente desejada pela Federação Espírita Brasileira.

Sua existência foi um impressionante libelo contra a ociosidade e desânimo. Lutou muito, lutou sempre; lutou e venceu, venceu porque lutou.

Sua vida terrena teve início no dia 27 de março de 1.891, na cidade de Teixeira, alto sertão da Paraíba do Norte.

Era portanto, sertanejo, como sertanejos foram seus pais. Conheceu nos primeiros anos da meninice as dificuldades dos que vivem afastados das grandes cidades, sem os recursos dos que dispõem os que residem nos centros populosos. Começou assim a lutar desde a infância, fortalecendo nos albores da vida o seu espírito empreendedor.

Enquanto outras crianças brincavam, despreocupadas, ele limpava, à enxada, a plantação, ou roçava para a semeadura. Quando lhe sobrava tempo, aprendia a ler e a escrever. Já rapazinho, veio a ser tropeiro, a demandar as serranias do sul do Estado, de fazenda em fazenda, de vila em vila, vendendo ou trocando mercadorias. Às vezes, chegava até as terras de Pernambuco.

Moço feito, rumou para o Recife, onde exerceu atividade de caixeiro de casa comercial. Ali, porém, não ficou. Sentia-se atraído para as terras do sul do País, e é assim que se transfere para Curitiba, capital do Estado do Paraná, onde viveu longa parte de sua existência, e onde se entregou com todo o ardor ao estudo.
Alistando-se no exército, foi servir no 3º Regimento de Infantaria (3º R.I.) sediado naquela Capital, formando no 18º Batalhão. Em pouco tempo, pela sua dedicação e pelo seu esforço, alcançava o posto de sargento. Iniciou seus estudos superiores matriculando-se, em 1918, na Escola Superior de Agronomia de Curitiba, onde fez brilhantemente seu curso de engenheiro agrônomo.
Se os que não precisam pensar nas despesas vultosas com estudos nem sempre fazem com facilidade a escalada do monte da sabedoria, imaginemos os que precisam pensar nos estudos e nos meios para custeá-los. Outras vezes foi necessário gratificar outros camaradas de caserna, que não se preocupavam com os livros, para não perder as aulas da Faculdade.
Mantendo desde moço uma independência religiosa, embora aceitando desde a infância a idéia da existência de Deus, Lins de Vasconcellos não se prendeu, nessa etapa da vida, a um conceito religioso definido..
Só um caminho poderia conduzi-lo à compreensão do porquê da vida, das desigualdades sociais, do desequilíbrio na organização humana, que provoca a desventura e a infelicidade dos seres; todas as indagações de seu espírito empreendedor seriam respondidas mais tarde, quando, pelas mãos carinhosas de Antonio Duarte Veloso – dedicado servidor da Causa Espírita -, conheceu as belezas incomparáveis da Doutrina Espírita, isto em 1912. Era a base segura que lhe faltava para suportar o gigantesco edifício de sua formação humanitária e altruística, ansiosa de ver a felicidade de todos os seus irmãos em Humanidade.
Em 1915, como secretário geral da Federação Espírita do Paraná, ele participava, com a alma em regozijo, da inauguração do Albergue Noturno daquela entidade, inauguração que contou com a presença do então Presidente do Estado, Sr. Carlos Cavalcanti de Albuquerque.
Em 1916, trabalhou ativamente no II Congresso Espírita Paranaense.
Criada a “Revista do Espiritualismo”, órgão da Sociedade Publicadora Kardecista do Paraná, Lins se tornou um dos seus diretores.
Em seu último estágio em Curitiba, Lins de Vasconcellos fora elevado à posição de escrevente juramentado em certo tabelionato daquela cidade. Exercia com probidade e competência suas funções, quando inesperadamente, se viu demitido. É que ele, na qualidade de presidente da Federação Espírita do Paraná, protestara contra ato inconstitucional do Governo do Estado, que doara terras para a instalação de dois bispados. O protesto de Lins de Vasconcellos foi secundado pelo do Prof. Dario Veloso, ilustre homem de letras e presidente do Instituto Néo-Pitagórico de Curitiba, bem como por outros livre-pensadores.
Lins de Vasconcellos sofre perseguição e muitos aborrecimentos, inclusive condenação judicial, mais tarde revogada pelo Tribunal. Embora desequilibrado em suas finanças, não caiu em desânimo. Possuído de alto tino comercial, lança-se ao comércio madeireiro. Começa a prosperar e a enriquecer.
Em 1930, resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, e é nessa ocasião eleito presidente honorário da Federação Espírita do Paraná, pelos assinalados serviços a ela prestados.
Os bens materiais multiplicam-se rapidamente em suas mãos.
Consolidada a sua posição social e financeira com a fundação da Companhia Pinheiro Indústria e Comércio, da qual era diretor-presidente, não tendo dali por diante maiores preocupações de ordem econômica, mercê de uma independência que conquistara com sua visão de industrial operoso, dedicou-se inteiramente ao Espiritismo, a este dando tudo que lhe foi possível dar.
Sua cooperação humanitária, junto aos companheiros espíritas de vários Estados, foi multiforme: nos movimentos educativos da criança, no socorro às instituições de amparo à velhice e à infância abandonada, no empenho para a criação de Lares Infantis, Sanatórios, Hospitais, Ginásios, Creches, Institutos de Ensino, etc., tudo em benefício do indivíduo e da coletividade, num trabalho contínuo que durou até aos seus últimos dias de vida terrena. “A maior glória de Lins” – escreveu um seu biógrafo – “é não ter sido ele corrompido pelo fascínio do ouro”.
Cremos tenha sido a Federação Espírita do Paraná a primeira entidade a receber sua colaboração doutrinária e econômica. Quando na sua presidência, traçou um longo programa de realizações em todos os setores de atividade daquela Instituição Estadual, nela incluindo, então, o programa de ensino do Espiritismo às crianças, antevendo a necessidade de prepará-las, para que investidas, no futuro, nas organizações espíritas, pudessem produzir mais e melhor.
Por volta de 1938, em passeio a Curitiba e presente à reunião do Conselho da Federação Espírita do Paraná, Lins de Vasconcellos propôs-se entrar com apreciável soma de recursos para o reinicio das obras do atual Hospital Espírita de Psiquiatria “Bom Retiro”, tendo mantido sua colaboração econômica até a inauguração do mesmo.
Participou ativamente da Coligação Nacional pró Estado Leigo, da qual foi presidente, dedicando-lhe todos os esforços para que a luta pela laicidade do Estado fosse uma batalha constante até à conquista da independência da nação na questão do campo religioso.
Em 1948, quando a “Gráfica Mundo Espírita” enfrentava uma crise seríssima, sua cooperação espontânea e sincera veio evitar o desaparecimento dela, e, assumindo a sua direção, enfrentou todas as dificuldades decorrentes de sua atitude salvadora. Imprimiu nova orientação doutrinária a “Mundo Espírita”, periódico fundado em 1932, evitando que suas colunas servissem de veículo de idéias destruidoras e separativistas.
Apesar dos grandes prejuízos causados pela publicação do jornal e de livros doutrinários, ele sustentou a luta e esteve à frente de “Mundo Espírita” até aos últimos momentos. Esse jornal passou a ser o órgão noticioso e doutrinário da Federação Espírita do Paraná.
Ainda em 1948 empenhou-se na realização do I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, apoiando a idéia do Deputado Campos Vergal, transformada em realidade pela atuação de Leopoldo Machado. Foi uma de suas principais figuras, contribuindo, ainda, decisivamente na parte financeira. Por unanimidade, foi proclamado seu presidente de honra e, na sessão de instalação, na manhã do dia 18 de junho de 1948, proferiu discurso, fazendo a entrega simbólica do Congresso aos moços espíritas ali reunidos.
Em fevereiro de 1949, fundou Lins de Vasconcellos a Ação Social Espírita – sonho maior de sua vida – instituição que se destinava ao trabalho social do Espiritismo em todos os seus aspectos e sob todas as formas.
Graças ao seu espírito de colaboração e boa vontade, realizou-se a Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, de 14 a 18 de abril de 1949.
Quando dos preparativos para a realização do II Congresso Espírita Pan-Americano, que se reuniu no Rio de Janeiro, no período de 3 a 12 de outubro de 1949, foi Lins de Vasconcellos chamado para participar da Comissão Organizadora, sendo-lhe entregue o cargo de Tesoureiro da Comissão, devendo-se ressaltar que da sua ação coordenadora e sensata deve-se o êxito alcançado por aquele certame.
A unificação da família espírita brasileira viria, mais cedo ou mais tarde, se essa era a vontade superior. Mas, talvez não viesse tão depressa, não fosse a ação e a atividade conciliatória e aproximativa de Lins de Vasconcellos. Ninguém, como ele, almejava reunir os seus irmãos em ideal para um trabalho em comum. Esse foi sempre seu grande sonho., Vivia para concretizar esse desejo e os mentores espirituais fizeram-no o instrumento sensato e prudente para que essa aproximação se desse.
Em 5 de outubro de 1949 foi, talvez o dia mais feliz da sua vida. Foi o dia do “Pacto Áureo”, o dia áureo da confraternização. Se nada mais houvesse feito em prol da Causa -e foram tantos os benefícios que prestou ao Espiritismo – sua ação para a união da família espírita brasileira, em torno da Casa de Ismael, lhe teria valido como uma certeza de que não fora vazia e inexpressiva sua vida no mundo.
Era ainda o Dr. Lins, no campo das atividades doutrinárias, representante da Federação Espírita do Paraná, no Conselho Federativo Nacional, membro efetivo da Assembléia Deliberativa da Federação Espírita Brasileira, vice-presidente da Liga Espírita do Estado da Guanabara, 1º Secretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro e seu presidente de honra.
Não se pode dispensar a colaboração da mulher nas grandes Causas. Todos os grandes homens tiveram em suas vidas a influência da mulher. Lins de Vasconcellos não foi uma exceção à regra. Nada realizava sem que ouvisse sua esposa. Fazia questão que em tudo aparecesse aquela que partilhava de sua vida e conhecia as suas aspirações e desejos. E a esposa dedicada que foi Dona Hercilia César de Vasconcellos Lopes retribuía-lhe essa justa consideração com o seu carinho e a sua afeição. Compreendia ele o papel da mulher na reforma do mundo e, sempre que se lhe oferecia oportunidade, concitava os homens ao amparo e proteção à mulher e à criança. E a Companheira de longos anos de luta e realizações soube enfrentar o momento da partida do ente amado, demonstrando, na serenidade a resignação, que estava bem à altura do querido ausente.
Toda a família espírita sentiu o seu desaparecimento da vida física, em 21 de março de 1952, ficando a Seara do Senhor, no campo terreno, desfalcada de um de seus mais denodados e dedicados servidores.
Respeitáveis nomes do Espiritismo no Brasil teceram longos e justos elogios à obra do benfeitor e do homem de ação, ouvindo-se, ainda, a palavra do grande médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier, nessa afirmativa: “Era ele uma coluna firme da doutrina em nosso País e um companheiro abnegado de nosso movimento de unificação”.
Mais tarde, a Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcellos, inclusive através de testamento, prestou-lhe significativa homenagem, dando-lhe o inesquecível nome ao educandário por ela criado – “Instituto Lins de Vasconcellos”, – hoje, Colégio “Lins de Vasconcellos”.
Para mais detalhes consultar o livro “Lins de Vasconcellos – o diplomata da unificação e o paladino do Estado leigo” de autoria de Ney Lobo, editado pela Federação Espírita do Paraná.
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Bem sabemos que a Morte não existe. Certos, diante da comprovação dos fatos, de que os seres queridos que partem continuam vivos, e que, mais cedo ou mais tarde, te-los-emos de novo em nossa companhia, não é o desespero que nos assalta, senão apenas a saudade, quando recebemos a notícia da passagem de um desses entes.
Entretanto, não foi sem profundo choque, sem profundo abalo, que nos veio pelo telefone a triste notícia: – faleceu Lins de Vasconcellos.
A morte de Lins era o vácuo impreenchível. Ele era tudo entre nós. Nas oficinas do jornal, no escritório, nos corações. Nada se fazia sem a sua palavra, sem o seu conselho, sem a sua ação. Era quem dispunha, e tudo dependia dele.
Nada faltava a este periódico, porque ele aqui estava. E não media sacrifícios para mantê-lo, nem de tempo, nem de dinheiro, nem de sua preciosa saúde. E os trabalhos que teve, as desilusões por que passou, as verdadeiras amarguras que curtiu, as lágrimas necessariamente ocultas, que derramou, os bens que expendeu, a abnegação que demonstrou, tudo isto só o sabem aqueles que privavam com ele e que testemunhavam o seu imenso labor nesta casa.
Lins devia ser um espírito extraordinariamente forte. Muito agudos, por vezes eram os espinhos que o feriam. Ninguém, porém, lhe ouvia os queixumes.
Constantemente batiam-lhe à porta, e sabem-no de ciência certa aqueles que o procuravam, que nunca se fechava.
Como geralmente acontece com os espíritos elevados, a sua boa fé não tinha limites. E daí lhe provinham os maiores desenganos e as dores mais profundas, quando a ingratidão se apresentava como a recompensa do que fazia.
Era aquela fé que o sustinha. Ele acreditava na harmonia e na paz entre os homens. Só via nas criaturas a parte sã. Supunha que todos se regenerariam. E tinha um grande ideal, ideal que era a sua missão na terra: implantar a concórdia na família espírita. E foi sob os imperativos desse ideal que se tornou o principal impulsionador do célebre Pacto Áureo.
Sempre foi aquele o seu sonho. Nunca teve a menor idéia sectarista. Ele não era contra ninguém; era a favor de todos. O que ele desejava era a união. A união entre todos os espíritas, essa união que faz a força e a prosperidade, não só para que déssemos ao mundo um exemplo de confraternização, como para que, unidos, pudéssemos resistir ao embate violento dos adversários.
Ele era por todos os movimentos onde houvesse a aproximação dos espíritas em particular e das criaturas em geral.
Todos os moços sabem da sua cooperação valiosa, material e moral, por ocasião do Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, à frente da qual se achava Leopoldo Machado.
E o Congresso foi um verdadeiro triunfo, a começar pela sessão solene de inauguração no teatro João Caetano.
Em todas as solenidades, onde era preciso dar uma demonstração de atividade, e sobretudo, de solidariedade, poderíamos contar com a ação denodada de Lins de Vasconcellos, que mesmo doente, animava com sua presença, com sua palavra, com sua constante jovialidade, esses ágapes onde reinava a fraternidade e a harmonia, e onde se procurava implantar nos corações aquela semente de amor que o Cristo trouxe à Terra, pedindo aos seus discípulos que as levassem a toda a parte e a toda a criatura. E o Lins não fez outra coisa que não fosse espalhar aquela semente.
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A sua vida foi um memorável périplo. É a demonstração do que pode alcançar um espírito varonil. Foi uma luta constante, ininterrupta, entre a tenacidade e as asperezas; entre o vigor do ânimo e a adversidade.
Entrou pobre na vida e começou a lutar. E todos conhecem o que são as vicissitudes dessa luta quando o lutador é honesto, quando coloca sistematicamente de lado tudo o que possa macular a alma. E Lins, na sua juventude, quando ainda não conhecia os postulados do Espiritismo, quando o espírito ainda se pode deixar vencer pelo mundo e cair nas malhas da insídia, conservava imáculo o seu belo coração.
Foi um combate difícil, como todos os combates onde há desproporção de forças; de um lado, um jovem pobre e inexperiente, do outro, a vida com suas angústias e os homens com suas maldades.
Venceram a força de vontade, a obstinação no bem, a capacidade de trabalho, a inteligência. E o nosso denodado amigo conseguiu a sua independência econômica.
Formou-se em Engenharia, onde demonstrou a sua capacidade intelectual, e se tornou um industrial respeitável, por onde se via a sua imensa capacidade de trabalho e de organização.
Ei-lo, enfim, nas fileiras espíritas. A sua filiação à doutrina de Kardec era uma conseqüência lógica, foi o resultado inequívoco do seu passado. Ela lhe apareceu como uma coroação daquilo em que pusera toda a sua alma: – a paz e o amor entre os homens.
Principiou pelo socialismo. Os seus escritos, os seus estudos, a sua mente estavam voltados para uma organização melhor da sociedade. Via nos desequilíbrios sociais a infelicidade dos seres. E nessa fase de sua atividade já demonstrava que não existia nele o egoísmo, pois que possuindo bens, queria vê-los divididos pelos necessitados. Não se conformava com a desigual repartição das riquezas; com a excessiva prosperidade de uns e a miséria de outros;com a prepotência de um lado e a humilhação de outro lado;com o fausto e a ociosidade de uma parte e de outra parte o trabalho excessivo, que levava ao exaurimento.
E Lins dedicou-se de toda a alma às questões sociais. Era um socialista cristão: as reformas deveriam vir do centro para a periferia, isto é, da alma, do interior do ser humano, como uma dádiva para a coletividade.
Pois esse homem que só vivia para a paz e para o bem, que só pensava em meios pacíficos, que desejava as reformas pelo consenso de todos, viu-se, de repente, por denúncias perversas, envolvido nas malhas da polícia e levado ao xadrez. Como se fosse um comunista perigoso. Nunca foi.
Não lhe faltou, portanto, o seu quinhão de martírio na causa da humanidade.
Depois notou a prepotência de uma religião dominante sobre as demais. Pensou em congregar todos os religiosos do país para formarem uma linha de frente e oporem uma barreira aos privilégios, às prerrogativas, às imunidades, às vantagens de certa doutrina religiosa, que imperava no país, e ditava leis como soberana, e gozava quase que poderes absolutos, em detrimento e em prejuízo, não só das demais crenças religiosas, como da própria sociedade. Fizeram-no, então, presidente do “Estado leigo”, isto é, de uma sociedade que tinha por fim propugnar pela laicidade do Estado.
Em breve foram-se desvirtuando os fins da sociedade. Elementos políticos se foram infiltrando em suas fileiras. Lins, disfarçadamente, afastou-se. Sem o Lins, a sociedade morreu.
Dedicou-se, então, inteiramente ao movimento espírita.
Foi presidente da Federação Espírita do Paraná, que muito lhe deve, e onde grangeou amizades sólidas, que ainda perduram, para a felicidade do seu espírito e continuação de sua obra.
Por toda a parte por onde passava deixava um rastro luminoso de benefícios.
É quase impossível nomear as sociedades beneficiadas, já por seu número, como por não termos autorização para o fazer. Elas que o digam, se quiserem.
Membro do Conselho Federativo Nacional, tinha a pasta repleta de documentos; era um dos mais ativos, senão o mais ativo cooperador, com as suas idéias, as suas propostas, as suas resoluções.
Fez parte da caravana que foi ao Norte, apesar do seu precário estado de saúde. Ele sabia que o seu fim estava próximo, e quando os amigos lhe faziam notar os perigos a que se expunha com seu excesso de trabalho, respondia: – “Pois é, meu velho, precisamos aproveitar os últimos momentos”.
Carlos Imbassahy, em 19/03/1952.

ARTHUR CONAN DOYLE – BIOGRAFIA

Arthur Conan Doyle

Segundo escreveu o saudoso Prof. José Herculano Pires, prefaciando a obra de Arthur Conan Doyle, “História do Espiritismo”, é um nome conhecido e lido no mundo inteiro.

Dotado Conan Doyle de fértil imaginação, comunicabilidade natural de seu estilo, a espontaneidade de suas criações tornaram-no um escritor apreciado e amado por todos os povos.

Em nosso país a série Sherlock Holmes, a série Ficção Histórica e a série Contos e Novelas Fantásticas aqui estão para comprovar a afirmação feita em favor do extraordinário escritor.

Entretanto, é bom que se diga que ele não apenas se destacou naquelas linhas compostas com três séries, pois além de historiador, pregou o uso de métodos científicos na pesquisa policial, destacou-se também como um lúcido escritor espírita em todo o mundo, revelando notável compreensão do problema espírita in-totum (como ciência, filosofia e religião).

Então, além daquelas séries enumeradas no início destas considerações existem mais duas séries: a de História e a do Espiritismo.

Ao ser lançada a primeira edição da obra “História do Espiritismo”, a revista inglesa “Light” destacou o equilíbrio e a imparcialidade com que o assunto foi abordado. Uma extensa Nota assinada por D.N.G. destacou que os críticos haviam sido “agradavelmente surpreendidos”, porque Conan Doyle, conhecido como ardoroso propagandista do Espiritismo, fora de uma imparcialidade a toda prova. E o articulista da revista “Light” continuava: “Uma obra de história, escrita com preconceitos favoráveis ou contrários, seria, pelo menos, antiartística, pecado jamais cometido pelo autor de – The White Company -, em nenhum de seus trabalhos”.

O próprio Autor define aquele critério ao falar do desejo de contribuir para que o Espiritismo tivesse sua história e o objetivo da obra não era o de fazer propaganda de suas convicções, mas o de historiar o movimento espírita. Daí, colocar-se imparcial e serenamente como observador dos fatos que se desenrolam aos seus olhos, através do tempo e do espaço. (Ipsis litteris).

Reconhecendo a magnitude e amplitude do trabalho que se propôs realizar pediu auxílio a outras pessoas e encontrou em Mrs. Leslie Curnow uma dedicada e eficiente colaboradora e com essa ajuda prosseguiu investigações até concluir a obra.

Reconheceu não haver realizado um trabalho completo porque não dispunha de recursos necessários e tempo, mas, com satisfação verificou que fez o que era possível no momento, diante da enorme extensão e complexidade do assunto, além das condições de dificuldades do próprio movimento espírita da época.

Arthur Conan Doyle nasceu em 22 de maio de 1859, em Edimburgo, desencarnou em 7 de julho de 1930, em Cowborough (Susex), após viver 71 anos bem proveitosos.

Em junho de 1887 escreveu uma carta ao Editor da revista “Light” explicando as razões de haver se convertido ao Espiritismo. Tal carta foi publicada na edição de 2 de julho de 1887 da referida revista e republicada na edição de 27 de agosto de 1927.

Em 15 de julho de 1929 a “Revista Internacional do Espiritismo”, de Matão, São Paulo, dirigida por Cairbar Schutel, publicou no Brasil a primeira tradução integral daquela carta, documento importante, onde o jovem médico em 1887 revelava ampla compreensão do Espiritismo e a importância da Mensagem que a Doutrina trazia para o mundo inteiro.

Conan Doyle ainda escreveu um pequeno livro traduzido por Guillon Ribeiro e sob o título “A Nova Revelação”, que descreve em detalhes como se deu sua conversão.

Outras obras doutrinárias de grande mérito, revelando perfeito entendimento do problema religioso do Espiritismo, afirmando a condição essencialmente psíquica da religião espírita, “A Religião Psíquica”.

A doutrina da reencarnação determinou o aparecimento de uma divergência entre aquilo que se estabeleceu chamar Espiritismo Latino e Espiritismo Anglo-Saxão. Estes, particularmente os ingleses e americanos, embora aceitassem a Doutrina Espírita não admitiam o Princípio Reencarnacionista e tal motivou os ataques e críticas ao Espiritismo. Embora a resistência mantida na Inglaterra e nos Estados Unidos contra o Princípio Reencarnacionista, Conan Doyle e outros espíritas americanos e ingleses, de renome, admitiam a reencarnação.

Na obra “A Nova Revelação”, Conan Doyle declara que “muitos estudiosos têm sido atraídos ao Espiritismo, uns pelo aspecto religioso, outros pelo científico, mas, até agora ninguém tentou estabelecer a exata relação que existe entre os dois aspectos do problema”. Tal foi escrito entre 1927 e 1928, sessenta anos após a desencarnação de Kardec.

Sabemos que Kardec definiu e solucionou aquele problema ao apresentar o Espiritismo como Doutrina sob tríplice aspecto: filosófica, científica e religiosa.

E Conan Doyle identificava-se com o pensamento de Kardec, aguardando que a codificação kardequiana aparecesse, sem perceber que ela já existia e estava ao seu lado, para lá do Canal da Mancha.

Fonte: site: www.espiritismogi.com.br/biografias

ARISTIDES DE SOUZA SPÍNOLA – BIOGRAFIA

Aristides de Souza Spínola

Aristides de Souza Spínola nasceu em Caetité (Bahia), a 29 de Agosto de 1850, e desencarnou no Rio de Janeiro aos 9 de Julho de 1925.

Filho do Cel. Francisco de Souza Spínola, que foi deputado geral em três legislaturas, e de D. Constança Pereira de Souza Spínola. Esta família ilustre e de prestígio na Bahia criou o filho dentro de rígidos princípios morais, fazendo-lhe ver o valor de um nome honrado.

Bem cedo, o menino revelou-se altamente curioso de tudo que lhe chegasse aos sentidos, elaborando, às vezes, perguntas bastante embaraçosas e que demonstravam a viva inteligência de que era dotado.

No ano de 1871, bacharelou-se em Direito, após cursar brilhantemente a Faculdade de Direito do Recife. A sua aplicação e assiduidade foram tais, que durante os cinco anos do curso acadêmico não teve uma única falta!

Abriu, em seguida, a banca de advogado em sua terra natal. Fez, por essa época, diversas excursões pelo interior da Bahia e, particularmente, pelo vale do S. Francisco, com o fim de estudar as localidades e colher notas para os seus estudos históricos.

Bem moço ainda, entrou na carreira política, tendo sido eleito, em 1878, deputado provincial
pela Bahia. Por indicação do Dr. Aristides César Spínola Zama, seu primo, foi nomeado, de 1879 a 1880, Presidente da Província (Estado) de Goiás, tendo ouvido do imperador D. Pedro II, quando a este foi agradecer a nomeação, elogiosas referências aos predicados morais e intelectuais de que já havia dado provas.

Em 1881, na primeira legislatura de eleição direta, representou a sua terra na Assembléia Geral do Império. Ganhando prestígio sempre crescente ante o eleitorado baiano, foi reeleito deputado geral nas legislaturas de 1885 e de 1886 a 1889, sendo que nesta última fora eleito na vaga aberta pela morte de Pedro Carneiro da Silva.

Ao ser proclamada a República, em 1889, ocupava ele, o mais jovem dos deputados, o cargo de 1.º Secretário da Câmara.

No regime republicano, depois de haver pleiteado, por duas vezes, a eleição de deputado federal, só conseguiu ser reconhecido para a de 1909-1911, dando-se neste último ano o seu afastamento definitivo da política, para se consagrar exclusivamente à advocacia e ao estudo e meditação da Doutrina Espírita, que já o contava de há muito entre seus adeptos mais fervorosos, sinceros e esclarecidos.

Foi em 1905 que Aristides Spínola ingressou na Federação Espírita Brasileira, convidado pelo então Diretor na Assistência aos Necessitados, Pedro Ricardo.

Eleito para o cargo de vice-presidente, na do Dr. Geminiano Brazil de Oliveira Góis, outro espírita ilustre e fiel, Aristides Spínola desenvolveu naquela Casa toda uma atividade polimorfa e intensa, a ela se dedicando durante vinte e um anos seguidos, amado por todos os companheiros que com ele privaram.

Na vice-presidência da FEB permaneceu de 1905 a 1913. Presidente em 1914 e em 1916 e 1917, voltando a exercer o cargo de vice-presidente em 1920 e 1921.

Ocupou, de novo, de 1922 a 1924, a direção da Casa, sendo eleito, em 1925, para a vice-presidência, cargo que desempenhou até à data de sua desencarnação, ocorrida aos 9 de Julho do mesmo ano.

Foi, assim, presidente da Federação Espírita Brasileira durante seis anos e vice-presidente onze anos e meio. Nunca, porém, solicitou ou disputou nenhum desses cargos, ou qualquer outro da Diretoria da Federação, fazendo questão unicamente de prestar-lhe seus serviços, fosse de que maneira fosse, pronto, declarou-o mais de uma vez, humilde e modesto como de fato sempre foi, a ocupar o de porteiro se só neste o julgassem apto a servir.

E dado lhe foi satisfazer amplamente a esse desejo seu, porquanto, desde o primeiro dia em que se incorporou à caravana dos que na Federação laboravam, relevantes e ininterruptos serviços lhe prestou, seja como membro da sua administração, seja fora de qualquer cargo administrativo.

O que ele queria era trabalhar. E trabalhou sempre, e muito, e trabalhou bem.

Dentre esses serviços merecem destacados os que teve ensejo de dispensar-lhe como advogado, de todas as vezes em que o Espiritismo se viu alvejado pela ciência oficial, sob a forma de perseguições aos médiuns, por exercício ilegal da medicina.

Como jornalista de irrecusável mérito, Aristides Spínola colaborou em vários jornais. No “Diário da Bahia” escreveu as narrativas de algumas de suas excursões realizadas na juventude.

Com o pseudônimo Buxton, defendeu, em “A Pedidos” do “Jornal do Comércio“, do Rio, o Ministério Dantas.

Foi um dos fundadores, em 1891, do “Jornal do Brasil”, onde teve a seu cargo a parte política. 

Antes, pertencera à redação de um diário, cremos que a “Gazeta da Tarde“, que fora empastelado em 1897, achando-se Aristides Spínola no edifício do jornal quando essa violência se consumou.

Além de alguns escritos inéditos e muitos outros estampados em periódicos espíritas e leigos, são de sua pena, entre outras, as seguintes obras: “Presidência do Barão Homem de Melo. Excursões administrativas”, Bahia 1879; “Relatórios sobre a administração da Província de Goiás, 1879-1880 (2 vols.); “Estudo sobre os índios que habitam as margens do rio Araguaia”, memória em que estuda os índios carajás e que se acha anexa ao relatório da exploração desse rio pelo engenheiro J. R. de Morais Jardim, Rio, 1880; “Orçamento do Ministério da Agricultura”, discurso proferido na sessão da Câmara dos Srs. Deputados, em 13 de Julho de 1882, Rio, 1882; “Elemento Servil”, Discursos proferidos em sessões da Câmara, de 22 de Junho e 4 de Junho de 1883, Rio, 1883.

Em 1889, deu a público uma tese que apresentou no Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil, versando sobre direitos do comerciante no exercício de sua profissão.

Sob os auspícios da Federação Espírita Brasileira, foi editada, em 1902, a tradução que Spínola fez da obra do Dr. E. Gyel: “Ensaio de revista geral e da interpretação sintética do Espiritismo”.

Em 1915, com o título “Caridade perseguida”, fez imprimir um memorial de recurso criminal. 

Sólida erudição espírita, teológica e jurídica projetaram-lhe o nome dentro e fora do campo espírita sendo-lhe admirados o critério e a ponderação com que resolvia os problemas administrativos, bem como o espírito evangélico e conciliador nos mais delicados e controvertidos assuntos.

Fonte: Rede Boa Nova de Rádio

ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA (BATUÍRA) – BIOGRAFIA









Antônio Gonçalves da Silva (Batuíra)

Nascido a 26 de dezembro de 1838, em Portugal, na Vila Meã, freguesia de São
Tomé do Castelo, concelho de Vila Real e desencarnado em São Paulo, no dia 22 de janeiro de 1909.

Completada a sua instrução primária, veio para o Brasil, com apenas doze anos de idade, aportando no Rio de Janeiro, a 3 de janeiro de 1850.
Seu nome de origem era Antônio Gonçalves da Silva, entretanto, devido a ser um moço muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara “o Batuíra”, o nome que se dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de voo rápido, que frequentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, em S. Paulo, pelos transbordamentos do rio Tamanduateí.

Desde então o cognome Batuíra foi incorporado ao seu nome.
Batuíra desempenhou uma série de atividades que não cabe registrar nesta concisa biografia, entretanto, podemos afirmar que defendeu calorosamente a ideia da abolição da escravatura no Brasil, quer seja abrigando escravos em sua casa e conseguindo lhes a carta de alforria, ou fundando um jornalzinho a fim de colaborar na campanha encetada pelos grandes abolicionistas Luiz Gama, José do Patrocínio, Raul Pompéia, Paulo Ney, Antônio Bento, Rui Barbosa e tantos outros grandes paladinos das ideias liberais.

Homem de costumes simples, alimentando-se apenas de hortaliças, legumes e frutas, plantava no quintal de sua casa tudo aquilo de que necessitava para o seu sustento.
Com as economias, adquiriu os então desvalorizados terrenos do Lavapés, em S. Paulo, edificando boa casa de residência e, ao lado dela, uma rua particular com pequenas casas que alugava a pessoas necessitadas. O tempo contribuiu para que tudo ali se valorizasse, propiciando a Batuíra apreciáveis recursos financeiros. A rua particular deveria ser mais tarde a Rua Espírita, que ainda lá está.

Tomando conhecimento das altamente consoladoras verdades do Espiritismo, integrou-se resolutamente nessa causa, procurando pautar seus atos nos moldes dos preceitos evangélicos.

Identificou- se de tal maneira com os postulados espíritas e evangélicos que, ao contrário do “moço rico” da narrativa evangélica, como que procurando dar uma demonstração eloquente da sua comunhão com os preceitos legados por Jesus Cristo, desprendeu-se de tudo quanto tinha e pôs-se a seguir as Suas pegadas.

Distribuiu o seu tesouro na Terra, para entrar de posse daquele outro tesouro do Céu.

Tornou-se um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil. Fundou o “Grupo Espírita Verdade e Luz”, onde, no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembleia, dava início a uma série de explanações sobre “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Nessa oportunidade deixara de circular a única publicação espírita da época, intitulada “Espiritualismo Experimental” redigida desde setembro de 1886, por Santos Cruz Junior. 

Sentindo a lacuna deixada por essa interrupção, Batuíra adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou “Tipografia Espírita”, iniciando a 20 de maio de 1890, a publicação de um quinzenário de quatro páginas com o nome “Verdade e Luz”, posteriormente transformado em revista e do qual foi o diretor responsável até a data de sua desencarnação.

A tiragem desse periódico era das mais elevadas, pois de 2 ou 3 mil exemplares, conseguiu chegar até 15 mil, quantidade fabulosa naquela época, quando nem os jornais diários ultrapassavam a casa dos 3 mil exemplares. Nessa tarefa gloriosa e ingente Batuíra despendeu sua velhice. Era de vê-lo, trôpego, de grandes óculos, debruçado nos cavaletes da pequena tipografia, catando, com os dedos trêmulos, letras no fundo dos caixotins.

Para a manutenção dessa publicação, Batuíra despendeu somas respeitáveis, já que as assinaturas somavam quantia irrisória.

Por volta de 1902 foi levado a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita e na Rua dos Lavapés, a fim de equilibrar suas finanças.

Não era apenas esse periódico que pesava nas finanças de Batuíra. Espírito animado de grande bondade, coração aberto a todas as desventuras, dividia também com os necessitados o fruto de suas economias.

Na sua casa a caridade se manifestava em tudo: jamais o socorro foi negado a alguém, jamais uma pessoa saiu dali sem ser devidamente amparada, havendo mesmo muitas afirmativas de que “um bando de aleijados vivia com ele”. Quem ali chegasse, tinha cama, mesa e um cobertor.

Certa vez, um desses homens que vivia sob o seu amparo, furtou-lhe um relógio de ouro e corrente do mesmo metal. Houve uma denúncia e ameaças de prisão.
A esposa de Batuíra lamentou-se, dizendo: É o único objeto bom que lhe resta. Batuíra, porém, impediu que se tomasse qualquer medida, afirmando: Deixai-o, quem sabe precisa mais do que eu.

Batuíra casou-se em primeiras núpcias com Da. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a desencarnar depois de homem feito e casado. 

Em segundas núpcias, casou-se com Da. Maria das Dores Coutinho e Silva; desse casamento teve um filho, que desencarnou repentinamente com doze anos de idade.

Posteriormente adotou uma criança retardada mental e paralítica, a qual conviveu em sua companhia desde 1888.

Figura bastante popular em S. Paulo, Batuíra tornou-se querido de todos, tendo vários órgãos da imprensa leiga registrado a sua desencarnação e apologiado a sua figura exponencial de homem caridoso e dedicado aos sofredores.


Fonte: Grandes vultos do Espiritismo – A vida surpreendente de Batuíra, Apolo Oliva Filho e Boletim SEI n. 2149, ed. Lar Fabiano de Cristo.

ANGEL AGUAROD – BIOGRAFIA

Angel Aguarod


Angel Aguarod veio à vida terrena em um humilde lar, na vila Ayerbe, província de Huesca, ao norte da Espanha, em 2 de Outubro de 1860, sendo seus pais Dom Juan Aguarod e Dona Juana Torrero.

Nascido em um lar católico, sua primeira educação, naturalmente, foi católica, estando ela a cargo de seu tio materno Dom Pablo Torrero, que era cura e pároco da povoação de Novales, da mesma província de Huesca.

Contava 11 anos, quando saiu da Província natal para radicar-se na populosa e ativa Barcelona. Foi nesta cidade que se deu a evolução de seu espírito ávido de progresso. Na buliçosa capital catalã emancipou-se da tutela católica. As ideias de liberdade, igualmente e fraternidade invadiram sua alma, dela tomando conta.

De origem humilde, teve que dar seus primeiros passos, na vida material, no seio da classe operária. Como operário, filiou-se à entidade de sua classe e, aos 17 anos, já ocupava o cargo de secretário geral e delegado da mesma perante o “Centro Federativo de Las Sociedades Obreras”, de Barcelona.

Por essa época, 1877, iniciou-se na Capital da Catalunha, por Dom Antônio Tudury y Pons, um movimento em favor do ensino leigo, ao qual aderiu com todo o entusiasmo, fundando, ele mesmo, um colégio que dirigiu e sustentou até o ano de 1905, após o que, veio radicar-se na Argentina.

Para atender e dirigir esse colégio, que recebeu o nome de Sócrates, fez o curso da Escola Normal de Barcelona, frequentando as aulas noturnas, posto que, durante o dia, precisava ganhar seu sustendo e do sua família.

Foi em 1880 que seu espírito inquieto se interessou pela Doutrina Espírita, dedicando-se plenamente a seu estudo. Seus primeiros passos no terreno do Espiritismo foram dados em “La Cosmopolita”, sociedade formada por elementos genuinamente racionalistas e de tendências liberais e universalistas.

Passou logo para o “Centro Barcelonés de Estudios Psicológicos”, do qual foi um dos fundadores, assim como foi da ” Unión Espiritista Kardeciana” e dos Centros “Socrates” e “Amor y Ciência “, dos quais ocupou a presidência, em vários períodos, tendo atuação destacada.

Pode-se afirmar que até 1905, época em que se mudou para a Argentina, não houve ato jubiloso de propaganda espírita em Espanha no qual não tomasse parte e, em muitos deles, juntamente com Amália Domingo Soler, Belen Serraga de Ferrero, visconde Antônio Torres Solanot, doutor Manuel Sanz Benito, Miguel Vives, Quintin López Gomez, Fabian Palasi e muitos outros pioneiros do movimento espírita espanhol.

Passou a residir na República Argentina, em 1905, e logo começou a trabalhar na “Constancia” e em “La Fraternidad”. Pouco tempo depois fundou o “Centro Amor y Ciencia” e a “Liga Espiritista Kardeciana de Propaganda”, instituições que presidiu, bem como dirigiu a Escola Dominical que funcionava no Centro Amor y Ciencia.

Ainda dirigiu a primitiva revista “El Espiritismo”, que fundou como órgão oficial da Liga.

Foi um dos mais destacados conferencistas do quadro organizado pela “Constancia”, revezando-se na tribuna com Cosme Mariño, Doutor Ovídio Rebaudi, Fransisco Durand e alguns outros luminares da oratória.

Percorreu várias vezes o interior da Argentina, fazendo conferências e auxiliando a fundação de centros e sociedades espíritas.

Voltou à Espanha e, pouco tempo depois, rumou para o Uruguai, onde permaneceu alguns meses, para, em seguida residir no Paraguai, país no qual se entregou a um trabalho ativo de propaganda, mas onde seu espírito sofreu rude golpe com a desencarnação trágica de seu neto mais querido, morto num acidente de tráfego.

Por breve tempo tornou à sua pátria natal e, em 1915, voltou à América do Sul, resolvendo residir em Porto Alegre. De chegada ali, incorporou-se à vida ativa espírita brasileira, atuando em várias sociedades e entrando a colaborar na revista “Eternidade”, órgão das Sociedades “Dias da Cruz” e “Allan Kardec”, revista que ele, mais tarde, passou a dirigir até sua última publicação. Na revista referida iniciou uma intensa campanha em prol da união dos espíritas rio-grandenses, campanha que foi coroada de êxito com a fundação, em 17 de Fevereiro de 1921, na Federação Espírita do Rio Grande do Sul, cujos destinos presidiu até 1927, realizando, durante sua presidência e depois desta, numerosas excursões de propaganda, que deram como resultado a função de novas sociedades e centros de estudo pelo interior do Estado.

Fundador, em 1921, em Porto Alegre, do Grupo “Paz” e, em 1922, da Sociedade
“Paz e Amor”, foi eleito seu presidente, cargo que desempenhava ainda por ocasião de sua desencarnação.

Aguarod não só desenvolveu suas atividades associativas no campo do Espiritismo, como dedicou sempre seus melhores entusiasmos.

Seu trabalho de publicista espírita foi enorme. Fundou e dirigiu periódicos e revistas tais como “El Espiritismo”, desde 1905 a 1912, em Buenos Aires; “Nueva Era”, em Barcelona; ainda dirigiu “La Unión Espiritista”, também em Barcelona; “Fraternidad “, de Alcoy (Alicante); “La Antorcha del Progresso”, de Badalona; “Eternidade” e “Boletim da Federação Espirita do Rio Grande do Sul”, colaborando em muitas outras, como sejam: “Luz y Unión”, “La Luz del Porvenir”, de Barcelona; “Constancia” e “La Fraternidad” , de Buenos Aires; “Reformador”, do Rio de Janeiro; “El Espiritismo” e “Luz y Vida “, também de Buenos Aires; “Rosendo”, de Cuba, além de uma infinidade de artigos que eram solicitados por outros periódicos da Europa e da América, os quais ele enviava de bom grado sem nunca receber, por tanto labor, retribuição alguma, apesar de, em toda a sua vida, ganhar seu modesto pão quotidiano com seu trabalho em honestas ocupações e empregos, algumas vezes como operário, outras como educador.

Diante de tão grande atividade, quem poderia pensar que ainda lhe sobraria tempo para outros trabalhos, além de suas múltiplas ocupações diárias?!… Pois ainda conseguia tempo para escrever algumas obras de propaganda e divulgação espírita, tais como “Los Mensajes de Abuelo Pablo”, “Orientado hacia las Cambres “, “Del Maestro al Discípulo”, “Confidencias Espirituales “, “Grandes y Pequeños Problemas a la Luz de la Nueva Revelación “(em castelhano), publicada em tradução portuguesa (1932) pela FEB, “Vozes de Além-Túmulo (em português), “La Verdad a los Ninõs “, obras às quais atribuía origem espiritual, pois Aguarod acreditava possuir a mediunidade intuitiva, meio pelo qual supunha lhe foram ditadas.
Deixou, inédita, a importante obra – “O Sermão da Montanha’. Aos 13 dias do mês de Novembro de 1932, desencarnou, em Porto Alegre, contando a idade de 72 anos, o incansável batalhador da Causa Espírita.

Fonte: site: www.espiritismogi.com.br/biografias

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

LIVRO DOS ESPÍRITOS

VIII – Perseverança e Seriedade

Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. Ainda menos saberíamos dá-los a alguns que, para não decaírem da reputação de homens de espírito, se afadigam por achar um lado burlesco nas coisas mais verdadeiras, ou tidas como tais por pessoas cujo saber, caráter e convicções lhes dão direito à consideração de quem quer que se preze de bem-educado. Abstenham-se, portanto, os que entendem não serem dignos de sua atenção os fatos. Ninguém pensa em lhes violentar a crença; concordem, pois, em respeitar a dos outros.

O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. Será de admirar que muitas vezes não se obtenha nenhuma resposta sensata a questões de si mesmas graves, quando propostas ao acaso e à queima-roupa, em meio de uma aluvião de outras extravagantes? Demais, sucede frequentemente que, por complexa, uma questão, para ser elucidada, exige a solução de outras preliminares ou complementares. Quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das ideias. Que adiantará aquele que, ao acaso, dirigir a um sábio perguntas acerca de uma ciência cujas primeiras palavras ignore? Poderá o próprio sábio, por maior que seja a sua boa-vontade, dar-lhe resposta satisfatória? A resposta isolada, que der, será forçosamente incompleta e quase sempre por isso mesmo, ininteligível, ou parecerá absurda e contraditória. O mesmo ocorre em nossas relações com os Espíritos. Quem quiser com eles instruir-se tem que com eles fazer um curso; mas, exatamente como se procede entre nós deverá escolher seus professores e trabalhar com assiduidade.

Dissemos que os Espíritos superiores somente às sessões sérias acorrem, sobretudo às em que reina perfeita comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem. A leviandade e as questões ociosas os afastam, como, entre os homens, afastam as pessoas criteriosas; o campo fica, então, livre à turba dos Espíritos mentirosos e frívolos, sempre à espreita de ocasiões propícias para zombarem de nós e se divertirem à nossa custa. Que é o que se dará com uma questão grave em reuniões de tal ordem? Será respondida; mas, por quem? Acontece como se a um bando de levianos, que estejam a divertir-se, propusésseis estas questões: Que é a alma? Que é a morte? e outras tão recreativas quanto essas. Se quereis respostas sisudas, haveis de comportar-vos com toda a sisudeza, na mais ampla acepção do termo, e de preencher todas as condições reclamadas. Só assim obtereis grandes coisas. Sede, além do mais, laboriosos e perseverantes nos vossos estudos, sem o que os Espíritos superiores vos abandonarão, como faz um professor com os discípulos negligentes.

ABNEGAÇÃO


A evolução espiritual é um fenômeno bastante complexo, que se dá em sucessivas fases.

No começo, predomina a natureza corpórea.

Dominada pelos instintos, a criatura dedica seu tempo e seu interesse a atividades comezinhas.

Comer, vestir-se, abrigar-se, procriar e cuidar da prole, eis a que se resumem suas preocupações.

Nesse período, o egoísmo é marcante.

Os instintos de conservação da vida e da preservação da espécie têm absoluta preponderância.

Com o tempo, o ser começa a desvincular-se de sua origem.

A inteligência se desenvolve, o raciocínio se sofistica e o senso moral desabrocha.

As invenções tornam possível gastar tempo com questões não diretamente ligadas à sobrevivência.

Viver deixa de ser tão difícil, sob o prisma material.

Em compensação, começam os dilemas morais.

Com a razão desenvolvida, a responsabilidade surge forte nos caminhos espirituais.

O que antes era admissível passa a ser um escândalo.

A sensibilidade se apura e a criatura aspira por realizações intelectuais e afetivas.

Essa nova sensibilidade também evidencia que o próximo é seu semelhante, com igual direito a ser feliz e realizado.

Gradualmente se evidencia a igualdade básica entre todos os homens.

Malgrado possuidores de talentos e valores diversos, não se distinguem no essencial.

Uma chama divina os anima e a todos conduzirá aos maiores cimos da evolução.

Contudo, o abandono dos hábitos toscos das primeiras vivências não é fácil.

Séculos são gastos na árdua tarefa de domar vícios e paixões.

As encarnações se sucedem enquanto o Espírito luta para ascender.

O maior entrave para a libertação das experiências dolorosas é o egoísmo, que possui forte vínculo com o apego às coisas corpóreas.

Quanto mais se aferra aos bens materiais, mais o homem demonstra pouco compreender sua natureza espiritual.

O Espírito necessita libertar-se do apego a coisas transitórias.

Apenas assim ele adquire condições de viver as experiências sublimes a que está destinado.

Quem deseja sair do primitivismo deve combater o gosto pronunciado pelos gozos da matéria.

O melhor meio para isso é praticar a abnegação.

Trata-se de uma virtude que se caracteriza pelo desprendimento e pelo desinteresse.

A ação abnegada importa na superação das tendências egoístas do agente.

Age-se em benefício de uma causa, pessoa ou princípio, sem visar a qualquer vantagem ou interesse pessoal.

Certamente não é uma virtude que se adquire a brincar.

Apenas com disciplina e determinação é que ela se incorpora ao caráter.

Mas como ninguém fará o trabalho alheio, é preciso principiar em algum momento.

Comece, pois, a praticar a abnegação.

Esforce-se em realizar uma série de atitudes com foco no próximo.

Esqueça a sua personalidade e pense com interesse no bem alheio.

Esse esforço inicial não tardará a dar frutos.

O gosto pelo transitório lentamente o abandonará.

Ele será substituído pelos prazeres espirituais.

Você descobrirá a ventura de ser bondoso, de amparar os caídos e de ensinar os ignorantes.

Esses gostos suaves e transcendentes o conduzirão a esferas de sublimes realizações.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita.
Em 17.6.2013.

INVISÍVEIS, MAS NÃO AUSENTES

Victor Hugo

Quando morreu, no século XIX, Victor Hugo arrastou nada menos que dois milhões de acompanhantes em seu cortejo fúnebre, em plena Paris.

Lutador das causas sociais, defensor dos oprimidos, divulgador do ensino e da educação, o genial literato deixou textos inéditos que, por sua vontade, somente foram publicados após a sua morte.

Um deles fala exatamente do homem e da Imortalidade e se traduz mais ou menos nas seguintes palavras:

A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba, e a alma começa.

Que digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto. Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo?

Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser. O que constitui o meu eu, irá além.

O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra, coloca o pé em todas as saliências e sobe até ao respiradouro.

Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspira o ar livre, vê a luz.

Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. 

Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída?

Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo, de que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?

A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo. É por demais pesado para esta Terra.

O mundo luminoso é o mundo invisível. O mundo do luminoso é o que não vemos. Os nossos olhos carnais só veem a noite.

A morte é uma mudança de vestimenta. A alma, que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz.

Na morte o homem fica sendo imortal. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a Terra, pelo peso que faz nela.

A morte é uma continuação. Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.

As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz, aproximam-se cada vez mais e mais de Deus.

O ponto de reunião é no infinito.

Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.

Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito.

*   *   *
Muitos consideram que a morte de uma pessoa amada é verdadeira desgraça, quando, em verdade, morrer não é finar-se nem consumir-se, mas libertar-se.
Assim, diante dos que partiram na direção da morte, assuma o compromisso de preparar-se para o reencontro com eles na vida espiritual.
Prossiga em sua jornada na Terra sem adiar as realizações superiores que lhe competem, pois elas serão valiosas, quando você fizer a grande viagem, rumo à madrugada clarificadora da eternidade.

Redação do Momento Espírita, a partir do cap. Palavras do autor e cap. A França chora seu maior poeta, do livro Victor Hugo e seus fantasmas, de Eduardo Carvalho Monteiro.

Editora EME


Em 29.03.2010.

JUSTIÇA DIVINA

Ary Brasil Marques
O homem costuma avaliar os acontecimentos da vida como castigos divinos. A maioria das pessoas acredita que o ser humano é pecador, e que seus pecados redundam em castigos por parte de Deus.
Essa maneira de pensar foi herdada da maneira equivocada de como as religiões abordam o assunto. A interpretação bíblica do paraíso perdido, do pecado cometido por Adão e Eva, da influência da cobra e da expulsão do casal do Éden e sua consequente vida de trabalho, considerando-se como um mal o suor do homem na busca de seu sustento, criou nas pessoas a falsa ideia de que o homem tem que sofrer e que ele é um pecador que deve ser punido pelo seu pecado.
Outra consequência desse erro é se acreditar que Deus é cruel e vingativo, e que Ele castiga aos seus filhos. E erro maior ainda é o de se considerar esse castigo eterno em local destinado ao suplício dos pecadores, por toda a eternidade.
O Espiritismo nos dá uma outra visão. O homem não é um pecador, é um espírito criado simples e ignorante, destinado a alcançar, por seu próprio esforço, a plenitude, a perfeição, a felicidade. Deus criou a todos iguais, sem privilégios para ninguém, e dotou o homem do livre-arbítrio para que cada um possa caminhar com inteira liberdade de ação e aprender com o próprio erro. Estabeleceu normas e bases corretas, e uma lei de reajuste automático denominada Lei de Causa e Efeito.
A Lei de Causa e Efeito é complemento necessário à Lei de Justiça, de Amor e de Caridade. Por ela o homem vai se depurando, evoluindo, corrigindo os erros, até conseguir, mercê de seu próprio esforço, alcançar a perfeição e a consequente felicidade.
A Lei de Causa e Efeito é também chamada Lei de Ação e de Reação. É uma lei automática, ou seja, já tem embutida em si mesma os efeitos decorrentes de nossos atos. Atos bons trazem como consequência efeitos bons. Atos maus, efeitos maus. Assim, quem planta ventos colhe tempestades. Quem planta amor colhe amor. A semeadura é livre, a colheita é obrigatória. Todos, absolutamente todos, colherão sempre apenas e tão somente o que plantarem. Ninguém poderá colher maçãs se plantou bananas.
O homem, no início simples e ignorante, vai agindo e ampliando o seu livre-arbítrio à medida que evolui e adquire mais conhecimentos. Ele erra, porque não conhece. Com as consequências de seu erro, ele aprende, e quando aprende não erra mais.
Há uma diferença fundamental entre o erro e o pecado. Erro é consequência de desconhecimento, de imaturidade, de falta de calma, de falta de melhor estrutura. É o caso das crianças, que em sua aprendizagem sofrem muitas vezes efeitos de seus atos imaturos e imprecisos, até que, já adultos, sorriem ao verificar quanta coisa tiveram de passar por sua própria culpa. Muita gente costuma dizer: “se eu tivesse, quando mais moço, a experiência que tenho hoje, como as coisas teriam sido diferentes.”
Pecado, segundo o Dicionário Caldas Aulete, é a transgressão de uma lei religiosa ou dos preceitos da Igreja. Segundo o mesmo dicionário, todos nós que somos espíritas e que não seguimos os preceitos da Igreja e suas leis, somos pecadores.
Para nós, Deus é a suprema perfeição, causa primária de todas as coisas. Deus é infinitamente bom e justo e não castiga os seus filhos, que não pediram para ser criados e se são ainda imperfeitos e cheios de falhas e erros, são porque foram feitos assim por Ele.
Deus nos criou para a felicidade, não para o sofrimento. É um erro supor que a Terra será sempre um vale de lágrimas. Ela, hoje, ainda planeta de expiação e de provas, abriga em seu seio espíritos muito imperfeitos, e a situação caótica do mundo nada mais é que a colheita coletiva que estamos fazendo dos atos repletos de egoísmo e de desamor que temos feito ao longo de nossa grande caminhada pela fieira das reencarnações.
Mas um dia, com toda a certeza, aprenderemos com os nossos próprios erros, e colocaremos em nossos corações o evangelho de Jesus. Aprendendo a nos amar, e colocando esse amor na frente de todos os nossos atos, mudaremos o mundo e construiremos aqui na Terra um planeta maravilhoso, habitável, fraterno, saudável e feliz.
Somos os construtores de nosso destino. Por enquanto, é um destino muito feio, calcado no egoísmo, no orgulho, na prepotência. Mas as consequências de nossos erros guardam em si mesmos o remédio para nossos males, e nos impulsionam a mudar, a modificar nossa vida, nossos hábitos, nosso modo de agir.
Um velho carpinteiro estava para se aposentar. Contou a seu chefe os planos de largar o serviço de carpintaria e de construção de casas para viver uma vida mais calma com sua família. Claro que sentiria falta do pagamento mensal, mas necessitava da aposentadoria.
O dono da empresa sentiu em saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse uma última casa como um favor especial.
O carpinteiro consentiu, mas, com o tempo, era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e utilizou mão de obra e matérias primas de qualidade inferior.
Foi uma maneira lamentável de encerrar sua carreira.
Quando o carpinteiro terminou o trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da porta ao carpinteiro:
“Esta é a sua casa”, ele disse, “meu presente para você.”
Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado. Agora iria morar numa casa feita de qualquer maneira.
Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de maneira distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor. Nos assuntos importantes não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque, olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente.
Pense em você como o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo, coloca uma armação ou levanta uma parede. Construa sabiamente. É a única vida que você construirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, esse dia merece ser vivido graciosamente e com dignidade.
Na placa na parede está escrito:
“A vida é um projeto de faça você mesmo.”
Quem poderia dizer isso mais claramente?
Sua vida de hoje é o resultado de suas atitudes e escolhas feitas no passado.
Sua vida de amanhã será o resultado das atitudes e escolhas que fizer hoje.”
O episódio acima nos dá a ideia exata de que a justiça divina, que, como diz o povo, não falha, é centrada em nossos próprios atos. Nós plantamos, e nós colhemos. Deus não irá nos castigar porque erramos. Nós sim, colhendo o resultado do que plantamos, vamos nos melhorando, nos aperfeiçoando, até podermos alcançar nosso objetivo, que é a felicidade e a perfeição.

SBC, 31/01/2001.