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CARIDADE MORAL

Ary Brasil Marques
A caridade é a mais extraordinária forma de se praticar o amor. É sem dúvida o amor em movimento, em ação positiva na prática do bem.
A mais fácil maneira de se praticar a caridade é o ato de se dar esmolas. Esse costume a maioria das vezes é uma falsa caridade, pois além de estimular os humildes a praticar a mendicância, muitas vezes nada mais é que a compra da consciência do doador. Julga ele que dando algumas moedas aos mendigos estará cumprindo com as suas obrigações para com a lei divina. A melhor maneira de se ajudar alguém é lhes ensinando a pescar e não de lhe dar o peixe.
Há muitas formas da prática da caridade. Servir como voluntário em instituições de caridade, dando uma parte de seu tempo útil no trabalho maravilhoso da participação efetiva no cuidado de crianças, idosos ou doentes, traz para a pessoa uma grande satisfação íntima.
Trabalhar com amor em instituições religiosas, levando orientação ao semelhante e distribuindo lições do Evangelho de Jesus também figura como expressão de caridade e acontece nas mais diversas religiões, cada uma delas dando o máximo dentro dos seus conceitos próprios. Acredito que todos nós, cada um em sua crença, participam da grande caminhada do espírito rumo à perfeição.
A caridade geralmente é associada à doação de algo material e ao desembolso de valores.
Há, porém, um tipo de caridade que não nos custa valores materiais, mas valores morais.
Nessa forma de caridade, precisamos nos doar. Dar atenção a todos os nossos irmãos, sem distinção de raça, cor, religião ou posição social.
Temos que aprender, no trato com os mesmos, a ouvir o que nos falam, a sorrir, a lhes dar um aperto de mão ou um abraço carinhoso e amigo, a olhar olho no olho, e a conversar com todos de igual para igual sem nunca nos colocar em posição de superioridade em relação a eles, e principalmente aprender a tolerar e a perdoar.

Caridade é antes de tudo o amor em ação. Amar a Deus sobre todas as coisas e amar, de verdade, a todos os nossos irmãos, é fazer da caridade em sua expressão maior, a caridade moral.

CAMINHO DA SALVAÇÃO

Ary Brasil Marques
Viver em uma cidade grande como São Paulo nos dá a oportunidade de aprender muitas coisas.
Aprendemos, por exemplo, que há um número muito grande de caminhos para chegarmos a um mesmo local. Caminhos diferentes, vários meios de transporte e também muitos atalhos. Usamos no passado os velhos bondes, hoje temos o metrô, os trólebus e os automóveis.
Na escola fomos informados que a menor distância entre dois pontos é a linha reta. Na cidade grande nem sempre podemos usar esse conceito, embora hoje exista a opção dos helicópteros, que nos permite alcançar o objetivo muito mais rapidamente.
Da mesma forma, o ser humano, como espírito imortal que é, espera alcançar uma vida melhor no futuro. A maioria busca a recompensa no céu, esperando receber no dia de amanhã a paga pelos sofrimentos e pelas boas ações que fez na vida terrena.
Assim como no exemplo dado acima, há muitos caminhos para trilhar, uma gama enorme de opções que nos são apresentadas por centenas de religiões diferentes, por diversas filosofias e pelos caminhos da ciência. Ao analisarmos a quantidade enorme de caminhos, a maioria deles prometendo a salvação, nos lembramos dos regatos, dos rios caudalosos e dos pequenos riachos. Todos esses cursos d´água caminham em direção ao grande oceano, e vão se unindo pelo caminho como afluentes uns dos outros, até finalmente desembocarem no mar, atingindo o seu objetivo final.
Isso quer dizer que todos os caminhos alcançam um dia o seu objetivo, e a meta do ser humano é buscar Deus e a felicidade. Todos chegarão lá, a diferença é apenas o tempo que levam para isso, um tempo muito longo ou um tempo mais breve, havendo uma variedade infinita de maneiras de se chegar a esse objetivo.
Jesus Cristo, o Meigo Rabi da Galileia, nos disse:- “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém irá ao Pai senão por mim”.
Para seguir o caminho traçado por Jesus, há uma grande quantidade de igrejas, todas elas se julgando os detentores da verdade do Mestre, e o curioso é que, ao impor-se como as únicas capazes de salvar, deixam de lado a principal lição do Cristo, que nos ensina o amor incondicional a todas as criaturas.
A Doutrina Espírita também procura seguir Jesus e pretende trazer de volta aos homens a pureza original do Evangelho, sem rituais, sem dogmas, sem sacerdotes, apenas com a aplicação da lei do Amor.
Não traz a Doutrina Espírita promessas de salvação, aplica o respeito e o carinho a todos os seus irmãos de outras crenças, pois sabe que todos os caminhos levam a Deus. Não se diz dona da verdade. Não se proclama como único caminho, e nos ensina que fora do amor e da caridade não encontramos a salvação.
O Espiritismo veio comprovar a assertiva de outras religiões de que a morte não existe, de que somos imortais e todos criados para a perfeição, para a harmonia, para a beleza, objetivo esse que todos nós alcançaremos um dia.
Vamos nos irmanar, todos somos filhos diletos do Senhor da Vida. Não importa nossas diferenças ideológicas, nem a maneira com que cada um busca alcançar a felicidade. Todos chegaremos lá, a diferença está apenas no tempo de chegada. Qualquer que seja nossa opção religiosa, apenas o Amor é o caminho mais curto.

SBC, 15/05/2007.

BRASIL MARAVILHOSO

Ary Brasil Marques
Nossa juventude nos deu ontem alegrias imensas no Pan-americano do Rio de Janeiro.
Ao conquistar duas medalhas de ouro no mesmo dia, Diego Hipólito levou o público ao delírio. Thiago Pereira fez a mesma coisa na natação. As meninas da ginástica, mesmo sem contar com a presença de Diane dos Santos, que se machucou e ficou fora dos jogos, brilharam. Jade Barbosa, ouro, e Danielle Hipólito, bronze, fizeram belíssimas apresentações. Diego Silva, no Tae-kwon-do, alcançou a primeira medalha de ouro do Brasil na competição e vários outros atletas foram muito bem.
Com as medalhas conquistadas ontem o Brasil pulou do décimo lugar para o terceiro, atrás apenas de Cuba e dos Estados Unidos.
Nosso país está tendo excelentes resultados no futebol, no voleibol, no basquete, no handball, no remo e no atletismo, e vai se consolidando como potência no esporte.
Na Europa, a seleção brasileira de vôlei ganhou a Liga Mundial pela quinta vez consecutiva, e uma atleta brasileira ganhou medalha de ouro na Copa do Mundo de atletismo.
Tudo isso veio completar a alegria do brasileiro que viu a nossa desacreditada seleção de futebol ganhar de 3 x 0 da Argentina e totalizar três vitórias nas três últimas decisões disputadas com aquele nosso tradicional adversário.
Acreditamos nos jovens. Eles estão nos mostrando que o trabalho e o entusiasmo podem elevar o nosso país em todos os campos de atividade.
A mesma dedicação e esforço de todos nós, poderá ser aplicada na educação e na reforma moral da sociedade, pode nos dar a alegria de ver o Brasil crescer, livrar-se da corrupção e da violência, e atingir o patamar de uma nação desenvolvida, com oportunidades para todos e sem as imensas desigualdades sociais que temos hoje.
Eduquemos nossos jovens. Plantemos em seus corações a semente do amor e do trabalho. E eles, como estão nos mostrando no esporte, construirão o novo e maravilhoso Brasil de nossos sonhos.

SBC, 18/07/2007.  

BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO

Ary Brasil Marques
Antes de falarmos sobre o tema que nos foi proposto, vamos fazer algumas considerações a respeito de destino. Muita gente imagina que o destino das pessoas e das nações já está determinado pela Providência Divina. Acreditam elas que tudo já está escrito, e os árabes até têm uma palavra para isso: “maktub”.
Essa crença, a nosso ver, é a negação de todo esforço individual de crescimento, bem como invalida completamente o livre arbítrio, passando a pessoa a ser quase que um robô, um autômato, um teleguiado.
O único destino que realmente existe, e esse é irrevogável, é o destino de todos os seres humanos de alcançar, um dia, após passarem pela fieira de reencarnações e atingirem, pela lei de evolução, o estágio de perfeição, a plenitude, a felicidade plena, o nirvana dos budistas ou o céu das religiões cristãs. Ninguém escapa desse destino. A diferença entre cada um de nós a respeito do assunto é apenas o tempo que levamos para atingir tal objetivo. Uns, mais aplicados, chegam mais depressa. Todos, porém, absolutamente todos, chegarão lá um dia.
Outra questão que merece ser abordada é o fato de que algumas pessoas julgam que Deus dá privilégios para pessoas ou povos, chegando muitos a afirmar, com uma grande dose de ufanismo, que Deus é brasileiro. Deus é brasileiro sim, mas é também argentino, russo, americano, africano, asiático, alemão, japonês, hindu, chinês, português, francês, inglês, australiano e tudo o mais que existe.
Existe na realidade um planejamento global para o ser humano. Linhas gerais foram estabelecidas, e um determinismo global, cujo planejamento não temos condição, pela nossa pequenez, de modificar. Dentro desse planejamento, o homem recebe liberdade para agir e para evoluir por suas próprias forças.
Podemos nos situar dentro de um gigantesco túnel, muito largo e alto, enorme, extenso. É como se fosse um enorme caixão, cobrindo uma área tão grande que não conseguimos imaginar o seu tamanho. Dentro desse imenso túnel, dessa caixa enorme, o homem se movimenta, e tem liberdade de andar para frente, para trás, para os lados, dar cambalhotas, ficar de pernas para o ar, fazer o que quiser. Ele sabe, pela lei divina que tem esculpida em sua consciência, que sua liberdade é relativa, e que ela não deve atingir nem prejudicar o seu semelhante que caminha a seu lado no gigantesco túnel. Porém, mesmo sabendo disso, o homem, mercê de seu egoísmo, utiliza a liberdade que tem muitas vezes de maneira errada, prejudicando o semelhante, o que ocasiona o acionamento da lei de causa e efeito que acaba por lhe trazer sofrimentos e dificuldades. E o homem permanecerá avançando nesse túnel até atingir o máximo nos dois planos principais de sua evolução, no campo do conhecimento e no campo do sentimento. Quando chegar a esse estágio, terá alcançado a perfeição relativa (pois a perfeição absoluta é propriedade apenas de nosso Pai Celestial).
Pelo planejamento global, foram fixadas áreas em nosso planeta com fins específicos na evolução. Alguns pontos da Terra, por sua localização, pelo seu clima, pela natureza dos espíritos ali encarnados e no sentido de ter polos de irradiação e de orientação para os outros povos, receberam incumbências diversas. Assim é que se determinou para o povo judeu, por estar na frente pela crença do Deus único, recebeu a incumbência de nos trazer a primeira revelação.  Da mesma forma o nascimento de Jesus foi planejado para a pequena Nazaré.
A França, berço da cultura de uma época, ficou incumbida de trazer para o Mundo o farol de luz gigantesco que é o Espiritismo. Ao mesmo tempo, a França abrigou correntes materialistas, e o homem, usando da liberdade que o Pai lhe concedeu, acabou por enfraquecer essa luz tão necessária à evolução do homem terreno.
O mundo expandia suas fronteiras. Coube a Portugal descobrir uma nova terra, dadivosa e boa, onde a Natureza, exuberante, ainda virgem, era um lugar ideal para o plantio da árvore do Evangelho e sua frutificação. Do Plano Espiritual irradiavam luzes de profunda espiritualidade atingindo o novo mundo.
Um espírito, Hilel, que fora contemporâneo e conterrâneo de Jesus, sábio e mestre em Israel e que chegara a ser inclusive presidente do Sinédrio e que naquela época ensinava a universal confraternização humana, juntamente com um grupo de espíritos altamente elevados, escolheu o Brasil para abrigar um movimento imenso, que deveria atingir a humanidade inteira, aproveitando as bases luminosas da Doutrina codificada por Allan Kardec, e a força extraordinária do Evangelho de Jesus Cristo, para dar continuidade ao trabalho iniciado na França e que se deixara sufocar pelo materialismo.
O Brasil tinha todas as condições de ser o coração do mundo, a pátria do Evangelho. Além de ser um país onde não existem grandes cataclismos naturais, nem vulcões, ainda possui um povo ordeiro, trabalhador, pacífico, e certamente, caso haja boa vontade e trabalho por parte daqueles que receberam a dádiva de conhecer a Doutrina Espírita, poderá se tornar um polo de irradiação do amor que cobrirá, um dia, a humanidade inteira.
Humberto de Campos, pela abençoada mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos relata com detalhes a luminosa reunião ocorrida no Plano Espiritual, quando o próprio Mestre Jesus incumbe a Helil a missão gloriosa de transplantar para o recanto planetário de doces encantos a árvore do Evangelho de piedade e de amor. Disse o Mestre: “aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!”
Encontramos no livro de Humberto de Campos uma passagem muito importante. Diz-nos o autor espiritual que certo dia, preparava-se, numa das esferas superiores do Plano Maior, o encontro de Jesus com Ismael, um dos elevados mensageiros. Uma alegria paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro.
Complacente sorriso lhe bailava nos lábios angélicos e suas mãos liriais empunhavam largo estandarte branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciando naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de concórdia.
Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura:         
“Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.”
Monte Pascoal, 22 de abril de 1500. Manhã de quarta-feira. Os integrantes da frota de Cabral avistam bandos de aves, e à tarde do mesmo dia, terra era avistada: surgira ao longe um monte, que foi chamado de “Monte Pascoal”. Pedro Álvares Cabral deu à nova terra o nome de “Vera Cruz”. Chegando as naus à praia, acercaram-se índios nus, que portavam arcos e flechas, não denotando, todavia, hostilidade. Navegando ao longo da costa, uma vez que a praia não possuía ancoradouros, a esquadra encontrou uma enseada a que foi dado o nome de Porto Seguro (hoje Cabrália), local de águas tranquilas. A ancoragem se deu no sábado, dia 25 de abril. A nova terra posteriormente recebeu o nome de Terra de Santa Cruz, e finalmente de Brasil. Nascia assim para o mundo, há quase 500 anos, o maravilhoso país que será, no futuro, tão mais próximo quanto maior for o nosso esforço, o coração do mundo e a Pátria do Evangelho.
Muitos Espíritos de escol reencarnaram na Pátria do Cruzeiro. Entre outros citarei apenas dois, que são sem dúvida pertencentes ao elevado número de Espíritos de alta evolução e que participaram como verdadeiros desbravadores, e plantaram a semente do amor em milhares de criaturas.
Adolfo Bezerra de Menezes, o médico dos pobres, que com seu trabalho fecundo e humilde tem levado a diversas gerações o germe do amor ao coração dos mais infelizes, socorrendo os necessitados e iluminando os caminhos de todos nós. Seu trabalho na Terra já foi totalmente concluído, mas o bom amigo preferiu ficar entre nós, ajudando seus irmãos do globo terreno, a subir para escalas maiores no caminho da evolução. Seu pedido de aqui continuar teve a aprovação de nossa querida mãe Maria e de Celina, Espírito de elevada hierarquia.
Francisco Cândido Xavier nasceu também no mês de abril, assim como o Brasil. Seu trabalho missionário se desenvolve há mais de 70 anos, trazendo com sua mediunidade luminosa um número impressionante de livros, mensagens, comunicações, ensinamentos, e principalmente, exemplos de humildade e de trabalho, mostrando-nos que podemos, se trabalharmos bem e com vontade, transformar o quadro atual de pessimismo existente em nosso país, naquele novo mundo, lindo, fraterno, a irradiar amor e Evangelho para a humanidade toda.
Jesus, o diretor espiritual de nosso Planeta, está conosco. Ele espera muito de nós. Ele confia no Brasil e nos brasileiros. Não há razão para que nós não confiemos em nós próprios. Lembremo-nos de que somos luz, que temos a bendita oportunidade de viver em um país livre, onde, como dizia Pero Vaz Caminha, “em se plantando, tudo dá.”
Um velho carpinteiro estava para se aposentar. Contou a seu chefe os planos de largar o serviço de carpintaria e de construção de casas para viver uma vida mais calma com sua família. Claro que sentiria falta do pagamento mensal, mas necessitava da aposentadoria.
O dono da empresa sentiu em saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse uma última casa como um favor especial.
O carpinteiro consentiu, mas, com o tempo, era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e utilizou mão de obra e matérias primas de qualidade inferior.
Foi uma maneira lamentável de encerrar sua carreira.
Quando o carpinteiro terminou o trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da porta ao carpinteiro:
“Esta é a sua casa”, ele disse, “meu presente para você.”
Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado. Agora iria morar numa casa feita de qualquer maneira. Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de maneira distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor. Nos assuntos importantes não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque, olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente. Pense em você como o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo, coloca uma armação ou levanta uma parede. Construa sabiamente. É a única vida que você construirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, esse dia merece ser vivido graciosamente e com dignidade. Na placa na parede está escrito:
“A vida é um projeto de faça você mesmo.”
       
Quem poderia dizer isso mais claramente?
Sua vida de hoje é o resultado de suas atitudes e escolhas feitas no passado.
Sua vida de amanhã será o resultado das atitudes e escolhas que fizer hoje.”
A construção do Brasil do futuro depende de nós. Um dia seremos chamados a prestar contas do tempo que nos foi confiado, a prestar contas da missão que aceitamos de levar ao nosso planeta os frutos da frondosa árvore do Evangelho plantada pelo Mestre Jesus em nossa terra. Todos somos responsáveis por essa missão. Façamos o melhor possível, a partir de agora, para que possamos ter, no Terceiro Milênio que se aproxima, um mundo melhor, liderado pela grande nação brasileira e alicerçado no amor.
Para isso, temos que lutar com todas as nossas forças contra o modelo injusto de vida que implantamos, baseado no egoísmo e na permanência do homem no estágio das sensações, e buscarmos alcançar um novo estágio em nossas vidas, o estágio do sentimento.
No livro “Pensamento e Vida”, Emmanuel nos esclarece:
 “Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria. Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.”

Companheiros queridos, somos os construtores de nosso futuro. Festejemos os 500 anos do Brasil nos esforçando, cada um, a dar o melhor de si para que a missão gloriosa do Brasil se concretize, evitando assim que o Plano Espiritual incumba a outros a realização daquilo que é parte integrante do planejamento global e que tem que ser feito, por nós ou por outro povo qualquer que faça aquilo que não fizemos.

BRASIL 2307

Ary Brasil Marques
Adamastor estava completando 103 anos de idade, mas continuava em plena forma. Fora contemplado com um dos milagres da ciência, que a partir do ano 2200 conseguiu vencer o problema da velhice. Sua aparência e condição física eram de um jovem de 40 anos. Estávamos no ano de 2307.
Adamastor era apaixonado pela cidade de São Paulo. Gostava de apreciar as belas avenidas e parques de sua Sampa, com suas flores e belos jardins. Amava ver os modernos edifícios belos e funcionais. Orgulhava-se de não existir mais em sua cidade nem vestígios das antigas favelas e cortiços.
O Brasil se tornara o país mais adiantado do mundo, e exportava tecnologia avançada para os seus coirmãos. Todos os povos do planeta gozavam de muito progresso e de paz. A guerra entre os povos na Terra era coisa do passado.
As ruas da cidade, outrora cheias de automóveis e de outros veículos, hoje eram totalmente livres. O transporte agora era feito de maneira muito rápida, instantânea. Quem quisesse, por exemplo, ir para a praia de Copacabana no Rio de Janeiro, bastava se concentrar por alguns instantes. No mesmo instante a pessoa se desmaterializava e se materializava no local de seu destino.
Coisa de louco.
Adamastor gostava de assistir televisão. A televisão, agora com imagem perfeita e sem interferência, podia ser assistida em qualquer lugar sem necessidade de aparelhos receptores. Bastava uma tela branca, ou mesmo uma parede, onde o interessado, depois de sintonizar o seu pensamento com o programa que queria assistir, plasmava a imagem nessa tela.
Um luxo.
Aquele dia era um dia especial. Seu time, o São Paulo, iria receber no Morumbi a equipe do Atlas, de Júpiter. Os dois times chegaram à final do Primeiro Campeonato da Galáxia, e o vencedor da partida seria o campeão.
O Estádio do Morumbi fora totalmente reconstruído e era agora o mais moderno do planeta. Tinha uma imensa cúpula de vidro que o cobria por inteiro, e nem a chuva nem o vento interferiam no público e nos jogadores. Possuía 100.000 cabines individuais, numeradas, todas com muito conforto e visão do gramado.
Adamastor já tinha o seu ingresso. Por certo às 16 horas, no ponta pé inicial, estaria lá. Faria o seu tele transporte cinco minutos antes, pois não gostava de esperar.
Na hora certa, Adamastor estava em sua cabine, vestido com o uniforme de seu clube favorito.
O jogo foi muito difícil. Os dois times possuíam as melhores defesas da Galáxia, e por melhores que fossem os ataques o gol não saia. Os dois goleiros, excelentes, praticaram defesas maravilhosas, e o público viu talvez, mesmo sem a alegria do gol, a melhor partida dos últimos tempos.
Faltavam cinco minutos para o final. O São Paulo atacava com seu grande atleta Pelé oitavo. Na entrada da área, Pelé oitavo foi derrubado. Falta.
Roberto Ceni, goleiro do São Paulo e descendente de uma família de goleiros artilheiros, se prontificou a bater a falta. Feita a barreira, compacta, Roberto Ceni caminhou firme para a bola e chutou. Foi um pombo sem asa. Certeiro. No canto. No local onde a coruja faz seu ninho.
Gol! Gol do São Paulo! A multidão delirava. Poucos minutos depois o jogo terminava. São Paulo, Campeão da Galáxia! Milhares de pessoas, de pé, agitando bandeiras, gritavam o nome do novo campeão de toda a nossa galáxia.
Nesse instante, Adamastor acordou.

SBC, 07/11/2007.   

BARRIGA DE ALUGUEL

Ary Brasil Marques
O homem recebeu de Deus a inteligência. Com ela, ele consegue superar as dificuldades do caminho e participar, como co-criador, da grande obra da criação.
A ciência é o caminho por onde o ser humano promove o progresso e utiliza de recursos para vencer suas limitações.
Dentre as inúmeras maneiras de conquistar vitórias no combate a doenças e aos males da existência, o homem moderno faz transfusões de sangue, transplante de órgãos e utiliza de meios para evitar a concepção ou para permitir que pessoas que tenham limitações de natureza física possam ter filhos.
A semana passada, em Recife, uma mulher que tinha problemas em seu útero que desejava ardentemente ser mãe, conseguiu esse intento por via indireta. Sua mãe se propôs a ajudá-la, e serviu como o que é popularmente chamado de barriga de aluguel.
A avó, por meio da inseminação artificial in vitro, deu à luz a duas crianças gêmeas. Foi mãe e avó ao mesmo tempo.
Pela TV, pudemos acompanhar a imensa felicidade de todas as duas, mãe e filha, alcançando, mesmo com as limitações de uma delas, a suprema alegria da maternidade.
Em momentos como esses, podemos constatar a bondade infinita de Deus, ao dar ao homem os recursos de inteligência capazes de resultados tão maravilhosos com sua aplicação.
Lamentamos apenas que algumas religiões, em nome de um fanatismo injustificado, não permitem que seus seguidores sejam beneficiados pelas conquistas da ciência.
Temos visto pessoas recusarem transfusões de sangue ou mesmo transplante de órgãos, achando que tais procedimentos são contrários à lei divina.
Preferem, muitas vezes, colocar entes queridos em perigo de vida, a aceitarem o uso desses recursos.
Colocam fanaticamente a fé na frente de tudo, acreditando que com ela conseguem resolver os problemas causados por essa postura. Acreditamos que a fé tem que ser, antes de tudo, racional. A utilização dos recursos proporcionados pelo Pai Celestial é a maneira correta de se ter fé.
O episódio de Recife nos mostra que somos filhos de Deus, inteligentes e capazes de dar a nossa colaboração no maravilhoso processo de trazer para a vida terrena, espíritos que anseiam por uma oportunidade de reencarnação.

SBC, 01/10/2007.  

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Ary Brasil Marques
A mulher estava amedrontada. Estava sem saída. Perseguida pelas ruelas da cidade, sua fisionomia mostrava muita tensão e um grande pavor. Fora surpreendida em flagrante adultério, e sabia que era costume em seu povo apedrejar as mulheres adúlteras até a morte.
Não queria morrer. Era jovem ainda e tinha muitos planos para o futuro. Não se considerava uma pecadora. Deixou-se levar pelo envolvimento com um homem. Não o fizera por lascívia nem por falta de pudor. Aconteceu. E agora estava na iminência de morrer apedrejada.
Os seus perseguidores eram cruéis. Bradavam impropérios e a ameaçavam. Ofendiam-na com palavrões indecorosos. Para eles, a única forma de fazer justiça a uma mulher adúltera era a violência e a morte.
De repente, avistou Jesus. O Mestre estava de cabeça baixa, escrevendo qualquer coisa com uma vareta na areia da praia. Encheu-se de esperança. Havia uma saída para ela. Aquele homem bom e justo, que transparecia bondade por todos os poros, certamente a salvaria.
A turba se aproximou. Gritos histéricos, ameaças, alguns já com pedras nas mãos, esperando o momento de punir exemplarmente aquela mulher pecadora e imunda.
O Mestre levantou levemente os olhos. Fixou nos presentes um olhar repleto de paz e de mansuetude. Depois disse:- “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra.”
E continuou escrevendo na areia, calmamente. Os homens que perseguiam a mulher pararam. Murmuraram entre si. Um deixou para o outro, o outro para o seguinte.
Começaram a imaginar, estarei eu em condições de atirar a primeira pedra? Como, se a minha consciência me acusa? Quantas mentiras, quantas falsidades, quantas calúnias, quantos estupros, quanto egoísmo, quanta corrupção! Deixa o meu colega do lado iniciar a lapidação.
O colega também não conseguiu fazer isso. Também ele estava repleto de pecados em seu caminho. Passo a minha vez, disse ele.
Sucessivamente, todos os acusadores foram soltando as pedras que traziam nas mãos e foram se afastando.
A mulher ficou sozinha na frente de Jesus. Acontecera um milagre. Aquele homem, sem necessidade de dizer mais nada, sem precisar altear a voz, envolveu a turba violenta com sua imensa superioridade moral, e ninguém ousou ser o seu carrasco.
Jesus levantou os olhos e falou:- “Onde estão os teus perseguidores? Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais.”
Que lição maravilhosa! Lição que serve para todos nós, nos dias atuais.
Quem de nós está isento do pecado? Qual de nós tem capacidade de julgar e de condenar o nosso semelhante?
Todos somos aprendizes em nossa vida. Os erros que cometemos voltam para nós movidos pela lei de causa e efeito, trazendo-nos muitas vezes sofrimento e dor. A lei divina, perfeita, não admite privilégios nem impunidade. Todos terão que pagar por aquilo que fizeram.
Não somos juízes. Não temos o gabarito moral para lançar pedras em nosso semelhante.
Não podemos atirar a primeira pedra.

SBC, 29/06/2007.

AS VÁRIAS FACES DA VERDADE

Ary Brasil Marques
Quem olhar um dado que tenha uma cor diferente em cada um de seus lados, terá uma visão limitada de acordo com sua posição. O dado possui 6 lados, e um deles fica oculto por estar virado para o solo. Os outros lados são vistos pela posição de quem olha. Assim, por exemplo, cinco pessoas terão visão diferente. Para um deles, o dado será vermelho. Azul para outro, branco para um terceiro, amarelo para um quarto observador e ainda marrom para um quinto. Sem contar que a face virada para o chão, que pode ser de cor cinza. Todos os observadores, do ponto de vista em que se colocam, vêm a verdade. Cada pessoa vê a sua verdade, e é correto em dizer que o cubo tem a cor que está vendo, e isso não é mentira.
A verdade é assim. Ninguém a possui em sua totalidade, apenas Deus tem a verdade na sua plenitude.
Verdade é como se Deus pegasse um imenso tapete de várias cores e de desenhos diversos, recortasse esse tapete em milhares de pequenos pedaços e os jogasse aos homens, aleatoriamente. Os seres humanos pegam os pedaços que lhes são lançados, da mesma maneira como o fariam com milhares de moedas caídas do céu. Alguns conseguem alcançar uma só moeda, outros duas, uns poucos três, quatro ou mais. Mesmo aqueles que conseguiram pegar muitas moedas só possuem uma parcela de verdade ligeiramente maior do que os que pegaram menos.
Para ter a posse da verdade total precisaria o homem pegar todos os pedaços, que são diferentes uns dos outros, inclusive na cor e nos desenhos e dizeres, e depois juntar um por um formando uma imagem gigantesca como o faz quando monta um quebra-cabeças.
Essa verdade total será alcançada pelo espírito, ao final de seus vários cursos representados pelas suas múltiplas reencarnações na Terra e nas incontáveis moradas de nosso Pai espalhadas pelo Universo.
Assim, ciência alguma, religião alguma, filosofia alguma, têm a posse da verdade. Possuem, no máximo, alguns pedacinhos a mais do que seus irmãos menos esclarecidos.
Por mais evoluído que seja o grupo religioso ao qual cada um pertença, jamais alguém pode se jactar de possuir todo o conhecimento do mundo. Cada um vive com a parcela de verdade que foi dada em razão de sua condição evolutiva no momento. Assim, cada um está correto em sua verdade.
Para ele, é a verdade agora.
Embora a Doutrina Espírita nos traga conhecimentos maravilhosos que ampliam o nosso horizonte, não podemos nos julgar superiores aos irmãos que professam outras doutrinas, pois tanto eles como nós somos aprendizes da verdade, cada um frequentando a classe que lhe é própria e todos recebendo de nosso Pai Celestial a quantidade exata de pedacinhos da verdade de que necessitamos no momento.

SBC, 07/07/2007.

AS TRÊS FASES DO ESPIRITISMO

Ary Brasil Marques
Tudo na vida gira em torno do número três. Analisando aquilo que nos cerca, percebemos que o número três exerce uma influência muito grande em nossa vida.
O homem tem três grandes fases em sua existência: criança, fase adulta e velhice. As religiões estão repletas de assuntos trinos. Para muitas delas Deus é trino: Pai, Filho e Espírito Santo.
A mitologia nos mostra diversos deuses e heróis de natureza trina, bem como encontramos nos registros da história muitos outros exemplos disso.
Analisaremos hoje a Doutrina Espírita, considerando sua existência e influência em nossas vidas de três fases distintas, todas elas muito importantes, cada uma à sua vez.
Vamos chamar a primeira fase de chamamento.
É a fase que os espíritos vieram até nós para proclamar a imortalidade da alma. Com sua presença, eles nos trouxeram a certeza da sobrevivência, a prova cabal de que somos espíritos imortais, que a morte é apenas uma passagem de um plano a outro e ainda que os espíritos podem se comunicar conosco.
Eles vieram. De todo lado. Em todos os países.
Vieram e proclamaram bem alto: – “Estamos vivos! A morte não existe. Somos todos imortais!”
         
Nossos amigos, nossos antepassados, nossos entes queridos, todos aqueles que já passaram   o Portal da Vida e que agora se encontram no Plano Espiritual, estão tão vivos quanto nós, e o que é mais importante, eles podem se comunicar conosco. A fronteira invisível que separa os dois mundos   foi finalmente aberta, comprovando de maneira cabal e absoluta aquilo que as religiões já suspeitavam e que nos era ensinado de maneira tímida por elas: existe vida além da morte, somos imortais.
E os casos de chamamento foram se sucedendo. Muitas pessoas queridas, que julgávamos estarem mortos, vieram até nós e deram o seu testemunho, abrindo para todos as cortinas de um novo mundo, mundo de vida, mundo lindo, pleno de progresso e realizações. Que coisa boa é poder se comunicar com o ente querido, matar as nossas saudades, trocar impressões de amor e de carinho e, o que é mais confortador é a certeza de que todos nós um dia estaremos juntos na caminhada ascendente que fazemos em direção à felicidade, à plenitude, à Deus.
A maioria das famílias recebeu a prova por meio de um parente, de um amigo, de alguém querido.
Comunicações de chamamento aconteceram em vários lugares.
        
Minha família também recebeu o seu chamamento. Meu avô materno, João Noronha Maciel, que não cheguei a conhecer, se comunicou em Centro Espírita de São Paulo, doando seu carinho e sua foto desenhada na hora por médium desconhecido, à minha tia Maria de Lourdes Moreira e à minha avó Umbelina Serra Maciel, ambas comparecendo pela primeira vez ao local e onde não conheciam nem uma só pessoa. Essas minhas duas queridas parentes haviam chegado à Capital Paulista recentemente, e antes moravam em pequena cidade de Minas Gerais, Guaranésia, e haviam ido ao referido centro espírita em busca de um passe para aliviar os problemas de saúde de minha avó. Tia Lourdes tinha verdadeiro pavor de Espiritismo, e só acedeu em levar sua mãe diante dos rogos desta e por amor filial.
Ela não conhecia ninguém ali. Tinha tomado conhecimento da existência daquele centro durante a tarde que ela fizera compras no centro da cidade, e foi despertada pelo cartaz que anunciava reunião de passes aquela mesma noite. Como vovó Umbelina pedia insistentemente para irem a algum Centro Espírita tomar passe, como ela estava acostumada quando morava conosco em Alfenas, e como os passes lhe faziam muito bem, Tia Lourdes acabou por concordar em levá-la.
No centro mencionado, havia um salão grande. Na frente, uma grande mesa, com cadeiras em toda a volta. Depois uma plateia de cadeiras até o fundo, em duas fileiras.
Na mesa, as pessoas participantes da reunião mediúnica. Um presidente e vários médiuns rodeavam a mesa. Na plateia, os visitantes, os interessados na reunião, os assistidos e os curiosos.
Tia Lourdes e Vovó Umbelina se postaram na última fileira, bem atrás. Esperavam pacientemente a sua vez para tomarem o passe.
De súbito, um médium é incorporado. Ele pega de um lápis e de uma folha de papel e desenha com rapidez. Em seguida, diz ao Presidente que o retrato que acabara de desenhar era para ser entregue à sua filha, que se encontrava no recinto, para fortalecer a sua fé. O presidente solicita do espírito o nome de sua filha, que ele disse se chamar Maria de Lourdes. Alteando a voz e se dirigindo à assistência, chamou por Dona Maria de Lourdes.
Minha tia tremia de medo, na última fila. A princípio, julgou que o chamamento era dirigido a outra pessoa, e ficou bem quietinha. Como ninguém se manifestasse, o Presidente se dirigiu ao espírito que estava incorporado e o informou que não havia ninguém com o nome de Maria de Lourdes entre os assistentes. O espírito insistiu, dizendo: – “Minha filha se chama Maria de Lourdes Moreira e está sentada na última fila.” Chamada de novo com energia, minha tia se levantou trêmula, cheia de pavor, e foi até à mesa principal. Lá ela recebeu de presente uma fotografia feita à mão, com uma dedicatória que dizia:
– “À minha filha Lourdes, para que tenhas mais fé. Teu pai.”
A fotografia feita pelo espírito é idêntica em todos os seus traços principais a uma outra fotografia de meu avô, existente lá em casa.
Esse fato marcante foi o chamamento para todos nós. Graças àquele momento extraordinário é que estou hoje aqui, falando para vocês. Graças também àquele momento inesquecível, pude tomar conhecimento de um caminho luminoso, imenso farol de luz a iluminar minha vida e a vida das pessoas queridas com quem convivo.
De fato, o Espiritismo é isso; Ele nos dá a certeza da imortalidade, nos mostra a justiça extraordinária de nosso Criador, com a criação de um instrumento automático que nos impulsiona para a frente e para o Alto que é a Lei de Ação ou Reação (ou Causa e Efeito); nos descortina a beleza da pluralidade dos mundos e da pluralidade das vidas sucessivas; nos traz a possibilidade da comunicação entre os espíritos de lá e de cá; nos ensina de que todos alcançaremos a perfeição pela lei de evolução, e que somos nós os artífices de nosso futuro; nos  coloca diante de um Deus infinitamente bom e justo, que jamais castiga, fazendo com que possamos encarar a vida com alegria e encarar os problemas e situações da existência como etapas de aprendizagem, passageiras, e que é realmente um caminho suave e feliz de nossa trajetória como centelhas de luz, filhos diletos do Senhor da Vida, todos destinados a um radioso porvir.
A segunda fase do Espiritismo vamos denominar de aprendizagem.
Nessa fase as pessoas buscam o exercício da mediunidade, a procura dos fenômenos, o conhecimento de nossas origens e do nosso destino, o estudo, as práticas doutrinárias.
Kardec nos ensina que há três classes de espíritas: a dos espíritas experimentadores, a dos espíritas imperfeitose a dos espíritas cristãos, ou verdadeiros espíritas.
Durante a aprendizagem, as pessoas buscam o Espiritismo quase sempre para se beneficiar. Buscam consolos, buscam orientações para si ou para pessoas amigas, buscam o bem estar próprio, muitas vezes buscam soluções para seus problemas (alguns chegam ao cúmulo de querer que os espíritos resolvam com um passe de mágica os seus problemas materiais, esquecendo-se por completo que a própria Doutrina nos ensina de que nós colhemos o que plantamos e que os problemas por que passamos são inerentes ao nosso processo evolutivo).
Alguns se tornam fanáticos. E não existe fanatismo mais prejudicial do que o fanatismo daqueles que se julgam os donos exclusivos da verdade. O fanatismo religioso é extremamente prejudicial, e o fanatismo de espíritas então é uma coisa insuportável.
Na fase de aprendizagem muitas vezes se faz o bem. Mas ainda não se faz o bem pelo bem, sem qualquer condição. O amor incondicional ainda está distante.
A terceira e última fase do Espiritismo é a cristianização.  É o momento supremo para todos nós.
Chegou nossa Estrada de Damasco. Ficamos conhecendo verdadeiramente o Cristo, e nossa vida passa a ser totalmente diferente.
Um dos ensinamentos mais importantes da Codificação é aquele que nos diz que o espírito, em sua trajetória evolutiva, passa por três fases distintas: a fase do instinto, a fase das sensações e a fase dos sentimentos.
Na fase dos instintos, o espírito ainda é rudimentar. Tudo ele faz obedecendo apenas aos seus instintos. Ele se alimenta, se acasala, se protege contra as intempéries, se defende, tudo pelo instinto.
Na fase de sensações, o homem se compraz no uso de seus sentidos. É a fase do paladar, do olfato, do tato, das sensações físicas, do prazer, do gozo.
O homem nessa fase adora as coisas materiais, a posse, os prazeres da carne, as conquistas, o poder, o luxo, os bens terrenos, as alegrias dos bacanais e das festas esplendorosas. É o típico homem moderno, com suas conquistas tecnológicas maravilhosas, com sua riqueza.
Ele a tudo quer conquistar. Não lhe importa se essa conquista seja a custo de passar por cima de seu semelhante, de destruir, de matar.
Quando encontra Jesus, tudo muda. Os valores passam a ser os valores espirituais. O sentimento do amor aflora e cresce no coração do homem.
Alicerçado nas lindas verdades trazidas pelo Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, o espírita tende a encontrar na terceira fase, a fase da cristianização, a Lei maior que regula a vida no Universo, a Lei do Amor.
O amor modifica completamente a nossa existência. Não há mais egoísmo. Nossa presença no centro espírita já não tem a finalidade apenas de nos sentirmos bem, de nos cuidar de nós e de nossos familiares; agora é mais importante o nosso semelhante. Passamos a cultivar o amor a todos, indistintamente.
É Jesus que está chegando. Ele está nos proporcionando forças para que façamos nossa reforma íntima, na luta que temos para vencer nossas imperfeições, nossas limitações, nossas fraquezas.
Muito mais do que isso, Jesus está nos colocando no rol dos espíritas cristãos, ou seja, no rol dos verdadeiros espíritas segundo a conceituação de nosso insigne codificador, e abrindo nosso coração para a prática do amor ao próximo, para a preparação de nossa querida Terra para galgar mais uma etapa evolutiva em sua trajetória, alcançando um dia pelo esforço dos verdadeiros espíritas a condição de planeta de regeneração.
É a fase do amor. É a fase da alegria verdadeira. É a fase da natureza plena, do verde de novo em nosso ambiente, da luz. É o fim da violência, da droga, da aids. É o momento da implantação do reino de Deus em nosso planeta.
Jesus está nascendo para nós. Hoje. Agora. Amemos e sejamos felizes. Que o Mestre de Amor nos abençoe.

15/10/96

AS TEMPESTADES SÃO NECESSÁRIAS

Ary Brasil Marques
O ser humano gosta de ter uma vida tranquila, sem problemas e sem as dificuldades do caminho.
Na realidade, essa situação é muito rara na vida de todos os habitantes do planeta. Existem períodos de calmaria e momentos de grande alegria e felicidade.
Muitas vezes essa situação pode durar meses e anos, mas, assim como acontece com o clima, quando menos esperamos costuma vir as tempestades.
A chuva cai intensamente. Raios cruzam os céus, acompanhados de trovões e assustadores relâmpagos. As pessoas procuram um abrigo seguro, e temem pelas consequências. Enchentes, inundações, perda de bens preciosos, correria, sofrimento. Prejuízos materiais e em certos casos, prejuízos totais.
De súbito, o silêncio. A chuva passa. Tudo volta serenamente a seus lugares. Uma sensação de paz enche o coração das pessoas atingidas, que se enchem de coragem e estão prontas para reconstruir, para recomeçar.
Deus, na sua sabedoria infinita, nos dá no momento certo tudo aquilo que precisamos para retemperar nossa energia e para nos dar forças e coragem para o completo aprendizado de cada um. Para aprender a viver, ter forças e membros capazes de suportar as intempéries, todos recebem a oportunidade de colocar em prática aquilo que aprenderam.
Cada espécie de seres vivos é submetida aos embates e às dificuldades, para que se adestrem e sejam fortes e aprendam a vencer.
Acredito que isso acontece como em uma partida de futebol. Para que os jogadores adquiram condições físicas e técnicas para participar dos jogos oficiais, eles passam por duros e exaustivos treinamentos. Passam por momentos difíceis. Só entram em campo para jogar aqueles que estão devidamente preparados. Os que foram mais exigidos, treinaram com mais vontade e se submeteram a momentos de cansaço e de dor, certamente estarão mais aptos para a peleja.
O jogo da vida é a mesma coisa. Deus é nosso pai e é também o nosso treinador. Para alcançarmos a condição de firmeza, de equilíbrio e de espírito evoluído, temos que passar pela prova, pelo momento difícil, pela tempestade.
Como nos diz Emmanuel, no livro Vinha de Luz, é necessário que o homem, apesar das rajadas aparentemente destruidoras do destino, se conserve de pé, desassombradamente, marchando, firme, ao encontro dos sagrados objetivos da vida.
As tempestades são alavancas que nos impulsionam para a frente e para o alto.

SBC, 13/09/2007.