Arquivo da categoria: Espírita Amigo

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JOÃO GHIGNONE – BIOGRAFIA

João Ghignone

Dia 8 de junho de 1.978, às 23 horas, desencarnou em Curitiba (PR), o venerando confrade João Ghignone, Presidente da Federação Espírita do Paraná, por mais de 40 anos.
Nasceu no dia 11 de fevereiro de 1.889, sendo natural de Serravale Sesia, no Piemonte, Itália. Seus pais transferiram residência para o Brasil em 1.894, quando ele contava 5 anos de idade.
Espírita desde a sua juventude, deu o melhor de seus esforços em benefício da propaganda da Doutrina. Como Presidente da Federação Espírita do Paraná, apoiou e participou de todos os eventos espíritas de seu Estado. Tomando parte em vários Congressos, Simpósios, Semanas Espíritas e tudo o mais que engrandecesse a Doutrina, como: o “III Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas”, o “Pacto Áureo”, do CFN da FEB, foi o anfitrião da “4.ª Zonal” realizada pelo CFN no Paraná, juntamente com sua valorosa equipe de trabalhadores. Fundou várias instituições espíritas, como o Instituto Lins de Vasconcelos e sua cidade mirim, o Sanatório Bom Retiro, O Lar de Icléa e o Lar Infantil Mariinha.
Apologista da Cultura Espírita, incentivou a publicação de livros espíritas, pela FEP, de vários autores, como: Deolindo Amorim, Victor Ribas Carneiro e tantos outros.
João Ghignone foi um homem bom, humilde e simples, a serviço da Cultura, do Bem e da Verdade, como bem disse de si, uma reportagem de “O Estado do Paraná”, transcrita em “Mundo Espírita” de 28 de fevereiro de 1.979. A esse gigante, o ilustre cidadão paranaense, que muito contribuiu para o desenvolvimento de sua cultura e outros ramos de atividades humanas, cristãs e espíritas, as nossas mais sinceras homenagens. Rogando a Deus e a Jesus muitas luzes no seu caminho no Plano Espiritual. Aos seus familiares e à família espírita do Paraná, a nossa solidariedade cristã.

Fonte: Anuário Espírita – 79 

JOANNA DE ÂNGELIS – BIOGRAFIA

Joanna de Ângelis

Um espírito que irradia ternura e sabedoria, despertando-nos para a vivência do amor na sua mais elevada expressão, mesmo que, para vivê-lo, seja-nos imposta grande soma de sacrifícios. Trata-se do Espírito que se faz conhecido pelo nome JOANNA DE ÂNGELIS, e que, nas estradas dos séculos, vamos encontrá-la na mansa figura de JOANA DE CUSA, numa discípula de Francisco de Assis, na grandiosa SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ e na intimorata JOANA ANGÉLICA DE JESUS.
Conheça agora cada um deste personagens que marcaram a história com o seu exemplo de humildade e heroísmo.
JOANA DE CUSA
Joana de Cusa, segundo informações de Humberto de Campos, no livro “Boa Nova”, era alguém que possuía verdadeira fé. Narra o autor que: “Entre a multidão que invariavelmente acompanhava JESUS nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de Joana, consorte de Cusa, intendente de Ântipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores”.

O seu esposo, alto funcionário de Herodes, não lhe compartilhava os anseios de espiritualidade, não tolerando a doutrina daquele Mestre que Joana seguia com acendrado amor.

Vergada ao peso das injunções domésticas, angustiada pela incompreensão e intolerância do esposo, buscou ouvir a palavra de conforto de JESUS que, ao invés de convidá-la a engrossar as fileiras dos que O seguiam pelas ruas e estradas da Galileia, aconselhou-a a segui-Lo a distância, servido-O dentro do próprio lar, tornando-se um verdadeiro exemplo de pessoa cristã, no atendimento ao próximo mais próximo: seu esposo, a quem deveria servir com amorosa e dedicação, sendo fiel a Deus, amando o companheiro do mundo como se fora seu filho.

JESUS traçou-lhe um roteiro de conduta que lhe facultou viver com resignação o resto de sua vida. Mais tarde, tornou-se mãe. Com o passar do tempo, as atribuições se foram avolumando. O esposo, após uma vida tumultuada e inditosa, faleceu, deixando Joana sem recursos e com o filho para criar. Corajosa, buscou trabalhar. Esquecendo “o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão”. Trabalhou até a velhice.

Já idosa, com os cabelos embranquecidos, foi levada ao circo dos martírios, juntamente com o filho moço, para testemunhar o amor por JESUS, o Mestre que havia iluminado a sua vida acenando-lhe com esperanças de um amanhã feliz. Narra Humberto de Campos, no livro citado: “Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações. – Abjura! – exclama um executor das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio. A antiga discípula do Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas: – “Repudia a JESUS, minha mãe! Não vês que nós perdemos?! Abjura! por mim, que sou teu filho!” Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angustia que lhe retalham o coração. Após recordar sua existência inteira, responde: “- Cala-te, meu filho! JESUS era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mundo, é preciso ser fiel a DEUS!” Logo em seguida, as labaredas consomem o seu corpo envelhecido, libertando-a para a companhia do seu Mestre, a quem tão bem soube servir e com quem aprendeu a sublimar o amor.
UMA DISCÍPULA DE FRANCISCO DE ASSIS
Séculos depois, Francisco, o “Pobrezinho de Deus”, o “Sol de Assis”, reorganiza o “Exército de Amor do Rei Galileu”, ela também se candidata a viver com ele a simplicidade do Evangelho de Jesus, que a tudo ama e compreende, entoando a canção da fraternidade universal.
SOROR JUANA INÉS DE LA CRUZ
No século XVII ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce em 1.651 na pequenina San Miguel Nepantla, a uns oitenta quilômetros da cidade do México, com o nome de JUANA DE ASBAJE Y RAMIREZ DE SANTILLANA, filha de pai basco e mãe indígena.

Após 3 anos de idade, fascinada pelas letras, ao ver sua irmã aprender a ler e escrever, engana a professora e diz-lhe que sua mãe mandara pedir-lhe que a alfabetizasse. A mestra, acostumada com a precocidade da criança, que já respondia ás perguntas que a irmã ignorava, passa a ensinar-lhe as primeiras letras.

Começou a fazer versos aos 5 anos. Aos 6 anos, Juana dominava perfeitamente o idioma pátrio, além de possuir habilidades para costura e outros afazeres comuns às mulheres da época. Soube que existia no México uma Universidade e empolgou-se com a ideia de no futuro, poder aprender mais e mais entre os doutores. Em conversa com o pai, confidenciou suas perspectivas para o futuro. Dom Manuel, como um bom espanhol, riu-se e disse gracejando: -“Só se você se vestir de homem, porque lá só os rapazes ricos podem estudar.” 

Juana ficou surpresa com a novidade, e logo correu à sua mãe solicitando insistentemente que a vestisse de homem desde já, pois não queria, em hipótese alguma, ficar fora da Universidade. Na Capital, aos 12 anos, Juana aprendeu latim em 20 aulas, e português, sozinha. Além disso, falava nahuatl, uma língua indígena.

O Marquês de Mancera, querendo criar uma corte brilhante, na tradição europeia, convidou a menina-prodígio de 13 anos para dama de companhia de sua mulher. Na Corte encantou a todos com sua beleza, inteligência e graciosidade, tornando-se conhecida e admirada pelas suas poesias, seus ensaios e peças bem-humoradas. Um dia, o Vice-rei resolveu testar os conhecimentos da vivaz menina e reuniu 40 especialistas da Universidade do México para interrogá-la sobre os mais diversos assuntos. A plateia assistiu, pasmada, àquela jovem de 15 anos responder, durante horas, ao bombardeio das perguntas dos professores. E tanto a plateia como os próprios especialistas aplaudiram-na, ao final, ficando satisfeito o Vice-rei. 

Mas, a sua sede de saber era mais forte que a ilusão de prosseguir brilhando na Corte. A fim de se dedicar mais aos seus estudos e penetrar com profundidade no seu mundo interior, numa busca incessante de união com o divino, ansiosa por compreender Deus através de sua criação, resolveu ingressar no Convento das Carmelitas Descalças, aos 16 anos de idade. 

Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência.

Tomou o nome de SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ. Na sua confortável cela, cercada por inúmeros livros, globos terrestres, instrumentos musicais e científicos, Juana estudava, escrevia seus poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Era frequentemente visitada por intelectuais europeus e do Novo Mundo, intercambiando conhecimentos e experiências.

A linda monja era conhecida e admirada por todos, sendo os seus escritos popularizados não só entre os religiosos, como também entre os estudantes e mestres das Universidades de vários lugares. Era conhecida como a “Monja da Biblioteca”.

Se imortalizou também por defender o direito da mulher de ser inteligente, capaz de lecionar e pregar livremente. Em 1.695 houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs religiosas que, juntamente com a maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma a uma das suas assistidas e quando não restava mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade.
SÓROR JOANA ANGÉLICA DE JESUS
Passados 66 anos do seu regresso à Pátria Espiritual, retornou, agora na cidade de Salvador na Bahia, em 1.761, como JOANA ANGÉLICA, filha de uma abastada família. Aos 21 anos de idade ingressou no Convento da Lapa, como franciscana, com o nome de SÓROR JOANA ANGÉLICA DE JESUS, fazendo profissão de Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição. Foi irmã, escrivã e vigária, quando, e, 1.815, tornou-se Abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1.822, defendendo corajosamente o Convento, a casa do Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a Independência do Brasil. Nos planos divinos, já havia uma programação para esta sua vida no Brasil, desde antes, quando reencarnara no México como Sóror Juana Inés de La Cruz. Daí, sua facilidade estrema para aprender português. É que, nas terras brasileiras, estavam reencarnados, e reencarnariam brevemente, Espíritos ligados a ela, almas comprometidas com a Lei Divina, que faziam parte de sua família espiritual e aos quais desejava auxiliar. Dentre esses afeiçoados a Joanna de Ângelis, destacamos Amélia Rodrigues, educadora, poetisa, romancista, dramaturga, oradora e contista que viveu no fim do século passado ao início deste.
JOANNA NA ESPIRITUALIDADE
Quando, na metade do século passado, “as potências do Céu” se abalaram, e um movimento de renovação se alastrou pela América e pela Europa, fazendo soar aos “quatro cantos” a canção da esperança com a revelação da vida imortal, Joanna de Ângelis integrou a equipe do Espírito de Verdade, para o trabalho de implantação do Cristianismo redivivo, do Consolador prometido por Jesus. E ela, no livro “Após a Tempestade”, em sua última mensagem, referindo-se aos componentes de sua equipe de trabalho diz: “Quando se preparavam os dias da Codificação Espírita, quando se convocavam trabalhadores dispostos à luta, quando se anunciavam as horas preditas, quando se arregimentavam seareiros para Terra, escutamos o convite celeste e nos apressamos a oferecer nossas parcas forças, quanto nós mesmos, a fim de servir, na ínfima condição de sulcadores do solo onde deveriam cair as sementes de luz do Evangelho do Reino.”
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” vamos encontrar duas mensagens assinadas por “Um Espírito amigo”. A primeira, no Cap. IX, item 7 com o título “A paciência”, escrita em Havre, 1.862. A segunda no Cap. XVIII itens 13 e 15 intitulada “Dar-se-á àquele que tem”, psicografada no mesmo ano que a anterior, na cidade de Bordéus. Se observarmos bem, veremos a mesma Joanna que nos escreve hoje, ditando no passado uma bela página, como o modelo das nossas atitudes, em qualquer situação. No mundo Espiritual, Joanna estagia numa bonita região, próxima da Crosta terrestre.
Quando vários Espíritos ligados a ela, antigos cristãos equivocados se preparavam para reencarnar, reuniu a todos e planejou construir na Terra, sob o céu da Bahia no Brasil, uma cópia, embora imperfeita, da Comunidade onde estagiava no Plano Espiritual, com o objetivo de, redimindo os antigos cristãos, criar uma experiência educativa que demonstrasse a viabilidade de se viver numa comunidade, realmente cristã, nos dias atuais. Espíritos gravemente enfermos, não necessariamente vinculados aos seus orientadores encarnados, viriam na condições de órfãos, proporcionando oportunidade de burilamento, ao tempo em que, eles próprios, se iriam liberando das injunções cármicas mais dolorosas e avançando na direção de Jesus. Engenheiros capacitados foram convidados para traçarem os contornos gerais dos trabalhos e instruírem os pioneiros da futura Obra.
Quando estava tudo esboçado, Joanna procurou entrar em contato com Francisco de Assis, solicitando que examinasse os seus planos e auxiliasse na concretização dos mesmos, no Plano Material. O “Pobrezinho de Deus” concordou com a Mentora e se prontificou a colaborar com a Obra, desde que “nessa Comunidade jamais fosse olvidado o amor aos infelizes do mundo, ou negada a Caridade aos “filhos do Calvário”, nem se estabelecesse a presunção que é vérmina a destruir as melhores edificações do sentimento moral”.
Quase um século foi passado, quando os obreiros do Senhor iniciaram na Terra, em 1.947, a materialização dos planos de Joanna, que inspirava e orientava, secundada por Técnicos Espirituais dedicados que espalhavam ozônio especial pela psicosfera conturbada da região escolhida, onde seria construída a “Mansão do Caminho”, nome dado à alusão à “Casa do Caminho” dos primeiros cristãos.
Nesse ínterim, os colaboradores foram reencarnando, em lugares diversos, em épocas diferentes, com instrução variada e experiências diversificadas para, aos poucos, e quando necessário, serem “chamados” para atender aos compromissos assumidos na espiritualidade. Nem todos, porém, residiriam na Comunidade, mas, de onde se encontrassem, enviariam a sua ajuda, estenderiam a mensagem evangélica, solidários e vigilantes, ligados ao trabalho comum.
A Instituição crescendo sempre comprometida a assistir os sofredores da Terra, os tombados nas provações, os que se encontram a um passo da loucura e do suicídio.
Graças às atividades desenvolvidas, tanto no plano material como no plano espiritual, com a terapia de emergência a recém-desencarnados e atendimentos especiais, a “Mansão do Caminho” adquiriu uma vibração de espiritualidade que suplanta humanas vibrações dos que ali residem e colaboram.

Fonte: A Veneranda Joanna de Angelis, Celeste Santos e Divaldo Pereira Franco

IRMÃS FOX – BIOGRAFIA

Irmãs Fox

A FAMÍLIA FOX
Em 11 de dezembro de 1.847, a família Fox instalou-se em modesta casa no vilarejo de Hydesville, Estado de New York, distante cerca de 30 km da cidade de Rochester.
O nome da família Fox origina-se do sobrenome Voss, depois Foss e finalmente Fox.
Eram de origem alemã, da parte paterna; e francesa, holandesa e inglesa, da parte materna. Seus antecessores foram notoriamente dotados de faculdades paranormais.
O grupo compunha-se do chefe da família, Sr. John D. Fox, da esposa D. Margareth Fox e mais duas filhas; Kate, com 7 anos e Margareth, com 10 anos. O casal possuía mais filhos e filhas. Entre estas, convém destacar Leah, que morava em Rochester, onde lecionava música. Devido aos seus casamentos, foi sucessivamente conhecida como Mrs. Fisch, Mrs. Brown e Mrs. Underhill. Leah escreveu um livro, “The Missing Link”, New York, 1.885, no qual ela faz referência às faculdades paranormais de seus parentes anteriores.
Inicialmente, tomaram parte nos acontecimentos somente Kate e Margareth, mas posteriormente Leah juntou-se a elas e teve participação ativa nos episódios subsequentes ao de Hydesville.
A CASA DE HYDESVILLE JÁ ERA ASSOMBRADA
Lucretia Pulver era jovem que servira como dama de companhia do casal Bell, quando elas habitavam a referida casa até 1.846. Ela contou uma curiosa história de um mascate que se hospedara com os Bells. Na noite em que o vendedor passou com aquele casal, Lucretia foi mandada a dormir na casa dos pais. Três dias depois tornaram a procurá-la.
Então disseram-lhe que o mascate fora embora. Ela nunca mais viu esse homem.
Depois disso, passado algum tempo, aproximadamente em 1.844, começaram a dar-se fenômenos estranhos naquela casa. A mãe de Lucretia, Sra. Ann Pulver, que mantinha relações com a família Bell, relata que, em 1.844, quando visitara a Sra. Bell, indo fazer tricô em sua companhia, ouvira desta uma queixa. Disse-lhe que se sentia muito mal e quase não dormia à noite. Quando lhe perguntou qual a causa, a Sra. Bell declarou que se tratava de rumores inexplicáveis; parecera-lhe ter ouvido alguém a andar de um quarto para outro; acordou o marido e fê-lo levantar-se e trancar as janelas. A princípio, tentou afirmar à Sra. Pulver que possivelmente se tratasse de ratos. Posteriormente, confessou não saber qual a razão de tais rumores, para ela inexplicáveis.
A jovem Lucretia Pulver também testemunhou os fenômenos insólitos observados naquela casa. Os Bells terminaram por mudar-se.
Em 1.846, instalou-se ali a família Weekman: Sr. Michael Weekman, Sra. Hannah Weekman e suas filhas. Alguns dias após terem-se alojado na referida casa, passaram a ser perturbados por ruídos insólitos: batidas na porta da entrada, sem que ninguém visível o estivesse fazendo; passos de alguém andando na adega ou dentro de casa.
A família Weekman, como era de esperar-se, não permaneceu muito tempo naquela casa sinistra. Em fins de 1.847 deixou-a vaga, saindo de lá definitivamente.
Desse modo, atingimos a data de 11 de dezembro de 1.847, quando a referida casa passou a ser ocupada pela família Fox, conforme já mencionamos no início deste artigo.
A NOITE DAS PRIMEIRAS TRANS COMUNICAÇÕES
Inicialmente os Fox não sofreram nenhum incômodo em sua nova residência. Entretanto, algum tempo depois, mais precisamente nos dois primeiros meses de 1.848, os mesmos ruídos insólitos que perturbaram os antigos inquilinos voltaram a manifestar-se outra vez. Eram batidas leves, sons semelhantes aos arranhões nas paredes, assoalhos e móveis, os quais poderiam perfeitamente ser confundidos com rumores naturais produzidos por vento, estalos do madeiramento, ratos, etc. Por isso a família Fox não deveria ter-se sentido molestada ou alarmada. Entretanto, tais ruídos cresceram de intensidade, a partir de meados de março de 1.848. Batidas mais nítidas e sons de arrastar de móveis começaram a fazer-se ouvir, pondo as meninas em sobressalto, ao ponto de negarem-se a dormir sozinhas no seu quarto, e passarem a querer dormir no quarto dos pais.
A princípio os habitantes da casa, ainda incrédulos quanto à possível origem sobrenatural dos ruídos, levantavam-se e procuravam localizar a causa natural dos mesmos.
Na noite de 31 de março de 1.848, desencadeou-se uma série de sons muito fortes e continuados. Aí, então, deu-se o primeiro lance do fantástico episódio, que ficou como um marco inamovível na história da fenomenologia paranormal.
A garota de sete anos de idade – a Kate Fox – em sua espontaneidade de criança teve a audácia de desafiar a “força invisível” a repetir, com os golpes, as palmas que ela batia com as mãos! A resposta foi imediata, a cada estalo um golpe era ouvido logo a seguir! Ali estava a prova de que a causa dos sons seria uma inteligência incorpórea. Para apreciar-se bem o sabor desta incrível aventura, vamos transcrever alguns trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox:
“Na noite de sexta-feira, 31 de março de 1.848, resolvemos ir para a cama um pouco mais cedo e não nos deixamos perturbar pelos barulhos; íamos ter uma noite de repouso. Meu marido que aqui estava em todas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a pesquisar.
Naquela noite fomos cedo para a cama – apenas escurecera. Achava-me tal alquebrada e com falta de repouso que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido para a cama quando ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas me havia deitado. A coisa começou como de costume. Eu distinguia de qualquer outro ruído jamais ouvido. As meninas, que dormiam em outra cama no quarto, ouviram as batidas e procuraram fazer ruídos semelhantes, estalando os dedos. Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: “Senhor Pé Rachado, Faça o que eu faço.” Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margareth disse brincando: “Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro” e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o ensaio.
Então Kate disse, na simplicidade infantil: “Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira.” “Então pensei em fazer um teste que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a exata idade de cada um, fazendo pausa de um para outro, a fim de separar, até o sétimo, depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas, correspondendo a idade do menor, que havia morrido. “Então perguntei: É um ser humano que me responde tão corretamente? Não houve resposta. Perguntei: É um espírito? Se for, de duas batidas. Duas batidas foram ouvidas assim que fiz o pedido. Então eu disse: Se for um espírito assassinado dê duas batidas. Essas foram dadas instantaneamente, produzindo um tremor na casa. Perguntei: Foi assassinado nesta casa? A resposta foi como a precedente. A pessoa que o assassinou ainda vive? Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo processo verifiquei que fora um homem que o assassinaram nesta casa e os seus despojos enterrados na adega; que a família era constituída de esposa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao tempo de sua morte, mas que depois a esposa morrera. Então perguntei: Continuará a bater se chamarmos os vizinhos para que também escutem? A resposta afirmativa foi alta.”
Desse modo foram chamados vários vizinhos, os quais por sua vez convocaram outros, de maneira que, mais tarde e nos dias subsequentes, o número de curiosos era enorme.
Naquela noite compareceram o Sr. Redfield, o Sr. e Sra. Duesler e os casais Hyde e Jewell. “Mr. Duesler fez muitas perguntas e obteve as respostas. Em seguida indiquei vários vizinhos nos quais pude pensar, e perguntei se havia sido morto por algum deles, mas não obtive resposta. Após isso, Mr. Duesler fez perguntas e obteve as respostas. Perguntou: Foi assassinado? Resposta afirmativa. Seu assassino pode ser levado ao tribunal? Nenhuma resposta. Pode ser punido pela lei? Nenhuma resposta. A seguir disse: Se seu assassino não pode ser punido pela lei de sinais. As batidas foram ouvidas claramente. Pelo mesmo processo Mr. Duesler verificou que ele tinha sido assassinado no quarto do leste, a cinco anos passado, e que o assassínio fora cometido à meia noite de uma terça-feira, por Mr. ….; que fora morto com um golpe de faca de açougueiro na garganta; que o corpo havia sido enterrado; tinha passado pela dispensa, descido a escada e enterrado a dez pés abaixo do solo. Também foi constatado que o móvel fora dinheiro. “Quanto a quantia: cem dólares? Nenhuma resposta. Duzentos? Trezentos? etc. Quando mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram. “Foram chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Estes ouviram as mesma perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e as meninas saímos. Meu marido ficou toda a noite com Mr. Redfield. No sábado seguinte a casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons, mas ao anoitecer recomeçaram. Diziam que mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo os ruídos foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa”.
Estes são os principais trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox, que mais nos interessam para dar uma descrição viva dos acontecimentos de Hydesville, na sinistra noite de 31 de março de 1.848.
AS ESCAVAÇÕES NA ADEGA
Os mais interessados em esclarecer o caso resolveram escavar a adega, visando encontrar os despojos do suposto assassinado. Eis que, através de combinação alfabética com as pancadas produzidas, chegaram à identidade da vítima. Tratava-se de um mascate de nome Charles B. Rosma, o qual tinha trinta e um anos quando, há quatro anos passados, fora assassinado naquela casa e enterrado na adega. O assassino fora um antigo inquilino. Só poderia ter sido o Sr. Bell… Mas onde a prova do fato, o cadáver da vítima? A solução seria procurá-lo na adega, onde estaria enterrado.
As escavações, porém, não levaram a resultados definitivos, pois deram n’água, sem que se tivessem encontrado quaisquer indício. Por essa razão foram suspensas.
No verão de 1.848, o próprio Sr. David Fox auxiliado por alguns interessados retomou o empreendimento. A uma profundidade de um metro e meio, encontraram uma tábua. Aprofundada a cova, encontraram o carvão, cal, cabelos e alguns fragmentos de ossos que foram reconhecidos por um médico como pertencentes a esqueleto humano; mais nada.
As provas do crime eram precárias e insuficientes, razão talvez pela qual o Sr. Bell não foi denunciado.
A DESCOBERTA DO ESQUELETO
Em o número de 23 de novembro de 1.904, do Boston Journal, foi notificada a descoberta do esqueleto de um homem cujo Espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da família Fox em 1.848. Meninos de uma escola achavam-se brincado na adega da casa onde moravam os Fox. A casa tinha fama de ser mal assombrada. Em meio aos escombros de uma parede – talvez falsa – que existira na adega, os garotos encontraram as peças de um esqueleto humano. Junto ao esqueleto foi achada uma lata de uma espécie costumeira usada por mascates. Esta lata encontra-se agora em Lilydale, a sede central regional dos Espiritualistas Americanos, para onde foi transportada a velha casa de Hydesville.
Como pode ver-se, cinquenta e seis anos depois, em 22 de novembro de 1.904 (data do encontro do esqueleto do mascate), parece não haver dúvida de que foram confirmadas as informações obtidas em 1.848 a respeito do crime ocorrido naquela casa. Este episódio constitui-se em um notável caso de TCD (trans comunicação direta). As evidências são muito fortes.
O MOVIMENTO ESPALHA-SE
As duas garotas, Margareth e Kate, foram afastadas de sua casa, pois suspeitava-se que os fenômenos eram ligados sobretudo à sua presença. Margareth passou a morar com seu irmão David Fox. A Kate mudou-se para Rochester, onde ficou em casa de sua irmã Leah, então casada e agora Sra. Fisch. Entretanto, os ruídos insistiam em acompanhar as irmãs Fox; onde elas se achavam, ocorriam os fenômenos. Parece que agora se observava uma espécie de contágio, pois, Leah Fisch, a irmã mais velha, passou a apresentar também os mesmos fenômenos. Logo mais, começaram a surgir em outras famílias: “Era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas suscetíveis. Sons idênticos foram ouvidos em casa do Rev. A. H. Jervis, ministro metodista residente em Rochester. Poderosos fenômenos físicos irromperam na família do Diacono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester. Pouco depois Mrs. Sarah A. Tamlin e Mrs. Benedict de Auburn, desenvolveram notável mediunidade (…)”.
O movimento espalhar-se-ia, mais tarde, pelo mundo, conforme fora afirmado em uma das primeiras comunicações através das irmãs Fox. As próprias forças invisíveis insistiram para que se fizessem reuniões públicas onde elas pudessem manifestar-se ostensivamente. Era uma nova mensagem que vinha do mundo dos Espíritos, conclamando os homens para uma outra posição filosófico-religiosa.
“SPIRITUALISM” E ESPIRITISMO
A “Onda Espiritualista” passou da América para a Europa, cujo terreno já se encontrava preparado pelo desenvolvimento científico, e onde os fenômenos de TC (trans comunicação) iriam ser estudados mais tarde, com rigor e profundidade pelos fundadores da “Psychical Research” e da Metapsíquica.
A forma bastante comum sob a qual as manifestações de TC (transcomunicação) se apresentaram na Europa, foi a das “mesas girantes”. Vamos focalizar mais adiante e resumidamente esse período, do qual também se originou o Espiritismo na França, graças às investigações científicas e ao método didático do ilustre intelectual lionês, Hyppolyte Leon Denizard Rivail (Allan Kardec).
Nunca é supérfluo enfatizar que não se deve confundir o “Spiritualism” com o espiritismo. O primeiro nasceu como um movimento popular, provocado por evidências a favor da crença na existência, sobrevivência e comunicabilidade do Espírito. Posteriormente o “Spiritualism” adquiriu a forma de uma religião organizada que aspira, também, ser uma Ciência e uma Filosofia.
Agora, um ponto importante: o “Spiritualism” não incorporou a ideia da reencarnação. Ele admite apenas a continuidade da vida após a morte, sem inferno ou céu, porém em contínuo aprendizado e evolução no “Mundo Espiritual”. Há algumas diferenças entre os princípios básicos do “Spiritualism” e do Espiritismo. A mais profunda é a questão da “reencarnação”. O Espiritismo não só aceita o renascimento, como admite a Lei do Carma, considerando serem estes os fatores naturais da evolução do Espírito. Embora Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, considere Sócrates e Platão como os precursores da ideia cristã e do Espiritismo, a sua atenção para a realidade da comunicação dos Espíritos foi despertada pelo fenômeno das “mesas girantes”.
REPERCUSSÃO ENTRE INTELECTUAIS
A partir do episódio das irmãs Fox, a transcomunicação, aqui no ocidente, passou atrair a atenção de um pequeno grupo de cientistas. Inicialmente, tais investigadores achavam-se, em sua maioria, imbuídos de forte cepticismo acerca do fenômenos paranormais que passaram a ganhar popularidade inusitada na Europa. Somente a curiosidade diante da estranheza de tais ocorrências conseguiu levar esses poucos cientistas a observá-las.
Logo no começo da fase, as pesquisas conduziram à formação de três categorias de pessoas, conforme suas opiniões acerca da natureza dos referidos fenômenos. O primeiro grupo consistiu nos que viram nesses fatos uma confirmação de suas crenças na sobrevivência, na comunicabilidade e progresso dos Espíritos. A natureza do homem, para eles, era dual, e continha um componente espiritual além do material.
Desta interpretação, surgiu um aspecto religioso como decorrência imediata do reconhecimento da natureza espiritual da criatura humana. O “Spiritualism”, na Inglaterra, e o Espiritismo, na França, são exemplos dessa interpretação, embora ambos reivindiquem, também, para suas doutrinas, os aspectos filosóficos e científicos.
Um segundo grupo constituiu-se, em sua maioria, por cidadãos de acentuado interesse científico. Alguns já eram cientistas profissionais, professores e investigadores em diversas áreas de conhecimento teórico e prático. Outros, com títulos e formação superior, embora não especialistas em disciplinas científicas, sentiram-se também interessados em investigar de maneira racional os referidos fatos, denominados, na época, “fenômenos psíquicos”. Daí a designação usual desta atividade: “Psychical Research” (Pesquisa Psíquica). Na França, Charles Richet deu-lhe outro nome: “Metapsíquica”.
No segundo grupo, figuravam, indistintamente, os espiritualistas, os indiferentes e os materialistas. Apenas os seguintes objetivos pareciam movê-los: confirmar ou negar os propalados fenômenos e, no caso afirmativo, descobrir a sua real causa eficiente.
Finalmente, um terceiro grupo, compreendendo a maioria dos interessados, colocou-se em franco antagonismo relativamente aos dois primeiros. Compunha-se de cientistas, intelectuais em geral, jornalistas e pessoas comuns. Alguns eram fieis ou chefes de religiões instituídas. Grande número desses cidadãos, especialmente os intelectuais, achava-se impregnado de filosofias materialistas e havia absorvido as ideias positivistas.
Revelaram-se profundamente céticos e procuraram liquidar com a crença nos aludidos fenômenos. Para eles, os fenômenos paranormais eram manifestações de superstição, ilusões e fraudes, ou alienação mental. Para alguns religiosos, poderiam ser armadilhas do “demônio”, ou tentativas de indivíduos mal intencionados que visavam abalar as bases das religiões tradicionais. Outros chegavam a acreditar que se tratava da revivescência da Magia e do Ocultismo, numa tentativa de domínio de opinião pública.
CONCLUSÃO
Foi neste clima que se desenrolaram as dramáticas transcomunicações, cuja iniciativa, ao que parece, partiu do Plano Espiritual. As manifestações mais em evidência foram as chamadas “Mesas Girantes”. Este episódio inaugurou o Período Espirítico, conforme a classificação de Charles Richet. Segundo este sábio, tal período vai das irmãs Fox até as pesquisas de Sir Willian Crookes, em 1.872.

Fonte: Jornal Folha Espírita (10/1.995)

INÁCIO FERREIRA – BIOGRAFIA

Inácio Ferreira

Brasileiro, nasceu em 1.904, na cidade de Uberaba, Estado de Minas Gerais. Dr. Inácio Ferreira somente se ausentou de sua cidade, a fim de estudar medicina, carreira que tanto amou, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro.
Ao término de seus estudos, já formado médico em psiquiatria, retorna à sua cidade natal, com a tarefa predestinada ao espírita cristão. Assume, após um casamento por amor e apoiado pela esposa, a direção do primeiro Sanatório Espírita na região: Sanatório Espírita de Uberaba.
O ano de 1.933 vem marcar um grande feito: a assistência gratuita e fraterna no referido Sanatório, à luz do Espiritismo, a qual ainda existe até os dias atuais. A obra em referência foi construída por uma personagem sempre lembrada em terras do chamado Brasil Central: Maria Modesto, médium de grande abnegação cristã.
O ciclo literário de Inácio Ferreira veio enfatizar a era da psiquiatria, em face da pesquisa doutrinária.
Por outro lado, a literatura-verdade, demonstrada através das curas de doentes envoltos na chamada loucura, e comprovadamente curados nas sessões espíritas, por ele realizadas, torna-se marcas de luz, até hoje apresentadas nas páginas dos livros que o grande médico publicou, há quase meio século.
Vale dizer que espíritos brasileiros que leram as primeiras edições de suas obras, no ano de 1.940, jamais esqueceram o valor contido nessas obras. Novos Rumos à Medicina, Volumes I e II, Psiquiatria em Face da Reencarnação, Espiritismo e Medicina, dentre outros, vêm colocar o Dr. Inácio Ferreira como sendo o primeiro autor médico dentro da doutrina.
A obsessão mostra os horizontes do chamado mundo sombrio, dentro da psiquiatria, que, à luz cristã do Espiritismo, faz com que diversos doentes sejam curados.
Dr. Inácio Ferreira publicou também “Conselhos ao Meu Filho”, assim como uma vasta coleção de livros para crianças, dentro da pedagogia espírita infantil. Um outro livro, até hoje esquecido do mundo editorial, “Subsídios Para a História de Eurípedes Barsanulfo”, mostra em destaque, o processo judicial movido pelo catolicismo contra o médium de Sacramento, cidade próxima a Uberaba, onde Eurípedes viveu. A obra descreve inúmeras curas de pessoas desenganadas pela medicina terrena, que foram curadas por Eurípedes Barsanulfo.
O grande médico espírita, Dr. Inácio Ferreira, sempre se referia a sua esposa, sua companheira de ideal, com amor, visto que o casal não teve filhos; esta alusão sempre foi com muito carinho.
Poucos dos seus livros reapareceram, mas com muito êxito, quase cinquenta anos distantes da primeira edição, ganhando, no entanto, grande aceitação do público.
Em 27 de setembro de 1.988, Dr. Inácio Ferreira faleceu. Seus restos mortais repousam no cemitério de Uberaba, MG, terra que o grande médico espírita tanto amou e serviu.

Fonte: Folha Cruzada, Ano 5, Nº 8.

HUMBERTO DE CAMPOS – BIOGRAFIA

Humberto de Campos

Humberto de Campos nasceu na pequena localidade de Piritiba, no Maranhão, em 1.886. Foi menino pobre. Estudou com esforço e sacrifício. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Sua infância foi marcada pela miséria. Em sua “Memórias”, ele conta alguns episódios que lhe deixaram sulcos profundos na alma.
Tempo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, então Capital da República, onde se tornou famoso.
Brilhante jornalista e cronista perfeito, suas páginas foram “colunas” em todos os jornais importantes do País.
Dedicou-se inteiramente à arte de escrever, e por isso eram parcos os recursos financeiros. A certa altura da sua vida, quando minguadas se fizeram as economias, teve a ideia de mudar de estilo.
Adotando o pseudônimo de Conselheiro XX, escreveu uma crônica chistosa a respeito da figura eminente da época – Medeiros e Albuquerque-, que se tornou assim motivo de riso, da zombaria e da chacota dos cariocas por vários dias.
O Conselheiro, sibilino e mordaz, feriu fundo o orgulho e a vaidade de Medeiros, colocando na boca do povo os argumentos que todos desejavam assacar contra
Albuquerque. O sucesso foi total.
Tendo feito, por experiência, aquela crônica, de um momento para outro se viu na contingência de manter o estilo e escrever mais, pois seus leitores multiplicaram, chovendo cartas às redações dos jornais, solicitando novas matérias do Conselheiro XX.
Além de manter o estilo, Humberto se foi aprofundando no mesmo, tornando-se para alguns, na época, quase imortal, saciando o paladar de toda uma mentalidade que desejava mais liberdade de expressão e mais explicitude na abordagem dos problemas humanos e sociais.
Quando adoeceu, modificou completamente o estilo. Sepultou o Conselheiro XX, e das cinzas, qual Fênix luminosa, nasceu outro Humberto, cheio de piedade, compreensão e entendimento para com as fraquezas e sofrimentos do seu semelhante.
A alma sofredora do País buscou avidamente Humberto de Campos e dele recebeu consolação e esperança. Eram cartas de dor e desespero que chegavam às suas mãos, pedindo socorro e auxílio. E ele, tocado nas fibras mais sensíveis do coração, a todas respondia, em crônicas, pelos jornais, atingindo milhares de leitores em circunstâncias idênticas de provações e lágrimas.
Fez-se amado por todo o Brasil, especialmente na Bahia e São Paulo. Seus padecimentos, contudo, aumentavam dia-a-dia. Parcialmente cego e submetendo-se a várias cirurgias, morando em pensão, sem o calor da família, sua vida era, em si mesma, um quadro de dor e sofrimento. Não desesperava, porém, e continuava escrevendo para consolo de muitos corações.
A 5 de dezembro de 1.934, desencarnou. Partiu levando da Terra amargas decepções.
Jamais o Maranhão, sua terra natal, o aceitou. Seus conterrâneos chegaram mesmo a hostilizá-lo.
Três meses apenas de desencarnado, retornou do Além, através do jovem médium Chico Xavier, este, com 24 anos de idade somente, e começou a escrever, sacudindo o País inteiro com suas crônicas de além-túmulo.
O fato abalou a opinião pública. Os jornais do Rio de Janeiro e outros estados estamparam suas mensagens, despertando a atenção de toda gente. Os jornaleiros gritavam. Extra, extra! Mensagens de Humberto de Campos, depois de morto! E o povo lia com sofreguidão…
Agripino Grieco e outros críticos literários famosos examinaram atenciosamente a produção de Humberto, agora no Além. E atestaram a autenticidade do estilo. “Só podia ser Humberto de Campos!” – afirmaram eles.
Começou então uma fase nova para o Espiritismo no Brasil. Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira ganharam notoriedade. Vários livros foram publicados.
Aconteceu o inesperado. Os familiares de Humberto moveram uma ação judicial contra a FEB, exigindo os direitos autorais do morto!
Tal foi a celeuma, que o histórico de tudo isto está hoje registrado num livro cujo título é “A Psicografia ante os Tribunais”, escrito por Dr. Miguel Timponi. A Federação ganhou a causa. Humberto, constrangido, ausentou-se por largo período e, quando retornou a escrever, usou o pseudônimo de Irmão X. Nas duas fases do Além, grafou 12 obras pelo médium Chico Xavier. “Crônicas de Além-Túmulo”, “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, “Boa Nova”, “Novas Mensagens”, “Luz Acima”, “Contos e Apólogos” e outros foram livros que escreveu para deleite de muitas almas.
Nas primeiras mensagens temos um Humberto bem humano, com características próprias do intelectual do mundo. Logo depois, ele se vai espiritualizando, sutilizando as ideias e expressões, tornando-se então o escritor espiritual predileto de milhares.

Fonte: Revista Reflexões. Edição n.º 5

HONÓRIO MELLO – BIOGRAFIA

Honório Mello

No dia 8 de setembro de 1.989 desencarnava Honório Melo. Exerceu a presidência da Federação Espírita do Paraná, de 1.979 a 1.983. Foi seu 3.º Vice-Presidente de 1.949 a 1.952 e 2.º Vice-Presidente de 1.972 a 1.978.
Ao longo de mais de meio século de dedicação ao movimento espírita esteve sempre ao lado de outros grandes trabalhadores, tais como Lins de Vasconcellos, Francisco Raitani, João Ghignone, Lauro Schleder e Abibe Isfer.
Em 11 de julho de 1.937 passou a compor o Conselho Federativo da Federação Espírita do Paraná, como representante da Sociedade Espírita Os Mensageiros da Paz. Em 15 de janeiro de 1.938 foi designado Secretário-Geral da FEP pelo então Presidente João Ghignone. Em 23 de janeiro de 1.939 deixou o cargo de Secretário Geral e passou a compor a Comissão de Direção e Fiscalização de Entidades Filiadas, em conjunto com Lauro Schleder, João Pina, Ernesto Carlberg Filho e João Hartman.
Em 2 de abril de 1.938 propôs o nome de Hercília de Vasconcellos para o pavilhão feminino do denominado Sanatório Bom Retiro.
Foi eleito membro efetivo do Conselho Federativo em 12 de outubro de 1.941.
Em 11 de janeiro de 1.943 foi designado para Diretor do Departamento de Propaganda da FEP.
Participou como um dos organizadores do Congresso Espírita Paraná – Santa Catarina, em 1.945, tendo inclusive apresentado uma tese.
Como se comemora os cinquenta anos do Pacto Áureo, no corrente ano, é interessante ressaltar a repercussão do mesmo no Conselho Federativo da FEP.
Na reunião do Conselho Federativo de 9/10/1.949, com a presença de Francisco Raitani que havia retornado do Rio de Janeiro onde, com João Ghignone e Lins de Vasconcellos participara da assinatura da ata da FEB que passou a ser conhecida como Pacto Áureo, o Conselheiro Honório Melo, dizendo do regozijo de tão auspicioso fato, propôs que se enviasse telegrama à FEB, a Arthur Lins de Vasconcellos Lopes e a João Ghignone que haviam permanecido no Rio de Janeiro, no seguinte teor: “Federação Espírita do Paraná, por seu Conselho Federativo reunido hoje dia nove, tomando conhecimento deliberação consubstanciada ata reunião Diretores Federação Espírita Brasileira e várias Federações e Uniões âmbito estadual, realizada dia cinco corrente mês sede essa Federação, com satisfação ratifica ditas deliberações assinadas pelo presidente João Ghignone, mesmo tempo manifesta desejo aderir a essa Federação para o que solicita instruções. Outrossim Federação Espírita Paraná congratula-se com Família Espírita Brasileira pela feliz inspiração que tiveram os responsáveis pelo desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. Assinado Abibe Isfer, vice-presidente em Exercício.”
Em 24/9/1.950 foi instalada a Comissão de Assistência e Difusão Doutrinária, sendo Honório Melo escolhido Secretário da referida comissão, nela permanecendo por quatro anos.
No período de 10/03/1.955 a 13/05/1.958 esteve afastado do Conselho Deliberativo, mas continuou a colaborar nos Departamentos da FEP.
Em 1.958 foi designado diretor do Departamento de Mocidades, tendo antes sido Orientador da União da Mocidade Espírita de Curitiba, UMEC, por mais de cinco anos. Nas reuniões dessa mocidade, que foi muito ativa por mais de dez anos, ele participava, na parte introdutória, a cada quinze dias, fazendo exposições sobre o Livro dos Espíritos.
Foi Secretário do Conselho Deliberativo, por vários anos, desde 1.961. Em 1.965 teve atuação preponderante na criação das Uniões Regionais Espíritas.
Foi delegado do Paraná em vários congressos espíritas, e inúmeras vezes representante da FEP no Conselho Federativo Nacional, onde sua opinião sempre era ouvida e respeitada. Era conhecido e amigo dos presidentes das Federações e Uniões Espíritas de todos os Estados. Melo, como era mais conhecido, era firme na defesa dos aspectos doutrinários e ao mesmo tempo pessoa alegre que contagiava pela sua conversa franca.
Além de suas atividades na Federação Espírita do Paraná, foi trabalhador atuante e também Presidente da Sociedade Espírita Os Mensageiros da Paz e do Centro Espírita Leocádio José Correia, bem como palestrante em outras casas Espíritas do Estado.
Já quando estava enfermo e acamado, em 1.989, recebeu a visita de Divaldo Franco, que lhe transmitiu um passe. Ao vê-lo, Melo disse: “quanta honra para um pobre marquês”, expressão que usava quando recebia algum elogio ou homenagem.
Especificamente para com este periódico, a sua participação como diretor – de novembro de 1.977 a janeiro de 1.979 – foi uma das mais profícuas, além de ter sido um dos mais ardorosos batalhadores para que o mesmo viesse para Curitiba, trazido do Rio de Janeiro pelas mãos de Lins de Vasconcellos, e pudesse chegar até os dias de hoje, com edições regulares e ininterruptas.
Deixou de sua lavra dois opúsculos versando sobre a Federação: “Federação Espírita do Paraná, 77 anos – seus Presidentes” e “Ensaio Histórico da Federação Espírita do Paraná em seus oitenta anos”.
No período de mais de quarenta anos em que João Ghignone permaneceu no cargo de Presidente da FEP, destacam-se Abibe Isfer que, além de suas atividades de médium, era o impulsionador das construções realizadas nesse período e Melo que estava voltado para a dinamização do movimento espírita do Estado. Com certeza Honório Melo continua colaborando com o movimento Espírita do plano em que se encontra.

Fonte: Jornal Mundo Espírita de Setembro/ 1.999.

FREDERICO JÚNIOR – BIOGRAFIA

Frederico Júnior

Aos 30 de agosto de 1.914, após dolorosa enfermidade, desencarnava, com a resignação e a confiança do verdadeiro espírita, o célebre médium brasileiro Frederico Pereira da Silva Júnior, cuja vida, como escreveu Pedro Richard, seu grande amigo e companheiro de 32 anos, “foi muito mais acidentada e grandiosa do que a de Mme. Espérance, contada por ela própria em seu livro “No País das Sombras”.

O primeiro contato dele com o Espiritismo foi em 1.878, na “Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade”, aí levado pelo seu padrinho Luis Antônio dos Santos. Desejava Frederico obter notícias de uma pessoa querida desencarnada havia algum tempo. Para surpresa geral, ele próprio cai em transe sonambúlico, influenciado por um Espírito. Data daí a sua iniciação como médium na mencionada Sociedade.

Convertido, também em 1.878, o Dr. Antônio Luis Saião ao Espiritismo, pouco tempo depois um ilustre amigo dele, o professor de Filosofia J. Rodrigues de Macedo, soube, com tristeza, do fato e, talvez com o objetivo de desmascarar o “embuste”, pediu-lhe para assistir a uma sessão mediúnica. Comparecendo a ela, eis que, por intermédio de Frederico Júnior, o pai do referido professor, falecido havia anos, dirigiu ao visitante uma saudação afetuosa, em letra firme, caligrafia que foi imediatamente reconhecida pelo filho, entre emocionado e assombrado.

Quando a “Sociedade de Estudos Espíritas” tomou, em 1.879, rumo puramente científico, constituindo-se na “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”, dela se desligou um grupo de elementos, entre os quais se achavam Bittencourt Sampaio, Antônio Luis Sayão e Frederico Júnior, e fundaram, em 1.880, o “Grupo Espírita Fraternidade”, de orientação evangélica, e que ficou memorável pelos seus notáveis trabalhos de desobsessão, ali se estudando, nas seções ordinárias, o Evangelho de Jesus segundo a Revelação dada a J. B. Roustaing.

Em 1.882, já havia nesta última Sociedade um seleto número de médiuns, destacando-se Frederico, quer pela variedade de dons mediúnicos, quer pela extrema dedicação ao trabalho na Seara espírita.

Não apenas ao referido Grupo prestou Frederico a sua colaboração mediúnica. Em 06 de junho de 1.880, o Doutor Antônio Luis Sayão, depois de, em vão, tentar unir, em torno de um mesmo ideal, os membros das duas Sociedades dissidentes, fundou, sob a inspiração do Guia do Espiritismo no Brasil, um pequeno grupo destinado ao estudo e à prática dos Evangelhos, conhecido por “Grupo dos Humildes” ou “Grupo do Sayão”, mais tarde (quando se incorporou à Federação Espírita Brasileira) denominado “Grupo Ismael”.

Em sua primeira sessão, no dia 15 de julho de 1.880, Frederico Júnior atuou como médium, tendo recebido longa mensagem do elevado Espírito de Ismael, a falar de suas esperanças ante os novos esforços para reabilitação do Espiritismo em terras do Brasil.

Desse novo núcleo constam como fundadores, além dos nomes citados, os seguintes médiuns de ilibada moral: Isabel Maria de Araújo Sampaio, João Gonçalves do Nascimento, prodigioso médium curador, Manuel Antônio dos Santos Silva e Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. Quase todos eles faziam parte também do “Grupo Espírita Fraternidade”.

Durante 34 anos, Frederico Júnior exerceu assiduamente suas funções mediúnicas no Grupo Ismael, tendo recebido em 11 de junho de 1.914, a sua última comunicação do Além.

Por seu intermédio contam-se centenas de curas de obsessões, limitando-se, mais tarde, os trabalhos no referido Grupo quase que somente à doutrinação de poderosos e diabólicos Espíritos, altamente intelectualizados, chefes de grandes falanges do mal.

Em 1.893, o Dr. Antônio Luis Sayão dava a público o volume “Trabalhos Espíritas”, repositório de instrutivas mensagens de Espíritos elevadíssimos, obtidas no “Grupo Ismael”, em sua maior parte pelo médium Frederico.

Em 1.897, mais uma obra organizada por Sayão saía a lume: “Estudos dos Evangelhos”, que desde a sua segunda edição (1.902) ganhou o novo título: “Elucidações Evangélicas”. A segunda parte deste livro (hoje excluída, a fim de torná-lo acessível à bolsa dos confrades) encerrava quase uma centena de belas comunicações, todas igualmente recebidas no “Grupo Ismael”, pela mediunidade sonambúlica de Frederico. “Elucidações Evangélicas” é, em síntese, “um resumo de Roustaing, com as vantagens de Allan Kardec”. E por ser – segundo as palavras de Bezerra de Menezes – “uma obra preciosa em que transluzem os clarões da Verdade”, ela continua a merecer a atenção dos estudiosos do Evangelho.

Bittencourt Sampaio desencarnar em 1.885. Dois anos depois, o seu sublime Espírito, encontrando em Frederico Júnior o instrumento maleável à expansão dos seus ideais cristãos, começou a ditar, por seu intermédio, três obras em que se sobressaem belíssimas páginas literárias e doutrinárias e que foram publicadas pela FEB nesta ordem: “Jesus perante a Cristandade” (1.898), “De Jesus para as Crianças” (1.901) e “Do Calvário ao Apocalipse” (1.907). Em todas elas reconhecia-se o mesmíssimo estilo do autor de “A Divina Epopeia”, apesar de serem ditadas pela boca de um homem iletrado, que mal conhecia a gramática. Nascera e crescera o médium num meio de operários, sem recursos e tempo para cursar colégios. Rodeado de boêmios até a adolescência, jamais se deixou arrastar pelos excessos ou desvios desses últimos.

Médium passivo por excelência, conseguiam os Espíritos identificar-se facilmente por ele, e, muitas vezes, antes de terminar a mensagem, todos os presentes já sabiam qual o autor dela.

Numa apreciação ao primeiro livro ditado pelo Espírito de Bittencourt Sampaio ao médium Frederico, o ilustre político, literato e publicista Dr. Eunápio Deiró, católico extremado, chamou para o fato a atenção do bispo da cidade do Rio de Janeiro, nos seguintes termos: “Tome, Sr. Bispo, cuidado, porque quem conhece o inimitável estilo de Bittencourt Sampaio não pode deixar de reconhecê-lo neste livro que, da outra vida, veio firmado pelo próprio Bittencourt Sampaio”.

Bem conhecidas dos espíritas brasileiros são as oportuníssimas instruções que o Espírito de Allan Kardec transmitiu no “Grupo Espírita Fraternidade”, pelo médium Frederico Júnior.

Conquanto recebidas em fins do século passado, tais instruções ainda conservam, perenes, o valor, a importância e a beleza de sua mensagem, ainda se ajustam perfeitamente aos dias atuais, daí estarem até hoje no opúsculo “A Prece”, de Allan Kardec, incluídas que foram pela Federação Espírita Brasileira.

Frederico Júnior era um bom, querido de todos, sendo muitos os que lhe deviam gratidão por um que outro serviço, e, como funcionário público, estimadíssimo pelos seus colegas. “Era de um desprendimento e dedicação verdadeiramente evangélicos” – afirmou Pedro Richard, acrescentando: “Frederico não podia parar em casa, com o sentido nos seus doentes. Logo ao amanhecer saía de sua residência para visitar os enfermos. E nisso estava o seu maior consolo e o seu bem-estar”.

Com graves responsabilidade no meio espírita, grande era sobre ele o assédio dos aborrecidos da Luz, que do outro plano da vida o perseguiam tenazmente. “Ele só por si” – escreveu Pedro Richard – “constituía um exército que assombrava as falanges inimigas da Luz, e por isso mesmo era o alvo predileto das setas venenosas dos adversários de Jesus. Até da pouca benevolência de confrades foi Frederico Júnior vítima, máxime dos que muito exigem dos outros, mas que nada, ou quase nada produzem”.

Nos últimos dez anos de existência terrena, mais intensa e persistente foi a perseguição que lhe moveram do Espaço, por vezes ficando ele totalmente subjugado. Certa vez, os Espíritos das Trevas tentaram até incendiar-lhe a casa. E graças aos seus Guias protetores e ao Espírito de sua primeira esposa, Frederico não sucumbiu ao suicídio.

A tuberculose pulmonar acompanhou-o nos derradeiros anos de vida. Sem uma queixa e achando justo o seu sofrimento, o prodigioso médium purgava as faltas de encarnações passadas, remindo assim o seu espírito.

Pressentindo, afinal, o seu desenlace, reuniu a família e, após pronunciar sentida prece, fechou os olhos ao mundo em sua residência à Rua Navarro, 121, aos 56 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier (Caju).

Foi assim que partiu para a espiritualidade o grande médium Frederico Pereira da Silva Júnior, que, servindo a Federação Espírita Brasileira, através do “Grupo Ismael”, tantos benefícios espalhou por toda a parte, fazendo jus, portanto, à página com que lhe recordamos a passagem por este planeta de provas e expiações.

FRANÇOIS DE FÉNELON

François de Fénelon

François de Salignac de La Mothe, Duque de Fénelon, nasceu no castelo da família, em Périgord, em 6 de agosto de 1.651. Desencarnaria em Cambrai a 7 de janeiro de 1.715, aos sessenta e três anos de idade.
Até os doze anos, o menino foi educado em casa. Seu preceptor – as fontes consultadas não lhe mencionam o nome – tinha o gosto pelo latim e o grego, e tratou logo de ensinar essas línguas, para que ele pudesse se familiarizar com as obras-primas da literatura clássica.
Ao completar os doze anos de idade, Fénelon passou a frequentar a Universidade de Cahors, onde concluiria os estudos de filosofia, a que daria continuidade no Colégio Du Plessis, em Paris, foi nesse famoso estabelecimento de ensino que se dedicou à teologia e ficou conhecendo o abade de Noailles, também de família nobre, e que acabaria alcançando os mais elevados postos na hierarquia eclesiástica francesa.
Aos quinze anos de idade, Fénelon foi incumbido de pregar seu primeiro sermão, com grande sucesso, aliás. Já dá pra perceber, logo nesta introdução, que os altos escalões da igreja e da política eram constituídos por gente de elevada linhagem. Será esse o ambiente em que se movimentará Fénelon pelo resto de sua existência.
Do Colégio Du Plessis, Fénelon passou ao seminário de Saint-Sulpice, então sob a direção de Tronson. Em 1.675, o jovem seminarista, de vinte e quatro anos de idade, foi ordenado no seminário de Saint-Sulpice. Durante os próximos três anos, desempenharia suas funções eclesiásticas juntamente com os demais sacerdotes daquela paróquia.
Cabia-lhe explicar os textos evangélicos ao público, aos domingos e dias santos. Participava ativamente das tarefas de ensinar o catecismo. A igreja de Saint-Sulpice ainda conserva suas Litanies de L’enfant-Jésus, escritas especialmente para os frequentadores de sua paróquia.
Pretendia o jovem sacerdote, por essa época, partir para o Oriente em missão apostólica, com o propósito de converter ao cristianismo tantos pagãos quantos lhe fosse possível alcançar, com o brilho de sua palavra e a amplitude de sua cultura teológica.
Mas não seria esse o seu destino, de vez que “Nouvelles catholiques”, tratava-se de uma instituição incumbida de acolher jovens e senhoras recém-convertidas do protestantismo ao catolicismo, a fim de consolidar nelas a boa e ortodoxa doutrina da igreja. Objetivo paralelo era o de instruir aquelas que se mostrassem dispostas a abandonar a “heresia”.
Era grande a preocupação das lideranças católicas – Prelados e leigos – na salvação das almas que tiveram a infelicidade de se deixar atrair pelas “perigosas” ideias de Lutero. Em 1.681, o bispo de Sarlat – nobre também – tio de Fénelon, renunciou, em favor do sobrinho, ao decanato de Carenas, que rendia de três a quatro mil libras francesas por ano, Fénelon deixou por algum tempo as Novas católicas, a fim de tomar posse do novo cargo, mas logo retornou a Paris e reassumiu a direção da instituição, posto em que permaneceria por dez anos.
Escreveu nesse período, De L’éducation des filles, primeira obra significativa em sua carreira de escritor e educador. O livro, solicitado pela duquesa de Beauviller para orientá-la na educação de suas filhas, alcançou grande sucesso, tornando-se obra de referência para as famílias da época, bem como texto de consulta para os estudiosos da pedagogia.
Graças a sua simplicidade, doçura e caridade, Fénelon obteve considerável sucesso na tarefa, conseguindo converter rapidamente grande número de pessoas. Fénelon não se iludiu com suas numerosas conquistas, reconhecendo que nem todas eram sinceras.
Uma avaliação realista, essa. Com os protestantes em minoria e postos fora da lei, o catolicismo tornara-se mais confortável ou, no mínimo, mais seguro. Mesmo assim, acrescenta, o resultado de sua missão foi considerado “muito satisfatório”.
Não escapou, no entanto, de algumas críticas. É que as alas mais radicais da igreja atacaram seus métodos de conversão e o consideraram “demasiado condescendentes com os heréticos”. Ele preferiu não se justificar.
Nesse ínterim, vagou-se o bispado de Poitiers. O nome de Fénelon foi indicado e o rei concordou, mas a nomeação não chegou a concretizar-se, segundo se diz, por causa das intrigas do nobre senhor de Harlay, arcebispo de Paris, que tinha lá suas divergências com Bossuet, e não via com bons olhos a amizade de Fénelon com o rival. Tudo no melhor estilo da pior política de bastidores.
Por essa mesma época, Fénelon sofreu outro revés. Alguém – seria ainda o senhor arcebispo de Paris? – convenceu o rei a negar-lhe a nomeação como coadjutor do arcebispo de La Rochelle, que o desejava como colaborador.
Pouco depois, em 1.689, os bons ventos do sucesso voltaram a soprar a favor do jovem prelado. O duque de Beauvilliers, designado “governador” do jovem duque de Borgonha – neto do rei e herdeiro presuntivo da coroa – escolheu Fénelon para o honroso cargo de preceptor do príncipe. Como estamos lembrados, ele escrevera, a pedido da duquesa de Beauvilliers, um livro destinado a orientá-la na educação das filhas do casal.
Fénelon dedicou-se logo a trabalhar no sentido de corrigir o comportamento do príncipe por meio de fábulas, que ele próprio ia escrevendo. Escrevia, em seguida, o curioso Dialogues des Morts (Diálogo dos Mortos), engenhoso e criativo texto, no qual punha a dialogar personalidades históricas do passado, empenhadas em (re)avaliar seus próprios (alheios) atos e postura.
Os últimos anos de Fénelon foram entristecidos pelo desencarne de seus melhores amigos. No final de 1710 perdeu Abbe de Langeron, seu companheiro de toda a vida; em fevereiro de 1.712, desencarna seu aluno, duque de Borgonha. Alguns meses mais tarde, o duque de Chevreuse foi levado, e o duque de Beauvilliers seguiu em agosto de 1.714. Fénelon sobreviveu somente mais alguns meses. Com ele desapareceu um dos membros mais ilustres do episcopado francês, certamente um dos homens mais atrativos de sua época.
Deve seu sucesso unicamente a seus talentos grandes e virtudes admiráveis.
Fénelon figura na Codificação, em vários momentos, podendo ser citado: “O Livro dos Espíritos”, onde assina Prolegômenos, junto a uma plêiade de luminares espirituais.
Igualmente a resposta à questão de nº 917 é de sua especial responsabilidade.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, apresenta-se em vários momentos, discursando acerca da terceira revelação e da revolução moral do homem (cap. I, 10); o homem de bem e os tormentos voluntários (cap. V,22 – 23); a lei de amor (cap. XI, 9); o ódio (cap. XII,10) e emprego da riqueza (cap. XVI,13).
Em “O Livro dos Médiuns”, figura no capítulo das Dissertações Espíritas (cap. XXXI, 2.ª parte, itens XXI e XXII), desenvolvendo aspectos acerca de reuniões espíritas e da multiplicidade dos grupos espíritas.
Importante assinalar que os destaques assinalados são aqueles em que o espírito assina seu nome, devendo se considerar que deve, como os demais responsáveis espirituais pela Codificação, ter estado presente em muitos outros momentos, dando seu especial contributo, eis que foi convidado pelo Espírito da Verdade a compor sua equipe, em tão grandioso empreendimento.

Fonte: Revista Delfos Nº 9 (Ed. Boa Nova)

FRANCISCO VIEIRA PAIM PAMPLONA

Francisco Vieira Paim Pamplona

Francisco Vieira Paim Pamplona, nasceu no dia 8 de fevereiro de 1872, no Morro do Paim, de propriedade de seu pai, que deu o nome ao lugar, em Sampaio (Guanabara) e, depois, a uma rua no mesmo bairro.
Nas terras cariocas passou sua existência, tornando-se espírita e ganhando o respeito de quantos tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Seus contemporâneos retratam-no como homem de tenacidade inquebrável, fruto talvez da disciplina de sua vida e de sua educação, desenvolvida na Marinha Brasileira.
Nos últimos anos de sua vida, caracterizada por um esforço intenso de servir, Paim Pamplona orgulhava-se de ter o seu nome como o n° 1 no quadro dos sócios vivos da Federação Espírita Brasileira. Era o mais antigo de todos e, igualmente, um dos mais dedicados a ela.
Ignora-se de que maneira se fez espírita, todavia o fato de ter começado a frequentar a FEB ainda quando era um jovem Guarda-Marinha, permite ajuizar que adquiriu a convicção espírita em sua primeira mocidade. Considerando sagrados os seus deveres, desde os mínimos aos máximos, não foi de espantar a sua ininterrupta ascensão na Marinha, até alcançar o posto máximo, isto é, o de Almirante.
A alta patente, entretanto, não afetou o seu espírito de humildade modelar, a sua generosidade singela e espontânea, que passava quase despercebida num mundo onde se alardeia muito e em que a exemplificação autêntica se torna escassa.
Jamais se impacientava, nunca se aborrecia nem punha em evidência sua autoridade, sua energia acima do vulgar.
Além de suas funções na Marinha, foi professor no Colégio Militar, como lente de Geografia; fundou e dirigiu, no Engenho Novo, o “Colégio Nacional”. Nos trabalhos doutrinários exerceu com abnegação as mais diversas funções. Na Federação Espírita Brasileira, foi chamado a prestar serviços em muitos postos, inclusive ao de Presidente nos exercícios de 1.927 e 1.928. Posteriormente, membro, nesta mesma casa, do Conselho Fiscal e do Conselho Superior, funções que exerceu até à desencarnação.
Foi Presidente, por vários anos, do Asilo de órfãos “Anália Franco”, e continuou sempre como membro do seu conselho administrativo. Era também, membro do conselho da Maternidade “Casa da Mãe Pobre”.
Em sua longa carreira doutrinária, ensinava através do exemplo. Não era visto à frente dos espíritas, mas sempre em meio dos espíritas Seu nome não aparecia nos jornais e são escassos os informes a respeito de sua vida. Sua voz não se ouvia nas tribunas. Emérito educador, criou em 1.923, com o Dr. Eurico da Cunha Rabelo, diretor do Instituto Rabelo, o Colégio Maria de Nazaré, no qual se usaram de métodos racionais e naturais, consoante os mais modernos processos pedagógicos, e sob orientação espírita, observando-se, porém, a mais completa tolerância religiosa.
Esse estabelecimento de ensino, destinado apenas a meninas, funcionou por algum tempo à rua Ibituruna, na Guanabara.
Em 4 de março 1.955, em sua residência à Avenida Maracanã, n.º 411, desencarnou com 83 anos de idade, o Almirante Reformado Francisco Vieira Paim Pamplona, deixando viúva a senhora D. Eleusina Paim Pamplona, mais conhecida, carinhosamente, pelo nome de Biosa, com quem foi casado durante 57 anos, bem como três filhos e três filhas: O Coronel Silvio Paim Pamplona, os Srs. Arnaldo Paim Pamplona, alto funcionário Federal, Darcy Paim Pamplona, engenheiro mecânico, e Sras. Elza, Milza e Marina, todas casadas e numerosos netos.
O velho instrumento de suas atividades materiais foi sepultado no Cemitério de S. Francisco Xavier, em 5 de março de 1955. O Professor Newton de Barros fez o seu elogio fúnebre em discurso vibrante, apresentando as despedidas dos servidores do Espiritismo ao seu modelar companheiro.
Diante de um público das mais versas expressão de crença e descrença, aquela despedida se tornou edificante propaganda do ideal espírita que orientou a vida de Paim Pamplona. Assim desapareceu da superfície da Terra um homem que, em 83 anos de existência, ocupando posições de comando, exercendo autoridade, nunca teve um desafeto.

Fonte: Revista Internacional de Espiritismo – março/ 1972.

FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ – BIOGRAFIA

Francisco Valdomiro Lorenz

Às 13 horas de 24 de maio de 1.957, na cidade de Porto Alegre (RS), regressou à Pátria espiritual o nosso venerando Irmão, nascido na pequena aldeia de Zbislav, perto da cidade de Tcháslav, na Boêmia, no dia 24 de dezembro de 1.872, mas que adquiriu cidadania brasileira e aqui viveu como cidadão utilíssimo durante 64 anos de sua existência.

Filho de pais muito pobres, sem recursos para estudar nem meios de comprar livros, a imensa cultura de Lorenz não poderia ser compreendida sem a doutrina das encarnações sucessivas e da mediunidade superior. Ele chegou a possuir bem oitenta idiomas diferentes, do Ocidente e do Oriente, antigos e modernos, inclusive o velho sâncristo, do qual fez a maravilhosa tradução de “Bhagvad-Gitá”, em versos no mesmo ritmo original. Seu conhecimento da língua do antigo Egito lhe permitiu preparar um livro pasmoso para a nossa Federação, intitulado “A Voz do Antigo Egito”.

Seu primeiro livro sobre Esperanto foi publicado na Boêmia, em 1.890, com o título “Plena Lernolibro de Esperanto por Cehoj”. Logo depois de publicar esse compêndio, teve que deixar a pátria, onde suas ideias religiosas de espírita e seu ideal de política democrática eram coisas proibidas pelo Governo imperial, católico e reacionário. Para comemorar o jubileu de ouro desse livro, os amigos do poeta fundaram em Santos (SP), no ano de 1.940, o “Grupo Espírita Francisco Valdomiro Lorenz”.

No Brasil, foi habitar em Dom Feliciano, no município de Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul, onde tinha conhecidos. Vivendo num pequeno lugar, sem relações nos grandes centros, ser-lhe-ia impossível publicar um livro sobre Esperanto. Realmente, entre seu primeiro livro e o segundo, decorreram 51 anos. Nesse meio tempo, escreveu em jornais e revistas, e em 1.929, deu a público a importante obra – “Iniciação Linguística”, que lhe granjeou grande autoridade a respeito de assuntos linguísticos.

Só quando a FEB criou sua seção de edições em Esperanto, em 1.937, abriu-se uma Editora para recomeçar ele sua missão espírita-esperantista. Publicou-se então, em 1.941, a coletânea de poemas traduzidos de 40 línguas diferentes, com o título “Diverskolora Bukedeto”; em 1.942, sua tradução de “Bhagvad-Gitá”. Em 1.944, apareceu a primeira coleção de poemas mediúnicos em Esperanto, com o título “Vocoj de Poetoj el la Spirita Mondo”, formado em grande parte por poesias recebidas pelo próprio Lorenz como médium, e outras por ele traduzidas de “Parnaso de Além-Túmulo”. O valor literário desse livro foi posto em relevo por “La Nica Literatura Revuo”, em seu número 5, de 1.956, que transcreveu do livro dois poemetos como modelo de bela poesia.

Refez e permitiu fosse publicado sob seu respeitado nome o livro didático “Esperanto sem Mestre”, editado pela Federação Espírita Brasileira e que já conta inúmeras edições.

Sua última obra de Esperanto foi a “Antologio de Brasilaj Poetoj”, cujo manuscrito foi preparado a pedido da Liga Brasileira de Esperanto.

Em português publicou muitos livros interessantes.

A vida intelectual de Lorenz revelou desde a infância, um Espírito de Alta Esfera, mas não só intelectualmente foi um ideal que todos teremos que lutar por alcançar; moralmente, foi também um modelo e deu exemplos que viverão na lembrança das gerações.

Lorenz nunca poderá ser esquecido.

Três dias antes de sua partida, um de nossos amigos recebeu do Rádio-Roma um pedido de notas biográficas para uma homenagem que o Rádio oficial da Itália lhe iria prestar, pelo fato de ser ele então o mais antigo esperantista vivo. Esses dados foram logo remetidos por via aérea para o Sr. Luigi Minnaja, que dirigia o programa de Esperanto naquela grande estação de rádio. A revista oficial da Universala Esperanto-Asocio publicou, em seu número de maio, que Lorenz era esperantista desde 1.887, por isso a Rádio-Roma lhe prestaria aquela homenagem. Antes, porém, de ser irradiado o programa, já se havia transformado em homenagem póstuma.