Arquivo da categoria: Espírita Amigo

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SAMUEL HAHNEMANN – BIOGRAFIA

Samuel Hahnemann

Christian Friedrich Samuel Hahnemann nasceu em 10 de abril de 1755, em Meissen, na Saxônia. Seus pais lhe deram o nome de Christian, seguidor de Cristo; Friedrich, protegido do rei; Samuel, Deus me escutou, em sinal de reconhecimento a Deus.
Seu pai era pintor de porcelana e ele mesmo foi preparado para seguir a carreira paterna. Desta forma, aprendeu na Escola várias línguas estrangeiras: inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu e caldeu, além da língua nacional. O objetivo era poder, no futuro, comercializar em outros países a porcelana.
Mas, o seu destino seria outro. Foi estudar Medicina em Leipzig e Viena. Por ser pobre, sustentava-se fazendo traduções, e assim entrando em contato com obras sobre doutrinas existenciais.
Em 1.812, era docente da Universidade de Leipzig. Contudo, na carreira médica se mostrava inquieto por não conseguir bons resultados na cura dos enfermos que tratava.
Seus amigos diziam que ele sonhava, que tudo que almejava era utopia.” O homem é limitado mesmo, limitados também seus conhecimentos.”
Finalmente, aos 36 anos, após a morte de um amigo que cuidava clinicamente, resolve abandonar a medicina. Adentra o seu consultório e avisa a seus pacientes que não mais os atenderá. Se os não pode curar, de que vale a sua ciência! E despede a todos.
Está profundamente desanimado. Para sobreviver e sustentar a família, trabalha em traduções, mais especialmente na área da química e da farmacologia.
Fazendo a tradução de uma obra de um médico escocês William Cullen, no ano de 1.790, surpreende-se com a descrição das propriedades do quinino. Chama-lhe a atenção, em especial, o fato de que a intoxicação pelo quinino tinha sintomas semelhantes aos da enfermidade natural da febre intermitente.
Ele próprio passou a ingerir doses de quinino, comprovando que os resultados eram semelhantes à febre combatida por aquele produto.
Repetiu a experiência com outras drogas, como o mercúrio, a beladona, a digital, sempre no homem sadio, concluindo por elaborar a doutrina homeopática, resumida na expressão: “similia similibus curantur”, ou seja, sintomas semelhantes são curados por remédios semelhantes.
Já no ano de 1.796, suas observações foram divulgadas. Observações que passariam a compor sua mais importante obra: O Organon, publicado em 1.810, onde explica seu sistema e cria a Homeopatia. Depois, publicaria Ciência Médica Pura e Teoria e tratamento homeopático das doenças crônicas.
Nos princípios homeopáticos estabelece-se que toda substância que, em dose ponderável, é capaz de provocar no indivíduo são um quadro sintomático, também tem capacidade de o fazer desaparecer, com administração em pequenas doses. Também que a preparação dos medicamentos requer diluições infinitesimais, pois que elas teriam a capacidade de desenvolver as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias grosseiras.
Desde os primeiros momentos, Hahnemann sofreu acirrada campanha contrária ao que expunha, em especial dos farmacêuticos, pelo que muito padeceu.
Somente em 1.835, já com seus 80 anos, viúvo, foi procurado por uma jovem que o buscou em sua cidade como último recurso médico e foi por ele curada.
Eles se consorciam e ela o leva para Paris, onde finalmente obtém geral reconhecimento.
Foi em Paris que ele desencarnou a 2 de julho do ano de 1.843, 14 anos antes de vir a lume O Livro dos Espíritos e nascer, portanto, a Doutrina Espírita.
Compondo a equipe espiritual responsável pela Codificação, deu seu contributo particularmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos, onde assina a mensagem do item 10, tratando das virtudes e dos vícios que são inerentes ao Espírito. A mensagem foi dada em Paris, no ano de 1.863.
À guisa de curiosidade somente, no mesmo ano, a 13 de março, na Sociedade Espírita de Paris, tendo como médium a Sra. Costel, Hahnemann dissertou a respeito do estado da ciência à época, em resposta a um médico homeopata estrangeiro, presente à sessão. Dita dissertação se encontra no volume sexto da Revista Espírita.

Fonte: site: www.espiritismogi.com.br

ROMEU DO AMARAL CAMARGO – BIOGRAFIA

Romeu do Amaral Camargo

Romeu do Amaral Camargo encarnou na cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo, aos 02 de Fevereiro de 1.882, desencarnando na cidade de São Paulo em 10 de Dezembro de 1.948, à 19:45 horas, quando datilografava uma carta ao presidente da Federação Espírita Brasileira, com o qual amiudadamente mantinha correspondência.
Foi um grande vulto espírita não só do Estado bandeirante, como de todo o Brasil.
Autor de várias obras, todas escritas em lídimo vernáculo e em perfeita sintonia com o Evangelho, afirmou-se um dos mais proeminentes líderes do Espiritismo Cristão, cuja palavra autorizada era recebida e acatada por todos os espíritas do “Coração do Mundo”.
Fez o curso primário com professores particulares. Formado pela antiga Escola Complementar, anexa à Escola Normal da capital de São Paulo, ingressou no magistério público em 1.903, tendo exercido vários cargos de carreira, entre eles o de adjunto do Grupo Escolar de Limeira e do grupo Escolar do Bom Retiro da capital paulista, inspetor de ensino em Limeira, professor da Escola Normal do Brás, na capital, diretor do Grupo Escolar Campos Sales, com mais de 3.000 alunos.
Bacharelou-se, no ano de 1.915, em Ciências Jurídicase Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, exercendo a advocacia de 1.917 a 1.929.
Jornalista e escritor colaborou em diversos órgãos da imprensa diária, tanto da capital, como do interior do Estado de São Paulo. Conhecia bem o francês e o latim.
Católico de nascimento converteu-se ao Protestantismo em 1.901. Membro professo desde 1.902, foi eleito e ordenado diácono em 1.913, pela 1.ª Igreja Presbiteriana Independente da capital de São Paulo, cuja assembléia era constituída de mais de 800 membros, sob o pastorado do Revmo. Eduardo Carlos Pereira, o grande tribuno evangélico e notável gramático. Oficial da Igreja desde Julho de 1.909, ocupou o púlpito de quase todas as igrejas evangélicas da capital paulista e o de muitas outras cidades do interior, excetuadas as igrejas anglicana e luterana.
Em seu benéfico trabalho dentro do Protestantismo, escreveu um folheto de leitura muito edificante, intitulado – História da Conversão de Um Criminoso -, para ser distribuído entre os detentos nos presídios de São Paulo. A 1.ª e 2.ª Edições dessa magnífica brochura saíram respectivamente em 1.913 e 1.916, num total de 10.000 exemplares, feitas ambas pela igreja protestante a que o autor pertencia.
Estudando sempre a Bíblia, e de par com o estudo subsidiário de obras exegéticas e mesmo teológicas, eis que os seus 22 anos de experiência religiosa, no moralizado meio evangélico ou protestante, não lhe apagaram a dúvida acerca da cristianidade dos dogmas da “predestinação divina” e da “eternidade das penas”.
Em 1.923, foi-lhe dado encontrar novas luzes nas páginas do Evangelho: as obras de Allan Kardec esclareceram-lhe lógica e racionalmente aqueles pontos obscuros. Dissiparam-se no estudioso as dúvidas, as sombras, as dificuldades que ofuscavam o sentido claro, cristalino, da palavra de Jesus!
Definitivamente atraído para a Doutrina dos Espíritos, Romeu Camargo se ausentou da sua igreja, fazendo essa ausência que alguns pastores o fossem visitar e procurassem arredá-lo do Espiritismo. Tudo em vão, porém. Em 21 de Fevereiro de 1.925, ele foi convidado a comparecer a uma sessão da Igreja Presbiteriana Independente. Presidiu à sessão (espécie de Sinédrio), o Revmo. Othoniel Motta, eminente teólogo, catedrático de português no ginásio do Estado, em Campinas, e conhecido filólogo. Feita a “acusação” pelo secretário da sessão, teve a palavra o “acusado”, que, durante duas horas e meia, produziu a sua defesa, apreciando a doutrina de Jesus, firmado no Evangelho.

A 1.º de Junho de 1.925, Romeu Camargo publicava em “Reformador” a sua confissão pública de adesão ao Espiritismo. Ele o fez com o artigo – Aos Pés do Mestre -, em resposta a um que o pastor evangélico Isaac Gonçalves do Vale, seu ilustrado amigo, estampara no “Estandarte”, órgão da Igreja Presbiteriana Independente.
Convicto das verdades contidas nas obras fundamentais do Espiritismo, o Prof. Romeu do Amaral Camargo tornou-se animoso pregador do seu aspecto moral-evangélico, tendo tomado parte, de modo intensivo, em várias Instituições, e escrito quatro obras notáveis, que enriqueceram as bibliotecas espíritas: “Protestantismo e Espiritismo à Luz do Evangelho”, “De Cá e de Lá”, “Salvação pela Fé ou Pelas Obras?” e “Um Só Senhor”. Todas elas constituem vibrante defesa do Espiritismo, a refutarem as objeções levantadas contra a parte doutrinária, citando-se, entre os refutados, o Bispo de Pouso Alegre e o psiquiatra Doutor Pacheco e Silva. Essas obras são, sobretudo, verdadeiro repositório de ensinamentos e esclarecimentos.
Romeu Camargo escreveu nos mais importantes órgãos da imprensa espírita brasileira, máxime no “Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira. Suas páginas evidenciam extenso e profundo saber das Escrituras Sagradas, aliado a vastos conhecimentos sobre Filosofia e Religião.
Foi presidente da União Federativa Espírita Paulista, na época a principal sociedade espírita bandeirante. Posteriormente, em 1.936, tornou-se o 1.º Secretário da recém fundada Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Contribuiu para a fundação da Rádio Piratininga – PRH-3, a primeira “estação dos espíritas”, isto em 30 de Março de 1.940. Dessa Rádio, hoje extinta, foi ele diretor-tesoureiro.
Durante vários anos foi o redator-secretário da revista – “Verdade e Luz”, fundada pelo popular espírita Batuíra, revista hoje desaparecida, conceituadíssima em todo o Brasil e até no estrangeiro.
Em 1.937, escreveu-lhe o Espírito Emmanuel através do lápis de Francisco Cândido Xavier: “Continue na sua bela missão de levar a luz espiritual do Evangelho pelos caminhos ensombrados da Terra”.
E o Dr. Romeu continuou, realmente, nesse trabalho edificante até o fim de sua jornada terrena, levando-o a dizer, em 1.943:
“Educado na Igreja Evangélica Presbiteriana, onde realizei minha formação espiritual, penso ainda como todos os protestantes: o que me interessa é pôr em prática o Evangelho de Nosso senhor Jesus-Cristo; o que me interessa, desde junho de 1.901, é a palavra do Mestre Divino, que é tocha resplandecente para meus pés e luz para meus caminhos”.


ROBERTO PEDRO MICHELENA – BIOGRAFIA

Roberto Pedro Michelena

O último dos signatários do Pacto Áureo, desencarnou no dia 5 de fevereiro de 2.001, seis meses antes de completar 100 anos de idade. Nasceu no dia 4 de agosto de 1.901, em Porto Alegre, onde ocorreu o óbito. Foi casado com D. Maria Michelena (D. Ceci), que lhe precedeu à Espiritualidade. Tiveram 3 filhos: Maria Tereza, Paulo e Isolda, esta última já desencarnada.
Roberto Michelena foi destacado seareiro espírita. Em 1.930, ainda no posto de Primeiro Tenente, cursava o Instituto Militar, no Rio de Janeiro, quando conheceu Manoel Quintão, vice-presidente da FEB, nascendo entre ambos uma grande amizade.
Retornando a Porto Alegre, filiou-se à Sociedade Espírita Allan Kardec.
Em 1.937, pela portaria governamental, foi fechada a Federação Espírita Brasileira. A mediunidade, os passes e as consultas mediúnicas estavam proibidos. Uma plêiade de grandes nomes do Espiritismo saíram a campo em defesa da causa. Diversos diretores da FEB, entre eles o presidente Dr. Guillon Ribeiro e Manoel Quintão, aproveitaram a estada do então Capitão Roberto Michelena no Rio de Janeiro, delegando-lhe a missão de procurar o chefe de Polícia, juntamente com Rocha Garcia. Quatro dias depois a FEB estava liberada.
Fez brilhante carreira militar até 1.952, quando foi transferido para a Reserva, no posto de General de Divisão.
Como espírita, prestou os mais edificantes serviços: foi presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, de 1.941 a 1.947; grande trabalhador na Cruzada dos Militares Espíritas de Porto Alegre; e por muitos anos, Presidente da Sociedade Espírita Allan Kardec, uma das mais antigas do Estado.
Em 1.967, ele prestou valioso depoimento sobre a atividade mediúnica de Francisco C. Xavier, publicado no jornal Correio do Povo (Porto Alegre, RS, 13/06/1.967), que foi transcrito, posteriormente, no livro “Presença de Chico Xavier” (Elias Barbosa, Ed. IDE, cap. 8).

Fonte: Anuário Espírita 2.002 – IDE

VINÍCIUS – BIOGRAFIA

Pedro de Camargo – Vinícius

Pedro de Camargo, mais conhecido por “Vinícius”, pseudônimo que ele adotou e usou por mais de cinquenta anos de trabalho contínuo e perseverante na Doutrina, foi, não há dúvida, o maior educador e evangelizador espírita dos nossos tempos.
Também se dedicou, de corpo e alma, ao setor de assistência social, embora nunca deixasse de acentuar que o objetivo máximo da Terceira Revelação é iluminar as consciências, é anunciar pela palavra, e confirmar pelo exemplo, as verdades do Reino de Deus.
Na tribuna, na imprensa, no rádio e através de seus livros, o grande saber e as virtudes de Vinícius sempre estiveram presentes, esclarecendo-nos e convidando-nos à ascensão. Ao seu bondoso espírito aliava o conhecimento intelectual e intuitivo das coisas humanas e divinas, o que o fazia respeitado, e venerado mesmo, entre os companheiros de lides doutrinárias.
A começar de 1.939, desenvolveu, pelas ondas hertzianas, da Rádio Educadora de São Paulo, um programa evangélico sempre ouvido com agrado e proveito por todos os interessados. Foi diretor- superintendente da primeira “estação dos espíritas” (hoje extinta), a Rádio Piratininga – PRH-3, fundada em 1.940.
Seus esforços a prol da Unificação do movimento espírita brasileiro foram relevantes, e ele próprio esteve lado a lado de outros confrades nas reuniões que conduziram à criação do Conselho Federativo Nacional, tendo sido aquele que, ao encerramento dos trabalhos do Pacto Áureo de 5 de outubro de 1.949, proferiu, a convite do presidente da FEB, belíssima prece.
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Pedro de Camargo nasceu em Piracicaba, Estado de São Paulo, no dia 7 de maio de 1.878. Foram seus pais Antônio Bento de Camargo e Sebastiana do Amaral Camargo. Entre os cinco filhos do casal, três homens e duas mulheres, ele era o quarto.
Fez os seus primeiros anos de escolaridade no “Colégio Piracicabano”, educandário metodista, de fundação norte-americana. Nessa época, a diretora do estabelecimento era a missionária Martha H. Watts, de quem ele guardou sempre uma lembrança querida e uma grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da morte da missionária, ocorrida nos Estados Unidos da América:
“Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.
Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu. Os princípios salutares de moral que ministrou-me, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem-me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo-lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi”.
Cedo, perdeu o pai, e cedo começou a ganhar a vida. Entrou para o comércio. Trabalhava com seus irmãos mais velhos.
Jovem ainda, e influenciado por um amigo, resolveu estabelecer-se. Esse amigo, José Bento de Carvalho, morava em Santos e, de quando em vez, viajava para Piracicaba, a fim de colocar as suas mercadorias – secos e molhados finos. Foi dentro desse ramo que Pedro de Camargo deu início ao seu negócio.
A casa chamou-se “O Garrafão”. Teve êxito, prosperava rapidamente. Todavia, pouco tempo depois, ampliando-a deu preferência a “louças e ferragens”. Também o nome da casa foi mudado para “As Duas Ancoras”, onde trabalhou por muitos anos, e sempre bem sucedido. Não chegou a ser rico, porém nunca lhe faltou nada, nem à sua família. Amparou muita gente, e jamais alguém lhe bateu à porta que não fosse atendido e bem socorrido. Que o digam os piracicabanos de seu tempo.
Ele e José Bento de Carvalho foram sempre muito amigos – amigos do peito. Ambos bem jovens, já abraçavam com entusiasmo a religião espírita, nela tendo encontrado, afinal, explicações racionais que em vão buscaram nas demais doutrinas religiosas, inclusive no Metodismo.
Casou-se em primeiras núpcias com D. Elisa Runcke, de quem enviuvou muito cedo. Desse consórcio tiveram uma filha (já falecida) a quem deram o nome de Martha, em homenagem à querida mestra.
Em segundas núpcias casou-se com D. Messiota de Campos Pereira, de Juiz de Fora, Minas Gerais, falecida em 26 de novembro de 1.952. Desse casamento deixou cinco filhos, um homem e quatro mulheres.
Viveu em Piracicaba até o ano de 1.937, ali tendo dirigido a Igreja Espírita “Fora da Caridade Não Há Salvação”. Transferindo-se para a cidade de São Paulo, em 1.938, nessa capital permaneceu até a data de sua desencarnação.
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Pedro de Camargo educou todos os filhos no Colégio Piracicabano, que então estava sob a direção de Miss Lila A. Stradley, com quem ele manteve boas relações de amizade. Foi procurador do Colégio por muitos anos. O Colégio Piracicabano era, na época, um dos melhores educandários do Estado de São Paulo e, até mesmo, do Brasil. Seguindo os currículos e os métodos das escolas norte-americanas, atraía para lá famílias distintas e tradicionais da Capital.
O único filho varão de Vinícius cursou em seguida a Escola Politécnica de São Paulo, e alcançou o cargo de diretor da Secção de Engenharia Nuclear do “Reator” de São Paulo.
Educação esmerada receberam as filhas, todas casadas, exceto D. Ruth.
Onze netos e dois bisnetos encontraram no coração amoroso de Vinícius um segundo lar.
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Por muitos anos presidiu a “Sociedade de Cultura Artística” de Piracicaba. Levou para lá os melhores artistas.
Nunca se afinou bem com a política. Muito moço, ao assumir a cadeira de vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do Partido Republicano, disse, entre outras afirmativas, o seguinte:
“Não sou político, isto é, não me comprometo absolutamente com as ideias de um partido ou com os princípios que os constituam, porque os partidos têm suas disciplinas e não desejo seguir outra disciplina que não seja a do dever e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência”.
E – como dizia ele mais tarde – porque agi de conformidade com este critério, não me quiseram mais!
Sua vida intelectual; dedicou-a ao estudo do Evangelho à luz do Espiritismo. Poucos se aprofundaram tanto no assunto. Era, de fato, um apaixonado admirador do Mestre, tanto que todas as suas obras escritas tiveram esses títulos: “Em Torno do Mestre”, “Na Seara do Mestre”, “Nas Pegadas do Mestre” e “Na Escola do Mestre”, as três primeiras publicadas pela Federação Espírita Brasileira. É ainda de sua autoria o opúsculo – “Cinquentenário d’O Piracicabano”.
Foi grande orador, sempre dentro do seu tema predileto, emocionando a quantos tinham a ventura de ouvi-lo. Conselheiro da Federação Espírita do Estado de São Paulo, ali introduziu as suas apreciadíssimas Tertúlias Evangélicas, realizadas todos os domingos pela manhã, com o comparecimento de grande assistência.
Perene admirador da Casa de Ismael, sempre lhe consagrou inteiro apoio, tendo colaborado por dezenas de anos no “Reformador”, com artigos que primavam pela essência altamente doutrinária e evangélica, num estilo escorreito e, ao mesmo tempo, fluente e didático. Essa colaboração escrita, ele a estendeu a inúmeros outros órgãos da imprensa espírita brasileira.
Chegou a ser presidente da União Federativa Espírita Paulista, e durante mais de uma década foi diretor-gerente de “O Semeador”, órgão da Federação Espírita do Estado de São Paulo, fundado em 1.944.
Presidiu o “Instituto Espírita de Educação” até 1.962, obra de grande relevância em S. Paulo. Como parte desse Instituto, surgiu em 1.955 o Externato Hilário Ribeiro, elogiadíssimo por quantos o visitam.
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Havia alguns anos que os achaques naturais de uma idade avançada impediam-no de maiores atividades, daí porque sua colaboração escrita e falada quase desapareceu.
A última carta que ele endereçou ao presidente da FEB, Sr. A Wantuil de Freitas, datada de 14 de Agosto de 1.965, foi escrita com a ajuda do seu filho, e dizia assim num certo trecho:
Guardo com grande carinho a fotografia da reunião de 1.949. Os resultados dessa reunião, se não foram completos, foram todavia testemunho do que já se conseguiu a respeito da unificação.
As saudades não matam, mas maltratam. Outro dia encontrei uma velha fotografia do Manuel Quintão, que veio aumentar ainda, se possível, as recordações saudosas daqueles dias. Lembrei-me do Dr. Guillon Ribeiro, do Leopoldo Cirne, do Frederico Fígner e de outros companheiros. Ainda tenho a esperança de vê-lo, aqui, em São Paulo, na primeira oportunidade.
A minha grande distração que era ler e escrever um pouco; estou impedido de fazê-lo, em virtude dessas dificuldades dos sentidos, particularmente da vista”.
Às 20 horas do dia 11 de outubro de 1.966, o Espírito de Vinícius passava à Pátria Espiritual. Foi-lhe dado, então, ver, olhos não mais enevoados, os companheiros a que ele se referira em sua carta, rodeados por uma multidão de criaturas que se beneficiaram com seus ensinos, todos homenageando-o pelo brilhante êxito de sua missão de evangelizador nas terras brasileiras.

Tal foi a existência de Vinícius, toda ela dedicada à causa da educação e do soerguimento moral das criaturas humanas. Daí porque, dias depois de atravessar as aduanas do Além, ele pôde transmitir bela e confortadora mensagem aos seus amigos e companheiros da Casa de Ismael, participando-lhes a sua feliz ressurreição nos planos da Vida Maior!

PAUL GIBIER – BIOGRAFIA

Paul Gibier

O Doutor Paul Gibier (1851-1900), um dos sábios pesquisadores da fenomenologia espírita no século XIX, membro da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, foi médico, diretor do Laboratório de Patologia Experimental e Comparada do Museu de História Natural de Paris, aluno predileto de Louis Pasteur, ex-interno dos Hospitais de Paris, condecorado pela Faculdade de Medicina de Paris pela apresentação de tese sobre a raiva, incumbido pelo governo francês de estudar na França e no Exterior várias epidemias de “cólera-morbo” e de febre amarela, diretor do Instituto Bacteriológico (Instituto Pasteur) de Nova Iorque, membro da Academia de Ciências de Nova Iorque, Cavaleiro da Legião de Honra.
Nos primeiros dias do mês de junho de 1.900, os jornais de Nova Iorque anunciaram que o Doutor Gibier acabara de falecer, num acidente a cavalo. Esta notícia não deixou indiferente nenhum daqueles, hoje muito numerosos, na França e no estrangeiro, que seguem, com certa atenção, o progresso dos estudos psicológicos.
Grandes jornais não se limitaram a reproduzir a notícia; eles evocaram testemunhos de estima pela vida e trabalhos do sábio, não mais discutindo a realidade dos fatos observados, mas emitindo somente a opinião de que ele tinha ido muito longe.
Nós não vimos, entretanto, nenhuma tentativa de contestação de suas opiniões. Vê-se que já estávamos, naquela época, muito longe do tempo em que tomavam por argumentos, sem réplica, alguns gracejos banais e irrefletidos que, em todos os tempos, acolheram as ideias novas e as grandes descobertas!
Sabemos bem pouca coisa acerca do Doutor Gibier. Ele mesmo nos informa que, antes de se entregar ao estudo da medicina, consagrou cinco anos a estudar a técnica mecânica. Formado em Medicina, começou a trabalhar num dos laboratórios do Museu de História Natural de Paris, entregando-se com paixão a pesquisas sobre os infinitamente pequenos que ocupam um lugar importante na preocupação de todos.
Ele realizava, ao mesmo tempo, experiências sobre os fenômenos psicológicos e, em pouco tempo, foi obrigado a deixar o Museu, por causa destas últimas pesquisas, na opinião dele e de seus amigos, e por outros motivos, segundo os sábios do Museu.
Sabemos que Pasteur depositou nele toda a sua confiança, muita estima e o encarregou de várias missões na América Central, com a finalidade de estudar, em campo, os agentes microscópicos das doenças epidêmicas e da febre amarela, em particular. Foi, em seguida, nomeado diretor do Instituto Pasteur da cidade de Nova Iorque, cidade onde acabou de sucumbir bruscamente.
Este sábio, incluído frequentemente entre os homens corajosos que não temem arriscar sua reputação e seu futuro, ao publicar suas opiniões apoiadas em fatos, nos deixou duas obras bem conhecidas, que merecem ser lidas e mais divulgadas. A primeira, “O Espiritismo (Faquirismo Ocidental)”, apareceu em 1.886, e a segunda, “Análise das Coisas”, em 1.890.
A partir desta data, ele não deixou de observar e experimentar. Sabe-se que ele se propunha a resumir, numa última obra, seus trabalhos precedentes e nos fazer revelações que considerava ainda prematuras naquela época. Porém, a morte o surpreendeu e a Humanidade não pôde tomar conhecimento do restante de sua obra, certamente a parte mais importante!
Na Introdução de seu primeiro livro escreveu: “Declaramos, à viva voz, que ao começar estas pesquisas, tínhamos a íntima convicção de que nos encontrávamos em face de uma colossal mistificação, que precisava ser descoberta, e levamos muito tempo para nos desfazermos desta ideia”.
Portanto, este sábio, como tantos outros de sua época, partiu com a ideia de desmascarar as mistificações, com uma convicção e, pouco a pouco, se fez defensor da nova ciência psíquica, com uma certeza que aumentava no decorrer do número e da variedade de experiências.
Naquilo que deixou escrito, ficou bem claro seu propósito de não divulgar, no seu entender, prematuramente, com detalhes, tudo o que havia descoberto, em virtude da opinião contrária do “meio científico”. Mas, mesmo assim, ficou comprovado que muito avançou, para a sua época, em suas pesquisas: teorias das mais ousadas sobre a matéria, o papel da força, a evolução dos mundos, a constituição do homem, os fenômenos que acompanham e seguem a morte etc.
Ajudado pelo médium Slade, estudou, de uma maneira toda especial, o curioso fenômeno da escrita direta na ardósia, ao qual consagrou 33 sessões. Numerosas mensagens, em diversas línguas, foram obtidas no interior de ardósias duplas, fornecidas pelo experimentador e seladas uma contra a outra.
Em 1.900, enviou ao Congresso Internacional Oficial de Psicologia, reunido em Paris, um relatório de várias materializações de espíritos, observadas em seu laboratório em Nova Iorque, na presença de várias testemunhas, notadamente dos funcionários que o assistiam em seus estudos de biologia (Dados extraídos da Revista Reformador).

Fonte: site: www.autoresespiritasclassicos.com

LÍRIO FERREIRA – BIOGRAFIA

Lírio da Silva Ferreira

Nascido em Recife, a 19 de Maio de 1898, filho de Domingos da Silva Ferreira e Amália de Carvalho Ferreira, contraiu matrimônio aos 19 anos de idade com D. Maria da Glória Acióli Ferreira, tendo deixado dez filhos.
Exerceu durante 44 anos, as funções de caixa da hoje Companhia Brasileira de Linhas Correntes S.A.
Foi em 1.918 que Lírio foi pela primeira vez à Federação Espírita Pernambucana, ali levando uma sua empregada obsedada para receber tratamento espiritual.
Por cerca de um ano compareceu ele às reuniões públicas. A doente, após ficar curada, esqueceu-se do meio espírita. Lírio, ao contrário, mergulhou cérebro e coração na Doutrina, ampliando seus conhecimentos na leitura de inúmeros livros espíritas.
Tornando-se sócio da FEP, foi logo chamado para auxiliar no Departamento de Assistência aos Necessitados. Foi convidado para participar da Comissão de Contas e após vários anos foi a vice-presidência da FEP. Subiu à presidência da FEP apoiado por todos que já lhe conheciam o caráter, o denodo no trabalho, o coração evangélico e a cultura doutrinária. Sendo sempre reeleito, conduziu a FEP com pulso firme, em perfeita sintonia com as diretrizes febianas.
Lírio Ferreira foi sempre um sincero amigo da Federação Espírita Brasileira, que teve nele um admirador profundo e leal. Dedicava uma consideração sem limites ao presidente da Casa de Ismael, Sr. Wantuil de Freitas, a quem dava ciência de tudo quanto se passava no seu Estado, com ele permutando ideias sobre a solução dos assuntos mais inquietantes e delicados do campo espírita.
A sua constância ao trabalho, a sua integridade moral e a sua fidelidade aos princípios doutrinários foram o escudo contra o qual em vão se arremessaram as setas da malevolência e do despeito.
Ocupou a presidência da FEP por quatorze anos. Onze dias após a sua última reeleição, foi Lírio acometido de enfarte, que o conservou afastado, por algum tempo das atividades junto à FEP. Mas, logo que lhe permitiram as forças físicas, ele continuou a frequentar a sua querida Casa e até mesmo a presidir-lhe as reuniões.
Sua maior alegria, nos últimos tempos, era dar à FEP, a chamada Casa de Itagiba, uma nova sede, com novos departamentos assistenciais. Apesar das dificuldades financeiras, ele conseguiu, graças à perseverança de seus esforços, levantar as novas construções, deixando-as em fase de acabamento e já com algumas instalações em plena atividade.
Aos 14 de Janeiro de 1.965, Lírio da Silva Ferreira, desencarnava na cidade do Recife. Fora um modelo de virtudes e de trabalho construtivo na Seara Espírita Brasileira e, se mais não se projetou, foi por causa de sua extrema modéstia e humildade cristã. Foi sempre um incansável trabalhador, um abnegado servo na vinha do Mestre Jesus.
Livro: Grandes Espíritas do Brasil

Autor: Zêus Wantuil

LUÍS DE OLIVEIRA – BIOGRAFIA


Luís Joaquim de Oliveira

Filho de Joaquim José de Oliveira e Albina Eufrásia de Oliveira, nasceu Luís Joaquim de Oliveira na cidade Sapucaia (Estado do Rio), a 25 de agosto de 1.874, desencarnando em Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo) no dia 28 de julho de 1.960.

Notável poeta e prosador, foi um dos fundadores da Academia Mineira de Letras, tendo ocupado a cadeira número 30, cujo patrono é Oscar da Gama. Escreveu também contos e existem várias peças teatrais de sua autoria, algumas delas encenadas. De vez em quando usava o pseudônimo “Ludol”.

Filho do próprio esforço, veio do Estado do Rio para Juiz de Fora, em Minas Gerais, e aí, além de desempenhar as funções de escrevente do Cartório de Órfãos e Ausentes, fez-se professor e jornalista, colaborando nos jornais e revistas daquela cidade e se tornando um verdadeiro educador da infância, setor este a que dava maior atenção.

Ligando-se ao poeta Oscar da Gama, fundou com o jornal “Novidades”, que circulou algum tempo em Juiz de Fora. Viveu igualmente no meio de outros intelectuais mineiros, admirado pela sua inteligência e seu talento de poeta nato.

Jovem ainda, entusiasmou-se pela Doutrina Espírita, consagrando-lhe, desde então, toda a sua cultura e inspiração. São inúmeros seus trabalhos em prosa e em verso, espalhados em diferentes publicações brasileiras, sendo farta a sua colaboração nas páginas do “Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira, tão farta que, se reunidas as suas produções ali estampadas, sem dúvida ocupariam vários volumes.

De Juiz de Fora transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou, durante muitos anos, na Casa da Moeda. Aposentado, retirou-se para a cidade de Cachoeiro do Itapemirim, na qual, com sua esposa D. Ipomeia Braga de Oliveira, que também era escritora e poetisa, fundou a revista “Alfa”.

Em 1.922, Luís de Oliveira deu a lume “Clamores” (versos), obra que mereceu uma apresentação do Conselheiro Rui Barbosa, e, em 1.926, lançou “Livro d’Alma) (prosa e verso), prefaciado pelo intelectual Crisanto de Brito, que em certo trecho salientou: “Nota-se que o autor não tem outra preocupação que criar situações e caracteres morais. Para isso usa do contraste. Arranja sempre situações antagônicas entre a virtude e o vício, o defeito e a qualidade moral, e aproveita-se da que lhe convém para doutrinar. Parece que é o seu processo predileto. Aliás essa preocupação de moralização não é recente, a julgar-se pelos trabalhos antigos que fazem parte do LIVRO D’ALMA. O autor tem sido assim um moralista por excelência”.

Espírita valoroso na fé e na ação, dirigiu por muitos anos, até a sua desencarnação, o Asilo “Deus, Cristo e Caridade”, de Cachoeiro do Itapemirim. Nessa bela obra de assistência social, que constituiu a sua grande paixão, e que até hoje funciona com o mesmo espírito de caridade, Luís de Oliveira desenvolveu, ao lado de sua dedicada esposa, elogiável trabalho de amor cristão, sendo os internados tratados como verdadeiros irmãos do Cristo.

O acadêmico mineiro Martins de Oliveira salientou, em sua “História da Literatura Mineira”, a extrema simplicidade e modéstia que caracterizavam a personalidade de Luís de Oliveira, dizendo que essas virtudes lhe eram o apanágio da pureza cristã.

De sua autoria, acham-se publicadas várias e excelentes obras, entre as quais mencionaremos: “Sertanejas”, “Sonhos e Visões”, “Clamores”, “Livro D’Alma”, “Portugal no Brasil”, “Cenários”, os folhetos “Folhas do Natal” (de parceria com sua esposa Ipomeia de Oliveira) e “Folhas Cristãs”, etc., quase todas elas impregnadas da Doutrina Espírita-Cristã. Deixou muitos cadernos inéditos, alguns com título, com “Seara Bendita”, “Orações Cristãs”, “Nosso Livro”, e outros sem título. Acrescentem-se, ainda, as breves notas biográficas que escreveu sobre seu grande amigo Oscar da Gama, nome que escolheu para patrono de sua cadeira na Academia Mineira de Letras. “Sertanejas” (versos), publicada em 1.901, foi sua primeira produção impressa em livro.

Realizou Luís Joaquim de Oliveira um vasto programa de divulgação do Espiritismo pela palavra escrita, ficando seu nome conhecido e admirado em todo o Brasil espírita pelo muito que fez.

PAIVA JÚNIOR – BIOGRAFIA



Paiva Júnior

Aos 18 de março de 1.949 desaparecia do plano físico, no Rio de Janeiro, um verdadeiro servo da caridade: o Comandante João Luís de Paiva Júnior, coração de ouro sob um véu de aparente severidade.
Nascera ele no Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1.870, tendo por pais João Luís de Paiva e Maria Delfina da Conceição Paiva. Fora o pai excelente ator, tendo trabalhado ao lado de João Caetano e outros ilustres artistas da época.
Na primeira mocidade, Paiva Junior foi caixeiro, impressor e até ourives. O seu grande sonho, porém, era a Marinha de Guerra, e para ela entrou ainda bem jovem. Durante 52 anos e dez meses desempenhou dignamente suas funções na Intendência, reformando-se no posto de Almirante. Durante todo esse tempo, teve oportunidade de conhecer e privar com gloriosos vultos de nossa Marinha.
Em 1.905, sofrimentos físicos e espirituais fizeram-no aceitar o convite de um colega, que com ele insistia para comparecer ao Centro Espírita Santo Agostinho, existente no Méier, Guanabara. Ali foi o então tenente Paiva, e dali saiu ele transformado, para o Espiritismo. Entusiasmou-se com as revelações contidas nas obras de Allan Kardec, e ei-lo, anos depois, presidente daquele Centro aonde foi pela primeira vez.
Continuando sempre como presidente, mais tarde mudou o Centro para Jacarepaguá, denominando-o, desde essa época, Centro Espírita de Jacarepaguá.
Em 27 de fevereiro de 1.913, ingressava na “Assistência aos Necessitados” da Federação Espírita Brasileira o capitão de corveta João Luís de Paiva Junior, onde, através de sua mediunidade receitista, passou a ter contato mais direto com os menos favorecidos da sorte, desses que batem à porta da Casa de Ismael, em busca de socorro material e espiritual. Era, então, diretor da “Assistência aos Necessitados” outro inolvidável semeador da caridade, Pedro Richard.
Em 1.915, Paiva Júnior foi eleito Tesoureiro da Federação, mas o certo é que seu Espírito não se sentia bem nesse novo setor de trabalho, seu pensamento estava sempre voltado para os sofredores, para os pobres, e seu desejo era dedicar-se de todo o coração, à seus irmãos em Humanidade. Retornou, pois, à Comissão de Assistência, onde a sua dedicação e amor se faziam sentir de maneira relevante, resolvendo, satisfatoriamente, as difíceis tarefas que lhe eram confiadas. Suas palavras, proferidas sempre sem afetação, com natural e sincera vibração evangélica, tinham o dom de reanimar almas abatidas, reconfortar enfermos.
Em 1.923, viu-se eleito para o espinhoso cargo de Diretor da Assistência aos Necessitados, cargo que ininterruptamente desempenhou até seu Espírito ser chamado para as etéreas regiões do Além.
Vinte e seis anos consecutivos esteve ele na direção dessa Comissão de Assistência, e só quem conhece o que seja o trabalho desse Departamento da Federação é que pode calcular quanto amor existia em seu coração!
Conhecido de todos por Comandante Paiva, seu nome tornou-se um símbolo de paz e de misericórdia para os necessitados. Fazia prodígios com as verbas de que dispunha, parecendo, até, que elas se multiplicavam em contato com suas mãos dadivosas.
Todos quantos durante aqueles vinte e seis anos subiam as escadarias do venerável edifício da Avenida Passos não podiam admitir o Departamento de Assistência sem a figura austera do Comandante Paiva. É que, muito embora tivesse ele de exercer os encargos atinentes ao seu posto de oficial superior de nossa Marinha de Guerra, jamais deixou de passar horas a fio, diariamente, durante vários lustros, em seu gabinete de trabalho na Federação Espírita Brasileira. Ele e a Assistência se confundiam. Sua palavra era fluente e sempre modulada ao ritmo do Evangelho. Recebia o maltrapilho com o mesmo carinho e atenção que tributava aos que, bem vestidos ou detentores de ótimas posições sociais, o procuravam na esperança de um alívio para os seus padecimentos.
Em Setembro de 1.925, certo médico, interessado no descrédito das curas espíritas, teceu, junto ao Inspetor da Fiscalização da Medicina, uma historia caluniosa, em que a honrada figura de Paiva Júnior era o acusado principal.
Foi ele então processado como incurso no exercício ilegal da medicina. Após examinar os autos, o ínclito e saudoso Dr. Bento de Faria, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal, emitiu parecer, em que requeria o arquivamento do inquérito sobre o caso, por não encontrar justa causa para denúncia. À vista desse parecer, o Doutor Eurico Cruz, da Segunda Vara Criminal, mandou arquivar o processo.
Paiva Júnior tinha o hábito de ouvir os pobres um a um e em particular, tarefa que ele desempenhava com uma paciência verdadeiramente cristã, e a levava tão a sério que, nessas horas de contato com a gente humilde do povo, a ninguém mais atendia, mesmo de elevada posição social.
Sua atuação evangélica não ficou restrita ao Estado da Guanabara, alargou-se pelo Brasil inteiro, e foi mais além, transpôs o Atlântico. Assim é que de Portugal e da Espanha lhe chegavam, quase que diariamente, as mais diversas solicitações de assistência. Antes da última guerra mundial, inúmeras eram as cartas que vinham ter às suas mãos, escritas por pessoas angustiadas residentes na França, essa França que foi berço de Allan Kardec.
Podendo viver uma vida despreocupada, Paiva Júnior empregou todo o seu tempo disponível na pratica da Caridade, e o fez, é bom frisar, com alma e coração, sem pensar em qualquer recompensa futura, convicto de que apenas cumpria um dever de irmão para com outro irmão em Cristo.

OSWALDO FERREIRA DE MELLO – BIOGRAFIA

Oswaldo Ferreira de Mello

Oswaldo Ferreira de Mello nasceu na ilha de Santa Catarina, Florianópolis, em 1.893 e desencarnou nessa última cidade, no dia 25 de julho de 1.970.
Era filho de tradicional família catarinense chefiada pelo casal João Adolfo F. de Mello e Da. Zélia Caldeira Souto de Mello.
Desde muito cedo concluiu seus estudos no colégio Catarinense, dedicou-se ao serviço público e ao jornalismo, tendo naquela atividade assumido importantes funções, salientando-se as de Diretor-Geral da Assembleia Legislativa do Estado, cargo em que se aposentou em 1.959.
Homem de largos recursos sentimentais e humanitários, dedicou-se aos trabalhos da imprensa, inclusive da imprensa espírita.
Foi redator e diretor de vários jornais de Florianópolis, e assíduo frequentador das páginas de revistas e jornais espíritas que se editam no País.
Participou de numerosas atividades culturais, tendo sido o primeiro membro a ser recebido na Academia Catarinense de Letras.
Espírita convicto e, mais que isso, um grande trabalhador na seara, foi secretário e representante do Estado de Sta. Catarina quando das realizações das gestões que culminaram com a assinatura do Pacto Áureo de Unificação, no Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 1.949, do qual resultou a fundação do Conselho Federativo Nacional.
Publicou as seguintes obras: “Heroísmo e Humildade” (novela), “Epístola aos Espíritas” (obra de inspiração mediúnica) e “Sobrevivência e Comunicação dos Espíritos” (relato de suas investigações e experiências no campo da Metapsíquica).
Presidiu durante muitos anos o Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, onde exerceu com raro amor e abnegação a mediunidade curadora.
Plasmando a consciência espírita de sua terra, em abril de 1.945, fundava a Federação Espírita Catarinense, construindo sua sede à Av. Mauro Ramos, 305, em Florianópolis, tendo sido seu presidente até 1.968, quando, por motivo de saúde passou o cargo ao Dr. José Antônio S. Thiago.
Todavia, a família espírita catarinense o manteve como Presidente de Honra da Casa Mater do Espiritismo naquele importante Estado sulino.

Fonte: Jornal Unificação – outubro de 1974.

MANUEL JUSTINIANO DE FREITAS QUINTÃO – BIOGRAFIA

Manuel Justiniano de Freitas Quintão

Em 16 de dezembro de 1.955, em sua residência, à Rua Martin Lage, no Méier, desencarnou Manuel Justiniano de Freitas Quintão. Foi sócio da Federação Espírita Brasileira durante 44 anos e ocupou lhe a presidência em 1.915, 1.918, 1.919 e 1.929.
Publicou vários trabalhos, entre os quais “O Cristo de Deus”.
Em 1.939 escreveu a sua própria biografia e deixou-a em envelope fechado, a fim de que fosse publicada em “Reformador”, quando da sua desencarnação. Ei-la:
“Nasci na Estação de Quirino, da E.F. União Valenciana, aos 28 de maio de 1.874. Foram meus pais Antonio Gomes de Freitas Quintão (português) e Maria Amélia Justiniano Quintão. Logo após meu nascimento, meu pai transferiu-se para a Corte (Rio de Janeiro), onde, estabelecido no comércio de secos e molhados, em grosso, veio a perder a maior parte de seus haveres, o que o levou a regressar ao interior da Província.
Em Santa Isabel do Rio Preto, adquiriu o sítio de lavoura, denominado “Sossego”, que lhe havia de ser, por confirmar a regra, fonte perene de tribulações e fracassos, culminantes na abolição do regime servil. Aí, nesse arraial primitivo, fiz os meus estudos primários na escola pública, a única que conheci nesta vida de relação.
Meu sonho dourado era a Marinha… O espadim de aspirante era-me uma preocupação obsidente. Acompanhava nos jornais os exames da Escola Naval, sabia o nome dos seus alunos mais distintos e devorava toda a literatura peculiar, que me caía nas mãos. Batalha do Riachuelo, Passagem de Humaitá e feitos outros, de lamentável campanha do Paraguai, tinha-os de memória e sobre eles discorria, com minuciosidade e viveza, como se neles houvera tido parte.
Aos 14 anos, desatadas com o golpe da Abolição, as últimas amarras do meu sonho de “Nelson incipiente”, tive de optar pelo comércio, única porta que se me abria em penumbras. Meu pai, que no comércio estreara aos nove anos e subira de menino de vassoura a guarda-livros conceituado, punha no projeto o melhor da sua confiança e do seu empenho, tanto que me consignou a um seu irmão, estabelecido em Belém do Pará, e cujo nome ainda hoje (1.939) lá se ostenta na
“Chapelaria Quintão”.
Minha saúde, agravada pela nostalgia do lar, não se compadeceu com os rigores do clima amazônico. Dentro de seis meses já eu revia, enamorado, as plagas sempre risonhas da Guanabara, e nelas refloriu o áureo sonho. Meu pai chegou a interessar-se por uma possibilidade de matrícula na Escola Naval, mediante um curso prévio de admissão. Estava escrito, porém, no livro grande dos Destinos, que os golpes políticos haveriam de ser a barreira sempre insuperável das minhas áureas aspirações.
A queda do trono, subvertendo e revolvendo todos os valores político-sociais, inutilizou-me as últimas esperanças de almirantado.
A aurora do 15 de novembro de 1.889 foi o crepúsculo do meu ideal embrionário, e já em começos de 1.890 estava eu definitivamente “frigorificado” num escritório comercial. Os livros comerciais nunca me foram amigos diletos e eu, ingrato e revel nos meus entusiasmos de moço, sempre os preteri por outros, que, em me não proporcionarem o pão do corpo, deleitavam-me o espírito, curioso e ávido de saber.
Fui, assim de tropel, um autodidata, levado na flutuação das correntes, ao sabor das circunstâncias, sem plano determinado. Mas lia tudo, devorava tudo.
No comércio predominava o elemento estrangeiro, sobretudo o português, em sua quase totalidade ignorante e hostil ao elemento nacional. Casas havia, que se ufanavam de nunca haver admitido empregados brasileiros… E as que o faziam, por conveniências econômicas ou familiares, era para – como se dizia – encher tempo e marcar passo.
Qualquer mostra de intelectualidade, qualquer prurido de autonomia mental, e eram havidos como estigma. A poesia, então, era sintoma de psicose e a música apanágio de mandriice. Sabe Deus os desgostos que me deu uma velha flauta, que ainda hoje conservo como recordação dos luares da minha adolescência. O que experimentei, a dentro dessa muralha chinesa de competições econômicas e materialíssimas, para abrir caminho e tomar pé na sociedade, daria um romance de largo fôlego e profundos ensinamentos, que eu desejei mas não pude escrever.
Em 1.895, perdi meu pai e, não obstante haver atingido o posto culminante da carreira – pois era guarda-livros e chefe de escritório aos 20 anos – em tempo que os cabelos brancos ainda eram documento, tive de arcar com as maiores vicissitudes, assumindo os encargos da família – único e melhor legado que recebi dele, além do nome impoluto.
Em matéria de religião, nada me sobrava do que escassamente recebera no lar e na sacristia lá da aldeia. Guardava, sim, nos refolhos da alma os cânticos suaves do mês mariano, e a tonalidade forte das ladainhas do vigário Cabral.
Haeckel e Buchner, Voltaire e Renan, Rousseau, Zola, Junqueiro eram meus ídolos.
Foi nessa altura que, maltratado da sorte, envenenado de corpo e alma, comecei a derramar na imprensa a vasa de minhas ideias.
Artur Azevedo, nunca o esqueceria, foi, sem o saber, o meu animador. Mantendo ele no “O País” uma seção equivalente a esses programas de calouros, que aí vicejam na radiofonia atual, foi dele que me vieram, lourejantes de alegria, os primeiros estímulos cuidadosamente envolvidos no anonimato. Passei, depois, a frequentar a Caixa de “O Malho”, a “Revista da Semana” e até o “Rio Nu”.
Nessa altura, gravemente enfermo e desenganado pela medicina oficial, depois de esgotar todos os recursos e a pique de cair na indigência é que fui levado a tentar a terapêutica mediúnico-espiritista. Este episódio contei-o na conferência que, em 1.921, pronunciei a propósito das materializações assistidas pouco antes, no Pará, publicada sob o título de “Fenômenos de Materialização”.
A minha cura foi tão rápida quanto eficaz e maravilhosa, e o monista irredutível, já candidato ao suicídio, tornou-se espiritista confesso e professo. Em Vassouras, aonde levara a família, por imperativos econômicos e de saúde, foi que, ao alvorar do século XX, comecei a assinar as minhas produções literárias.
Ali casei-me, pobre e até desempregado, com uma moça também pobre e digna – Alzira Capute – hoje companheira fiel e dedicada de 38 anos e mãe de 11 filhos, pois que foi isso, precisamente, em 1901. Nessa época colaborei efetivamente em “O Município”, órgão de grande projeção no cenáculo do jornalismo fluminense e tive encômios de Quintino Bocaiúva e Nilo Peçanha, que poderiam facilitar-me o trânsito para a burocracia administrativa.
A política, porém, sempre me repugnou e uma das coisas poucas de que me ufano é de nunca ter sido eleitor, nesta minha longa e acidentada vida de relação.
Transferindo-me novamente para o Rio, filiei-me então à Federação Espírita Brasileira.
Contudo, a idiossincrasia da política não me esmorecia o gosto dos problemas sociais e muitos dos que hoje aí se proclamam inadiáveis, quais o de artesanato, da policultura, da colonização, do ruralismo, da viação, da marinha de guerra, podem ler-se, por mim versados em “O Município”, antes que o fizera Alberto Torres. Não o digo senão para reiterar que o fazia sem plano preconcebido e sem estudos especializados, mas de jato e por ser médium, já então inconsciente. Nem a outra circunstância posso atribuir a minha lavra literária, na Doutrina e fora dela. Também por isso, imaginei muitos livros, sem jamais poder escrevê-los. Toda a minha obra doutrinária ou profana, é ocasional, intermitente, fragmentária, havendo mesmo quem a tenha julgado, com justiça, incôngrua no estilo.
Na Federação, onde milito desde 1.903, sem embargo do premente labor comercial, sempre mantive, com integridade de consciência evangélica, o exercício da mediunidade curadora.
Combatendo, em princípio, o personalismo humano e o partidarismo dissolvente no campo doutrinário, não me pude forrar de grandes mágoas e maiores decepções. Não sobrariam elas, contudo, para arrefecer-me o ânimo cristão, convicto de que aí na Casa de Ismael, em que pesem falhas humanas, está definitivamente traçado o roteiro da Humanidade futura.
Assim, aos 65 anos de minha idade, se amanhã deixar a carcaça que já vai pesando, deixo aos meus companheiros de ideal estas notas de escantilhão, para que possam, jamais, atribuir-me merecimentos que não tive, não tenho nem poderia reivindicar. O que me diz a consciência, é que mais poderia ter feito e que no pouco que fiz, se algo fiz, cumpri apenas estrito dever, tudo recebendo por misericórdia e de acréscimo.
Aliás, da minha passagem ao Além, nascido na obscuridade e na obscuridade transitando, não desejo mais do que um eco suficiente para atrair uma prece, um pensamento de paz, uma rajada de luz dos meus irmãos que ficam.
Rio de janeiro, 16 de maio de 1.939.
Manuel Quintão.

Fonte: Reformador, janeiro de 1955.