Arquivo da categoria: Espírita Amigo

Associada ao conjunto de posts importados do blog homônimo

RETRATO DE MÃE

Depois de muito tempo, sobre os quadros sombrios do Calvário,

Judas, cego no Além estava solitário…

Era triste a paisagem, o céu era nevoento…

Cansado de remorso e sofrimento, pusera-se a chorar…

Nisso, nobre mulher de Planos Superiores, envolta de celestes esplendores, que ele não conseguia divisar,

chega e afaga a cabeça do infeliz.

Em seguida, num tom de carinho profundo, quase que, em oração, ela lhe diz:

– Meu filho, por que choras?

– A caso não sabeis? – Replica Judas, claramente agressivo.

– Sou morto e estou vivo!

Matei-me e novamente estou de pé, sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé. Não ouvistes falar em Judas, o traidor? Sou eu que aniquilei a vida do Senhor. A princípio, julguei poder fazê-lo rei, mas apenas lhe impus sacrifício, martírio, sangue e cruz.

Afastai-vos de mim, deixai-me padecer neste inferno sem fim…

Nada me pergunteis, retirai-vos senhora, nada sabeis da mágoa que me agita, pois nunca penetrareis em minha dor infinita…

No entanto, a Dama calma respondeu:

– Meu filho sei que sofres! Sei que lutas! Sei a dor que te causa o remorso…

Venho apenas falar-te que Deus é sempre amor em toda parte!

E, acrescentou serena:

– A Bondade do Céu jamais condena. Venho por mãe a ti, buscando um filho amado. Sofre com paciência a dor e a prova. Terás em breve, uma existência nova…

Não te sintas sozinho ou desprezado.

Judas interrompeu-a e disse rude e pasmo:

– Mãe? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo. Depois de me enforcar num galho de figueira, para acordar na dor, sem mais poder fugir à vida verdadeira, fui procurar consolo e força de viver ao pé da pobre mãe que me forjara o ser…

Ela me viu chorando, escutou meus lamentos, mas teve medo de meus sofrimentos.

Expulsou-me e disse que eu era, unicamente, o Espírito do mal.

Ah! Detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha…

Não me faleis de mães, não me faleis de amor, sou apenas um monstro sofredor…

Inda assim – disse a Dama docemente…

– Por mais que me recuses, não me altero. Amo-te filho meu! Amo-te e quero ver-te, de novo, a vida, maravilhosamente revestida de paz e luz, de fé e elevação…

Virás comigo à Terra, perderás, pouco a pouco, o ânimo violento e terás o coração nas águas de bendito esquecimento… Numa nova existência de esperança, levar-te-ei comigo a sereno abrigo…

Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!

E Judas, nesse instante, como quem esquecesse a própria dor gigante, perguntou:

– Quem sois vós, que me falais assim, sabendo-me traidor?

– Sois divina mulher, irradiando amor ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!…

No entanto, Ela a fitá-lo, frente a frente, respondeu simplesmente:

– Meu filho, eu sou Maria, sou a Mãe de Jesus.

Do livro: “Momentos de Ouro”, Maria Dolores, Francisco Cândido Xavier


JESUS E CESAR

Que seria do Cristianismo se Jesus recorresse à proteção de César?
Possivelmente, alguns patrícios simpáticos à nova doutrina se encarregariam da obtenção do alto favor. Legiões de soldados viriam garantir o Messias e os amigos do Evangelho alinhar-se-iam à força da espada, não mais de ouvidos espontâneos, mas com a atenção absorvida na postura oficial, Pedro e João, Tiago e Felipe adotariam certas normas de vestir, segundo os programas imperiais, e o próprio Cristo, naturalmente, não poderia ensinar as verdades do Céu, sem prévia audiência das autoridades convencionalistas da Terra.
Provavelmente, o Mestre teria vencido exteriormente todos os adversários e dominaria o próprio Sinédrio.
Mas… e depois?
Sem dúvida, ter-se-ia fundado expressiva e bela organização político-religiosa, repleta de preceitos filosóficos, severos e regeneradores.
Mateus teria envergado a túnica do escriba estilizado, enquanto Simão gozaria de honras especiais e o próprio Jesus passaria à condição de um Marco Aurélio, cheio de austeridade e nobreza, interessado em ensinar a justiça e a sabedoria, mas em cujo reinado se verificariam perseguições das mais terríveis e sangrentas ao Cristianismo, sem que as ocorrências dolorosas lhe merecessem consideração.
O Mestre, contudo, compreendia a necessidade das organizações humanas, exemplificou o respeito à ordem política, mas, acima de tudo, serviu ao Reino de Deus, de que era representante e portador, neste mundo de experiências provisórias, dirigindo seu Evangelho de Amor, não só ao homem físico, mas essencialmente ao homem espiritual.
Sabia Ele que as organizações religiosas, propriamente ditas, existiam entre as criaturas, muito antes dos templos de Baal. Urgia, porém, entregar aos filhos da Terra a herança do Céu, integrá-los na doutrina viva do bem e da verdade, estabelecer caminhos entre a sombra e a luz, aperfeiçoar caracteres, purificar sentimentos, elevar corações, instituir a universidade do Reino de Deus e sua justiça. Entendia que a sua obra era de semeadura, germinação, crescimento, tempo e trabalho constante.
E plantou com o seu exemplo o Cristianismo sublime no campo da Humanidade, ensinando o acatamento a César, cooperando no aperfeiçoamento de suas obras, mas fazendo sentir que César constituía a autoridade respeitável no tempo, enquanto o Pai guarda o poder divino na eternidade.
Na exemplificação do Cristo, o Espiritismo evangélico, na sua condição de Cristianismo redivivo, deve procurar as suas diretrizes, edificantes no terreno da nova fé.
As organizações políticas, de natureza superior, são sempre dignas e respeitáveis e todos os seguidores do Evangelho devem honrar lhes os programas de realização e progresso coletivo, acatando-lhes as instituições e contribuindo para o seu engrandecimento, na esfera evolutiva, mas não se pode exigir, da política de ordem humana, a solução dos problemas transcendentes de ordem espiritual.
Na atualidade do mundo, o Espiritismo é aquele Consolador prometido, enfeixando nova e bendita oportunidade de redenção. Em seu campo doutrinário, a verdade de Deus não está algemada, seus felizes estudantes e seguidores podem aquecer o coração ao sol da liberdade íntima, sem obstáculos na marcha da consciência para a realização divina.
Aos espiritistas dos tempos novos, portanto, surgem lições vivas, que não podes relegar ao esquecimento.
O sacerdócio organizado costuma ser o cadáver do profetismo, Oculto externo nem sempre favorece a luz da revelação. A teologia, na maior parte das vezes, é o museu do Evangelho.
Urge, pois, em todas as circunstâncias, não olvidas Aquele que auxiliou romanos e judeus, atendendo ao povo e respeitando as autoridades, dando a César o que era de César e a Deus o que é de Deus, ensinando, porém, que o seu reino ainda não é deste mundo.
Emmanuel
Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier

INTERROGAÇÃO DO MESTRE

” Que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando a si mesmo?”.

JESUS – Lucas, 9:25.


Em verdade, com a força associada à inteligência, pode o homem terrestre –
resolver o solo planetário,
sugar os benefícios da Terra,
incentivar interesses personalistas,
erguer arranha-céus nas cidades maravilhosas,
construir palácios para o ninho doméstico,
elevar-se ao firmamento em máquinas possantes,
consultar os abismos do mar,
atravessar oceanos em navios velozes,
estender utilidades no plano da civilização,
criar paraísos de fantasias para os sentidos corporais,
monopolizar os negócios do mundo,
abrir estradas, ligando continentes e povos,
conversar à distância de milhares de quilômetros,
dominar o dia que passa em carros de triunfo,
substituir os ídolos de barro no altar da ilusão,
formar exércitos poderosos, consagrados à morte,
forjar espadas e canhões,
ditar duras leis aos mais fracos,
gritar a palavra de ódio em tribunas de ouro,
exercer a vingança, oprimir, gozar, amaldiçoar…
Em verdade, o homem, usufrutuário da Terra, e depositário da confiança de Deus, pode fazer tudo isso, contudo, que lhe aproveitará tamanha exaltação se, distraído de si mesmo, se vale das glórias da inteligência para precipitar-se nos despenhadeiros da treva e da morte?
Emmanuel
Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier

LIBERDADE ESPIRITUAL

Como poderá a criatura adquirir a sua liberdade?
Muitos de vós que atualmente na Terra lutais e sofreis, no círculo doloroso das penas e trabalhos terrestres, ignorais que o cárcere de hoje é a vossa emanação de amanhã, na existência real.
Frequentemente, de coração oprimido e de alma alanceada nos tormentos purificadores, o homem exclama:
– Senhor, não é possível lutar por mais tempo… as dores transbordaram e não posso ir adiante…!
É preciso, porém, saber conduzir a cruz das provas salvadoras. A todos concedeu o Senhor o quinhão de forças necessárias. Sabe Jesus onde se derrama a lágrima obscura, fazendo brotar, ao seu lado, a flor perfumada da resignação e da esperança e todos os padecimentos e dificuldades terrestres têm sua causa justa, ainda que temporariamente inacessível ao entendimento de vossas consciências, adormecidas na reencarnação.
Desejais a tranquilidade, a aspiração satisfeita, o sonho realizado, a paz e a fartura… mas vos esqueceis de que viestes ao mundo para a reparação ou aprendizado, em que as dores são elementos vitais de toda a conquista para a felicidade futura.
Adquirireis, portanto, a vossa emancipação e a vossa liberdade sagradas, suportando com heroísmo as amarguras e as experiências que a Terra vos oferece.
No oceano encapelado, cheio de perigos, aprende o marujo a dominar tempestades.
Aprendizes da escola do sofrimento, num mundo onde toda posse material é precária e transitória, sabei que apenas o ouro sagrado da experiência na dor e no trabalho pode comprar o palácio de vossa liberdade.
Emmanuel
Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier

O MESTRE E AS OPINIÕES

Quando Jesus, consagrando as alegrias familiares e o culto sublime da união doméstica, transformou a água em vinho, nas bodas de Canaã, cercaram-no os imensos tentáculos da falsa opinião, pela primeira vez, na fase ativa de seus apostolados. Por que semelhante transformação? Seria possível converter a água pura em vinho, destinado à embriaguez?
Procurando companheiros para a missão de luz e sendo escarnecido pelos sacerdotes, juízes e doutores de seu tempo, buscou o Mestre a companhia simples e humilde dos pescadores. A maledicência, contudo, não lhe perdoou o gesto. Que motivo induzia aquele missionário a socorrer-se de homens iletrados e rudes, que costumavam espreguiçar-se nas barcas velhas?
Instituiu a alegria e o bom ânimo, a confiança mútua e o otimismo entre os discípulos; entretanto, o farisaísmo recriminava lhe a conduta.
Que instrutor era aquele, que não jejuava nem mantinha preceitos rigoristas?
Atendia a multidão de sofredores, dos quais se compadecia sinceramente, ministrando-lhes consolações e ensinamentos; todavia, o fanatismo criticava lhe as atitudes. Não seria ele revolucionário perigoso?
Desrespeitava a lei, curando cegos e paralíticos, nas horas destinadas ao repouso.
Socorria os obsidiados de todos os matizes, conferindo-lhes tranquilidade aos corações; no entanto, a ignorância não o desculpava. Que razões o detinham no esclarecimento aos espíritos das trevas? Não teria combinações secretas com Satanás?
Interessou-se pela renovação espiritual de Madalena. Os próprios amigos entranharam-lhe o conduta. Por que tamanha atenção para com uma pecadora comum?
Aceitou o oferecimento gentil dos publicanos, comendo à mesa de pessoas afastadas da lei; todavia, a perversidade não lhe compreendeu a disposição fraterna. Não seria ele simples comilão e beberrão?
Dedicou longa palestra à samaritana pobre e desviada. A malícia, porém, não lhe entendeu a lição divina. Por que se demorava em conversação com semelhante mulher, que já possuíra cinco maridos?
Ensinava as verdades eternas, por amor às criaturas, mas, não raro, ao terminar as pregações sublimes, a desordem estabelecia tumultos. Não era ele anônimo operário de Nazaré? A que títulos poderia aspirar, além da carpintaria da sua infância?
Confiando nos companheiros, falou-lhes do seu testemunho, diante das verdades do Pai, prevendo lutas, desgostos, sacrifícios e humilhações; todavia, a inconformação apossou-se do próprio Pedro e choveram protestos. Por que o anúncio descabido de tantas flagelações e tantas dores? Não era o sofrimento incompatível com a realização de um Messias que vinha de tão alto? Não teria Jesus enlouquecido?
Diante da revolta de Simão, em frente dos varapaus, pediu-lhe o Mestre serenidade e sensatez, para que não fosse perdido o ensejo da suprema fidelidade a Deus, mas a incompreensão se manifestou de pronto. Por que socorrer inimigos e verdugos? Como entregar-se sem defesa à perseguição dos sacerdotes? Como interpretar semelhante covardia, no momento mais vivo da missão nova? Não seria melhor desertar, entregando o Mestre à sua sorte?
Até o derradeiro instante na cruz, ouviu o Senhor as mais estranhas opiniões, os mais contraditórios pareceres do mundo, mas a todos respondeu com o bendito silêncio de seu amor, porque bem sabia que, acima de tudo, lhe cumpria atender à Vontade do Pai e que os homens só poderiam compreender lhe o trabalho augusto, à medida que desenvolvessem os ouvidos de ouvir e os olhos de ver, a capacidade de sentir e a resolução de se realizarem espiritualmente, à luz do Evangelho no longo caminho de sucessivas reencarnações.
Emmanuel
Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier

A IRONIA E A VERDADE

Nas grandes horas, nunca falta a ironia, em derredor dos servidores da Verdade Eterna. E, para confortar os seus seguidores, suportou-a Jesus, heroicamente, no extremo testemunho. Amara a todas as criaturas de seu caminho, com igual devotamento, servira-as, indistintamente, entregando-lhes os bens de Deus, sem retribuição, exemplificara a simplicidade fiel e multiplicara os beneficiários de todos os matizes, em torno de seu coração por onde passasse.
Desdobrava-se lhe o Apostolado Divino, sem vantagens materiais e sem interesses inferiores, mas os homens arraigados à Terra não lhe toleraram as revelações do Céu. Porque não podiam destruir lhe a verdade, entregaram-no à justiça do mundo e, tão logo organizado o processo infamante, a ironia rondou o
Senhor até a crucificação.
Trouxera o Evangelho Libertador à Humanidade e recebeu a calúnia e a perseguição.
Ele, que ouvia a Voz Suprema, foi preso por varapaus.
Distribuíra benefícios para todos os séculos, contudo, foi segregado num cárcere.
Vestira as almas de esperança e paz, no entanto, impuseram-lhe a túnica do escárnio.
Ensinara sublimes lições de renúncia e humildade e foi submetido a perturbadores interrogatórios pelos acusadores sem consciência.
Rompera as algemas da ignorância, entretanto, foi coagido a aceitar a cruz.
Coroou a fronte dos semelhantes com a luz da libertação espiritual, todavia, foi coroado de espinhos ingratos.
Oferecera carícias aos sofredores e desamparados do mundo, recebendo açoites e bofetadas.
Fundara o Reino do Amor Universal e obrigaram-no a empunhar uma cana à guisa de cetro.
Ensinou a ordem entre os homens pela perfeita fidelidade ao Supremo Senhor e o boato lhe pôs na boca expressões que nunca pronunciou.
Abrira na Terra a fonte das Águas Vivas, entretanto, deram-lhe vinagre quando tinha sede.
Ele que amara a simplicidade, a religião e o respeito, foi crucificado seminu, sob o cuspo da perversidade, entre dois ladrões.
Jesus, porém, sentindo embora a ironia que o cercava, não reclamou, nem feriu a ninguém, não comprometeu os companheiros, nem exigiu a consideração de seus deveres. Compreendeu a ignorância dos homens, rogou para eles o perdão do Pai e dirigiu-se a outros trabalhos, no seu divino serviço à Humanidade.
Nenhum servidor fiel do bem, portanto, escapará ao assédio da ironia. É preciso, porém, recordar o Mestre, evitar o escândalo, pedir ao Supremo Pai pelos escarnecedores infelizes e continuar trabalhando com o Senhor, dentro da mesma confiança do primeiro dia.
Emmanuel

Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier



COMUNGAR COM DEUS

A fidelidade a Deus e a comunhão com o seu amor são virtudes que se completam, mas que se singularizam, no quadro de suas legítimas expressões.

Job foi fiel a Deus quando afirmou no torvelinho do sofrimento: – “Ainda que me mate n’Êle confiarei”.

Jesus comungou de modo perfeito com o amor divino quando acentuou: – “Eu e meu Pai somos um”.

A fidelidade precede a comunhão verdadeira com a fonte de toda a sabedoria e misericórdia.

As lutas do mundo representam a sagrada oportunidade do homem para que seja perfeitamente fiel ao Criador.

Aos que se mostram leais no “pouco” é concedido o “muito” das grandes tarefas. O Pai reparte os talentos preciosos de sua dedicação com todas as criaturas.

Fidelidade, pois, é compreensão do dever.

Comunhão com Deus é aquisição de direitos sagrados.

Não há direitos sem deveres. Não há comunhão sem fidelidade.

Eis a razão pela qual para que o homem se integre na recepção da herança divina não pode dispensar as certidões de trabalho próprio. Antes de tudo, é imprescindível que o discípulo saiba organizar os seus esforços, operando no caminho do aperfeiçoamento individual, para a aquisição dos bens eternos.

Existiram muitos homens de vida interior iluminada, que puderam ser mais ou menos fiéis, todavia, só Jesus pôde apresentar ao mundo o estado de perfeita comunhão com o Pai que está nos Cajus.

O Mestre veio trazer-nos a imensa oportunidade de compreender e edificar. E se nós confiamos em Jesus é porque, apesar de todas as nossas quedas, nas existências sucessivas, o Cristo espera dos homens e confia em seu porvir. Sua exemplificação, em todas as circunstâncias, foi a do Filho de Deus, na posse de todos os direitos divinos. Justo reconhecer que essa conquista representou a sagrada resultante de sua fidelidade real. E Cristo se nos apresentou no mundo, em toda a resplendecia de sua glória espiritual para que aprendêssemos com ele a comungar com o Pai. Sua palavra é a do convite ao banquete de luz eterna e de amor imortal. Eis porque, em nosso próprio benefício, conviria sermos perfeitamente fiéis a Deus, desde hoje.

Emmanuel

Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier

A OPORTUNIDADE

E todas as direções do planeta, observamos o homem do mundo perseguindo as oportunidades.

De modo geral, todavia, as criaturas humanas não procuram senão a oportunidade de uma situação de evidência transitória na Terra.

Encontram-se apressados os que buscam as grandes ocasiões do dinheiro, dos títulos convencionais, das situações de destaque, dos desejos satisfeitos, sob o ponto de vista planetário. Os homens, identificados no mesmo ideal mundano, abraçam-se, na comunhão de interesse, nesses encontros fortuitos. Os demais saúdam-se ligeiramente, em atitude suspeitosa, temendo a alheia intromissão nos seus inferiores desígnios.

Essa, a estrada comum da vida sobre a Terra. E os que passam contemplando o céu ou meditando na sabedoria da Inteligência Suprema que lhes facultou as belezas e utilidades do caminho, para os seus semelhantes inquietos não serão de seu tempo.

O homem vulgar, todavia, ainda não se capacitou de que essa corrida apressada não é mais que uma oportunidade para morrer. Morrer, segundo a carne e segundo o espírito também, porque as realizações materiais, quando não acompanhadas de finalidade edificante, no plano definitivo da alma, podem conduzir aos débitos mais escabrosos, em séculos de regeneração pungente e amarga.

Nessa movimentação desordenada das criaturas, muitas vezes, faz-se mister lançar mão de sagrados patrimônios da consciência, sufocam-se as tendências mais nobres, espezinham-se os melhores sentimentos.

Faltam a esses lutadores inquietos os valores legítimos da iluminação interior e é por isso que, freqüentemente, vemos o político elevar-se para atender à maquinaria da destruição, formar-se o sacerdote para a defesa de vãos interesses, eleger-se o jurista para desviar o direito ou preparar-se o médico para confundir o problema da saúde.

Quase todas as criaturas marcham ansiosas, na valorização da oportunidade falsa, e chegam esgotadas ao término da luta, esbarrando na realidade da morte, desprevenidas e infelizes.

É que o homem ainda não quis compreender que a maior oportunidade não poderia sair da indigência de nossas mãos. Somos espíritos imperfeitos e não poderíamos criar a oportunidade perfeita para a felicidade real. Só a sabedoria e a magnanimidade de Deus podem conceder às nossas almas esse ensejo divino. E essa oportunidade sagrada é a da Vida. O berço mais pobre e o corpo mais deformado constituem essa concessão da Infinita Misericórdia. Representam a porta consoladora, por onde o espírito humano regressa à valorosa oficina de trabalhos que é a Terra. E somente quando a criatura sabe apreciar a extensão desse ensejo, lendo a cartilha do esforço próprio, nas sendas mais penosas da regeneração ou do aprendizado, terá descoberto a sua oportunidade definitiva de glorificação e paz, porquanto, não mais estará edificando sobre a areia das convenções do mundo, das pretensões científicas ou das galerias do falso conhecimento, mas sim, na base imortal do sentimento e da justa razão.

Dentro dessas observações, devemos considerar que a mais elevada oportunidade de um homem é a sua própria existência e a vantagem real dessa bênção reside na iluminação definitiva do espírito.

O Mestre é Jesus.

A Escola é a Terra.

O Bem é o trabalho que aperfeiçoa.

O Adversário é tudo que afaste a energia do serviço real com o Cristo.

Em vista dessas verdades, que o discípulo ponha mãos à obra de sua purificação e ninguém espere um céu que não edificou em si mesmo.


Emmanuel

Do Livro: Coletâneas do Além. Pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier









A PROCURA DA FÉ

Enquanto dolorosos fenômenos políticos e sociais afligem os povos do mundo, a alma humana procura ansiosamente a fé.

Angustiado, desiludido, o homem do século vertiginoso, busca a solução do mistério do destino e do ser. Ele sabe que as civilizações vieram e passaram, que as guerras se sucederam às promessas de paz, que numerosos códigos surgiram e desapareceram, que as afirmações científicas e filosóficas não são as mesmas do passado próximo.

Onde a estabilidade?

Na dominação política? Não desconhece que Alexandre e Napoleão brilharam, como pirilampos, através de algumas noites.

Na cultura intelectual, pura e simplesmente? A inteligência desvirtuada fortalece os monstros bélicos.

No império dos sentidos? As emoções transitórias não resolvem o problema fundamental da vida.

Na satisfação egoística dos interesses individuais? É possível que a morte física se verifique para cada lutador terrestre em minuto inesperado.

Aflito, o transviado do País Divino recorre às religiões antigas, mas o culto externo, aparatoso e convencional, dificulta a visão da consciência.

O por isto que o Espiritismo, em sua feição de cristianismo restaurado, provoca os interesses de todos os trabalhadores do pensamento, sequiosos de libertação espiritual. Acorrem todos aos seus estudos, experiências e benefícios.

Urge compreender, todavia, que não se arrebata a luz divina, através dos aparelhos materiais, com que se observam os médiuns humanos, nem se olhe o trigo eterno da verdade, à força de interrogatórios e imposições.

A aquisição de qualquer utilidade terrestre exige pagamento ou compromisso. A obtenção da fé reclama, por sua vez, determinados valores da natureza espiritual. Buscar-lhe o valor positivo, exibindo um coração carregado de forças negativas das convenções terrestres é o mesmo que reclamar água cristalina da fonte, trazendo um cântaro cheio de vinagre e detritos.

Não vale experimentar sem entendimento, responsabilidade, sinceridade e consciência. A fé, ciosa de suas dádivas, não se interessa pelos insensatos, já de si mesmos recomendados à piedade do bem.

É por este motivo que Espiritismo sem edificação do homem interior é simples fenômeno e de fenômenos estão repletos todos os recantos da vida. O por isto que a procura da fé, sem a reforma íntima dos interessados, em Jesus Cristo, costuma representar mera aventura da vaidade humana, impermeável à revelação superior, nas densas trevas dos abismos do “eu”.

Emmanuel

Do Livro “Coletâneas do Além” pelo Espírito Emmanuel – psicografado por Francisco Cândido Xavier


OFERTAS DE AMOR

Mãezinha.
Enquanto o mundo te adorna a presença com legendas sublimes, abrilhantando-te o nome, quis trazer-te a homenagem de meu reconhecimento e de meu carinho, segundo as dimensões de tua bondade, e te rememorei os sacrifícios…
Revi, Mãezinha, as tuas noites longas, junto de mim, quando a febre me atormentava no berço. Anjo transformado em mulher, erguias as mãos para o Céu e o que falavas com Deus me caía no rosto em forma de lágrimas! Tornei a encontrar-te os braços acolhedores, festejando-me o retorno à saúde, com a doçura de teus beijos.
E, vida em fora, o pensamento recuou para lembrar-te…
Com a retina da memória, contemplei-te os lábios pacientes, ensinando-me a pronunciar as preces da infância; e, nesses lábios inesquecíveis, fitei os sorrisos de júbilo, quando me deste os primeiros livros da escola.
Depois, acompanhei-te, passo a passo, o calvário de renúncia em que me levantaste para a vida.
Quantas vezes me abraçaste, trocando bênçãos por aflições, não conseguiria contar…
Quantas vezes se ocultastes no sofrimento para que a alegria não me fugisse, realmente, não sei….
Passou o tempo e, hoje, de alma enternecida, anseio debalde surpreender as palavras com que algo te venha a dizer de meu agradecimento; entretanto, eu que desejaria medir o meu preito de afeto pelo tamanho de teu devotamento, posso apenas calcular a extensão de meu débito para contigo, a repetir que te amo e que em ti possuo o meu tesouro do Céu.
Perdoa, Mãezinha, se nada tenho para dedicar-te, senão as pérolas do meu pranto de gratidão, iluminadas pelas orações que endereço a Deus por tua felicidade. E, se te posso entregar algo mais, deixa que te oferte o meu próprio coração, neste livro de ternura, por dádiva singela de minha confiança e carinho, num ramalhete de amor.

Meimei

Do livro “Mãe” pelo Espírito Meimei – psicografado por Francisco Cândido Xavier