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EMMANUEL – BIOGRAFIA

Emmanuel

Emmanuel, exatamente assim, com dois “m” se encontra grafado o nome do espírito, no original francês “L’Évangile Selon le Spiritisme”, em mensagem datada de Paris, em 1861 e inserida no cap. XI, item 11 da citada obra, intitulada “O Egoísmo”.
O nome ficou mais conhecido, entre os espíritas brasileiros, pela psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez, numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez presente o bondoso espírito Emmanuel.
Descreve Chico: “Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz”.
Convidado a se identificar, apresentou alguns traços de suas vidas anteriores, dizendo-se ter sido senador romano, descendente da orgulhosa “gens Cornelia” e, também sacerdote, tendo vivido inclusive no Brasil.
De 24 de outubro de 1938 a 9 de fevereiro de 1939, Emmanuel transmitiu ao médium mineiro as suas impressões, dando-nos a conhecer o orgulhoso patrício romano Públio Lentulus Cornelius, em vida pregressa Públio Lentulus Sura, e que culminou no romance extraordinário: Há Dois Mil Anos.
Públio é o homem orgulhoso, mas também nobre. Roma é o seu mundo e por ele batalha. Não admite a corrupção, mostrando, desde então, o seu caráter íntegro. Intransigente, sofre durante anos a suspeita de ter sido traído pela esposa a quem ama. Para ela, nos anos da mocidade, compusera os mais belos versos: “Alma gêmea da minhalma/ Flor de luz da minha vida/ Sublime estrela caída/ Das belezas da amplidão…” e, mais adiante: “És meu tesouro infinito/ Juro-te eterna aliança/ Porque eu sou tua esperança/ Como és todo o meu amor!”
Tem a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Jesus, mas entre a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, escolhe a segunda.
Não é por outro motivo que escreve, ao início da citada obra mediúnica: “Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírita, há dois mil anos”.
Desencarnou em Pompéia, no ano de 79, vítima das lavas do vulcão Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus.
Cinquenta anos depois, no ano de 131, ei-lo já de retorno ao palco do mundo. Nascido em Éfeso, de origem judia, foi escravizado por ilustres romanos que o conduziram ao antigo país de seus ascendentes. Nos seus 45 anos presumíveis, Nestório mostra no porte israelita, um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, tornaria a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas onde ele, Nestório, tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde os dias da infância, é preso e, após um período no cárcere, por manter-se fiel a Jesus, é condenado à morte.
Junto com o filho, Ciro, e mais uma vintena de cristãos, num fim de tarde, foi conduzido ao centro da arena do famoso circo romano, situado entre as colinas do Célio e do Aventino, na capital do Império. Atado a um poste por grossas cordas presas por elos de bronze, esquelético, munido somente de uma tanga que lhe cobria a cintura, até os rins, teve o corpo varado por flechas envenenadas. Com os demais, ante o martírio, canta, dirigindo os olhos para o Céu e, no mundo espiritual, é recebido pelo seu amor, Lívia.
Pelo ano 217, peregrina na Terra outra vez. Moço, podemos encontrá-lo nas vestes de Quinto Varro, patrício romano, apaixonado cultor dos ideais de liberdade.
Afervorado a Jesus, sente confranger lhe a alma a ignorância e a miséria com que as classes privilegiadas de Roma mantinham a multidão.
O pensamento do Cristo, ele sente, paira acima da Terra e, por mais lute a aristocracia romana, Varro não ignora que um mundo novo se formava sobre as ruínas do velho.
Vítima de uma conspiração para matá-lo, durante uma viagem marítima, toma a identidade de um velho pregador de Lyon, de nome Corvino. Transforma-se em Irmão Corvino, o moço, e se torna jardineiro. Condenado à decapitação, tem sua execução sustada após o terceiro golpe, sendo-lhe concedida a morte lenta, no cárcere.
Onze anos após, renasce e toma o nome de Quinto Celso. Desde a meninice, iniciado na arte da leitura, revela-se um prodígio de memória e discernimento.
Francamente cristão, sofreu o martírio no circo, amarrado a um poste untado com substância resinosa ao qual é ateado fogo. Era um adolescente de mais ou menos 14 anos.
Sua derradeira reencarnação se deu a 18 de outubro de 1.517 em Sanfins, Entre-
Douro-e-Minho, em Portugal, com o nome de Manoel da Nóbrega, ao tempo do reinado de D. Manoel I, o Venturoso.
Inteligência privilegiada, ingressou na Universidade de Salamanca, Espanha, aos 17 anos. Aos 21, está na faculdade de Cânones da Universidade, onde frequenta as aulas de direito canônico e de filosofia, recebendo a láurea doutoral em 14 de junho de 1.541.
Vindo ao Brasil, foi ele quem estudou e escolheu o local para a fundação da cidade de São Paulo, a 25 de janeiro de 1.554. A data escolhida, tida como o dia da Conversão do apóstolo Paulo, pretende-se seja uma homenagem do universitário Manoel da Nóbrega ao universitário Paulo de Tarso.
O historiador paulista Tito Lívio Ferreira, encerra sua obra “Nóbrega e Anchieta em São Paulo de Piratininga” descrevendo: “Padre Manoel da Nóbrega fundara o Colégio do Rio de Janeiro. Dirige-o com o entusiasmo de sempre. Aos 16 de outubro de 1.570, visita amigos e principais moradores. Despede-se de todos, porque está, informa, de partida para a sua Pátria. Os amigos estranham-lhe os gestos. Perguntam-lhe para onde vai. Ele aponta para o Céu. No dia seguinte, já não se levanta. Recebe a Extrema Unção. Na manhã de 18 de outubro de 1.570, no próprio dia de seu aniversário, quando completava 53 anos, com 21 anos ininterruptos de serviços ao Brasil, cujos alicerces construiu, morre o fundador de São Paulo. E as últimas palavras de Manoel da Nóbrega são: ‘Eu vos dou graças, meu Deus, Fortaleza minha, Refúgio meu, que marcastes de antemão este dia para a minha morte, e me destes a perseverança na minha religião até esta hora’. E morreu sem saber que havia sido nomeado, pela segunda vez, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil: a terra de sua vida, paixão e morte”.

Fonte: Federação Espírita do Paraná – www.feparana.com.br

EMANUEL VON SWEDENBORG – BIOGRAFIA

Emanuel Von Swedenborg

Arthur Conan Doyle a ele se referiu como a maior e mais alta inteligência humana. Em verdade, Emanuel von Swedenborg, nascido em Estocolmo a 29 de janeiro de 1688, filho de um bispo da Igreja luterana sueca, viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua vida. Foi profundo estudioso da Bíblia.
Estudou em Upsala e visitou a Alemanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, a fim de ampliar seus extensos conhecimentos de matemática, mecânica, astronomia, geologia e mineralogia.
Aos 22 anos publicou um volume de versos latinos e aos 28 foi nomeado assessor de minas do governo sueco. Versátil, tanto quanto Leonardo da Vinci, criou engenhos mecânicos para transportar barcos por terra, analisou a economia da moeda corrente, a produção e o custo do álcool, a aplicação do sistema decimal, a relação entre importações e exportações e a economia nacional.
Próximo aos 30 anos, voltou-se para a paleontologia, a geologia, o estudo dos fósseis e chegou a desenvolver uma avançada teoria sobre a expansão nebular, para explicar a origem do sistema solar. Dedicou-se também aos estudos da Medicina e da Fisiologia.
Era hábil em latim, grego, inglês, além de sua língua pátria e chegou a estudar hebraico, a fim de empreender uma reinterpretação do Velho e do Novo Testamento.
A primeira parte de sua vida foi notadamente voltada para o intelecto. Contudo, embora ainda menino tivesse visões, foi em abril de 1744 que se iniciou uma nova etapa, a da investigação em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o universo numa estrutura da ideia cristã.
Conforme suas palavras, “…o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.
Considerado como um dos precursores das ideias espíritas, em suas obras “Céu e Inferno”, “A nova Jerusalém” e “Arcana Coelestia” descreveu o processo da morte e o mundo do além, detalhando sua estrutura. Falou de casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais. Descreveu várias esferas, representando os graus de luminosidade e de felicidade dos espíritos. Afirmou não existirem anjos e demônios, mas simplesmente seres humanos, saídos da carne e em estado retardatário, ou altamente desenvolvidos. Descartou a possibilidade da existência de penas eternas.
A afirmação de contatos com os espíritos e suas experiências psíquicas, inclusive de dupla vista, atraíram amigos e lhe conquistaram adversários. Suas visões à distância foram detalhadamente investigadas, como a ocorrida no dia 19 de julho de 1759, na cidade de Göteborg, a 480 km da capital sueca. Naquela tarde, Swedenborg jantou com a família de William Castell, juntamente com mais umas 15 pessoas e descreveu, pálido e alarmado, o incêndio que irrompera às 3 horas daquela tarde e foi dominado às 8 horas da noite, a uma distância de três portas de sua própria casa. Este dia era um sábado e somente na terça-feira, uma mensagem real confirmou os fatos, inclusive o detalhe de ter sido dominado às 8 horas da noite.
Esse homem notável, enérgico quando rapaz e amável na velhice, era bondoso e sereno. Prático, trabalhador, era de estatura alta, delgado, de olhos azuis, apresentando-se sempre impecável com sua peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.
Desencarnando em 29 de março de 1772, em Londres, cidade onde viveu muitos anos e onde se deu a eclosão da sua mediunidade, apresentar-se-ia 72 anos mais tarde, numa tarde de março de 1844, a um jovem de nome Andrew Jackson Davis, como um de seus mentores, junto ao espírito Galeno, passando a assessorá-lo em sua jornada mediúnica.
Na Codificação, seu nome figura em Prolegômenos, atestando a sua participação efetiva, como membro da equipe do Espírito de Verdade, contribuindo para a instalação da Terceira Revelação junto aos homens.
Relação de suas obras:
1.734 – Opera Philosophica et Mineralia
1.740/41 – Oeconomia Regni Animalis
1.744 – Regnum Animale
1.749-58 – Arcana Coelestia
1.758 – De Equo Albo in Apocalypsi
1.758 – De Nova Hierosolyma
1.758 – De Coelo et Inferno
1.769 – Apocalypsis Revelata
1.769 – Summaria Expositio Doctrinae Novae Ecclesia
1.771 – Vera Christiana Religio
Fonte: História do Espiritismo, Arthur Conan Doyle, Eles conheceram o desconhecido, Martin Ebon e Enciclopédia Mirador Internacional – vol. 19.

EDWARD IRVING – BIOGRAFIA

Edward Irving

Edward era escocês, nascido em Annan, Dumfries, em 4 de agosto de 1792. Teve uma juventude dura, estudou na universidade de Edinburgh e exerceu o magistério durante alguns anos. Sendo de físico avantajado, mas de alma nobre, deu prioridade ao burilamento espiritual, aplicando-se como cura, cargo no qual adquiriu, no trato com os homens, o conhecimento com as classes mais pobres.
Uma pequena igreja escocesa em Matton Garden, em Londres, tinha perdido o seu pároco e se achava numa situação crítica, tanto espiritual como financeiramente. Aí, Irving, com a sua eloquência sonora em luminosas explicações do Evangelho, começou a atrair a atenção e, subitamente, a rua humilde nas manhãs de domingo, ficava pilhada de carruagens, e alguns dos mais notáveis homens de Londres, bem como senhoras acotovelavam-se dentro do pequeno templo.
Em 1827, ele foi removido para uma igreja maior em Regent Square, com capacidade para duas mil pessoas e onde havia grande interesse em suas pregações.
Muito trabalhador, lutava continuamente para satisfazer as necessidades dos mais humildes, sempre pronto, dia e noite, no cumprimento do seu dever. Em 1828, publicou um volume de sermões intitulado “The doctrine of the incarnation opened” e, em 183O, “The Orthodox and Catholic doctrine of our lord’s human nature”. Ambos geraram grandes controvérsias e forte oposição das autoridades de sua igreja. Mas um obstáculo maior se achava à sua frente.
Havia uma lenda de que os dons espirituais dos primeiros dias reapareceriam antes do fim do mundo, e entre eles estava o esquecido dom das línguas. No oeste da Escócia começaram a surgir alguns fenômenos, e um emissário foi mandado pela igreja de Irving para investigar e relatar o caso. Verificou-se que a coisa era exata. As pessoas tinham boa reputação e as estranhas línguas em que falavam eram ouvidas e suas manifestações eram acompanhadas por milagres de cura e outros sinais.
Os fiéis esperavam ansiosos novos acontecimentos. Estes não se fizeram esperar, irromperam na própria igreja de Irving. Foi em julho de 1831 que correu o boato de que certos membros da congregação tinham sido tomados de maneira estranha em suas próprias residências e que discretas manifestações ocorriam na sacristia e outros recintos fechados.
O pastor e seus conselheiros estavam perplexos, sem saber se uma demonstração pública iria ser tolerada. O caso resolveu-se por si mesmo: em outubro do mesmo ano, o prosaico serviço da Igreja da Escócia foi subitamente interrompido pelos gritos de possessos, tanto no serviço matinal, quanto no da noite. A sensação foi considerável e os jornais do dia apareceram cheios de comentários, que estavam longe de ser favoráveis e respeitosos. Os gritos vinham de homens e de mulheres e, no primeiro caso, se reduziam a ruídos que tanto eram meros grunhidos quanto linguagem inteiramente desconhecida.
Entretanto, em breve, palavras em inglês foram adicionadas aos estranhos ruídos. Em geral eram jaculatórias e preces. Alguns desses ensinos não se acomodavam à ortodoxia e, assim, foram considerados obra do diabo. Não havia desenvolvimento: havia o caos. Alguns sensitivos condenavam os outros como heréticos. Levantava-se voz contra voz. O pior de tudo é que alguns “oradores” se convenceram de que seus discursos eram diabólicos. A unidade da Igreja de Irving não resistiu a esse golpe. Houve uma grande cisão e o prédio foi reclamado pelos administradores.
Excomungado em 1833, Irving e os partidários que lhe ficaram fiéis andaram à procura de um novo local, e vieram encontrá-lo na sala usada por Robert Owen, o socialista, filantropo e livre pensador, destinado, vinte anos mais tarde, a ser um dos pioneiros conversos do Espiritismo. Aí, Irving reuniu os fiéis e reorganizou a sua igreja, com o seu anjo, seus presbíteros, seus diáconos, suas línguas e profecias, na melhor reconstituição da primitiva igreja cristã jamais realizada. Todavia, as discussões com teólogos teimosos e recalcitrantes membros de seu rebanho, acabaram por abater a sua alma ardente e devotada.
O gigante escocês começou a definhar. As faces tornaram-se cavadas e pálidas. Os olhos brilhavam de febre fatal que o consumia. E assim, trabalhando até o fim, tendo nos lábios as palavras “Se eu morrer, morrerei com o Senhor” a sua alma passou para o mundo da luz no dia 7 de dezembro de 1834, em Glasgow.
A boa vontade de Irving não foi suficiente para deixar claro a origem e a finalidade dos fatos mediúnicos com os quais conviveu. Mas muitos assistiram o seu esforço e deixaram-se tocar pelo sopro renovador das ideias novas seguindo a trilha segura, embora áspera, das claridades espirituais, onde ele foi vanguardeiro.

Fonte: site: www.feparana.com.br

EDUARDO CARVALHO MONTEIRO – BIOGRAFIA

Eduardo Carvalho Monteiro

Psicólogo de formação, pesquisador e escritor de coração, sua curiosidade sempre o levava a ter olhos de ver, onde poucos não enxergavam além de papéis velhos e amarelados. Farejava o novo, ansiava pelo desconhecido.
Aos 55 anos, Eduardo Monteiro estivera internado, desde o dia 17 de outubro, em estado grave, no Hospital Alvorada, em São Paulo, com infecção e complicações renais, em decorrência do diabetes, e retornou ao mundo espiritual na manhã de 15 de dezembro, depois de narrar a um dos amigos que o visitaram, a difícil experiência que passara.
“Falei tanto sobre a dor em minhas palestras, mas agora descobri que eu falava sem conhecimento de causa. Agora eu sei o que é a dor física e a dor moral”.
“Na hora do maior desespero, eu só lembrei de gritar: Bezerra! Bezerra! (fazendo menção ao médico espiritual Bezerra de Menezes). Ninguém entendia nada. Eu parecia um louco.” – lembra rindo.
Intenso e sincero, ele não deixaria de registrar o que de novo encontrara, ainda que fosse a dor! Narrara a experiência que vivera, a dúvida entre ficar ou partir: “Só quem viveu a experiência quase-morte pode imaginar o significado desse momento. Nessa hora, não se pensa como homem, mas como espírito. A visão da vida é outra. Envolto em uma luz azulada, o bem-estar era indescritível. Por isso, quando fui interrogado pela equipe espiritual se eu queria ficar ou partir, eu disse que queria partir”.
Porém, no dia 3 de novembro, exatamente quando completava mais um ano de vida, retornava à consciência, reconhecendo que a vida lhe proporcionara o segundo round. Renascera!
Era outra pessoa, talhada pelas experiências da dor. “Jamais serei o mesmo”. Eduardo comenta com os amigos os planos para quando voltasse à vida normal. “Toda essa pressa, toda essa loucura não valem a pena. As coisas não podem ser dessa forma.” – fazendo referência à vida agitada que levava.
Mas ele realmente partira para a “vida normal” na manhã de 15 de dezembro, em decorrência de parada cardíaca. No fundo sabia que o tempo não seria suficiente para produzir tudo que tinha em mente.
Eduardo Monteiro era espírita desde a adolescência e aplicado nos estudos das ciências herméticas. Ao todo publicou 40 livros, 30 apenas sobre a história do Espiritismo, muitos dos quais biografias de vultos da doutrina, como: Allan Kardec, Léon Denis, Batuíra, Anália Franco, Vitor Hugo, Cairbar Schutel, Jésus Gonçalves e outros.
Foi idealizador de diversas frentes de trabalho ligadas à pesquisa, como a Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas – da qual hoje fazem parte mais de 200 integrantes – e CCDPE – Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, que por decisão do grupo passa a ter o nome de seu idealizador.
Nos últimos tempos, Eduardo tinha pressa em instituir uma fundação, onde pudesse disponibilizar para o maior número de pessoas todo acervo que reunira durante anos de pesquisa.
Solteiro, ele transformara sua casa num imenso acervo, com mais de 30 mil livros, coleções de periódicos raros, cerca de 100 mil documentos históricos, muitos dos quais que recebera de toda parte do Brasil e do exterior – provavelmente o maior acervo espírita a atualidade. Seu amor pela doutrina levou-o a investir todos seus recursos financeiros em visitas a todas as bibliotecas e acervos de Paris e região, onde pudesse encontrar informações sobre as origens da história do Espiritismo.
Sua atuação deixara marcas nos inúmeros congressos espíritas de que participara.
Trabalhou intensamente para o Congresso Internacional do Espiritismo, de 2004, realizando, inclusive, exposição de materiais raros sobre a difusão do Espiritismo no Brasil e no mundo.
Era assessor pró-memória da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, assessoria instituída na gestão da presidência de Cesar Perri, e além de articulista do jornal Correio Fraterno, escrevia também para a RIE – Revista Internacional de Espiritismo, Revista Universo Espírita e de inúmeros outros periódicos do Brasil.
Nos últimos três anos, deu início à edição do Anuário Histórico Espírita, com o ideal de preservar a memória do Espiritismo no Brasil e no mundo e lançar novos autores, tanto acadêmicos, como tarefeiros do movimento espírita.
Eduardo realizava palestras por todo o Brasil e acabava de retornar de uma série delas, no Rio Grande do Norte.
Sua primeira obra como biógrafo espírita foi lançada em 1987, através da Editora Espírita Correio Fraterno. Com o título A extraordinária vida de Jésus Gonçalves, teve pronta aceitação dos leitores. Em menos de três meses, esgotaram-se os seis mil exemplares da primeira edição. Ele participou conosco por muitos anos na editora, inclusive com ricas contribuições no jornal Correio Fraterno. Atualmente, uma de suas importantes tarefas era a elaboração da coluna “Baú de Memórias”.
A quantidade de material reunido em acervo, a urgência com que Eduardo colocava no papel os registros históricos, a conclamação de companheiros para as diversas frentes de trabalho por ele idealizadas revelam pistas sobre a provável frase que ele escolheria ao deixar um até breve a todos espíritas: “Ainda há muito o que fazer pela divulgação da doutrina”.

Fonte: Correio Fraterno.

DJALMA FARIAS – BIOGRAFIA

Tombou, por insidiosa moléstia, em 06 de Maio de 1.950, em Recife, o corpo somático do grande trabalhador da seara de Jesus, do abnegado propagandista do Espiritismo – Professor Djalma Montenegro de Farias.

Em sua última trajetória terrena, soube sopitar uma grande dor e dar o testemunho irretorquível da sua fé.

Nasceu em Pernambuco, a 09 de outubro de 1.900, e lá tudo fez, durante dezenas de anos, até mesmo com sacrifício de sua saúde, em prol do Espiritismo cristão.

Com sua palavra firme, convincente e sobretudo evangélica, converteu muitas criaturas e difundiu, em profusão, a consolador doutrina codificada por Allan Kardec.

Como escritor, muito lhe devem as letras espíritas e Reformador sempre contou com sua preciosa colaboração. Era membro do Cenáculo Pernambucano de Letras.

A ação desse trabalhador era multíplice, e por isso ela também se fez sentir e de maneira eloquente na fundação e direção de casas de caridade. Podemos citar, como modelo de fé, amor e compreensão, o Instituto Espírita João Evangelista, do qual era Presidente, organização a que prestara todo o seu carinho e inteligência, auxiliado por confrades dedicados e que jamais lhe regatearam colaboração sincera, porque viam nele, além de um idealista, um amigo, e além de amigo, um conselheiro experimentado.

Como Presidente da Federação Espírita Pernambucana, tudo fez no sentido de tornar essa Entidade a pungente propulsora da Terceira Revelação. Em 1.947 funda a Comissão Estadual do Espiritismo, da qual foi seu primeiro presidente.

Grande foi seu entusiasmo, ao tomar conhecimento do célebre “Pacto Áureo” de 05 de outubro de 1.949, a ele aderindo em todos os sentidos.

Vindo aqui ao Rio de Janeiro, por essa ocasião, e embora estivesse privado de ocupar a tribuna, por motivo de seu precário estado de saúde, seu entusiamo, como dissemos, foi de tal ordem, à vista das conclusões desse Pacto que traria a unificação da família espírita brasileira, que não pôde conter-se, proferindo em o salão de conferência da Federação Espírita Brasileira duas belíssimas orações que fizeram vibrar de intensa emoção a compacta assistência que o escutava.

Dias após, em visita à Liga Espírita do Brasil – hoje Liga Espírita do Estado da Guanabara -, proferiu também uma vibrante alocução, em meio à qual perdeu a voz – era o espectro da moléstia que o advertia de sua imprudência -, mas, num esforço extraordinário, conseguiu imprimir forças à matéria que não mais podia acompanhar a eloquência do seu verbo! Finalizou, contudo, essa sua alocução, entre aplausos da assistência, alocução que foi a última proferida por esse intemerato apóstolo do Espiritismo!

Djalma de Farias, que tanto lutou e sofreu pela Doutrina Espírita, enfrentando toda sorte de contratempos e decepções, foi um marco do Espiritismo em Pernambuco, e seu nome e sua obra ultrapassaram os limites do seu Estado natal.


DIAS DA CRUZ – BIOGRAFIA

Francisco de Menezes Dias da Cruz

Francisco de Menezes Dias da Cruz, natural da cidade do Rio de Janeiro, filho de antecedente de igual nome, (chefe do Partido Liberal no Rio e professor da Faculdade de Medicina) e de D. Rosa de Lima Dias da Cruz, nasceu a 27 de fevereiro de 1.853.

Foi professor de Matemática no Colégio Pinheiro, no qual concluíra o curso de humanidades. Era, nessa época, aluno da Escola de Medicina, durante a qual contraiu núpcias com a Exma. Sra. D. Adelaide Pinheiro Dias da Cruz.

Ao formar-se em Medicina, perdeu o pai, que havia sido ferido à baioneta na Igreja do Sacramento.

Foi bibliotecário durante dez anos na Câmara Municipal, sendo demitido ao ser proclamada a República, sob a falsa imputação de monarquista.

Presidiu o Curso Hahnemanniano e o Instituto Hahnemanniano do Brasil.

Possuidor de enorme clínica, o Dr. Dias da Cruz não fugia aos deveres da caridade, dando assim, expansão aos seus sentimentos humanitários. Homem de grande e invulgar cultura, deixou riquíssima biblioteca. Estudioso desde a infância, preocupou-se com a ciência homeopática e, mais tarde, diante de provas irrefutáveis, tornou-se espírita dos mais caridosos e evangélicos. É interessante relatar, ainda que superficialmente, a maneira porque se verificou a sua conversão. Tendo chegado ao seu conhecimento que o Espírito de seu genitor desenvolvia largo programa de caridade, através de médiuns receitistas, decidiu ele, homem austero e cultor da verdade, ir à Federação Espírita Brasileira para observar e apurar quanto de real pudesse haver em torno da informação recebida.

Iniciada a reunião com a prece habitual, passou-se ao estudo doutrinário. Até então nada ocorrera suscetível de lhe permitir aceitar a versão das manifestações atribuídas ao Espírito de seu pai. Já estava propenso a acreditar em mistificação, quando à mesa que dirigia os trabalhos, um médium demonstrou haver caído em transe. Era, afinal, a tão desejada manifestação que inesperadamente se realizava. Através do médium, o Espírito do primeiro Dr. Dias da Cruz pediu que chamassem seu filho, que ali se encontrava no meio dos assistentes. Surpreso, este se aproximou, incrédulo. A um dado momento, porém, seu genitor disse-lhe: – Você se lembra daquele fato que ocorreu conosco na praça tal? E a seguir revelou uma ocorrência só de ambos conhecida. Diante disto, o Dr. Dias da Cruz (filho) sentiu chegada a hora de se render à inelutável evidência. Ninguém o conhecia naquela assembléia e o fato referido pelo Espírito era absolutamente desconhecido de toda a sua família, pois somente os dois dele havia tido conhecimento.

Percebeu, então, que ao seu caráter íntegro e probo só havia um caminho: aceitar a veracidade da manifestação espirítica de seu genitor. E fê-lo sem constrangimento, com a simpleza natural das almas puras. Pôs-se a estudar o Espiritismo, enfronhou-se na interpretação dos textos doutrinários e passou a ser, daí por diante, um novo e valoroso servidor do Cristo nas fileiras dos seguidores de Kardec.

Em 1.885, pronuncia na Federação Espírita Brasileira a sua primeira conferência, e desde então participou de várias Comissões importantes, de defesa do Espiritismo (1.890, 1.892 e 1.893).

Em 1.890, em substituição ao Dr. Bezerra de Menezes, foi, então, o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, que anteriormente ocupara a vice-presidência, eleito presidente da Federação Espírita Brasileira, cargo que exerceu com devotamento até os primeiros dias de 1.895, quando foi substituído, temporariamente, por Júlio Cesar Leal e definitivamente, pelo Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o “Kardec Brasileiro”, seu colega de profissão e amigo.

Sob a sua presidência foram iniciados os trabalhos de socorro material e espiritual da Assistência aos Necessitados, que até hoje constituem o cerne dos serviços cristãos prestados pela Federação Espírita Brasileira. Muitos foram os dedicados companheiros que o ajudaram nessa obra grandiosa, mantida e desenvolvida com o maior carinho pela Casa de Ismael, sendo justo salientarmos, de passagem, o nome do confrade Bernardino Cardoso, o qual lhe entregava mensalmente a quantia de um conto de réis, elevada importância para aqueles tempos (mais de 300 dólares), a fim de que fosse distribuída com os pobres de sua clínica, sob a condição de lhe não revelar o nome.

Em 1.896, por proposta de Bezerra de Menezes, e em atenção aos abnegados serviços prestados à Federação Espírita Brasileira, foi Dias da Cruz aclamado presidente honorário da mesma.

Dirigiu o Reformador durante o período da sua presidência e escreveu inúmeros artigos doutrinários e de polêmica com a assinatura modesta de “Um espírita”. É também autor do livro “O Professor Lombroso e o Espiritismo”.

Foi quem primeiro tentou, em 1.891, adquirir um prédio próprio para a FEB e montar oficina tipográfica para impressão do “Reformador” e de obras espíritas em geral.

Este segundo Dias Cruz foi, portanto, vice-presidente e presidente da Federação durante muitos anos, desencarnando na cidade do Rio de Janeiro, em 30 de setembro de 1.937, na avançada idade de 84 anos. Gloriosa ancianidade, essa, atingida após proveitoso dispêndio de energias em favor do próximo.

*
Em 1.900, o Dr. Dias da Cruz reorganiza, ressuscita o “Instituto Hahnemanniano do Brasil”, que havia sido criado em 1.879 pelo mais afamado médico homeopata do Império, o Dr. Saturnino Soares de Meireles, seu primeiro presidente. Dias da Cruz alugou no centro da cidade, à Rua da Quitanda, n.º 59, uma casa para seu consultório, e neste reinstalou o Instituto Hahnemanniano do Brasil. Por alguns anos os membros do Instituto ali se reuniram, datando dessa época um novo ciclo de grandes atividades e realizações.

Após a morte do Dr. Joaquim Murtinho, subiu à presidência do Instituto, por um ano, o Dr. Teodoro Gomes. Substituí-o o Dr. Licínio Cardoso, sob a vice-presidência do Dr. Dias da Cruz. Esse foi o período áureo da Homeopatia no Brasil, e frisa um historiador que ao Dr. Dias da Cruz cabe grande parcela das glórias que o instituto conquistou durante a presidência do Dr. Licínio Cardoso.

Os “Anais de Medicina Homeopática”, cuja publicação fora interrompida em 1.884, reapareceram em janeiro de 1.901, devido aos esforços do “mais puro dos homeopatas brasileiros”, o Dr. Dias da Cruz, que arrancou a revista do Instituto do túmulo onde jazia, dando-lhe lugar honroso entre as publicações periódicas sobre Medicina. Dela foi ele redator de 1.901 a 1.902 e de 1.906 a 1.910.

Ficou célebre a polêmica (1.900 – 1.901) entre o Dr. Dias da Cruz e o Dr. Nune de Andrade, Diretor Geral de Saúde Pública, médico alopata e acirrado inimigo da Homeopatia, o qual acabou por ser exonerado do cargo que ocupava.

Fundada em 1.912, a Faculdade Hahnemanniana (posteriormente denominada Escola de Medicina e Cirurgia, com sede atual à Rua Frei Caneca), Dias da Cruz colaborou na organização dos programas de ensino de novel estabelecimento, no qual lecionou a cadeira de Farmacologia e, mais tarde, a 1.ª cadeira de Matéria Médica, constituindo-se em verdadeiro mestre de toda uma nova geração.

Dias da Cruz foi por muitos anos o orador oficial do Instituto. Sua eloquência e seu saber impressionavam a todos. Quando da inauguração do Hospital Hahnemanniano, em 1.916, discursou brilhantemente em nome do Instituto, ante numerosa e ilustrada assistência, presente Licínio Cardoso, Carlos Maximiliano, Ministro da Justiça, o Barão de Brazílio Machado, Presidente do Conselho Superior de Ensino, o Dr. Paulo de Frontin, Diretor da Escola Politécnica, e representantes do Presidente da República, e de Ministérios em Geral.

Em 1.926, o Dr. Licínio Cardoso pede demissão da presidência do Instituto, sendo eleito para substituí-lo, o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz. Este exerceu o cargo de Presidente efetivo até 29 de janeiro de 1.930. Nesse dia, reunido o Instituto em seção extraordinária, foi aclamado presidente-perpétuo o Dr. Dias da Cruz, após este haver renunciado, por motivo de saúde, ao cargo de Presidente para o qual acabava de ser reeleito. “Sua aclamação” – escreveu um historiador – “foi um direito conquistado por seu valor moral, sua capacidade intelectual e, sobretudo, pela firmeza de suas convicções homeopáticas”.

De 25 a 30 de setembro de 1.926 foi realizado o 1.º Congresso Brasileiro de Homeopatia, sob a presidência do Dr. Dias da Cruz.

Propagandista dos mais convictos e autorizados, possuidor de excelente cultura médica, mestre reconhecido pela sua proficiência, com vasta clínica em que abundaram notabilíssimas curas, constituiu ele, por mais de meio século, “um dos grandes marcos no progresso da Homeopatia no Brasil”. “Não erramos afirmando” – escreveu o Dr. José Emígdio Rodrigues Galhardo – “ser o Dr. Dias da Cruz, entre os homeopatas brasileiros, aquele que maiores e mais perfeitos conhecimentos tem da doutrina hahnemanniana”.

Dizem os seus contemporâneos que o cumprimento do dever era quase que sagrado para o Dr. Dias da Cruz. Como professor jamais deixou de comparecer à hora certa em suas aulas. Como clínico no Hospital Hahnemanniano, não se fazia esperar pelos doentes.

Eis, em síntese, a brilhante personalidade daquele que dignificou o Espiritismo e a Homeopatia no Brasil.

















DANIEL DUNGLAS HOME – BIOGRAFIA

Daniel Dunglas Home

“O Senhor Daniel Dunglas Home nasceu em 15 de março de 1833, perto de Edimbourg (Escócia). Tem, pois, hoje, 24 anos (artigo escrito por Allan Kardec em fevereiro de 1858). Descende da antiga e nobre família dos Dunglas da Escócia, outrora soberana. É um jovem de talhe mediano, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrico; é de compleição muito delicada, de costumes simples e suaves, de um caráter afável e benevolente sobre o qual o contato das grandezas não lançou nem arrogância e nem ostentação.
Dotado de uma excessiva modéstia, jamais exibiu a sua maravilhosa faculdade, jamais falou de si mesmo, e se, na expansão da intimidade, conta coisas que lhe são pessoais, é com simplicidade, e jamais com a ênfase própria das pessoas com as quais a malevolência procura compará-lo. Vários fatos íntimos, que são do nosso conhecimento pessoal, provam nele nobres sentimentos e uma grande elevação de alma; nós o constatamos com tanto maior prazer quanto se conhece a influência das disposições morais sobre a natureza das manifestações.
O Senhor Home é um médium do gênero daqueles que produzem manifestações ostensivas, sem excluir, por isso, as comunicações inteligentes; mas as suas predisposições naturais lhe dão, para as primeiras, uma aptidão mais especial. Sob a sua influência, os mais estranhos ruídos se fazem ouvir, o ar se agita, os corpos sólidos se movem, se erguem, se transportam de um lugar a outro através do espaço, instrumentos de música fazem ouvir sons melodiosos, seres do mundo extracorpóreo aparecem, falam, escrevem e, frequentemente, vos abraçam até causar dor. Ele mesmo foi visto, várias vezes, em presença de testemunhas oculares, elevado sem sustentação a vários metros de altura.
Do que nos foi ensinado sobre a classe dos Espíritos que produzem, em geral, essas espécies de manifestações, não seria preciso disso concluir que o Sr. Home não está em relação senão com a classe íntima do mundo espírita. Seu caráter e as qualidades morais que o distinguem, devem, ao contrário, granjear-lhe a simpatia dos Espíritos Superiores; ele não é, para esses últimos, senão um instrumento destinado a abrir os olhos dos cegos por meios enérgicos, sem estar, por isso, privado de comunicações de uma ordem mais elevada. É uma missão que aceitou; missão que não está isenta nem de tribulações e nem de perigos, mas que cumpre com resignação e perseverança, sob a égide do Espírito de sua mãe, seu verdadeiro anjo guardião.
A causa das manifestações do senhor Home é inata nele; sua alma, que parece não prender-se ao corpo senão por fracos laços, tem mais afinidade pelo mundo espírita do que pelo mundo corpóreo; por isso ela se prepara sem esforços, e entra, mais facilmente que em outros, em comunicação com os seres invisíveis. Essa faculdade se revelou nele desde a mais tenra infância. Com a idade de seis meses, seu berço se balançava inteiramente sozinho, na ausência de sua babá, e mudava de ligar.
Nos seus primeiros anos, era tão débil que tinha dificuldade para se sustentar, sentado sobre um tapete, os brinquedos que não podia alcançar, vinham, eles mesmos, colocar-se ao seu alcance.
Com três anos teve as suas primeiras visões, mas não lhes conservou a lembrança.
Tinha nove anos quando sua família foi se fixar nos Estados Unidos; aí os mesmos fenômenos continuaram com uma intensidade crescente, à medida que avançava em idade, mas a sua reputação, como médium, não se estabeleceu senão em 1850, por volta da época em que as manifestações espíritas começaram a se tornar populares nesse país.
Em 1854, veio para a Itália, nós o dissemos, por sua saúde; espanta Florença e Roma com verdadeiros prodígios. Convertido à fé católica, nessa última cidade, tomou a obrigação de romper as suas relações com o mundo dos Espíritos. Durante um ano, com efeito, seu poder oculto parece tê-lo abandonado; mas como esse poder estava acima de sua vontade, a cabo desse tempo, assim como lhe havia anunciado o Espírito de sua mãe, as manifestações se produziram com uma nova energia. Sua missão estava traçada; deveria distinguir-se entre aqueles que a Providência escolheu para nos revelar, por sinais patentes, a força que domina todas as grandezas humanas.
Para o senhor Home, os fenômenos se manifestam, algumas vezes, espontaneamente, no momento em que menos são esperados. O fato seguinte, tomado entre mil, disso é uma prova. Desde há mais de quinze dias, o senhor Home não tinha podido obter nenhuma manifestação, quando, estando a almoçar na casa de um dos seus amigos, com duas ou três pessoas do seu conhecimento, os golpes se fazem súbito ouvir nas paredes, nos móveis e no teto. Parece, disse, que voltaram. O senhor Home, nesse momento, estava sentado no sofá com um amigo. Um doméstico traz a bandeja de chá e se apressa em colocá-la sobre a mesa, situada no meio do salão; esta, embora fosse pesada, se eleva subitamente e se destaca do solo em 20 a 30 centímetros de altura, como se tivesse sido atraída pela bandeja; apavorado, o criado deixa-a escapar, e a mesa, de pulo, se atira em direção do sofá e vem cair diante do senhor Home e seu amigo, sem que nada do que estava em cima tivesse se desarrumado. Esse fato, sem contradita, não é o mais curioso daqueles que teríamos a relatar, mas apresenta essa particularidade, digna de nota, de ter se produzido espontaneamente, sem provocação, num círculo íntimo, onde nenhum dos assistentes, cem vezes testemunhas de fatos semelhantes, tinha necessidade de novos testemunhos; seguramente, não era o caso para o Senhor Home de mostrar as suas habilidades, se habilidades havia”. (1)

Outras manifestações:

O que distingue Daniel Douglas Home é sua mediunidade excepcional. Enquanto outros médiuns obtém golpes leves, ou o deslocamento insignificante de uma mesa, sob a influência do senhor Home os ruídos, os mais retumbantes, se fazem ouvir, e todo o mobiliário de um quarto pode ser revirado, os móveis montando uns sobre os outros.
Igualmente os objetos inertes, ele próprio é elevado até o teto (levitação), depois desce do mesmo modo, muitas vezes sem que disso se aperceba.
De todas as manifestações produzidas pelo Sr. Home, a mais extraordinária é a das aparições, segundo análise de Allan Kardec. Do mesmo modo sons se produzem no ar ou instrumentos de música tocam sozinhos.
“Seguramente, se alguém fosse capaz de vencer a incredulidade por efeitos materiais, este seria o senhor Home. Nenhum médium produziu um conjunto de fenômenos mais surpreendentes, nem em melhores condições de honestidade.” (2)
O senhor Home realizou várias experiências perante o Imperador Napoleão II. Durante essas experiências, obteve-se uma prova concreta da assinatura de Napoleão Bonaparte, com a presença da Imperatriz Eugênia, cujo fato aumentou grandemente sua fama.
Jamais esse excepcional médium mercadejou seus preciosos dons mediúnicos. Teve inúmeras oportunidades, mas sempre se recusou. Dizia ele: “Fui mandado em missão. Essa missão é demonstrar a imortalidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais receberei”.
Como todo o médium, o senhor Home foi caluniado e ferido em sua dignidade, mas nunca lhe faltou, nas horas mais difíceis, o amparo de seus mentores espirituais.
(            (1)  Narração de Allan Kardec – Revista Espírita de 1858, mês de fevereiro.
       (2) Narração de Allan Kardec – Revista Espírita de 1863, mês de setembro.

Fonte: site: www.feparana.com.br

CORNÉLIO PIRES – BIOGRAFIA

Cornélio Pires

Cornélio Pires nasceu na cidade de Tietê, Estado de São Paulo, no dia 13 de julho de 1884, e a sua desencarnação aconteceu na cidade de S. Paulo, no dia 17 de fevereiro de 1958.
Homem de personalidade inconfundível, tornou-se figura popular e de bastante destaque em todo o Brasil, graças ao trabalho, por ele encetado, de viajar pelas cidades do Interior do Estado de S. Paulo e outros Estados, estreando na condição de caipira humorista.
Em sua juventude aspirava participar de um concurso de admissão numa Faculdade de Farmácia. Animado desse propósito viajou de Tietê para S. Paulo, a fim de se inscrever como candidato a um desses concursos, porém, apesar do seu desempenho não logrou êxito nesse seu intento.
Tomou então a deliberação de dedicar-se ao jornalismo, passando a trabalhar na redação do jornal O Comércio de São Paulo, em cujo cargo desenvolveu um aprendizado bastante estafante. Posteriormente passou a exercer atividades nos jornais O São Paulo e O Estado de São Paulo, tradicional órgão da imprensa paulista, onde desempenhou a função de revisor e, finalmente, no ano de 1914, passou a dar a sua contribuição ao órgão O Pirralho.
Numerosos escritores teceram comentários sobre a personalidade de Cornélio Pires e, para ilustração, passemos a citar Joffre Martins Veiga, que em seu trabalho A Vida Pitoresca de Cornélio Pires, escreveu ” Ninguém amou tanto a sua gente como Cornélio Pires; ninguém se preocupou tanto com seus semelhantes como esse homem, que foi, antes de tudo, um Bom”. O famoso poeta Martins Fontes, por sua vez, escrevendo sobre ele, afirmou: “é um bandeirante puro, um artista incansável, enobrecedor da Pátria e enriquecedor da língua”.
Admirado também pelo grande jornalista Amadeu Amaral, este deu-lhe a sugestão de tornar-se um dos maiores divulgadores do folclore brasileiro.
Pelos idos de 1910, Cornélio Pires lançou o livro Musa Caipira, obra que foi largamente saudada pela crítica, graças ao seu conteúdo tipicamente brasileiro. Sílvio Romero tornou-se um dos seus mais salientes críticos, comentando da seguinte forma o lançamento dessa obra: ” Apreciei imensamente o chiste, a cor local, a graça, a espontaneidade de suas produções que, além do seu valor intrínseco, são um ótimo documento para o estudo dos brasileirismos da nossa linguagem”.
No início do presente século, Cornélio Pires começou a frequentar a Igreja Presbiteriana, entretanto não conseguiu conciliar os ensinamentos dessa religião com o seu modo de pensar. Ele não admitia a existência das penas eternas e de um Deus que desse preferência aos seguidores de determinadas religiões. O demasiado apego aos formalismos da letra, na interpretação dos textos evangélicos fez com que ele quase descambasse para o materialismo.
Nessa época ele desconhecia o que era Espiritismo, entretanto, durante as suas viagens ao Interior, aconteceram com ele vários fenômenos mediúnicos, inclusive algumas comunicações do Espírito Emilio de Menezes, as quais muito o impressionaram. Como consequência ele passou a estudar obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Leon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Dali em diante integrou-se decididamente no Espiritismo, interessando-se muito pelos fenômenos de efeitos físicos. Nos anos de 1944 a 1947 ele escreveu os livros Coisas do Outro Mundo e Onde estás, ó morte? tendo desencarnado quando escrevia Coletânea Espírita.
De sua vasta bibliografia destacamos: Musa Caipira, Versos Velhos, Cenas e Paisagens de minha Terra, Monturo, Quem conta um conto, Conversas ao Pé do Fogo, Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho – O Queima Campo, Tragédia Cabocla, Patacoadas, Seleta Caipira, Almanaque do Saci, Mixórdias, Meu Samburá, Sambas e Cateretês, Tarrafas, Chorando e Rindo, De Roupa Nova, Só Rindo, Tá no Bocó, Quem conta um Conto e outros Contos…, Enciclopédia de anedotas e Curiosidades, além dos dois livros espíritas acima citados.
Num de dos seus escritos sobre o Espiritismo, dizia ele: “O Espiritismo, mais cedo ou mais tarde, fará aos católicos romanos, aos protestantes e aos adeptos de outros credos, a caridade de robustecer lhes a Fé, com os fatos que provam a imortalidade da Alma, que se transforma em Espírito ao deixar o invólucro material” e mais adiante “O Espiritismo nos proporciona a fé raciocinada, nos arrebata ao jugo do dogma e nos ensina a compreender Deus como Ele é”.
Pouco antes da sua desencarnação, Cornélio Pires, demonstrando que havia assimilado o preceito de Jesus Cristo: ” Amai ao próximo como a ti mesmo”, voltou para a cidade do Tietê e ali comprou uma chácara, onde fundou a ” Granja de Jesus”, lar destinado a crianças desamparadas. Infelizmente ele não chegou a ver a conclusão da obra.
Cornélio Pires chegou a organizar o “Teatro Ambulante Cornélio Pires” perambulando de cidade em cidade, sendo aplaudido por toda a população brasileira por onde passava.
Esse intento foi concretizado após ter abandonado a carreira jornalística.
O presente trabalho representa uma apagada biografia desse batalhador infatigável, que desenvolveu na Terra uma tarefa altamente meritória.
Fonte: Personagens do Espiritismo, Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godov.

CHARLES RICHET – BIOGRAFIA

Charles Richet

Conhecido como o fundador da Metapsíquica, Charles Richet (1850-1935) desempenhou um papel fundamental no processo de desvendar o desconhecido mundo dos fenômenos anímicos. Em 1905, então presidente da Sociedade de Investigações Psíquicas – Londres propôs o nome de Metapsíquica a este conjunto de conhecimentos.
Sua obra mais famosa, Tratado de Metapsíquica, é um verdadeiro arcabouço de fatos e descrições pormenorizadas de experiências psíquicas, descrições históricas e classificatórias que muito colaboraram para o seu desenvolvimento. A sua maior contribuição, sem sombra de dúvida, foi o estudo do ectoplasma, substância responsável pela viabilidade dos fenômenos ditos objetivos.
Foi ele quem, pela primeira vez, denominou a substância que emanava dos médiuns de efeitos físicos, de ectoplasma, naquele momento referindo-se aos fluidos que emanavam de Eusápia Paladino (uma das maiores médiuns da história do Espiritismo): “são as formações difusas que eu chamo de ectoplasmas; porque elas parecem sair do próprio corpo de Eusápia”.
Numa experiência transcorrida com a médium Marthe Béraud, Charles Richet e Gabriel Delanne fizeram com que a “materialização” soprasse o ar de seus pulmões através de uma solução aquosa de barita, usando um pequeno tubo. O resultado foi o turvamento do líquido, revelando a presença do gás carbônico, fenômeno peculiar dos organismos vivos normais.
A Metapsíquica de Richet era composta pela composição dos seguintes fenômenos: a Criptestesia, a telecinesia e a ectoplasmia. Para ele, a Metapsíquica estava na flor d’água de uma nova psicologia. No seu Tratado, Richet classificou a história da fenomenologia metapsíquica em quatro períodos:
1°) Período Mítico, que vai das origens históricas até Mesmer, (1776);

2°) Período Magnético, que vai de Mesmer às irmãs Fox, (1847);

3°) Período Espirítico, que vai das irmãs Fox, passando por Allan Kardec, a William Crookes (1872);

4°) Período Científico, que vai de Crookes até agora.
Charles Richet classificou os fenômenos metapsíquicos em dois grupos gerais: Fenômenos Subjetivos, que ocorrem exclusivamente na área psíquica, sem nenhuma ação dinâmica sobre os objetos materiais (anos antes, a estes fenômenos Allan Kardec denominou Inteligentes). E Fenômenos Objetivos, cuja manifestação envolve ação física sobre os objetos materiais (na linguagem espírita, Fenômenos Físicos). Esta classificação é utilizada até os dias de hoje.
Charles Richet nunca se declarou espírita, mas sim, um estudioso dos fenômenos metapsíquicos. Não podemos, portanto, classificar Charles Richet como um continuador da obra de Allan Kardec, já que na verdade Richet reserva um espaço de duas páginas em um Tratado de mais 700 àquele que poderia ter sido um de seus mestres.
Desvendou um caminho distinto, sem evidentemente desconhecê-lo tanto, e que o classifica na categoria de iniciador romântico da Metapsíquica, reconhecendo em Kardec, a quem se refere como Dr. H. Rivail, algum apreço pela investigação científica, mas que, no entanto, se levou demais a acreditar que as comunicações dos Espíritos através dos médiuns eram destituídas de erros, desde que as mesmas emanassem de bons Espíritos.
Esta crítica, a nosso ver, não é muito justa, porém se assemelha à feita por Arthur Conan Doyle em seu A História do Espiritualismo, fazendo-nos, pelo menos, pensar que conhecemos hoje bem melhor a obra de Kardec do que os quase contemporâneos vizinhos e conterrâneos.
Foi companheiro de jornada de homens do vulto de um Gustavo Geley, Gabriel Delanne e Ernesto Bozzano. Este último seu grande amigo e com quem duelaria no campo da ciência. Bozzano no seu livro “Metapsíquica Humana” dedica no último capítulo, denominado: Respostas a algumas objeções de ordem geral; algumas palavras diretamente contrárias às posições de Charles Richet, são elas: “…não devo ocultar que entre os que assim pensam está o Prof. Charles Richet, a quem sinceramente venero e admiro. No Journal of the American for S.P.R. de setembro de 1923, pag. 400, a respeito ele escreve: Sou de opinião que, se a Metapsíquica não tem progredido mais, se deve isto a um defeito de método; quiseram dela fazer uma religião cheia de ardor, em vez de uma ciência serena e modesta…. Penso ser de não pequena utilidade destruir essa deplorável prevenção, filha de uma observação estranhamente parcial e superficial do movimento espírita encarado em seu conjunto. Se é verdade que o Espiritismo seja tomado num sentido religioso por uma multidão, aliás muito respeitável, de almas simples, não quer dizer isso que ele seja religioso, mas tão somente que as conclusões rigorosamente experimentais e, portanto, científicas, a que conduzem as investigações medianímicas, tem a virtude de reconfortar grande número de almas atormentadas pela dúvida… (Ernesto Bozzano, Metapsíquica Humana) e se refere a tantos sábios, homens de ciência que se dedicaram a estudar os fenômenos inicialmente de forma materialista, convertendo-se ao Espiritismo pela conclusão a que chegaram através da pesquisa.
Na introdução do seu Tratado de Metapsíquica Richet, em sua segunda edição, chega mesmo a citar os espíritas que já naquela época pouca importância deram a esta obra uma vez que acreditavam que tudo o que importava já havia sido escrito. Richet escreveu – se os espíritas fossem justos, reconheceriam que a minha tentativa de fazer entrar na ordem dos fatos científicos todos os fenômenos que constituem a base de sua fé, mereceria eu verdadeiramente alguma indulgência.
Vê-se que na época o movimento espírita francês já estava totalmente dominado pelos ritos, afastando-se dos ensinamentos de Allan Kardec, salvava-se neste tempo Gabriel Delanne, que muito doente insistia com a sua Sociedade Francesa de Estudos de Fenômenos Psíquicos e na revista Le Spiritisme. A rigidez de Richet, com relação à metodologia científica se explica pelo trabalho profissional do mesmo que, como cientista, veio a ser merecedor de um Prêmio Nobel.
Allan Kardec, em A Gênese escreve: Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. Com estas palavras Kardec colocava todo o seu gênio que infelizmente só foi seguido por alguns como Camille Flammarion, Léon Denis, Delanne dentre outros.
Desta mesma forma, Richet declara que o primeiro Tratado de Metapsíquica irá ter a sina comum. Ele irá logo ficar para trás e cair em desuso, porque os progressos desta nova ciência serão rápidos.
Assim como Kardec, os metapsiquistas também acreditavam num rápido progresso das ciências psíquicas, elas de fato tiveram algum alento com o advento da Parapsicologia de Rhine.
No começo da década passada, muitos de nós, estudiosos, guardávamos muita esperança de que na União Soviética existissem centros de pesquisa, a cortina de ferro caiu e o que havia em termos de psicobiofísica?
A verdade é que pesquisadores do quilate dos grandes metapsiquistas, incluindo no grupo os espiritualistas ingleses, já não aparecem com tanta frequência. Transferimos nossas expectativas para o século que se avizinha, este sim poderá trazer ao público em geral aquilo que Kardec, Richet e tantos outros se empenharam tanto em estudar, classificar e ensinar, mas que não atingiram a universalidade do conhecimento.

Fonte: Site www.espiritnet.com.br

CARLOS SHALDERS – BIOGRAFIA

Carlos Shalders

Sob o título “Uma Vida Longa e Útil”, “O GLOBO” de 03 de outubro de 1.963 prestou sua homenagem ao Professor Carlos Gomes de Sousa Shalders, estampando-lhe o retrato na primeira página do primeiro caderno.

Vários outros jornais do Rio e de São Paulo dedicaram ao Dr. Shalders, pelo transcurso do seu centenário, amplo noticiário, tendo havido, entretanto, um geral desconhecimento quanto à religião por ele professada, ou seja, a espírita.

Em vista de ter sido o sócio número 1 da Associação Cristã de Moços e seu primeiro presidente, certa agência noticiosa de São Paulo julgou que o Professor Shalders ainda era protestante. A verdade, contudo é que o aniversariante, pelo menos havia três décadas, era espírita convicto, autor, mesmo, de um estudo bíblico à luz do Espiritismo.

Com os doutores João Batista Pereira, Lameira de Andrade, Canuto Abreu e outros, foi um dos fundadores da extinta “Sociedade Metapsíquica de São Paulo”. Ocupou o cargo de diretor do Departamento de Metapsíquica da Federação Espírita do Estado Bandeirante, da qual foi igualmente vice-presidente, tendo sido entusiasmado pesquisador da fenomenologia mediúnica.

Assistiu a várias seções de materialização, num grupo familiar onde o número de assistentes não passava de oito pessoas, incluindo a médium. Isto se deu em 1.938, e ele, Carlos Shalders, chegou a narrar para a “Revista Internacional de Espiritismo”, de Matão (SP), os fatos passados numa dessas seções em casa do Sr. L. C., no Rio de Janeiro.

“Seus 100 anos de vida” – escreveu o nosso confrade, professor Herculano Pires, no “Diário de São Paulo”, de 06/10/1963: 

“Foram coroados, nas últimas décadas, por uma posição definida e uma constante atividade espírita. Ainda há alguns anos, todos os domingos de manhã, o Professor Shalders tomava o seu lugar, religiosamente, na primeira fila de cadeiras do auditório da Federação, para ouvir as palestras evangélicas de Pedro de Camargo, o venerando pregador e escritor espírita, conhecido por Vinícius, seu pseudônimo literário. Só deixou de fazê-lo quando Vinícius, também em idade avançada, se afastou da tribuna”.

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Carlos Shalders nasceu no dia 03 de outubro de 1.863, em João Pessoa, Paraíba, filho de Robert James Shalders, vice-cônsul inglês na capital paraibana, e de D. Clementina Rosa Gomes de Sousa, natural do Maranhão.

Sua primeira esposa, D. Estefânia Ferreira Pinto Shalders Neto, deu-lhe um filho, que recebeu o nome do avô e que, com 78 anos, representou o pai na sessão solene realizada na Sala da Congregação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde, na noite de 03 de outubro de 1.963, foi inaugurado o retrato a óleo do Professor Shalders. Esta homenagem, bem assim a que no dia seguinte lhe fizeram, imortalizando-lhe o nome em medalhão de bronze colocado no Departamento de Matemática da mesma Escola, foram a expressão de reconhecimento de várias gerações de engenheiros. O Estado de São Paulo conferiu-lhe, na mesma época, o título de “Servidor Emérito do Estado”.

Formado em 1.885 pela antiga Escola Central (Escola Politécnica) do Rio de Janeiro, o Professor Shalders proferiu a aula inaugural da Escola Politécnica de São Paulo, no ato de sua inauguração, em 1.894. Até 1.934, quando se aposentou como Diretor desse estabelecimento, foi professor catedrático de Matemática Elementar (Revisão e Complementos), Trigonometria (Retilínea e Esférica), Álgebra Superior e Geometria Descritiva.

Em 1.949, o Conselho Universitário de São Paulo conferiu-lhe o título de “Doutor Honoris Causa”, e pelo transcurso de seu jubileu no magistério, foi distinguido como “Professor Emérito” pela Congregação da Escola Politécnica.

É o primeiro professor universitário que atinge um século de existência.

Casou-se ainda duas vezes mais, respectivamente com D. Hermantina Shalders e D. Helena Gorhan, duas distintas damas.

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Shalders trabalhou na Estrada de Ferro Paraná – Santa Catarina e na Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.

Estava na Mogiana ao ser proclamada a República. Uma lei determinara então que os filhos de pais estrangeiros optassem pela cidadania dos pais ou pela brasileira. Alguns dos irmãos do Professor Shalders escolheram a cidadania inglesa. Ele, porém, preferiu continuar brasileiro. Trabalhou, depois, em diversos serviços públicos, como a construção do serviço de saneamento da Mogiana.

Secretário particular de Sir Alexander Mackenzie, da Light, aposentou-se como assistente-técnico da empresa, “onde, porém, durante muitos anos ainda, foram conservados sua sala, sua mesa e seu auxiliar exclusivo, a fim de que ele pudesse atender, ocasionalmente, a relatórios e consultas técnicas”. Foi também presidente da primeira Junta Administrativa da Caixa de Aposentadoria e Pensões da Light.


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A educação e a instrução da Juventude sempre lhe mereceram as melhores atenções. No tempo em que lecionava, havia falta de livros em português para os estudantes, muitos dos quais se viam impossibilitados ou de adquirir ou de ler as obras em língua estrangeira. O Professor Shalders então passou a escrever a matéria das aulas e a distribuir as folhas, por ele mesmo mimeografadas, a dez tostões cada uma. Foram as primeiras apostilas universitárias, posteriormente reunidas em um livro.


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Recolhido ao leito em sua casa, e consequência de uma queda, perfeitamente lúcido e de saúde satisfatória, o Professor Shalders recebeu a imprensa, fazendo, entre outras, essas declarações:

“Até 1.960, eu caminhava 5 Km por dia. E andando, estudava, aprimorando meus conhecimentos de Esperanto, de que gosto muito”.

Perguntando-lhe o repórter sobre o segredo de sua longevidade, disse o entrevistado:

“Nuca fiz extravagâncias. Nunca fumei. Raramente bebi. Mas acho que a razão principal foi minha vida metódica e, sobretudo, religiosa”.

Engenheiro, Educador, Matemático, Esperantista e Espírita, o Professor Carlos Gomes de Sousa Shalders foi – diz “O GLOBO” de 10/11/1.963 – organizador de numerosas instituições científicas, culturais e de benemerência, constituindo um exemplo de trabalho, tenacidade e retidão moral, esteios de “uma vida longa e útil” que o fez admirado e querido de todos.

Em 09 de dezembro de 1.963, o Professor Shalders desencarnou na capital paulista, sendo sepultado no Cemitério Redentor.