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O PODER DA FÉ E SUA IMPORTÂNCIA EM NOSSOS DIAS

Ary Brasil Marques
O homem sempre teve na fé a força de sustentação para sua vida. Desde os primeiros tempos, o ser humano buscou acreditar em alguma coisa. No princípio, acreditou em vários deuses, pois sempre teve a ideia inata de que havia algo mais do que a vida terrena, e que a vida não poderia findar no túmulo.
O que é fé? Buscando no dicionário, encontramos a definição de fé como crença, convicção, crédito na existência de um fato.
Fé no entanto, é mais do que isso. A palavra fé deriva do latim fides, que significa fidelidade. Para entendermos a extensão da palavra fidelidade, daremos um exemplo: Há alguns anos, com o progresso tecnológico, surgiu no mercado fonográfico um aparelho de som excelente, que deixou para trás a época nostálgica dos gramofones e das primeiras vitrolas. Esse aparelho, pela excelência de seu som, foi denominado de HiFi, ou seja High Fidelity, que significa Alta Fidelidade. Era um aparelho que reproduzia o som com alta fidelidade, eliminando os ruídos e interferências que haviam até então nos velhos discos. O som era fiel em toda a sua plenitude, garantindo aos ouvintes a sensação de ouvir uma música como se estivesse em frente à orquestra que a tocava. Fidelidade é, pois, isso. Não basta ao homem acreditar em Deus, acreditar em Jesus. É preciso mais, é preciso ter fé, ser fiel a Deus e ao Mestre, prestar-lhes inteira e integral fidelidade.
A fé garante à criatura a fidelidade ao Criador. E garante ainda a certeza de que o homem é centelha divina, filho dileto de Deus e sua emanação. O homem é luz, é parte integrante da Criação, é filho de Deus. Até os motoristas de caminhão já descobriram essa verdade, e temos visto nos para-choques dos veículos a seguinte frase: “Não sou o dono de tudo que existe, mas sou o filho do dono”.
A fé tem um grande poder. Não é só o de acreditar em alguma coisa. Não é apenas capaz de dar ao homem segurança pela certeza da imortalidade. Não apenas acaba com o medo da morte, pois traz a todos a certeza de vida, de um futuro, de que um dia alcançaremos a felicidade que tanto almejamos, mas também e principalmente transforma o ser humano em dínamo poderoso gerador de energias, fiel e mensageiro do Senhor da Vida. Para o homem que tem fé, nada é impossível.
Vejamos o que Jesus nos fala à respeito do poder da fé:
“Quando veio até o povo, um homem se aproximou dele, lançou-se lhe de joelhos aos pés, e lhe disse: Senhor, tem piedade de meu filho, que está lunático e sofre muito, porque ele cai frequentemente na água. Eu o apresentei aos vossos discípulos, mas não puderam curá-lo. E Jesus respondeu, dizendo: Oh raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui essa criança. E Jesus, tendo ameaçado o demônio, ele saiu da criança, que foi curada no mesmo instante. Então os discípulos vieram encontrar Jesus em particular, e lhe disseram: Por que não pudemos nós outros, expulsar esse demônio? Jesus lhes respondeu: É por causa da vossa incredulidade. Porque eu vô-lo digo em verdade: se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daqui para ali, e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (São Mateus, cap. XVII, v. de 14 a 20)
O ensinamento do Mestre não deixa dúvidas. Fica claro que se tivermos uma pequenina fé, basta que seja tão pequena como um grão de mostarda, e tudo conseguiremos, nada nos será impossível.
Bastaria isso para que o homem encontrasse dentro de si próprio as forças necessárias para vencer todos os obstáculos da vida, superar toda e qualquer dificuldade, alcançar todo o sucesso possível, tanto na vida pessoal como na vida profissional.
Nos dias de hoje, o homem enfrenta uma verdadeira guerra em sua vida. Guerra com um mundo poluído e cheio de iniquidades. Guerra consigo mesmo, pois ainda estamos vivendo a fase de sensações, e a permissividade e licenciosidade existente nos meios de comunicação fazem com que seja muito grande a luta interna de cada um para fazer de sua vida uma vida plena de alegrias e conquistas espirituais. O mundo moderno, de tecnologia super. avançada, ainda é muito pobre em evolução moral e espiritual. É aí que entra a fé, a fidelidade.
Temos que acreditar em Deus. Temos que acreditar em nós mesmos, como centelhas divinas que somos. Temos que não somente acreditar, mas ter fé, ter fidelidade. Precisamos manter a fidelidade a Deus. Afinal, fomos feitos para a luz, para a plenitude, para a alegria, para a felicidade. E tudo isso encontraremos não no materialismo grosseiro, pleno de violência e de sexo do mundo de hoje, mas sem dúvida no cultivo de nossos dons mais perfeitos, dos dons espirituais, da força interior, do exercício da tolerância e da fraternidade, da aplicação da lei do amor.
Somos os construtores de nosso destino, e também auxiliares de Deus na implantação de um mundo novo, onde ao lado do progresso intelectual e tecnológico da humanidade, haverá também o progresso moral, o aperfeiçoamento do ser humano, a busca do que é bom e belo.

O PERIGO DO CRÉDITO FÁCIL

Ary Brasil Marques
Nos dias de hoje há um número muito grande de pessoas endividadas. A inadimplência tem levado muitas famílias ao desespero.
Acredito que a principal causa desse problema está na facilidade existente para a concessão de crédito. Antigamente, para se obter um empréstimo em Banco, era necessário cumprir com uma série de exigências, ter sorte nas entrevistas com o gerente do estabelecimento bancário que se fazia com a presença do candidato ao benefício. As pessoas procuravam se apresentar com boa aparência, evitando o semblante triste de quem está com a corda no pescoço, e isso era muito difícil.
Hoje não precisa nada disso. Pela Internet, qualquer pessoa contrata empréstimos em Bancos usando apenas de um clique. Na televisão as empresas oferecem créditos, e produtos são anunciados com pagamento parcelado, muitas vezes com a primeira parcela a ser paga dois ou três meses depois da compra.
Automóveis são oferecidos pelo comércio com financiamento a perder de vista, chegando até a 72 meses, ou seja, mais de cinco anos. Com essa política, o trânsito nas cidades está cada vez mais caótico, além do fato de que milhares desses carros nunca chegarão a pertencer realmente aos seus compradores.
Essa orgia de crédito fácil acontece em vários países do mundo. Recentemente houve uma grande queda na bolsa de diversos países, motivada pela inadimplência de adquirentes de casa própria nos Estados Unidos. Como um efeito cascata, o problema deles afeta pessoas que vivem longe e que não têm consciência disso.
A facilidade do crédito, a insistência da propaganda que entra pelos nossos olhos e atinge subliminarmente o nosso cérebro, faz com que milhares de pessoas, incautas, caiam na armadilha.
A pessoa não percebe a imensidão da dívida, o valor dos juros que vai pagar, apenas vê o valor da prestação, e julga que essa prestação está dentro de seu orçamento.
Acumulam-se os encargos, a dívida vai aumentando, a inadimplência traz mais problemas. Tem gente que vive pegando dinheiro emprestado para pagar suas dívidas, e o montante vai aumentando cada vez mais.
Procuremos andar mais devagar. O melhor é adquirir bens pouco a pouco, de maneira segura, com os recursos que cada um tem. Vamos ter cuidado com as mirabolantes ofertas de crédito fácil, pois isso pode nos levar à ruína.

SBC, 25/10/2007.

O PERFIL DO SER HUMANO IDEAL

Ary Brasil Marques
Um grande amigo, Maurício Mangabeira Sarmento, solicitou-me que escrevesse, dentro de minha ótica, o perfil do ser humano ideal.
A tarefa me parece fácil. Em primeiro lugar, procurei analisar todas as figuras de realce em ação no mundo moderno, tais como líderes políticos, religiosos, atletas dos mais variados esportes, artistas, escritores, filósofos, astrônomos, cientistas, médicos, jornalistas, profissionais liberais, comerciantes, industriais, etc.
Dessa análise concluí que o homem terreno ainda é muito imperfeito, e mesmo os mais famosos personagens sempre possuem pontos fracos e dificilmente poderiam se enquadrar no meu conceito de homem ideal.
Costuma-se criar ídolos e esses ídolos permanecem no topo das preferências de todos enquanto se mantêm na liderança. Todos eles, porém, são idolatrados um dia, e no dia seguinte são odiados. O conceito geral é: morto o rei, viva o rei. Dia a dia surgem novos líderes para substituir os líderes existentes, e todos, mesmo após anos de sucesso, acabam caindo no ostracismo.
Não encontrei em nenhum deles os valores necessários para considerá-los ser humano ideal. Todos mesclam momentos de glória com momentos de fracasso, grandes valores e grandes defeitos, altos e baixos.
O ser humano ideal para mim é Jesus. Sua personalidade venceu todas as barreiras do tempo e do espaço, e hoje, quase dois mil anos após sua passagem pela Terra, ele continua a reinar.
Quais os atributos que Jesus tem para ser considerado o ser humano ideal?
São muitos. Em primeiro lugar, a segurança e a autoridade moral. Sua palavra jamais foi contestada, porque todos viam nele um ser especial, superior, que inspirava confiança e respeito a todos.
Depois, a condição de ser, sem se importar com o ter. Jesus sempre teve riqueza espiritual, e não precisava buscar a posse, os bens transitórios, as coisas materiais.
Em seguida, o imenso amor que carregava. Amor que doava a todos, indistintamente, e que procurava sempre em primeiro lugar os humildes e deserdados da Terra, levando sempre seu carinho e sua palavra esclarecedora, sem interesse de espécie alguma.
O ser humano ideal jamais se julgou superior ao mais humilde de seus irmãos, e nunca cogitou de se cercar apenas de pessoas ricas e poderosas, mas buscou sempre em primeiro lugar aquele que mais necessitava de ajuda, o mais carente, o mais sofrido, o mais triste, o mais doente. A todos levou consolo, esperança, orientação, amor.
Para concluir, meu caro Maurício, é Jesus meu ser humano ideal. Contudo, todas as pessoas que buscam se aprimorar, no corpo e no espírito, e seguir o roteiro luminoso de vida traçado pelo Mestre de amor, estarão em busca do aprimoramento necessário para um dia alcançar também a mesma meta.
“Mens sana in corpore sano” deve ser o lema de todos nós. A prática de exercícios físicos e a busca de aperfeiçoamento moral levam o homem a se aproximar, ainda que de maneira pálida, do ser humano ideal.
Agradecendo pela oportunidade de participar de seu trabalho, aproveito para lhe enviar o meu abraço.

SBC, 22/09/2006.

O PERDÃO

Ary Brasil Marques
Certa ocasião presenciei um fato muito ruim e preocupante. Um cunhado meu, o Manoel, foi consertar um chuveiro elétrico, de repente deu um grito e ficou grudado no cano. Por sorte, alguém desligou a chave geral da eletricidade da casa e ele se soltou, caindo no chão. Suas mãos ficaram queimadas, e ele só não morreu aquele dia pela ajuda divina.
Esse fato me faz lembrar do perdão. A pessoa que não perdoa fica grudada ao seu ofensor e à ofensa. Não consegue se libertar. E sofre muito quando encontra com seu antagonista, ou quando se lembra dele.
A única maneira de se libertar desse momento infeliz de sua vida é perdoando. Ao perdoar, a pessoa desliga a chave que o prende ao assunto e o solta.
Quando não se perdoa, fica a mágoa, a tristeza, a raiva e muitas vezes o ódio, venenos terríveis que atingem não só o adversário, mas principalmente a nós mesmos. Como resultado dessa prisão, causamos várias doenças em nosso corpo físico.
Quem pensa que o perdão é um ato magnânimo de nossa parte e que favorece o nosso inimigo, está enganado; na realidade o perdão é um ato de defesa própria. Não devemos ficar ligados a situações desagradáveis, a momentos de tristeza e de desavenças. Perdão é esquecimento da ofensa. Perdão é sabedoria. Perdão nos faz evoluir e nos ensina que todos somos ainda imperfeitos e que aquilo que consideramos ofensa a mais das vezes é nosso amor próprio ferido, nosso orgulho sendo posto à prova.
Quando alguém nos ofende, há duas coisas a considerar. Ou o ofensor está enganado no que fala a nosso respeito, ou está certo. Se está enganado, o que ele está dizendo não se refere a nós e não nos atinge, pois não somos o que ele pensa que somos. Se está certo, ele está nos fazendo um favor de nos mostrar o ponto em que estamos errados e isso vai fazer com que melhoremos. Então temos é que agradecer essa pessoa, pois dificilmente recebemos essas informações de nossos amigos, que sempre vêm em nós apenas qualidades.
Além de eliminar os problemas que ficariam em nós caso não perdoássemos, conquistamos um amigo ao fazer isso, pois aquele que é nosso adversário é nada mais nada menos que um irmão querido, em processo de evolução como nós mesmos, e sujeito a falhas e erros como todo ser humano.
A falta de perdão pode levar a muitos casos de obsessão. Isso ocorre quando um dos contendores leva ao desencarnar seu ódio para o plano espiritual e seu adversário fica na Terra, ambos não dispostos a perdoar. Aquele que vai, agora sem o corpo físico, vem muitas vezes obsidiar aquele que fica.
Resumindo, o perdão é uma forma de se praticar o amor aos nossos semelhantes. Todos somos ainda espíritos imperfeitos, e o perdão, a reconciliação, a amizade, deve substituir o ódio e o desamor. Ele nos libertará. Não ficamos amarrados, presos, ao mal e isso nos leva ao bem.

SBC, 01/06/2007.

O MELINDRE

Ary Brasil Marques
Em nosso entendimento, um dos maiores entraves para o nosso desenvolvimento é o melindre.
O melindre é o verdadeiro vírus da discórdia. Ele ataca sorrateiramente a todos aqueles que, invigilantes, dão valor maior do que o devido a si mesmo. O amor próprio tem um limite.
Ter amor próprio na dose certa é importante. Precisamos nos amar, cuidar de nossa boa aparência e gostar de nós mesmos.
Esse amor não pode superar o limite do razoável. Quando passamos a nos julgar superiores a nossos irmãos, avançamos para a vaidade, para o orgulho, para a falsa superioridade. Ao atingir esse estágio perigoso, todas as ideias, observações ou palavras de nossos semelhantes que são contrárias ao nosso ponto de vista nos machucam muito.
Surge então o melindre. Não admitimos ser contrariados. Não aceitamos opiniões diferentes. Nos enchemos de mágoa, de não me toques. E o pior é que isso nos entristece, nos tira do equilíbrio, trazem consequências físicas e afetam profundamente nosso relacionamento com pessoas queridas.
A mágoa destrói nossas resistências orgânicas. Ela obstrui os nossos canais responsáveis pela circulação sanguínea e pelo equilíbrio de nosso corpo físico.
O melindre é causa de muitas discussões que poderiam ter sido evitadas. Bastaria uma atitude de tolerância, de compreensão. Todos nós, espíritos ainda imperfeitos vivendo na Terra, estamos sujeitos a ter atitudes e a falar palavras ofensivas a nossos irmãos, e que a tolerância mútua e o perdão podem transformar em coisas banais e sem importância os episódios que julgamos terríveis ofensas que nos fazem.
Uma pequena discussão entre marido e mulher pode trazer muita discórdia e até separações por causa do melindre. Tolerância é ainda o melhor remédio para a manutenção da paz nos lares.
O mesmo acontece entre pais e filhos, entre irmãos e entre amigos, muitas vezes provocando o afastamento de pessoas que se amam, apenas por terem se deixado levar pelo melindre. Muitas entidades religiosas respeitáveis e até instituições espíritas podem ser atingidas por esse terrível vírus.
Temos que combater esse mal. O caminho para isso é seguir os ensinamentos e o exemplo de Jesus.
Vamos contar até dez, respirar fundo, combater o ato de nos julgar superiores, ouvir o que o outro nos fala, ponderar com calma sem alterar a voz, analisar todos os ângulos do que diz nosso oponente, são algumas coisas que podemos fazer para sufocar nosso amor próprio ferido. Lembremos de que não somos o centro do universo, e que todos podem ter opiniões diferentes sobre qualquer assunto.
Nosso grande erro é querer impor a nossa verdade ao nosso semelhante. E gritamos. E nos descontrolamos.
Quanto desgosto, quanto stress, quanta depressão poderemos evitar apenas eliminando o melindre em nossa vida.

SBC, 10/09/2007.  

O JOVEM HOJE

Ary Brasil Marques
Falar aos jovens que terminam mais uma etapa em suas vidas e se preparam para adentrar ao Mundo Real, não é fácil.
Uma coisa é estar na condição de orientador, de professor, de dirigente; outra coisa muito diferente é participar, como personagem ativo, do cenário da vida.
Olhando para nosso mundo, constatamos que há uma profunda mudança nos conceitos, nos conhecimentos, na ética, em tudo. As velhas estruturas nas quais se baseavam a educação e o preparo de todos nós para a realidade da vida, ruíram como castelo de cartas.
A queda do muro de Berlim representa a derrocada das velhas fórmulas e o nascimento de uma nova época, em tudo diferente do mundo que encontramos quando nos tornamos adultos.
De repente, os valores mudaram. O falso moralismo, a rigidez de um comportamento repleto de hipocrisia, a própria moral, foram sepultados pela nova onda.
O progresso vertiginoso da tecnologia e a busca incessante do ser humano pela conquista da felicidade, trouxeram para todos uma nova consciência.
No preparo da juventude para os desafios de uma nova época, além da inteligência que é e sempre será necessária, surge agora a necessidade de um preparo emocional, pois só esse novo fator poderá proporcionar-nos equilíbrio e firmeza para suplantarmos os obstáculos e as asperezas do caminho.
Buscando um símbolo para motivar os queridos jovens que estão no limiar de seu ingresso no mundo competitivo e de tecnologia tão avançada, lembrei-me das palavras do maior e mais extraordinário personagem que pisou a face da Terra: – “se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis para essa montanha: arreda-te daqui para lá e ela se transportaria.”
O grão de mostarda representa a fé. Fé em Deus, Pai de Amor e de Bondade infinitos; Fé em nós mesmos, que somos todos centelhas divinas, criados para alcançarmos a plenitude e a felicidade; Fé na humanidade, em nosso semelhante; Fé no progresso e na construção de um mundo melhor, mais justo, mais alegre, mais homogêneo, mais fraterno.
Uma imagem se desenhou em minha mente. Dentro de um cercado, estão dois burrinhos, amarrados um ao outro por uma canga, de modo que onde um for, o outro terá que ir também.
Nas duas extremidades opostos do cercado, uma porção de alimento e água. Cada um dos burrinhos, com fome e sede, procura caminhar para a sua porção, mas ao se movimentar, arrasta consigo o companheiro que está preso a si pela canga. E não saem do lugar. É uma tarefa impossível, pois os interesses de cada um estão em lados opostos.
Depois de muita luta, surge uma ideia luminosa. Os dois burrinhos resolvem colaborar um com o outro. Ambos, juntos, vão até o primeiro canto, onde um deles se alimenta. Depois, ainda juntos, vão até o outro lado e o burrinho que não havia comido tem sua vez de se alimentar.
Essa imagem mostra claramente que tudo nos é possível se juntarmos as forças. Não há mais lugar em nosso mundo para o egoísmo, para o individualismo, para o egocentrismo.
A crise em que se debate nosso planeta, nossos governos, nossas economias, nossas instituições, é o começo da grande transformação que há de vir.
Para vencermos, teremos que ter fé em nós mesmos, fé em nosso semelhante, e espírito de equipe. Deixando de lado o conceito de que para vencermos, alguém tem que perder, construiremos um mundo novo baseado na solidariedade, no trabalho firme e no cultivo da alegria interior.

Meus jovens, o futuro será o que vocês fizerem dele. Em suas mãos, na sua aplicação e tenacidade, na harmonia que vocês tiverem, surgirá como resultado fantástico, um mundo melhor, mais alegre, mais feliz. De cada um de vocês e de todos nós, juntos, dependerá a humanidade do futuro.

O JOGO

Ary Brasil Marques
O Brasil é um país de contrastes. Embora o jogo seja proibido, a população é incentivada ao jogo por todos os meios, inclusive pelo governo. Na televisão existe propaganda ostensiva induzindo o povo, o sofrido e mal remunerado povo, a jogar.
O resultado disso é que as casas lotéricas estão sempre cheias. Pessoas humildes sonham com o milagre de ganhar a sorte grande, e muitas vezes deixam de comprar o necessário para sua subsistência para jogar todas as semanas.
São levadas à ilusão. Em vez de se criar empregos, de se incentivar o trabalho e a produção, incentiva-se a busca de golpes de sorte, de facilidades, de se ganhar dinheiro sem esforço, de riquezas, de miragens, de fortuna.
É verdade que vivemos tempos difíceis. É incontestável que há falta de dinheiro na praça, que muita gente está desempregada, que a classe média está achatada, que há fome e miséria. A solução não está em milagres, nem em golpes de sorte. A probabilidade de se ganhar na loteria é matematicamente muito remota. O dinheiro gasto por um grande número de pessoas de poucos recursos, de pouca saúde, de falta muitas vezes do mínimo necessário para uma vida saudável, leva para o bolso de uma ou de poucas pessoas o que falta na mesa e no lar dessas pobres criaturas.
Quanta gente se vicia em jogos de azar, no bingo, no jogo de cartas, nas corridas de cavalos, etc.! Essa tendência que leva ao vício do jogo contribui sem dúvida para uma distribuição de renda ainda mais desigual e leva muitas pessoas ao desespero e algumas até ao suicídio.
Devemos nos lembrar que somos os construtores de nosso destino, e que podemos sim ter um mundo melhor, baseando nossa vida no trabalho honesto e constante, no respeito e no esforço de cada um para a construção de um mundo novo. Não há milagres. Sorte grande real é ter um lar cristão. É confiar na bondade infinita de Deus. É saber que Ele nos ajuda, mas que é importante primeiro nós nos ajudarmos. Aquela frase popular que diz que Deus ajuda a quem cedo madruga é uma verdade.
Vamos substituir a ilusão de um ganho fácil pela realidade de um ganho real, pelo nosso esforço e pelo nosso trabalho.

SBC, 06/06/2007.    

O JEITINHO BRASILEIRO

Ary Brasil Marques
Quando estive nos Estados Unidos, fiquei surpreso pela maneira com que os carros paravam e esperavam que eu atravessasse as ruas para depois prosseguir. Não vinham, como no Brasil, por cima dos pedestres. Notei que havia respeito para com o semelhante, respeito para com a lei, respeito ao meio ambiente.
Fiquei pensando de qual seria o motivo do mesmo não acontecer em nosso Brasil. O povo brasileiro é pacífico e tem suas qualidades exaltadas por todos desde que eu era criança. Será que temos algum componente genético diferente dos outros? Os povos mais desenvolvidos não utilizam o jeitinho brasileiro?
Ontem vi na televisão um programa em que um treinador ensinava aos telespectadores como devemos treinar e adestrar os cães. Ele colocava diversos cães de raças diferentes, bem novos de idade, e punha carne ou ração na frente de cada um a uma pequena distância. O cãozinho ia rápido para pegar o alimento e o treinador não deixava, dando um tapinha de leve no cachorrinho. O processo se repetia por algumas vezes e ai, pasmem, o animal deixava de insistir. Não buscava mais o alimento. Então o treinador oferecia o alimento ao cão e ai ele pegava, satisfeito. Aprendeu a disciplina. O que acontece com os animais é o mesmo que acontece com o homem.
Penso que o que houve com o povo brasileiro foi isso. Não teve, nos primeiros tempos, ninguém para lhe ensinar, para lhe mostrar o valor da disciplina, da obediência às leis, do respeito às autoridades. Como resultado ficamos todos propensos a obter tudo com facilidade, nos acostumamos com a impunidade. Quando não conseguimos algo por meios legais, damos um jeitinho para obter o que queremos por outros meios.
Desde criança somos levados a colar na escola para passar de ano, fraudar a idade nos documentos para entrar no cinema, adquirir produtos piratas para gastar menos, sonegar impostos, passar por baixo da lona para não pagar ingresso nos circos, a mentir a idade para parecer mais jovem, etc., etc.
Para mudar isso é preciso um trabalho de todos, de renovação, de esforço, de vontade de mudar. O Brasil é maravilhoso, por certo os brasileiros um dia também o serão.

SBC, 19/05/2007.

O GRANDE COMPUTADOR

Ary Brasil Marques
Uma das maiores invenções do século é o computador. Máquina maravilhosa, instrumento poderoso de trabalho e de arquivo de conhecimentos úteis e necessários, o computador possui a memória adequada pelo homem para guardar os arquivos importantes, cujos arquivos são acessados sempre que temos necessidade deles.
O computador possui uma tecla chamada “Delete” que serve para apagar os arquivos indesejáveis, eliminar os erros e enganos que cometemos e transferir para uma caixinha chamada “Lixeira” todo o material apagado. A “Lixeira”, por sua vez, é periodicamente limpa. Quando fazemos a limpeza da “Lixeira” temos a oportunidade de limpá-la definitivamente ou, se o quisermos, recuperar os arquivos apagados tornando-os novamente ativos.
Os computadores modernos, interligados mundialmente pela Internet, são alvos de ataques externos. Um dos grandes males desses ataques são os “vírus” que muitas vezes destroem arquivos úteis e danificam a máquina. Para defender desses ataques existem programas “antivírus” que defendem nossos computadores e eliminam os “vírus”.
O homem tem criado computadores cada vez mais poderosos, e os computadores modernos possuem enorme capacidade de memória e de armazenamento, possibilitando ao homem recursos maravilhosos de cultura e de trabalho.
No entanto, por maior que seja o progresso tecnológico da humanidade, nunca seremos capazes de alcançar o nível de perfeição de um computador mais poderoso e complexo, criado por Deus, e que é o próprio homem.
Nossa capacidade de memória, de raciocínio, de armazenagem de dados, é milhões de vezes maior do que o mais poderoso e moderno computador.
Ao contrário dos computadores, que muitas vezes perdem dados preciosos por falhas mecânicas ou erros humanos e também pela influência dos “vírus”, nosso arquivo mental guarda para sempre, em lugar seguro, todas as nossas experiências de espírito imortal em contínua aprendizagem. Algumas dessas experiências são transferidas para um arquivo morto, que não é usado frequentemente, mas que poderá ser acessado no futuro quando for oportuno, cujo arquivo fica depositado no perispirito e nos acompanha mesmo após a morte do corpo físico e será levado para nossos futuros corpos em reencarnações que viermos a ter.
Nosso imenso computador tem que ser usado de maneira inteligente, pois o homem é o ser inteligente do Universo, filho dileto de nosso Pai Celestial, centelha divina.
Dessa maneira, quando algum ente querido nos deixa e caminha para a frente, para o Plano Espiritual, para o progresso, cabe a nós auxiliá-lo nessa caminhada, policiando nossos pensamentos e principalmente nossas palavras, de modo a lançar no espaço apenas aquilo que irá fazer bem ao mesmo. Pensamentos negativos, de revolta, de tristeza, de pena, de remorso, de culpa, funcionam como verdadeiros “vírus” em nosso imenso computador, destruindo dados e prejudicando nosso corpo físico. Pior do que isso, prejudicam nosso ente querido que partiu.
Ao contrário, pensamentos de amor e de carinho, lembrança apenas dos momentos bons e felizes que passamos ao seu lado, são verdadeiros impulsos de ajuda e de coragem, que muito colaboram para que aquele espírito readquira sua lucidez e caminhe cada vez mais para a frente.
Os computadores humanos usam antivírus para eliminar os vírus. Nós usamos o mais poderoso e completo antivírus, que não necessita atualizações por já ter chegado até nós completo e acabado, e que elimina todo o mal causado por nossas fraquezas. Esse poderoso antivírus é o Evangelho de Jesus.
Utilizando esse poderoso instrumento, limparemos nossa alma inquieta e impediremos de que nossas mentes sejam afetadas pelo vírus do inconformismo, do remorso ou da culpa. E evitaremos assim enviar esses vírus para nossos entes queridos, funcionando como se fossemos verdadeiros obsessores deles e impedindo-os de seguir adiante livres e felizes, pois já completaram sua missão na Terra relativa a atual encarnação. Enviemos a eles nosso amor, nosso carinho, até nossa saudade, nunca revivendo momentos de infelicidade. Eles já superaram isso.
Usemos o poderoso computador que Deus nos deu, nosso corpo maravilhoso, e sintonizemos nossa mente apenas no bem, no amor, na luz. Guardemos do ente querido que partiu apenas os momentos bons, as horas felizes, o tempo de saúde, de passeios, de alegria, os momentos de amor.
O resto vamos apagar. Usemos o “delete” e limpemos nossa mente. Limpemos nossa “Lixeira”, Guardemos em nossa memória apenas e tão somente o que é bom. E agradeçamos a Deus a oportunidade maravilhosa de termos podido caminhar juntos, aprender juntos, evoluir juntos.
Há muitos momentos felizes que passamos juntos que precisam ser preservados. Esses momentos sim devem permanecer nos arquivos abertos. Os outros, apaguemos. E quando tivermos dificuldades para usar o “delete”, seguremos firmes nas mãos de nosso Mestre de amor e de bondade, que nos encherá de forças e de coragem.
Não esqueçamos nunca de que o maravilhoso computador que Deus nos concedeu é para ser utilizado juntamente com a inteligência com que fomos dotados, para separar o joio do trigo e ficar sempre com o que é melhor para nós, que também é melhor para aqueles a quem amamos.
Todos nós, encarnados e desencarnados, somos espíritos em evolução, em aprendizagem, e TODAS as experiências que tivemos são molas impulsionadoras de nosso progresso.

SBC, 19/11/2000.

O ENCONTRO DAS ÁGUAS

Ary Brasil Marques
Em Manaus, um dos passeios mais famosos é uma viagem de barco pelo Rio Negro e pelo Rio Amazonas. Quando o Rio Negro com suas águas escuras se encontra com o Rio Solimões, dando origem ao grande Amazonas, há um espetáculo de rara beleza. Os dois rios se encontram mas as águas não se misturam por vários quilômetros. De um lado, águas barrentas. De outro, águas pretas.
O encontro das águas nos remete a uma reflexão. Muitos seres humanos caminham lado a lado sem se misturarem. Cada um conserva a sua individualidade, e o pior é que muitas vezes além de não se misturarem, não interagem um com o outro. Muitos casais vivem juntos, mas separados por um muro enorme. Cada um vive a sua vida, não se importando com a vida daquele que vive a seu lado e que um dia recebeu uma bênção sacerdotal e a quem prometeu fidelidade e amor na alegria e na tristeza, até que a morte os separe.
Essa situação leva muita gente à traição, às aventuras fora do casamento e ao número impressionante de separações que acontecem todos os dias. Parece que virou moda a existência de pessoas que se casam duas, três ou várias vezes. As novelas de televisão e as revistas sociais incentivam essa prática, e hoje é difícil se ver casais unidos por longos anos, como ocorria no passado.
Dizem que é a evolução dos costumes. O mundo moderno dá preferência ao egoísmo das criaturas. Cada um pra si e Deus pra todos, é o ditado.
Paulo de Tarso já nos alertava em suas famosas epístolas, de que comer, beber e se divertir seria a opção válida se a morte fosse o fim da linha. Mas não é. Somos caminheiros de uma longa jornada, e temos que buscar nossa aprendizagem, nossa evolução. A primeira e fundamental lição a ser aprendida é a prática do amor ao próximo.
Uma das características do amor é o entrelaçamento de almas, a interação, o contato físico mas também o espiritual, a troca de energias e de vibrações.
Observando o encontro das águas, verificaremos que mais adiante elas vão se misturar, se unir e formar uma grande corrente que finalmente atingirá o mar, o grande oceano.
Também nós, unidos, de mãos dadas, trocando experiências, alcançaremos um dia a grande meta de nossa vida, a plenitude, a felicidade, o céu que nos mostram as religiões.

SBC, 26/06/2007.