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QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA

Ary Brasil Marques
Cantar faz muito bem. Quando cantamos, atraímos para nós um verdadeiro manto de alegria e de bem estar.
Começar o dia com o coração alegre, livre de preocupações, nos leva à sintonia com o Plano Espiritual superior.
O hábito de cantar durante os serviços domésticos dá às mulheres uma força gigantesca, e com isso elas conseguem resultados maravilhosos de eficiência e de resistência. As mulheres que cantam sentem menos fadiga e produzem mais que as outras.
Viajando de carro com a família, estimular aos passageiros para cantar em conjunto faz com que a distância a ser percorrida pareça menor.
Ouvir música nos lares também faz muito bem. Aqueles que cultivam esse hábito envolvem os seus lares em uma aura de paz e de alegria.
Procuremos sintonizar nossa estação mental em músicas alegres que nos elevem. Para os momentos de prece, coloquemos no rádio ou nos aparelhos de som, músicas suaves, que nos façam vibrar na gratidão a Deus e no amor pela humanidade.
Todas as músicas são boas, cada uma delas na ocasião que lhe é própria.
Não devemos confundir música e alegria com barulho ensurdecedor. Aumentar o volume do som em excesso, prejudica a boa vizinhança e nos leva à sintonia com espíritos barulhentos e muitas vezes interessados em emoções inferiores.
Ao manter o ambiente em que vivemos sempre em alto astral, cheio de paz e de alegria, faz com que afastemos de nosso convívio os espíritos negativos, pois atraímos a presença de harmonia e de luz.
SBC, 08/10/2007.

PRECE VERTICAL

Ary Brasil Marques
O homem utiliza um meio muito bom de se comunicar com Deus e com os espíritos superiores. Esse meio é a prece.
Há preces que servem para os nossos pedidos, as nossas súplicas, os nossos apelos. Há preces para o nosso louvor, e há preces para nossos agradecimentos ao Pai e a nossos benfeitores espirituais.
Existem preces feitas por um grande número de pessoas ao mesmo tempo, geralmente proferidas por alguém e repetidas pelos demais. Algumas pessoas repetem maquinalmente o que ouvem, sem prestar atenção no que estão dizendo. Quem assim age faz igual ao papagaio, repete o que ouvem mas não entendem o que significa.
Podemos orar em qualquer lugar e em qualquer posição que nos encontremos. Mesmo quando estamos deitados podemos fazer a nossa prece, uma vez que ela nem precisa ser proferida em voz alta, basta a nossa vibração e o nosso pensamento.
A prece precisa ser vertical, ou seja, precisa subir a planos mais elevados. Deve ser acompanhada de grande carga emocional produzida pela fé e pela sintonia com o plano superior. Preces que não têm esse ingrediente muitas vezes não sobem, são horizontais, não alcançam o objetivo.
A grande maioria das preces do ser humano são para pedir auxílio, e esse pedido é feito principalmente quando estamos em apuros ou com problemas de toda a ordem. Queremos que o Alto resolva inclusive os nossos problemas financeiros ou de vida, quando esses problemas são de nossa alçada. Cada um tem a quota de problemas que lhe é necessário para seu desenvolvimento e evolução.
Mesmo quando fazemos esse tipo de pedido, somos auxiliados, somos intuídos, recebemos apoio dos amigos espirituais, mas cabe a nós a ação para buscar a solução do que estamos pedindo.
Em menor número figuram as preces de agradecimento. Somos pródigos em pedir, parcimoniosos em agradecer.
A prece não necessita de fórmulas prontas, embora existam algumas preces maravilhosas que servem de roteiro para nós. Jesus nos ensinou a orar, e nos deu a prece mais completa que existe, que é o Pai Nosso.
Ao começar o dia, devemos orar. Agradecer nossa noite de sono reparador. Agradecer pelo dia que se inicia. Agradecer por tudo que temos, por tudo que somos, pelo dom da vida. Colocar nas mãos de Deus todos os nossos entes queridos, o nosso trabalho, o nosso lar.
No término do dia, devemos orar. Agradecer pelo dia que está se findando. Pedir uma noite de paz e de repouso.
A prece é um bendito instrumento que está sempre à nossa disposição, e se utilizarmos desse instrumento com fé, certamente obteremos as respostas do Alto que nos ajudarão em nossa jornada.

SBC, 13/06/2007.

PODEMOS VENCER A DEFICIÊNCIA

Ary Brasil Marques
Acidentes acontecem. Um dia, sem aviso prévio, acontece algo em nossa vida que muda completamente a nossa trajetória e os nossos planos.
Aconteceu comigo. Nunca eu tinha tido pressão alta ou problemas de qualquer natureza. De repente, um AVC. E com ele, a paralisação de todo o meu lado esquerdo.
Resisti. Lutei. Consegui a recuperação dos movimentos, embora ficasse uma sequela. Eu já não podia correr nem saltar.
Definiram-me como deficiente físico. Passei a fazer parte de um grupo de pessoas que a maioria acha serem seres fragilizados. Muita gente olha para mim e quer me ajudar, vendo que a minha locomoção é mais lenta e difícil. São pessoas de boa vontade. Acreditam que assim agindo podem fazer algo para minimizar o nosso problema.
Nunca me considerei deficiente. Nunca, graças a Deus, reclamei da vida. Nunca culpei ninguém. Sempre soube que no planeta Terra, em nossas diversas reencarnações, passamos por diversos estágios necessários ao nosso aperfeiçoamento e evolução. Sei também que, ao longo do caminho, vamos colhendo aquilo que plantamos em vidas anteriores e também na atual.
Receber sem revolta nem queixas faz com que tenhamos forças para enfrentar a nova situação que por algum tempo será necessária para crescermos e para alcançar estágios melhores de evolução.
Quero deixar aqui um incentivo para todos aqueles que forem atingidos por situações semelhantes. Nada na Terra é definitivo. Tudo passa. Todos os momentos da vida, mesmo os mais difíceis, passam, e devemos nos lembrar que nada está perdido. Somos espíritos imortais, indestrutíveis.
Posso afirmar, sem medo de errar, que o tempo de vida que passei com a marca de paraplégico foi mais produtivo e mais repleto de satisfação espiritual do que o tempo anterior, quando eu gozava da melhor forma física.
Deficiência física não é deficiência mental. Temos algumas limitações, é verdade, mas podemos fazer bem quase todas as coisas.
O importante é nos aceitar como estamos no momento, levantar a cabeça e trabalhar. Depois que eu tive o acidente vascular fiz cursos, proferi palestras, escrevi artigos, dei aulas, li bastante e resolvi milhares de problemas de palavras cruzadas. Viajei, passeei, conheci vários estados brasileiros e alguns dos Estados Unidos, dei amor e carinho à minha família e me esqueci completamente da falada deficiência.
Jamais fui infeliz. A falta de uma locomoção mais desenvolta fez com que eu me dedicasse muito mais à parte espiritual e pensasse muito mais nos outros do que em mim próprio.
Estou escrevendo tudo isso para tentar ajudar as pessoas que se veem acometidos de acidentes os mais diversos, e que ficam depressivos e reclamando o tempo todo. Não reclamem. Não se julguem inferiores. Confiem em Deus e em si próprios. Estudem. Trabalhem. Amem.
Ao fazer isso, vocês verão que o bicho não é tão feio como parece. O ser humano tem potenciais infinitos de recuperação. Continuem firmes e vivam intensamente no bem e no amor ao próximo. O mais nos será dado a todos pelo acréscimo da misericórdia de nosso Pai Celestial.

SBC, 25/06/2007.

PLANEJAMENTO FAMILIAR

Ary Brasil Marques
O planeta Terra está super povoado. Países como a China e a Índia possuem gente em excesso, e isso aumenta os problemas de desigualdade social, de miséria e de fome.
Os governos recomendam o uso de preservativos e outros meios para limitar o crescimento populacional. Algumas religiões condenam o planejamento familiar.
É um assunto polêmico. Devemos ou não limitar o nascimento de filhos?
Em primeiro lugar, acredito que tudo na vida tem que obedecer a planejamentos. As pessoas planejam os seus orçamentos, planejam as férias e avaliam as possibilidades financeiras para verificarem se têm ou não condições para viajar ou para comprar ingressos em teatros ou eventos esportivos. Quem vive sem planejamento corre o risco de se endividar e de ter problemas no futuro.
André Luiz nos mostra no livro Nosso Lar que naquela cidade espiritual há um departamento que planeja as reencarnações. Além do plano de vida que orienta o espírito que vai reencarnar na sua reentrada na vida terrena, planejam-se até o corpo físico que o mesmo irá usar quando reencarnar.
Por outro lado, sabe-se que existe uma enorme fila de espíritos aguardando sua vez de reencarnar na Terra e assim obterem a oportunidade de crescer e evoluir na prática e nas experiências terrenas. Muitos deles são barrados em sua intenção pela ação daqueles que seriam seus pais na Terra e que usam de meios para evitar a concepção.
O planejamento familiar muitas vezes evita o nascimento de crianças em lares muito pobres, que já têm muitos filhos, evitando problemas sérios de miséria e de sofrimentos. É verdade que esses problemas são muitas vezes necessários ao cumprimento da lei de causa e efeito, sendo oportunidades para o espírito quitar suas dívidas cármicas. Não temos condições para julgar se o planejamento familiar deve ou não ser feito.
Analisando, no entanto, o fato de Deus ter dado ao ser humano o livre arbítrio e a inteligência, penso que o uso consciente desses instrumentos divinos dá ao homem o direito de usar de todos os recursos lícitos para evitar males maiores e tem a liberdade de fazer isso.
Há outras razões que podem justificar plenamente o uso de meios anticoncepcionais. Os problemas de saúde, de falta de espaço, a falta de recursos financeiros para propiciar um mínimo de condições de vida à criança que vai nascer, tudo isso justifica, a meu ver, o planejamento familiar. Não justifica, de forma alguma, o crime do aborto.

SBC, 05/07/2007.

PERDA DE ENTES QUERIDOS

Ary Brasil Marques
De todas as coisas que costumam acontecer aos seres humanos, a mais difícil sem dúvida é o nosso confronto com a morte.
A dor da separação, o sentimento de perda, o sofrimento angustioso da saudade, são coisas que atingem os seres humanos de maneira profunda, trazendo a tristeza, a insegurança e muitas vezes a revolta.
E o sofrimento ainda costuma ser maior justamente nas perdas ocorridas por desastres, pois a surpresa talvez cause mais dor que as mortes ocorridas após longa enfermidade das pessoas queridas, pois aí muitas vezes há um certo alívio ao se pensar que a pessoa amada está se livrando de sua carga de sofrimento causada pela doença.
O sofrimento atinge a todos de maneira profunda, e apenas as pessoas que possuem muita fé e confiança em Deus conseguem superar com mais classe os traumas causados pela tristeza que atinge a todos os seres encarnados neste mundo.
O Espiritismo nos fornece elementos seguros que nos permitem suportar com mais facilidade os impactos da dor.
Antes de tudo, nos ensina a Doutrina dos Espíritos que a realidade que vemos não representa a verdadeira realidade. Pelo estudo e prática da doutrina, descobrimos maravilhados a vida, em toda a sua plenitude. Somos espíritos imortais, indestrutíveis. Nosso corpo físico é apenas e tão somente um veículo que utilizamos em nossa breve estada na Terra, onde aportamos tal como um aluno chega na escola, e, ao terminar nosso ano letivo, deixamos o veículo que vínhamos utilizando e que não nos servirá mais, e recebemos o nosso diploma, que nos habilita a adentrar um novo plano de vida, levando conosco a bagagem que tenhamos construído ao longo de nossa encarnação.
Não há morte. Só existe vida. É certo de que teremos saudade de nosso ente querido, e isso é inevitável. A certeza da sobrevivência, no entanto, aliada aos conhecimentos da verdadeira condição do espírito, e ainda a esperança de intercâmbio em futuro breve, faz com que a morte seja considerada pelo espírita apenas como uma breve separação, igual à que muitas vezes na Terra somos obrigados a aceitar as viagens, as mudanças para outros estados ou para outros países, das pessoas a quem amamos. Durante o tempo da viagem ou da estada em lugares distantes, temos a alternativa do telefone, da carta, do telegrama, do contato pela Internet, etc. Da mesma maneira, nosso ente querido que deixou o plano físico, pode se comunicar conosco pela via rápida do pensamento, bem como pelas comunicações através da mediunidade, pelas intuições, pelas inspirações, pelas aparições (percebidas pelos videntes), e à medida que evoluímos as comunicações podem se tornar mais frequentes e eficientes.
De qualquer forma, sabemos que nossos queridos não morreram. Eles vivem. E a temida morte, inevitável no plano físico para todos nós, não amedronta mais.
A morte morreu. A morte não existe. A aceitação da ocorrência triste que nos atingiu é a maneira mais fácil de prosseguirmos nossa jornada, pois a vida deve continuar.
Essa aceitação mostra a confiança no Pai de amor e de bondade, que sabemos não abandona nenhuma de suas criaturas, e que espera que TODOS nós alcancemos um dia nosso OBJETIVO, que é a FELICIDADE, a PLENITUDE, o CÉU das religiões, e todos estaremos lá, juntos.
Nossos entes queridos não morreram. Eles apenas nos deixaram temporariamente. Foram para o mundo de luz. E para lá iremos também, um dia. O reencontro é certo. E o aspecto consolador do Espiritismo se evidencia em grande escala nos momentos de dor. Ele nos ajuda a aceitar. Ele nos dá calma. Ele nos reequilibra. Ele fortifica nossa fé em DEUS e em sua sabedoria e misericórdias infinitas.

SBC, 21/05/1999.

PENSO, LOGO EXISTO

Ary Brasil Marques
A frase de René Descartes representa muito mais que uma simples frase. É a descoberta do pensamento como vida, como força criadora.
Para algumas pessoas, o pensamento é produzido pelo cérebro. Outros, como nós, colocamos o pensamento como atributo do espírito. É o espírito que pensa, e utiliza para a sua manifestação dos instrumentos que tem à sua disposição na maravilhosa máquina, que é nosso corpo físico. E o cérebro é o compartimento que ele usa, da mesma maneira que nos dias de hoje usamos dos recursos da informática existentes no computador.
No pensamento se inicia a idealização de todas as nossas ações. Isso quer dizer que quem pensa o mal já pratica o mal. Talvez por falta de oportunidade esse mal pensado não tenha sido realizado, mas o simples ato de pensar e se comprazer nesse pensamento, alimentando o mal em nossa mente, já nos coloca em débito com as leis divinas. É claro que aquele que executa o mal idealizado é mais culpado do que aquele que ficou apenas na intenção.
Acredito que todos nós, espíritos ainda atrasados que somos, somos acometidos de pensamentos maus. São pensamentos que muitas vezes nos são sugeridos pelos espíritos menos esclarecidos que atraímos pela nossa sintonia em faixas vibratórias inferiores.
A postura correta das pessoas que já têm um mínimo de conhecimentos a respeito de uma conduta reta baseada no Evangelho do Amor, é repelir tais pensamentos quando eles aparecerem.
Quando nos colocamos energicamente na defesa dos maravilhosos conhecimentos que encontramos no Evangelho de Jesus e nos ensinamentos da Doutrina Espírita, somos ajudados a vencer nossas más inclinações e a repelir com sucesso todos os pensamentos negativos que nos ocorrerem.
Que o nosso pensamento seja sempre o gerador de ações positivas para que possamos ajudar a construir um mundo melhor, são os pedidos que fazemos a Deus.
Certamente nossos amigos espirituais de maior elevação nos ajudarão nessa empreitada.

SBC, 04/09/2007.  

PECADO

Ary Brasil Marques
Ontem um amigo comentava comigo a respeito do pecado. Ele não conseguia entender bem o desejo de comer bastante e assim satisfazer seu prazer com o pecado da gula.
Prometi a ele que hoje o tema de meu texto diário seria o pecado.
O que será pecado? O que significa pecado? Pesquisei no Google e obtive a seguinte resposta:
“O Pecado sempre foi um termo principalmente usado dentro de um contexto religioso, e hoje descreve qualquer desobediência à vontade de Deus; em especial, qualquer desconsideração deliberada das Leis reveladas. No hebraico e no grego comum, as formas verbais (em hebr. hhatá; em gr. hamartáno) significam “errar”, no sentido de errar ou não atingir um alvo, ideal ou padrão. Em latim, o termo é vertido por peccátu”.
Verificamos que a palavra pecado está diretamente ligada às religiões. Toda desobediência à vontade de Deus é considerada pelas mesmas como pecado.
O Espiritismo, embora seja também uma religião, não possui dogmas, rituais, sacerdotes ou regras especiais. A Doutrina Espírita considera as desobediências à vontade de Deus como experiências do espírito em seu processo de desenvolvimento, utilizando o livre arbítrio que lhe foi dado pelo nosso Pai Celestial.
Todos temos gravados na consciência a lei divina, e ninguém poderá alegar ignorância como desculpa para agir em desacordo com a mesma. A liberdade que nos foi concedida deve ser controlada pelo espírito em evolução, pois sempre que saímos do nosso equilíbrio e praticarmos excessos no uso desse livre arbítrio, sofreremos as consequências de nossos atos.
Pela lei de ação e reação, automática, o ser humano recebe sempre a volta de tudo o que faz. A cada ação existe uma reação em sentido contrário de igual intensidade. Deus, que é infinitamente bom e justo, não castiga aos seus filhos. Ele deixa que cada um aprenda com os próprios erros, e as falhas que cometemos servem de mola propulsora de nossa evolução.
Assim, tal qual a criança que se machuca ao cair, por ter ainda seus passos incertos e vacilantes, mas que aprende com a queda e fica firme no futuro, como espíritos ainda imperfeitos nós aprendemos com os nossos erros, indevidamente chamados de pecados. São eles que nos impulsionam para a frente, para o progresso, para um dia alcançarmos a perfeição, pois foi para isso que fomos criados.
A gula é um dos erros que cometemos. Ela ajuda a nos regular a medida certa do que devemos comer. Quando excedemos essa medida, sofremos a consequência da lei automática. Ou temos uma indigestão, ou jogamos em nosso corpo físico excesso de alimentos que vão produzir o efeito danoso da obesidade, além de sobrecarregar o trabalho de nossos órgãos que cuidam da distribuição das energias adquiridas na nossa alimentação.
Não lamentemos o pecado. Ele é apenas um alerta de que estamos passando de nosso limite. Podemos usar de tudo o que Deus colocou em nossa vida, com moderação, com equilíbrio, com sabedoria.

SBC, 27/08/2007.     

OTIMISMO E PESSIMISMO

Ary Brasil Marques
Quando passamos perto dos pontos de ônibus, das estações de trens suburbanos ou do metrô, nas grandes cidades do País, costumamos observar o rosto das pessoas e também ouvir trechos do que elas falam.
Notamos com tristeza que há por parte da população um pessimismo muito grande em relação ao futuro. Ninguém está contente. As fisionomias geralmente apresentam rostos tristes, repletos de preocupações e marcados pelo sofrimento. Reclama-se de tudo. Fala-se das condições de vida, a economia, os transportes, os planos de saúde, os impostos, a corrupção e os governos. Todos reclamam dos salários baixos, das más condições das ruas, do aumento das dívidas e da falta de empregos e de oportunidades.
Isso nos leva a uma profunda reflexão. Devemos ser otimistas ou pessimistas? Ver as coisas com lentes cor de rosa transformam as coisas más em coisas boas?
O pessimismo é muito negativo e sintoniza a mente humana nos aspectos mais infelizes e de resultado desastroso. Ele leva a pessoa a se concentrar no mal, no prejuízo, na doença e nos acontecimentos nefastos.
Achamos que encarar a vida de maneira otimista é melhor, desde que esse otimismo venha acompanhado de ação. Acreditar que Deus vai, em um passe de mágica e sem esforço de nossa parte, mudar de repente o que vai mal em coisas boas é um erro. Somos os construtores de nosso destino. Depende do trabalho e do esforço de cada um a conquista de melhores condições de vida.
Criticamos o governo, mas nos esquecemos de que nós somos os responsáveis por ele e que foi o nosso voto que ajudou a elegê-lo.
Podemos mudar o curso dos acontecimentos com o nosso trabalho. Precisamos antes mudar a nós próprios, e depois influir pelo exemplo e pela orientação na vida de nossos entes queridos, para em seguida levar à toda a sociedade uma mudança positiva.
Pela ação diuturna poderemos mudar o mundo. Nossas armas são o amor, a solidariedade, a fraternidade, a honestidade e o trabalho. Usando esses recursos alcançaremos o objetivo de tornar o nosso planeta um local mais agradável para a vida humana.
Sejamos otimistas sim, mas não nos esqueçamos de que otimismo sem trabalho e sem ação será tão inútil quanto o pessimismo que combatemos.
SBC, 27/06/2007.

OS HOMENS NÃO APRENDERAM

Ary Brasil Marques
A Internet nos proporciona fazer uma análise das promessas feitas e da cobrança mais tarde da efetivação ou não dessas promessas.
Em junho de 1992, no Rio de Janeiro, houve uma conferência internacional destinada a tomada de posição dos diversos países na defesa da ecologia e do meio ambiente.
Naquela oportunidade, uma menina de 13 anos, Severn Cullis-Suzuki, compareceu no plenário juntamente com um grupo de crianças canadenses, e ali fez um discurso comovente que foi um verdadeiro libelo contra a inércia e a ineficácia das medidas que o ser humano estava tomando em relação ao assunto.
O discurso de Severn foi tão contundente e oportuno que o vídeo desse pronunciamento está sendo distribuído nos dias de hoje na Internet.
Disse ela que estava lutando pelo seu futuro, pelo futuro das crianças do mundo inteiro. Falou não ter garantia quanto ao futuro, e que isso não era a mesma coisa que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Ela falou em nome das gerações que estão por vir. Procurou defender as crianças que passam fome pelo mundo e que não têm os seus apelos ouvidos. Lembrou das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta e disse ter medo de tomar sol por causa dos buracos na camada de ozônio. Nos disse Severn que tinha medo de respirar o ar repleto de substâncias químicas que o estão contaminando. Contou que costumava pescar em Vancouver com o seu pai até o dia que eles pescaram um peixe com câncer. Falou de animais, plantas, florestas que estão sendo destruídos e extintos em todo o planeta.
Disse Severn que sempre sonhara com grandes manadas de animais selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e de borboletas. E perguntou, será que os meus filhos vão ver tudo isso?
Mencionou o fato de ser apenas uma criança, que não tinha as soluções para esses problemas. Mas afirmou para os membros do plenário que eles também não tinham as soluções, que eles não sabiam como acabar com o buraco na camada de ozônio nem poderiam ressuscitar os animais extintos. Mas falou de modo firme, se vocês não podem recuperar nada disso, por favor, parem de destruir!
Aqui, falou ela, vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos; mas, na verdade, vocês são mães e pais, irmãs e irmãos, tias e tios. E todos, também, são filhos.
Embora uma criança, mostrou Severn que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas; e que, ao todo, somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Governo algum, nenhuma fronteira, poderá mudar esta realidade.
Disse que no seu país se gera muito desperdício. Compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora…Falou que lá, no Canadá, eles têm uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Disse que têm relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV.
Falou das crianças abandonadas nas ruas do Brasil. Comentou que uma delas lhe falou que gostaria de ser rica para dar às outras crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho. E analisou o fato dos que têm, serem egoístas e mesquinhos, em comparação a essa criança que não tem nada mas tem amor.
Ela mencionou o fato da grande diferença que era o fato de nascer em lugar que tem tudo. Disse que poderia ser uma das crianças que vivem nas favelas do Rio, ou uma criança faminta da Somália, ou uma vítima da guerra no Oriente Médio; ou, ainda, uma mendiga na Índia.
Disse uma vez mais que ela era apenas uma criança. Mas que sabia que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso a Terra seria!
Terminou dizendo que os adultos ensinaram às crianças, desde a escola, a não brigar com os outros, a resolver suas coisas da melhor maneira, a arrumar as suas bagunças, a não maltratar outras criaturas e a não ser mesquinhos. Então por que vocês fazem justamente o contrário do que nos ensinaram?
Disse-lhes para não se esquecerem do motivo de estarem assistindo estas conferências e para quem estão fazendo isso. Lembrou que eles estavam decidindo em que tipo de mundo viveriam seus filhos. Falou que não acreditava que eles pudessem dizer que tudo iria ficar bem, pois nós estamos em suas listas de prioridades?
Completou dizendo: Vocês, adultos, dizem que nos amam…Eu desafio a vocês: por favor, façam com que suas ações reflitam as suas palavras.
Fazem 15 anos que Severn proferiu o seu discurso. Fomos conferir. Hoje, 15 anos depois, milhões de crianças já morreram de fome após essa data. Milhares de florestas foram queimadas, centenas de espécies de aves e de animais foram extintos, crianças vivem em condições sub-humanas nos países subdesenvolvidos, a poluição aumentou tremendamente, o buraco na camada de ozônio cresceu, os políticos do mundo inteiro dão prioridade aos interesses pessoais, a corrupção aumentou, a fome também, as desigualdades sociais formam um abismo entre a maioria da população e uma minoria privilegiada.
Caso Deus olhasse para a Terra, acredito que Ele poderia dizer o seguinte:- “Filhos amados, dei a vocês a inteligência. Dei um paraíso para vocês viverem, cheio de luz e calor, rios e florestas, montanhas verdejantes, cachoeiras, miríades de pássaros e de flores, animais, jardins, mares, lagos, crianças cheias de alegria e de doçura, um mundo maravilhoso. O que vocês fizeram de tudo isso? Caso continuem, dia virá que vocês terão perdido o paraíso que lhes dei, e, o que é pior, vocês acabarão por se auto destruírem.”

SBC, 16/06/2007.  

OS ESPÍRITAS E O DIABINHO COXO

Ary Brasil Marques
A história das religiões nos mostra que, de tempos em tempos, os homens se julgam únicos detentores da verdade e procuram dar combate aos próprios companheiros de ideal, formando verdadeiros bolsões separatistas ou criando novas seitas ou maneiras particulares de ver as coisas. O Espiritismo, sendo uma doutrina composta de espíritos dos mais diferentes graus de evolução, não poderia ficar imune a essas tentativas de cisão e de divisão.
Allan Kardec previu tudo isso e nos legou diretrizes importantes para que os espíritas não se lancem uns contra os outros e, quem procurar estudar detalhadamente todos os livros da Codificação, verá que “o bom senso encarnado” repete em várias ocasiões e em todos os seus livros o seguinte:
          1. – O Espiritismo avançando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (A Gênese, cap. I – Caráter da Revelação Espírita);
          2. – Não devemos nos preocupar com dissidências ou divergências que estão mais na forma do que no fundo e, que o importante é observarmos os princípios fundamentais e, ainda que a base de tudo é o amor de Deus e a prática do bem. (O Livro dos Espíritos, Conclusão, VIII).
Ora, muita gente anda preocupada em proteger Kardec, resguardar Kardec, não admitir nada que não tenha sido escrito por Kardec e anatematizar quem busca, além de Kardec e justamente com Kardec, outras fontes de estudo.
Os defensores de Kardec (e, desde quando a verdade precisa de defesa?) parece que não estudaram Kardec com cuidado. Pois é o próprio Codificador quem nos diz que as verdades nos são dadas pouco a pouco, à medida de nossa evolução e, que a verdade absoluta só conseguiremos ao atingir a perfeição. Diz ele ainda, que o Espiritismo é doutrina dinâmica, que vai avançando e se ampliando com o progresso do espírito e não disse a última palavra, nem está totalmente acabada como doutrina.
Cremos que, antes de levarmos o amor e a fraternidade para todos os homens, quebrando as barreiras do personalismo, das posições sociais, das raças e credos diversos, precisamos ir exercitando tudo isso junto aos nossos companheiros de ideal espírita, mesmo que eventualmente, aqueles companheiros não pensem integralmente como nós, mesmo porque, isso é materialmente impossível devido à heterogeneidade dos espíritos que habitam nosso orbe.
Santo Agostinho, no fecho do Livro dos Espíritos, nos diz o seguinte: “Por muito tempo, os homens têm se dilacerado mutuamente e anatematizado em nome de um Deus de paz e de misericórdia, ofendendo-o com tal sacrilégio. O Espiritismo é o laço que os unirá um dia, porque lhes mostrará onde está a verdade e onde está o erro. Mas haverá por muito tempo ainda, escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber, pois, sob a influência de quais Espíritos estão as diversas seitas que dividem o Mundo? Julgai-as pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o homicídio e a violência; jamais exercitaram os ódios dos partidos nem a sede de riqueza e de honras, nem a avidez dos bens da Terra. Só aqueles que são bons, humanos e benevolentes para com todos, são os preferidos e são também, os preferidos de Jesus, porque seguem o caminho que lhes indicou para chegarem até Ele.”
Irmãos, não podemos crer que somos os únicos donos da verdade. Cada um de nós possui uma parcela da verdade, de acordo com o seu conhecimento e sua evolução. Amemos e respeitemos nossos irmãos de crença espírita, como um primeiro passo para que um dia, possamos amar e respeitar TODA A HUMANIDADE.
Essas considerações me vieram ao reler um excelente texto do saudoso Leopoldo Machado, denominado O Diabinho Coxo. Para os espíritas se analisarem e se tornarem mais fraternos, transcrevo abaixo o texto em questão.
                                                    “DIABINHO COXO”
 Leopoldo Machado
A história é simples, mas expressiva. E talvez, cheia   de observações e ensinamentos.    Contou-na-la, ilustre confrade, que   fora   transmitida   por um irmão da   espiritualidade.  Achamo-la de tal maneira interessante, que não sopitamos o desejo de pô-la em letra de forma, para   irmãos que têm olhos de ver e inteligência de compreender, como se diria em linguagem evangélica. 
Vamos, porém, à história:
A corte de Satanás estava agitada. Fora mister se convocasse uma assembleia extraordinária, de diabos, diabões e diabinhos, para tomar-se, oficialmente, conhecimento de fato e determinar-se medidas urgentes de defesa do reino do inferno.
É que aparecera na Terra, entre os homens, um inimigo seríssimo, que estava assestando golpes de morte na existência de Satanás, no inferno, nas penas eternas.
E Satanás na presidência, fundamentou:-
– É um inimigo terrível, que não se tem por onde se lhe pegue. Todas as campanhas que têm feito, resultaram inócuas e inúteis. Trata-se de um inimigo tão sério que, sem acreditar em nós, zombando do inferno e das penas eternas, matou a própria morte. A morte não apavora seus asseclas, que, sem temores do inferno e de nós, se esforça, por serem bons, ordeiros, laboriosos, honestos…
– O nome deste inimigo? Deblaterou, indignado, a vomitar enxofre e pólvora pelas narinas, um diabão.
– É o Espiritismo. Imaginai que chegou ao extremo de ensinar que os diabos de hoje podem ser pela lei da tal reencarnação, os anjos de luz do amanhã; que, sendo Deus ‚ pai de todos, nenhum dos filhos seus irá para o inferno, por toda a eternidade; que com ele, Satanás está desmoralizado, o inferno falido, as penas eternas invalidadas, e a morte inexistente…
– Pois, ataquemo-lo em nome da Ciência! Berra um diabo com fumaças de sábio.
– Atacá-lo em nome da Ciência? Mas, ele presume-se a Ciência mesma. A Ciência da Imortalidade. Sábios e cientistas já se aproximaram dele para atacá-lo cientificamente e saíram atacados por ele, porque convertidos às suas leis. Foi bem este o caso do grande físico William Crookes, do naturalista astrônomo Camille Flammarion, do naturalista e respeitável Russell Wallace, dos médicos Paul Gibier, Gustavo Geley. Numa palavra, os homens como Ochorowicz, Aksakoff, Frederico Zoellner, Cronwell, Oliver Lodge e centenas deles. Basta analisar que um desses nomes chega a desafiar os homens de senso a estudá-lo sem se tornarem espíritas. O inimigo dispõe de tais provas e tal lógica científicas que não há adversário que logre a melhor na luta contra ele.
– Ataquemo-lo, então, em nome da filosofia! – rosnou um diabão velho, barbaças, dois grandes óculos assestados ao nariz adunco, a cofiar, filosoficamente, a longa barba.
– Em nome da Filosofia? Mas o biltre se diz a própria Filosofia. A filosofia do espírito, lógica, irrefutável, indestrutível. O Livro dos Espíritos, sua obra filosófica, quando apareceu há 120 anos, a maior autoridade do clero francês chegou a declarar do púlpito que “foi Deus que cometeu ao Senhor Allan Kardec a missão gloriosa de provar cientificamente a imortalidade da alma.” Ora, se vê, a filosofia do Espiritismo é também ciência. E trata-se de uma filosofia e de uma ciência tão práticas e tão fáceis, que as pessoas mais incultas compreendem facilmente.
– Estamos perdidos!
– É também Religião? – indaga um espírito das trevas, curioso.
– Quando apareceu o tal Livro dos Espíritos, dele disse uma autoridade do clero francês que, “praticando-se o que ensina o Livro dos Espíritos, tem-se feito o suficiente para ser santo na terra.” E um teólogo protestante escreveu que “se com a Bíblia não conseguia entender o Espiritismo, agora, com o Espiritismo é que compreende a Bíblia. É uma religião tão profunda, que dispensa dogmas e milagres, encenações e culto externo. E que salva sempre, visto como a ninguém condena irremediavelmente, ao inferno, que não existe para ele, as penas eternas, que para ele são invenções das religiões dogmáticas.
– Estamos, meus amigos e companheiros, às portas da falência, porque nossos aliados, os padres e pastores, não encontrarão brevemente, ninguém para nos enviarem.
– De mim, confesso que não sei que medidas tomar, porque ele, o Espiritismo, se apresenta também, feito moral e sociologia, pedagogia e arte. Até como Medicina, pois cura sem medicamentos e operações, a passes e água fluida e preces. Estamos derrotados, meus caros amigos!
– Peço a palavra, Sr. Presidente – ouviu-se uma vozinha fraca e esganiçada, que nada tinha da palavra de um diabo de classe. Era um diabinho coxo, magro e feio, muito pequenino.
– Para que pedes tu a palavra? – perguntou-lhe o Presidente, o grande Satanás.
– Eu queria também dar o meu palpite. Se valer experimentá-lo….
– Majestade, deixe-o falar, que, às vezes “de onde menos se espera…”- sugeriu um diabão respeitável.
– Com a palavra, pois, o diabinho coxo.
– Eminente Satanás, chefe supremo do reino do inferno, meu plano para combater e atrapalhar o Espiritismo é o seguinte: o Espiritismo pode ser realmente, estas coisas todas, mas os espíritas são homens como os outros, ainda cheios de defeitos e inferioridades. Homens que aceitaram o      Espiritismo vindo de outras doutrinas diferentes, trabalhados por outras religiões e doutrinas materialistas.  E ninguém se melhora de uma noite para o dia, que a natureza   não dá saltos…
– Que quer dizer com isso?
– Que devemos atacar o Espiritismo, atrapalhando os espíritas. Explorando com jeitinho os defeitos e as vaidades dos espíritas. Atirando-os uns contra os outros, estaremos prejudicando o Espiritismo.
– Explique-se.
– Explico-me com muito prazer. Mas peço a atenção desta egrégia corte para o que eu vou explicar e sugerir.
– Enfiemo-nos entre os espíritas, nas suas sessões práticas, nos seus empreendimentos, nas suas atividades.
– Principalmente mistificando, fantasiemo-nos de espíritos de luz, de guias espirituais, que os espíritas apreciam mais, via de regra, a conversinha dos espíritos do que o estudo da doutrina, para aprenderem a discernir a verdade do erro.
– Aqui, por exemplo, há um médium que inspira confiança? Pois incensemos lhe a vaidade e, por seu intermédio, toca a dar comunicações bonitas, floreadas, com ideias de molde a isolá-lo da comunhão com os outros espíritas. E toca a dizer que o Espiritismo é aquilo que eles fazem, que não precisam fazer mais para estarem com a Verdade. Tudo isto, as comunicações assinadas por nomes respeitáveis, pouco importando que o estilo seja o mesmo e as ideias banais. Se é comunicação espírita, assinada por um grande nome e recebido por um médium de confiança, os espíritas na sua maioria, vão aceitando… Há pregadores cultos e palavrosos?
– Exploremos sua cultura e palavra, para através de uma e de outra, plantarmos a confusão, levando-os a expedirem doutrinas obtusas e absurdas, de assistência a necessitados, que ‚ por aqui que o Espiritismo está captando maior número de adeptos a questão teórica da Doutrina. A questão do corpo do Cristo, que podemos explorar à vontade, é maravilhosa para separar, cada vez mais, os espíritas!

– E riu-se, o diabinho coxo, antecipando vitórias a seu plano e prosseguiu:
– Há grupamentos de espíritas, em torno de programas de aproximação, para melhor desenvolvimento da Doutrina?
– Enfiemo-nos entre eles, despertando rivalidades em uns, invejas em outros, envaidecimentos nos mais atirados, desânimos e pessimismo em muitos… Há obras de vulto e de fôlego, que planejam em nome do Espiritismo? Formemos com os que negam apoio e solidariedade a elas, emprestemos-lhes   ideias e argumentos seguros que tais obras não adiantam, não se farão… que se adiantassem, partiriam deles e de seu meio, por serem mais bem assistidos…
           
– Parece interessante plano! – admira-se um diabo respeitável.
             
– Projeta-se um largo plano de unificação do Espiritismo, de confraternização de suas entidades?
– Atrapalhemos, intuindo aos grupos que se querem aproximar, para que tais aproximações nunca se realizem. Tais ou quais grupos, ou instituições, se arvoram a dirigentes do movimento? Penetremos, jeitosamente, nelas e levemo-lo a esquecimento das lições do Evangelho, a traçarem leis e programas humanos, personalísticos, exclusivistas, de repulsa a tudo que vem de fora, a tudo que não saia de seu meio, de sua grei.
– Numa palavra, onde houver qualquer movimento de modo a colimar trabalho, solidariedade e tolerância, que são virtudes da divisa dos espíritas, porque as bases da diretriz do codificador do Espiritismo, ai nos metamos, explorando vaidades, pretensões, convencimentos e personalismos, que estaremos atrapalhando a marcha do Espiritismo…
– Compreendo, vale a pena estudar o plano, observou o Presidente.
– Estudar? Experimentar já e já! – sugeriu um diabão analista – que eu, de mim, acho-o excelente.
– E naquele mesmo instante, abriu-se o voluntariado do diabinho coxo, para porem, experimentalmente, o plano em ação. E saíram, imediatamente, levas de diabinhos coxos por   toda parte, a distribuir intuições dissolventes, a se fingirem de espíritos de luz, a se esparramarem em comunicações bonitas, a atrapalharem justamente, planos e pessoas.
– Um mês depois as levas de diabinhos coxos voltaram radiantes.
– E então, êxito na experiência?
– Absoluto, majestade! A estas horas, desafiamos que haja na Terra, uma cidade, um meio espírita, uma organização, em que exista, entre espíritas, plena harmonia, em que todos se entendam admiravelmente, em que reine paz e concórdia, em que não se hostilizem fraternalmente.
E o autor do plano largou estridente e gostosa gargalhada! “
Sem comentários.

SBC, 03/02/2005.