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VAMOS BUSCAR POLÍTICA SÉRIA

Ary Brasil Marques
Cada vez que ligamos a televisão, ficamos estarrecidos com as notícias de corrupção envolvendo políticos e pessoas ligadas ao governo.
Não cabe a nós, no preparo do presente texto, julgar a veracidade dessas notícias, pois em tudo que se ouve não existe um julgamento final completo, com possibilidade de defesa ampla e total por parte das pessoas acusadas.
Podemos, no entanto, chegar a algumas conclusões. A primeira delas é que cada povo tem o governo que merece. Os governantes são eleitos por nós mesmos, em eleições livres e sérias. Todos os candidatos são pessoas que foram escolhidas pelo nosso voto, e eles são parte de nossa população, de nosso meio.
É claro que se a população fosse composta na maioria por pessoas boas, decentes, honestas, certamente os representantes do povo que saíram desse grupo também seriam pessoas honestas.
A segunda conclusão é de que aqueles que usarem do poder em proveito próprio poderão escapar do julgamento dos homens, mas não ficarão impunes e responderão um dia pelos seus atos pois a lei de causa e efeito é certa.
Antes de julgarmos a priori e apenas por ter ouvido falar pela TV ou pela imprensa, sem analisar todos os aspectos da questão, vamos caprichar mais na escolha de nossos representantes.
Antes de votar, vamos passar os candidatos pelo crivo da razão, da análise da vida pregressa de cada um, dos benefícios ou malefícios que o mesmo eventualmente tenha feito para a sociedade e para o planeta.
Vamos registrar em uma agenda todos os nomes das pessoas que tenham cometido atos menos dignos e tomar o cuidado de jamais votarmos neles.
Busquemos anotar igualmente os nomes das pessoas de respeito, daqueles que fizeram alguma coisa boa para a comunidade sem visar interesses próprios.
Nosso voto é poderoso. Somos responsáveis por todos os atos de corrupção feitos por nossos escolhidos, caso tenhamos votado mal, sem análise, sem cuidado.
Está na hora de purificar a política. É possível ter políticos sérios e bem intencionados, e isso é fruto do trabalho de cada um de nós.
Um dia, quem sabe, nos orgulharemos de nossos políticos.

SBC, 21/09/2007.

VALORES DA VIDA

Ary Brasil Marques
O tema de hoje é a análise dos valores da vida. Os principais valores da existência humana são, em primeiro lugar, a saúde física, mental e psicológica do ser humano.
Para que tenha essa saúde integral, o homem precisa ter um lar, um emprego ou outra forma de ganhar o suficiente para sua subsistência e a liberdade de locomoção e de exercer sua cidadania.
O homem deve ter a posse do necessário e a riqueza não é essencial para a sua felicidade. Ao contrário, o excesso de bens costuma causar mais problemas do que benefícios, pois estimula o egoísmo e a ganância, trazendo consequências negativas ao progresso do espírito.
As pessoas que aplicam o seu dinheiro no desenvolvimento do país e que garantem com ele oportunidades de emprego aos menos favorecidos da sorte são muito mais felizes do que aqueles que o usam apenas para proveito próprio.
Para a manutenção da saúde física, o homem precisa ter uma alimentação adequada e de praticar exercícios físicos. O acesso a essas duas necessidades importantes depende de recursos financeiros suficientes para isso.
O ser humano precisa muito de educação, e esse item é um dos mais importantes valores da vida. Para atingir esse objetivo, deverá ter à sua disposição livros, cadernos, computadores e acessórios.
Precisa de um lar, de preferência em imóvel próprio, embora possa viver bem se tiver recursos para pagar o aluguel de sua casa. Um lar não é sinônimo de uma casa, pois o lar, além do conforto físico oferecido pelas casas, tem harmonia e paz entre os seus moradores.
O homem precisa de condições de acesso à saúde, como assistência médica e dentária, assim como de transporte. A posse de um veículo próprio dará ao mesmo uma melhor condição de locomoção.
O ser humano deve ter a posse do necessário, lembrando sempre que muitas vezes o excesso de bens materiais que possui pode representar a falta para aquele que nada tem.
O homem deve ter acesso aos meios de comunicação e ao lazer. Em sua moradia não pode haver falta de luz, de água, de rede de esgotos e de todos os serviços necessários à vida.
Deve viver em lugar seguro, limpo e higiênico, onde haja segurança e que lhe permita andar livremente pelas ruas em qualquer horário.
Um dos valores essenciais para a felicidade do homem é a existência de uma família unida por laços de amor, bem como de amigos verdadeiros. Deve respeitar o semelhante e buscar a fraternidade no meio onde vive.
A arte e a busca de valores espirituais podem trazer ao homem os elementos necessários para atingir a felicidade, estágio almejado por todos.
Os valores utilizados pelo homem são apenas empréstimos do amor divino, e terão que ser devolvidos por ocasião do término da atual vida física de cada um.
Como espírito imortal que somos, só levaremos para o plano espiritual e para nossas futuras existências as conquistas morais e espirituais amealhadas por cada um.
Os bens materiais, inclusive o nosso próprio corpo físico, são coisas transitórias que não nos servirão na nossa vida futura, razão pela qual se extinguem ou se deterioram.

SBC, 07/11/2007.

UMA VISITA A ALBERT SCHWEITZER

Albert Schweitzer – Uma visão íntima de uma das personalidades mais fascinantes de nosso tempo









Uma Visita A Albert Schweitzer – Revista Seleções – Outubro de 1954
A Aldeia de Lambaréné fica no rio Ogowe, 64 quilômetros ao sul do Equador, na África Equatorial Francesa. A região lembra o princípio do mundo: nuvens, rios e florestas se fundem numa paisagem que parece literalmente antediluviana.
Como o próprio Schweitzer a descreveu, a maior parte do ano o ar é como vapor que se desprende de um nevoeiro verde.
Tal o cenário de uma das mais famosas iniciativas missionárias do mundo – o hospital do Dr. Albert Schweitzer na floresta.
Schweitzer é incontestavelmente um grande homem, um dos maiores da nossa época ou de qualquer época.
Dada sua elevação e multiplicidade de aspectos de sua personalidade, não é fácil conhecê-lo. É um “homem completo” como Leonardo da Vinci e Goethe foram homens completos.
Seguiu quatro carreiras diferentes – Filosofia, Medicina, Teologia e Música. Escreveu livros eruditos sobre Bach, sobre Jesus e sobre a história da civilização e é a maior autoridade do mundo em estrutura de órgãos, sendo ao mesmo tempo um dos mais famosos organistas vivos. O Dr. Schweitzer conhece também mais a fundo do que muitos homens que dedicaram a vida à essas questões Estética, Zoologia Tropical, Antropologia e Agricultura e é perito carpinteiro, pedreiro, veterinário, construtor de barcos, dentista, desenhista, mecânico, farmacêutico e jardineiro é com efeito, um homem completo!
Para tornar compreensível a carreira de Schweitzer em Lambaréné, precisamos retroceder às origens. Nascido na Alsácia em 1875, Albert Schweitzer foi uma criança doentia, em contraste com a fenomenal robustez que adquiriu depois. Além disso, mais estranho ainda custou para aprender a ler e escrever e foi um estudante medíocre. Por isso é que, depois de crescido, se impôs dominar assuntos que lhe fossem particularmente difíceis, como o hebraico.
Em música foi um autêntico prodígio. Compôs um hino aos sete anos, começou a tocar órgão aos oito, quando suas pernas mal alcançavam os pedais e aos nove anos serviu de substituto do organista efetivo numa cerimônia religiosa.
Logo que se fez homem começou a exercer paralelamente três das suas quatro vidas profissionais. Estudou Filosofia na Universidade de Estrasburgo e conquistou o primeiro doutorado com uma tese sobre Kant. Estudou Teologia e em 1900, aos 25 anos tornou-se pároco da Igreja de São Nicolau, em Estrasburgo.
Estudou a teoria da música e começou sua carreira como concertista de órgão.
Aos 26 anos, tinha diplomas de doutor em Filosofia, Teologia e Música. Enquanto isso, começou a escrever uma série de livros, que nunca cessou.
Depois, com 30 anos, largou abruptamente suas três carreiras para estudar Medicina e partir para Lambaréné para o resto da vida como missionário-médico.
Por que Medicina? Ele mesmo explica: porque estava cansado de palavras e queria ação. E por que Lambaréné? Porque era um dos lugares mais inacessíveis e primitivos de toda a África, um dos mais perigosos e porque lá não havia médico.
Parentes e amigos procuraram dissuadi-lo, mas ele responde que se sentia obrigado a “dar alguma coisa em troca” da felicidade de que gozava. Estava obedecendo literalmente à palavra de Jesus: “Qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim… esse a salvará.” E como pregava sempre que “os idealistas deviam ser moderados nos seus propósitos”, Schweitzer tinha plena consciência das dificuldades que ia enfrentar.
Dedicou-se ao estudo da Medicina de 1905 a 1912 e, finalmente, com 38 anos de idade, terminou o curso. Esses anos foram os mais difíceis e fatigantes da sua vida. Um curso de Medicina já é por si só uma coisa que exige muito esforço; pois, ainda assim, ele arranjou jeito de continuar ensinando Filosofia, prosseguiu nas suas atividades como pároco da Igreja de São Nicolau, começou a trabalhar numa edição de Bach, enquanto dava concertos de órgãos incessantemente.
Casou-se em 1912. Sua esposa, judia, filha de um conhecido historiador de Estrasburgo, aprendeu enfermagem, para poder ajudá-lo na África.
Quando chegaram a Lambaréné em 1913, encontraram condições tremendas, como aliás ainda é o caso. Cada palmo de terra habitável da região tem de ser conquistado à floresta gigantesca, que é densamente povoada de animais hostis como pítons e gorilas. Os rios são infestados de crocodilos.
Albert Schweitzer construiu seu hospital do nada, praticamente com as próprias mãos. Uma vez, teve que mudar e reconstruir todo o hospital porque as velhas cabanas eram pequenas demais para conter a sua crescente clientela. Nem sempre era fácil lidar com os pacientes africanos atacados de todas as doenças, desde lepra até elefantíase. Uma das biografias de Schweitzer informa que às vezes eles comiam os unguentos receitados para afecções da pele, bebiam de uma vez um vidro de remédio destinado a durar semanas ou tentavam envenenar outros internados. Depois da morte de um paciente que chegou tarde demais ao hospital, Schweitzer tornou-se suspeito de ser um leopardo disfarçado, que tirava vidas intencionalmente. Uma vez ele se deixou cair muna cadeira e gemeu:
– Que imbecil eu fui de vir para cá tratar de selvagens como estes!
Seu fiel intérprete africano respondeu:
– É mesmo, doutor, aqui na terra o senhor é um grande imbecil, mas no céu não.
Apesar de tudo, Schweitzer gostava de Lambaréné e gosta ainda.
Atualmente, não é muito difícil chegar até Schweitzer: a Air France mantém uma linha regular com muitas paradas, que toca em Lambaréné várias vezes por semana. Eu e minha mulher desembarcamos no aeroporto e fomos recebidos por Miss Emma Haussknecht, uma enfermeira alsaciana que trabalha com Schweitzer desde 1925. É uma espécie de gerente-geral da instituição e serve o doutor como intérprete do francês ou do alemão para o inglês.
Depois de nos conduzirem às nossas acomodações, Miss Haussknecht levou-nos por um caminho enlameado, através do mato e por entre árvores frutíferas, em direção à nova aldeia de leprosos que Schweitzer está construindo.
Finalmente, perto de uma clareira, o próprio Schweitzer veio ao nosso encontro.
Tem um vigoroso nariz aquilino, bigode grisalho pendente e olhos que fitam realmente a pessoa. É de compleição robusta e usava um capacete para proteger-se contra o sol, camisa branca aberta no peito, calças remendadas e grossos sapatos pretos. Força, repouso, domínio e sensibilidade, todas estas características se refletem na sua fisionomia orgulhosa, sulcada e penetrante.
É um rosto magnífico, e ele é um homem de aspecto maravilhoso. Schweitzer conduziu-nos até à aldeia de leprosos, onde vivem os doentes mais graves. Aí o velho doutor imediatamente entrou em ação dando ordens a uma turma de trabalhadores. Schweitzer começa e termina cada dia com essa ocupação.
É preciso que alguém se incumba disso. Os leprosos não estavam tão doentes que não pudessem trabalhar; era apenas preguiça e dormência, devido ao tédio e à indiferença.
Schweitzer encaminhou-se para o meio deles com grunhidos explosivos e exortativos. Ele mesmo pegou numa pá e começou a entoar uma espécie de cantilena para marcar o compasso do trabalho de escavações.
O Mundo de hoje conta com bem poucas personalidades que possam ser consideradas valores decisivos para os decisivos da humanidade, espíritos capazes de colocar o exemplo de suas próprias vidas como garantia máxima de que outros processos e outros métodos, em tudo diferem dos que estão sendo usados por toda a parte, possam ser adotados na solução dos problemas internos e externos de diferentes povos.
Albert Schweitzer é um desses raros. Favorecido desde o berço com um ambiente de paz e de felicidade na casa paterna, cercado em sua mocidade de um prestígio capaz de desnortear outros jovens que não o bem humorado e discreto estudante universitário, era bem o tipo de uma vida de elite que podia facilmente ter procurado nos requintados centros de cultura da Europa uma glória cômoda e fácil.
Não estava, porém, no seu espírito viver assim. Se a inteligência ardia por uma realização ampla e forte da vida, o coração firme e audaz adivinhava a grandeza da missão que o destino lhe reservara.
Voltava os olhos para a África, vendo na miséria das selvas o mesmo mundo infeliz e desamparado que cativara para sempre o coração generoso do bravo de Livingstone. Era lá que estava o campo de batalha onde o seu profundo ideal humanista encontrara necessária e oportuna aplicação.
– Pedro de Almeida Moura, professor da Universidade de São Paulo, no prefácio ao livro de Albert Schweitzer “Decadência e Regeneração da Cultura”, Ed. Melhoramentos, 1948.
“Allez-vous OPP! Allez-vous OPP-upp-OPP! Hupp, upp, OPP!”
O hospital surpreende alguns visitantes, que esperam um asséptico recanto de tranquilidade, espiritualidade e vida extra mundana. Na realidade ele parece aquilo que realmente é, uma aldeia nativa. Os pacientes vêm de grandes distâncias, muitas vezes com as famílias.
O acampamento está situado numa pequena elevação e tem 45 ou mais construções, todas simples e funcionais. O hospital conta entre 350 e 400 pacientes africanos e 75 auxiliares africanos remunerados, alguns deles leprosos (a lepra é provavelmente menos contagiosa do que a tuberculose). Não há caminhos nem estradas calçadas. Não há água corrente, nem eletricidade, a não ser na sala de operações e não há raios X.
Parece haver em torno maior número de animais do que de seres humanos. O hospital tem cerca de 150 cabras e há toda espécie de criaturas, como periquitos e um filhote de mandril. Perto do salão de jantar há um porco selvagem numa jaula e um macaco acorrentado a uma árvore. Quatro graciosos antílopes vivem num tosco cercado de arame; o doutor lhes dá de comer todas as noites depois do jantar.
O que parece corresponder à principal enfermaria do hospital é uma longa estrutura de um andar, dividida em quartos estreitos e escuros, cada um dos quais dá para um pátio.
Os pacientes estão deitados em jiraus cobertos de esteira. Do lado de fora de cada porta arde uma pequena fogueira fumacenta, onde a família do doente prepara a comida. É bom manter essas fogueiras acesas, pois afastam os mosquitos e assim diminuem a incidência da malária e da moléstia do sono.
Quando o paciente não tem família e não está em condições de poder ele próprio cozinhar, torna-se um problema. Os enfermos em geral não aceitam comida de ninguém que não pertença à sua tribo, com medo de serem envenenados.
Schweitzer já salvou milhares de vidas, o que é tanto mais extraordinário quanto considerar o primitivismo e a pobreza de seu equipamento. Que eu visse, não há qualquer espécie de mecanismo para esterilização de ataduras sob pressão; é preciso ferver água sobre fogueiras de lenha. Durante anos, houve falta de drogas e ataduras. Todo o alfinete de segurança é precioso. Coisas que se consideram normalmente parte integrante de um hospital são objetos de assombro, quando existem.
Disseram-me que Schweitzer não gosta de complicadas invenções modernas.
Para começar, a sua manutenção é difícil num clima tropical. Que adianta ter sacos de água quente, se apodrecem numa semana? Além disso, ele quer que os africanos se sintam à vontade, em circunstâncias que lhes deem a impressão de estarem em casa.
Uma manhã espiamos para dentro da sala de operações; era espantoso que do pátio se pudesse olhar diretamente lá para dentro. Sobre a mesa estava um paciente nu, com mercurocromo escorrendo do abdome. O médico que fez a operação – uma hérnia comum – foi almoçar uma hora mais tarde. Não tivera tempo de lavar-se completamente e sentou-se à mesa em mangas de camisa, com os braços ainda rubros de mercurocromo. Não quero dizer com isso que a cirurgia no hospital de Schweitzer seja rústica ou incompetente. Ao contrário, é cirurgia de alta classe.
A vida do hospital gira em torno de uma área descoberta, e sempre cheia, perto do salão de jantar. Há um vaivém de africanos, carregando seus produtos em carretas primitivas. Mulheres agachadas no chão amarram folhas de palmeira para cobertura de casas, outras trabalham em máquinas de costura numa varanda, e outras ainda passam roupa com primitivos ferros cheios de brasas. O doutor anda de um lado para outro no meio dessa ordenada animação, providenciando para que todos trabalhem. A atividade é extraordinariamente intensa.
Embora não seja imposta francamente, a disciplina no hospital é bastante rigorosa. Se ocorre algum distúrbio, os litigantes são chamados ao gabinete do Dr. Schweitzer, um de cada vez. Com os olhos fechados, o doutor lhes diz qual é a sua ordem: “Faça isto” ou “Não quero mais aquilo”, sem permitir desculpas ou explicações.
Por vezes, Schweitzer chega a ser ditatorial, afetado e irascível. E por que não? Se não tivesse defeitos, seria intolerável. Por outro lado, há ocasiões em que tem um encanto mágico, e é literalmente adorado pelos seus velhos companheiros. Seu riso – quando ri – é uma impressionante indicação da sua doçura interior. É um riso resplendente, um riso cristalino.
O chefe da clínica de Lambaréné é húngaro (Schweitzer, aos 79 anos, já não exerce tão ativamente a Medicina); outro é um dos sobrinhos de Schweitzer. As enfermeiras, todas europeias, parecem tão tímidas, devotas e afastadas do mundo exterior como freiras. Uma delas me disse que gozam geralmente de boa saúde, mas que apanham malária com mais facilidade quando ficam muito cansadas, depois de tratarem pacientes europeus, porque estes precisam sempre de mais cuidados do que os africanos (os europeus vêm, na maioria, de acampamentos de lenhadores das proximidades e têm acomodações separadas no hospital). Diga-se de passagem que Schweitzer nunca viu um caso de apendicite num africano e o câncer é praticamente desconhecido.
A atitude de Schweitzer para com os africanos é um misto de benevolência, perplexidade, irritação, esperança e desespero. São tantos os desamparados, tantos os que não têm o menor senso de responsabilidade ou prazer na realização. Diz ele que os africanos não têm absolutamente nada que fazer depois que terminam o trabalho à tarde, mas que nunca lhes ocorre pescarem no rio, embora precisem de mais proteína. Se aprendem alguma coisa, afluem imediatamente para as cidades e procuram ser estenógrafos. Entretanto, ele, Schweitzer, não consegue encontrar um bom carpinteiro, nem mesmo um homem para cuidar do pomar.
– Eu sou o único camponês! – disse-nos ele, batendo no peito.
Schweitzer cultiva quase todas as espécies de frutas. Mas devido a uma arraigada superstição nativa, segundo a qual um homem que planta uma árvore frutífera morre antes que ela dê os primeiros frutos, tem sido obrigado a plantar e tratar a maioria das árvores com as próprias mãos. Uma das coisas de que mais se orgulha é de haver tornado Lambaréné um lugar praticamente autossuficiente em matéria de alimentação.
São facilmente desculpáveis suas irritações com os africanos que, por estupidez ou preguiça, não o ajudam a cuidar das suas árvores. Disse ele:
– Eu ponho aqui uma manga, ali uma banana, mais além uma fruta-pão. Os africanos não sabem distinguir uma árvore da outra. Explico-lhes. Eles se afastam e, quando chegam ao rio, passados dez minutos, já esqueceram.
Tive a impressão de que ele não acredita muito na capacidade dos africanos – pelo menos nos da sua zona – para um governo autônomo.
Detesta a opressão e acredita piamente na fraternidade do homem.
Mas tem pouco contato direto com muitas das violentas tensões da África moderna e sua ânsia de progresso político.
Estivemos sentados no jardim em caixotes virados, discutindo sobre estes e outros problemas. Passavam rapazes carregando baldes d’água.
Um deles caminhava lentamente e o doutor voltou-se para ele com um apelo resignado e exasperado:
– Uoulez-vous marcher? VOULEZ- vous!
Um segundo depois, ele nos dizia que a única maneira de chegar ao africano era “pelo coração”.
Às refeições, Schweitzer senta-se no centro de uma longa mesa, com os convidados de honra em frente.
No momento de começar a refeição, diz uma breve oração em francês; logo depois do jantar (nenhuma refeição dura mais de meia hora), anuncia em voz estentórea um hino, e são distribuídos livros de hinos.
Marcha então para um minúsculo piano, numa das extremidades da sala, e toca brevemente, mas com grande vigor e precisão, enquanto os demais presentes cantam. Depois volta para seu lugar na mesa, inspeciona uma lista de textos bíblicos, abre bruscamente uma Bíblia e lê algumas linhas.
Schweitzer é um conversador extremamente incisivo, vivo e autorizado, mas raramente fala durante as refeições. A explicação, perfeitamente válida, é que está muito cansado.
Depois do jantar, os médicos e as enfermeiras reúnem-se em um canto da longa sala e tomam chá de canela. Uma noite Schweitzer nos fez companhia até depois das nove horas. Ao sair da sala de jantar, enche os bolsos de pedacinhos de comida para dar aos antílopes. A seguir – depois que desce o silêncio sobre o resto do acampamento – ele trabalha até meia-noite ou mais tarde ainda escrevendo ou respondendo cartas. Uma vez assombrou os guardas da Alfândega de Bordéus ao embarcar num navio com alguma correspondência que não fora respondida. Enchia quatro sacos grandes.
Quando partiu para a África, Schweitzer pensou que estava abandonando para sempre as coisas que lhe eram mais caras – a arte e o ensino. Mas sempre teve um piano consigo na África e assim pôde manter em dia a sua música. Depois da Segunda Guerra Mundial, suas gravações de Bach em órgão (feitas durante umas férias que passou na Europa) têm obtido grande êxito artístico. Cada vez que volta à civilização, faz uma longa série de conferências, e tem sido homenageado por universidades sem conta. Além disso, trabalhando à noite, tem conseguido manter uma produção literária constante. O ano passado, foi lhe conferido o prêmio Nobel de Paz de 1952.
Tem um penetrante sentido de valores e um bom e sarcástico senso de humor. Quando visitou os Estados Unidos, pela primeira e única vez, em 1949, para assistir ao Festival de Goethe em Aspen, Estado de Colorado, mostrou-se muito lisonjeado. Schweitzer não tocou especialmente para nós. Ele toca todas as noites, principalmente quando tem os olhos cansados. Disse há pouco tempo a um visitante “Toco para os meus antílopes.”
Mas foi um fascinante privilégio ouvi-lo tocar, e essa imagem dele, sentado ao velho piano maltratado, no meio da floresta silenciosa e ameaçadora, é que eu guardarei melhor – a imagem daquele velho e irascível Bismarck do espírito, desse tirano com coração de ouro.

Mais (Biografia)

TUDO PASSA

Ary Brasil Marques
Na Terra, tudo passa. A vida do ser humano em nosso planeta é muito curta e efêmera. Tudo passa. Passam os momentos de alegria, assim como passam os momentos de dor. Passam as grandes obras, os países, as cidades, os monumentos.
A grande Babilônia passou, assim também o Império Romano. O Coliseu passou, hoje é só ruínas. O muro de Berlim já passou, acabou. As torres gêmeas de Nova York pareciam inexpugnáveis, mas não eram. Acabaram. O Titanic afundou. O Zepelim incendiou. A União Soviética deixou de existir. Pelé não joga mais, e Ayrton Senna nos deixou.
Trabalhei em minha mocidade numa grande empresa, a Rede Mineira de Viação, estrada de ferro que cobria 4 estados do País. Havia uma grande estrutura, milhares de quilômetros de via férrea, estações enormes, um grande patrimônio em locomotivas, vagões, aparelhos de telégrafo, de rádio, linhas telefônicas, escritórios, materiais diversos, além de um número muito grande de empregados. Acabou tudo. Só ficou sucata. Algumas das estações foram aproveitadas para outras finalidades. Fui telegrafista, e o telégrafo já não existe em parte alguma do mundo.
Os grandes dirigentes de todos os países já não existem e vão sendo substituídos ao longo do tempo por outros personagens. Todos os governos, inclusive o dos grandes ditadores que amedrontaram o planeta em épocas diferentes, acabaram. Nem Nero, nem Calígula, nem Hitler, nem Mussolini, nem Fidel Castro, nem Saddam Hussein, nenhum deles está no comando hoje.
O sofrimento, as doenças incuráveis, os dias de dificuldades financeiras, os momentos de desespero e de tristeza, também passam. Guerras cruentas passaram, inclusive aquelas que tiveram âmbito mundial.
Tinha razão o nosso querido Chico Xavier quando era procurado por pessoas que passavam por momentos de intensa dor, ele dizia:- “Isso também passa.”
Procuremos, pois, guardar tudo aquilo de bom que a vida nos oferece dentro de nosso coração. O restante, deletemos, pois mesmo que não o fizermos, o tempo fará com que passem.

SBC, 03/06/2007.

TRAGÉDIAS COLETIVAS

Ary Brasil Marques
Mais uma vez vimos pela TV uma tragédia de grandes proporções. Acompanhamos estarrecidos as imagens do maior acidente de aviação do país, ocorrido ontem em São Paulo.
O mundo se tornou pequeno, e hoje em dia podemos acompanhar com detalhes tudo o que ocorre em qualquer parte da Terra, no exato instante do ocorrido.
A tragédia trouxe com ela muita tristeza e muita dor. Além das famílias atingidas, via-se nas fisionomias de todos a surpresa, o desconforto, o abatimento diante de um fato tão terrível e sem volta.
Nada se pode fazer, a não ser envolver a todos os nossos irmãos atingidos pela terrível ocorrência, com uma prece. Rogamos ao Senhor da Vida que dê a todos a conformação necessária para receber e superar golpe tão intenso.
Vamos fazer uma reflexão sobre essa e outras tragédias coletivas. Qual será a razão de tanta dor? Por que são atingidas pessoas que se unem em ocasiões esporádicas e acabam morrendo juntas? E os casos de pessoas que deveriam estar em determinado voo ou lugar e que, por um acontecimento fortuito que lhes ocorre, são desviados de sua intenção e por essa razão acabam sendo salvos?
Imaginemos a cena, do ponto de vista dos espíritos que estão no Plano Espiritual.
Os espíritos superiores, que naturalmente conhecem as razões do que ocorre, devem se unir para proteger e amparar aqueles que chegam lá de surpresa, desnorteados, desorientados.
É um trabalho enorme, dos dois lados da vida. Do lado de cá, bombeiros e policiais lutando para desobstruir as áreas atingidas e procurando salvar pessoas. Do lado de lá, equipes de médicos e enfermeiros espirituais recebendo, medicando e auxiliando os recém-chegados, amenizando em parte a situação aflitiva que os mesmos se encontram.
Sabemos que tudo o que acontece faz parte de um plano divino, e que os vários fatores que influenciam um acontecimento dessa ordem obedecem a causas cármicas e que funcionam como instrumentos de reajuste para os espíritos em evolução. É por isso que as pessoas que não fazem parte do compromisso cármico são afastadas das tragédias a que não devem participar, por algo repentino e não previsto.
A propósito de tragédias aéreas de grande porte, lembro-me de um fato ocorrido há muitos e muitos anos atrás. Uma noite, minha cunhada Elza sonhou que tinha ocorrido um grande acidente aéreo, e que ela estava auxiliando no trabalho de socorro aos feridos, que eram muitos. Acordou suando, com um cheiro de éter nas mãos e em todo o quarto.
Mais tarde soube pelos noticiários da televisão que tinha acontecido um enorme desastre aéreo no aeroporto de Orly, em Paris. No acidente em questão, morreram muitas pessoas, inclusive brasileiros. Dentre os mortos estavam amigos nossos, parentes de Dona Dolores, e também o cantor Agostinho dos Santos. Ao ver as fotos do acidente, Elza identificou os mesmos com o sonho que tivera.
Não temos explicações para tanta dor e para tanta tristeza. Resta-nos deixar tudo nas mãos sábias de Deus. Ele, com toda a certeza, sabe o que é necessário para a nossa caminhada na Terra.

SBC, 18/07/2007.

TERCEIRO MILÊNIO – NOVA JORNADA

Ary Brasil Marques
O novo milênio começou cheio de esperanças. Todos queriam uma nova era de paz e de desenvolvimento, e acreditava-se para breve o tão falado e esperado mundo de regeneração, que provavelmente viria com o terceiro milênio.
Acontecimentos inesperados balançaram o mundo. Focos de violência e de guerra entre as nações. Atos de terrorismo nunca vistos. O alicerce da civilização foi fortemente abalado com os acontecimentos ocorridos nos Estados Unidos. O fantasma da guerra voltou a pairar sobre os homens, trazendo com ele uma série de problemas na área econômica e financeira, fazendo voltar a intranquilidade no planeta.
Muitas famílias viram o seu nível de vida cair violentamente. Executivos que tinham altos ganhos viram, de repente, faltar o dinheiro. Isso trouxe um aumento muito grande de depressão, de stress, de problemas neurológicos.
O homem voltou suas vistas para a religião. Os templos de todos os credos passaram a receber multidões, ávidas de orientação, de caminhos, de perspectivas.
Os centros espíritas se encheram ainda mais. Nos dias de tratamento espiritual não se encontra lugares vagos nas casas espíritas.
Nesse contexto de sofrimento e de insegurança, o nosso Centro Espírita Joanna de Ângelis cumpriu com muita dedicação e competência o seu trabalho. Seguindo sua tradição de ser um pronto socorro espiritual, abriu suas portas a todos, acolhendo os tristes, os inseguros, os desesperados, os famintos, os desempregados, os angustiados. Todos receberam aqui a luz do Evangelho, o carinho, a orientação, a diretriz segura contida na codificação espírita, e a esperança. Esperança de um futuro melhor. Esperança de um mundo melhor.
Quando será que vai chegar o mundo de regeneração? Ele virá mesmo ou é uma utopia? O planeta Terra voltará a ter alegria? Estaremos próximos do fim?
Todas essas perguntas são respondidas pelos espíritos do bem, salientando que a fase atual, de incertezas e de violência, é o prenúncio de melhores dias. Pela lei de causa e efeito, o homem está colhendo tudo aquilo que plantou durante milênios, e o bendito sofrimento acabará levando o ser humano a repensar sua vida, a se melhorar, a se reformar. Com a reforma do homem indivíduo, virá certamente a reforma do homem grupo, do homem nação, do homem povo.
Nosso Joanna de Ângelis vem crescendo. Além dos trabalhos mediúnicos, dos trabalhos assistenciais, dos cursos, dos passes e das atividades sociais e comunitárias, foi criado um dia especial para vibrações pela paz. Nesse dia, com leituras, preces e com o poder extraordinário da música, vibra-se por todos os povos da terra, alcançando as regiões mais pobres e miseráveis do planeta com doses elevadas de puro amor e de fraternidade.
O primeiro ano do terceiro milênio está chegando ao fim. Acreditamos que com o esforço conjunto de todos, sem distinção de credos ou de partidos, estamos caminhando para o esperado planeta de regeneração. Demandará muito trabalho, doses ainda maciças de dor e de sofrimento. Mas a perseverança no trabalho e a implantação do Evangelho do amor em todos os corações, acabará por trazer, um dia, a esperada transformação.
Não desanimemos. Como integrantes do imenso exército do Cristo na Terra, lutemos. Nossa arma é o amor. E o amor cobrirá um dia a toda a Terra, fazendo voltar a alegria, o sorriso das crianças, os pássaros, as flores, os rios, as florestas, a luz!

SBC, 20/11/2001.  

SORTE OU AZAR

Ary Brasil Marques
Tanto nos jogos esportivos como na vida, há pessoas que atribuem as quedas e as conquistas à influência de sorte ou de azar.
Na verdade a bola que bate na trave e não entra não significa sorte do goleiro ou azar do atacante. Faltou competência a quem chutou. Faltou um treinamento mais acurado.
A mesma coisa se dá nos casos de cobrança de pênalti. Muita gente costuma dizer que pênalti é loteria. Será? Quando uma equipe treina bastante e se aplica, as probabilidades de perder uma penalidade mandando a bola para fora, na trave ou com chute fraco que possibilita a defesa do goleiro, são mínimas. O profissional da bola tem a obrigação de saber bater bem a penalidade, assim como o médico cirurgião tem que acertar sempre em seu trabalho pois está lidando com vidas humanas, e o piloto de avião se errar matará dezenas de pessoas.
Quantas vezes ouvimos referências a pessoas bem sucedidas no comércio, na indústria ou nas profissões liberais, de que essas criaturas tiveram sorte. Não foi sorte, foi trabalho e inteligência.
Outros afirmam que alguém mal sucedido, que é demitido toda hora dos seus empregos, ou tem uma série de problemas sucessivos, é uma pessoa azarada. Não é assim. Pode acontecer que falta à pessoa em questão, mais iniciativa, mais trabalho, mais entusiasmo. Pode ser ainda que ela esteja colhendo aquilo que plantou ao longo desta e de outras existências. Muitos recebem de volta os males que causaram aos outros.
Atribuir os resultados obtidos à sorte ou ao azar é julgar que Deus permite que aconteçam coisas sem qualquer razão ou critério, como uma bolinha que se tira nos jogos. Mesmo na loteria, os ganhadores certamente são escolhidos não pela sorte ou azar, mas pela necessidade do espírito de passar por esta ou aquela situação. Muitas vezes a tão sonhada sorte de ganhar fortunas sem fazer força pode representar para o espírito uma prova dificílima em seu processo evolutivo.
Você quer vencer no trabalho ou no esporte? Treine, trabalhe muito, seja o melhor naquilo que faz. Não fique chorando ao ver o seu oponente vencer, e culpando a sua falta de sorte. Seja honesto, aceite a derrota reconhecendo o valor de seu adversário, assim como você espera a recíproca em caso de sua vitória.
Sorte ou azar seria o acaso. E o acaso não existe.

SBC, 20/07/2007.

SAÚDE INTEGRAL

Ary Brasil Marques
O conceito de saúde do ser humano tem sofrido muitas alterações ao longo do tempo.
Saúde não é apenas um estado do corpo livre de doenças. Para que a pessoa possa se considerar com saúde ela tem que ter equilíbrio físico, mental, social, financeiro e espiritual.
Quando o nosso corpo físico funciona de forma harmônica e perfeita, livre de males produzidos por enfermidades, diz-se que temos saúde.
Nossas atitudes em relação ao meio ambiente e aos nossos semelhantes determinam nossa saúde mental.
A nossa maneira de interagirmos com os demais dão a exata dimensão de nossa saúde social.
Quando a nossa receita nos permite ter uma vida digna e auferir das condições mínimas de conforto, com moradia, educação e lazer, temos uma boa saúde financeira.
A Organização Mundial de Saúde estabeleceu um conceito novo a respeito de saúde, como transcrevo abaixo:
A organização Mundial de Saúde (OMS) propõe, em sua Carta Magna de 7 de abril de 1948, um conceito de Saúde subjetivo e idealizado: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença”.
A VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, divulga o seguinte conceito de Saúde: “Saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação; educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acessos aos serviços de saúde, é assim antes de tudo, o resultado das formas de organização social”.
De acordo com esses novos conceitos, é dever de todo cidadão buscar a sua saúde, a dos seus familiares e a de todos os habitantes do planeta.
Quando o mundo não tiver mais as profundas diferenças sociais e o imenso abismo que separa milhões de irmãos nossos da minoria privilegiada da população, nosso planeta Terra poderá também ser considerado um planeta saudável.
Isso só será possível quando buscarmos uma saúde ainda mais perfeita, a saúde integral, a saúde espiritual de cada um de nós.
A saúde espiritual é alcançada com a sintonia de nossas vidas, de nossas atitudes, com o Evangelho do Amor. Aplicando integralmente o amai-vos uns aos outros, certamente chegaremos um dia a esse objetivo maravilhoso, que é de transformar a Terra em um planeta feliz, harmônico, saudável e belo.

SBC, 25/09/2007.

RELIGIÃO DO FUTURO

Ary Brasil Marques
O homem busca Deus através das inúmeras religiões existentes no planeta. As religiões são instrumentos utilizados pelas pessoas como auxiliares de uma boa conduta, possibilitando assim às mesmas o acesso a uma vida feliz após a morte do corpo físico.
Todas as religiões são caminhos que, cada uma à sua maneira, nos leva a Deus. Podemos comparar as religiões aos rios existentes na Terra. Todos os rios se dirigem para o mar, o grande oceano. Alguns deles, pequenos riachos, chegam ao mar servindo de afluentes aos rios maiores, e no final todos chegam lá.
O importante é a conduta do homem, que pode ser reta e boa mesmo praticada por pessoas que não têm religião.
A religião funciona como um apoio, um instrumento de elevação do ser humano, da mesma forma que a bengala ajuda a caminhada dos que têm deficiências para andar. Muita gente não precisa de bengala para andar e correr. Outras, com problemas físicos, utilizam desse instrumento para a locomoção.
A maior personalidade que passou pela Terra, Jesus Cristo, serve de parâmetro para os ensinamentos de muitas religiões. Ele próprio nos disse ser o caminho, a verdade e a vida, e de que ninguém irá ao Pai senão por ele.
O caminho que nos mostra Jesus é muito simples e não necessita de grandes conhecimentos para segui-lo. O Mestre resumiu esse luminoso caminho em uma única frase. Nessa frase, com um poder de síntese inigualável, ele resumiu os ensinamentos de toda a lei e dos profetas.
Amar a Deus com todas as nossas forças e amar ao próximo como a nós mesmos é o caminho de luz. Basta fazer isso. As religiões levam as pessoas a caminhar nesse propósito de luz, e assim alcançam o Reino dos Céus. Aqueles que já possuem a elevação suficiente para amar a Deus e ao próximo não precisam mais de instrumentos de apoio, e fazem isso naturalmente.
Assim, a religião do futuro não terá divisões, nem nome, nem precisará de rituais, de sacerdotes, de pastores ou de médiuns. Bastará a conduta reta, no amor incondicional à vida, aos semelhantes e por consequência à Deus.
A Doutrina Espírita, que traz de volta a simplicidade e a pureza dos primitivos cristãos, é um verdadeiro facho de luz na implantação na Terra desse Reino de Amor.

SBC, 12/10/2007.  

REGIME PARA EMAGRECER

Ary Brasil Marques
É impressionante, nos dias de hoje, o número de pessoas que fazem regime para emagrecer. Todos os dias vemos na mídia programas que ensinam como as pessoas podem se livrar das gorduras acumuladas, e ouve-se muito falar de colesterol, triglicérides, alimentos diet e light, o que se deve e o que não se deve comer.
Há um outro tipo de regime. Imaginemos o ser humano, em fila, diante de uma porta estreita que leva a um mundo lindo, no plano espiritual.
A porta é estreita e só passam nela aquelas pessoas que têm uma silhueta esbelta, pois os que têm gorduras espirituais acumuladas, por sua imensa circunferência, não conseguem passar.
Que gorduras são essas que tanto prejudicam o espírito? São as imperfeições, tais como o orgulho, a inveja, a avareza, o medo, a culpa, a mentira, a tristeza, a prepotência, o preconceito, a vaidade, o inconformismo, o desânimo, a omissão, o ódio, o desamor e muitos outros defeitos que carregamos durante o período de aprendizagem do espírito. Fomos todos criados simples e ignorantes, mas perfectíveis, e temos uma longa jornada pela frente na escola da vida.
Cada um de nós tem a liberdade de ação, e aprenderemos com as experiências que tivermos e com as atitudes que tomarmos, ao longo do caminho. Vamos ter que repetir tantas vezes que forem necessárias até aprendermos. Temos que fazer uma espécie de regime. Ao invés de procurar eliminar as gorduras que nos fazem engordar no corpo físico, precisamos eliminar aquelas que nos prejudicam a alma, o ser imortal que somos e que busca alcançar o reino dos céus, ou seja, a plenitude, a felicidade, o estado de espírito puro.
É importante manter um corpo esbelto, mas ainda é mais importante manter um espírito livre de imperfeições, apto a passar na porta estreita que nos levará à felicidade.
Para conseguirmos o nosso objetivo, temos que seguir por um caminho. É aquele caminho luminoso que nos trouxe o Mestre Jesus, caminho repleto de amor incondicional para com todos os nossos semelhantes, independentemente do que eles possam nos ter feito em algum momento.
Esse processo nos leva ao perdão, única maneira de nos livrar das algemas que nos ligam a momentos ruins. Perdoando nos livramos dessas algemas e tornamos nossa vida mais leve. Amando o próximo estaremos unindo nossas forças com nossos irmãos para construirmos juntos um novo mundo, mais justo e mais feliz. Um mundo de paz, de harmonia, de respeito, de trabalho, para a implantação do amor em nossas vidas.
Dia virá que não precisaremos mais de fazer regimes para emagrecer nem regimes para nos tornar melhores e em condições de passar na porta estreita. A passagem será suave para todos, sem distinção, pois ai todos nós estaremos seguindo o caminho do amor preconizado pelo Cristo.

SBC, 22/05/2007.