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JEAN-BAPTISTE-LACORDAIRE – BIOGRAFIA

Jean-Baptiste-Lacordaire

Em junho de 1853, quando as mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, datada de Flavigny, ele escreveu:

“Vistes girar e ouvistes falar das mesas? – Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e fiz falar. Elas me disseram coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções terríveis, enterrava essas estranhas práticas na sombra. Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o mundo dos espíritos”.

O missivista era Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon.

A despeito de seus pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.

Completando os estudos no Seminário, na qualidade de professor, pôde constatar o relativo descaso dos seus estudantes pela religião. No intuito de despertar a afeição pública para a Igreja, como colaborador do jornal L’Avenir, passou a lutar pela liberdade daquela da assistência e proteção do Estado.

Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.

Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha largamente subvertido.

Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro. Cristianismo, por poder dar à liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os meios de influência necessários para isto.

Insistia que o Estado devia cercear seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas .
Foi Membro da Academia Francesa e o Codificador inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo, comentando:

“Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos Espíritos.”

Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium “escrevente habitual” Morin, descreveu a presença do espírito do padre Lacordaire, como “um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (…) Espírita antes do Espiritismo (…)” e concluiu:

“Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo.”

Mas ele mesmo, Lacordaire, retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.

Fonte: site: www.caminhosluz.com.br

INÁCIO BITTENCOURT – BIOGRAFIA

Inácio Bittencourt

Nascido a 19 de abril de 1862, na Ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo (Portugal), e desencarnado no Rio de Janeiro a 18 de fevereiro de 1943.

Em plena juventude, emigrou para o Brasil, sem alimentar ideia de enriquecimento, mas buscando um ideal que sua intuição afirmava poder encontrar em sua segunda pátria.

Sem qualquer proteção ou amparo, desembarcou no Rio de Janeiro, sozinho e com irrisória quantia no bolso. Entretanto, já era um jovem de caráter sério e de grandes dotes morais.
Inácio Bittencourt foi um desses abnegados, que só se alegravam com a alegria do seu semelhante. Por isso foi aquinhoado com a mediunidade natural, que geralmente depende da evolução espiritual do indivíduo. Ela surgiu espontaneamente, sem qualquer esforço de planejamento, como um imperativo da essência de sua alma boa e sempre disposta à prática do bem.

Aos vinte anos de idade inteirou-se da verdade espírita. Bastante enfermo e desesperançado, foi levado à presença de um médium chamado Cordeiro, residente na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e, graças ao auxílio espiritual recebido, teve a sua saúde completamente restabelecida.

Inconformado com a rapidez da cura, voltou e indagou do médium: “Não sendo o senhor médico, não indagando quais eram os meus padecimentos e não me tendo auscultado ou apalpado qualquer um dos órgãos, como pôde curar- me?”

E a resposta veio incontinenti: “Leia “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”. Medite bastante e neles encontrará a resposta para a sua indagação”.

Bittencourt seguiu o conselho e, desde logo, com grande surpresa e naturalidade, se apresentaram nele algumas faculdades mediúnicas.

Descortinando novos horizontes, rompido o véu que impedia que conhecesse novas verdades, integrou- se resolutamente na tarefa de divulgação evangélica e de assistência espiritual aos mais necessitados.

Bem cedo, com trinta anos de idade, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espíritas e mesmo fora deles. Poderia ter alcançado culminância na política, desde que aceitasse a indicação de seu nome para uma chapa de deputado, uma vez que era apoiado por vários senadores da República. Sua vitória na eleição não sofreria dúvida. Porém, sempre humilde, fugindo aos movimentos alheios à caridade, preferiu viver no seu mundo, no qual reinava a figura exponencial e amorosa de Jesus Cristo.

Fundou a 1º de maio de 1912, e dirigiu- o durante mais de trinta anos, o semanário “Aurora”, que se tornou conhecido e apreciado veículo de divulgação doutrinária. Sob sua presidência foi fundado cm 1919 o “Abrigo Tereza de Jesus”, tradicional obra assistencial até hoje em pleno funcionamento, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas, de ambos os sexos.

Fundou o Centro Cáritas, juntamente com Samuel Caldas e Viana de Carvalho, presidindo-o até a data da sua desencarnação. Tomou parte ativa na fundação da “União Espírita Suburbana” e do “Asilo Legião do Bem”, que acolhe vovozinhas desamparadas.

Durante alguns anos exerceu também a Vice-Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o “Centro Humildade e Fé”, onde nasceu a “Tribuna Espírita”, por ele dirigida durante alguns anos.

A mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt mereceu diversas opiniões.
Algumas vezes chegou a ser processado “por exercício ilegal da medicina”, mas sempre foi absolvido.

Em 1923 houve um acórdão importante do Supremo Tribunal Federal, a respeito.

Certa vez, no Centro Cáritas, ao ensejo de uma prece, ouviram-se na sala, de forma bastante nítida, acordes de um violino. O artista invisível executava estranha e belíssima melodia, envolvendo a todos em profunda emoção. Bittencourt, então, salientou que aquela audição representava magnânima manifestação da graça de Jesus Cristo, permitindo que chegasse ao grupo o de que mais ele necessitava, para compreender a ressonância de uma prece sincera no plano divino.

Manifestações dessa natureza não eram raras no Centro Cáritas, possibilitando sempre vibrações amorosas dos encarnados, protegidas pelos Mentores Espirituais, de maneira que essas forças ali chegavam para as sensibilizantes demonstrações de afeto e carinho.

Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt granjeou a notoriedade, a estima e a admiração de todos, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu mediunato, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava às tribunas doutrinárias, principalmente à da Federação Espírita Brasileira, a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade.

Embora não fosse dotado de cultura acadêmica, escrevia artigos doutrinários de forma surpreendente, e fazia uso da palavra em auditórios espíritas de forma bastante eloquente.
O simples fato de dirigir um jornal de grande penetração como o foi “Aurora”, demonstra a fibra e o valor desse seareiro incomparável e incansável.

Com 80 anos de idade, retornou à pátria espiritual, após lenta agonia. Dias antes da sua desencarnação, com a coragem e a serenidade de um justo, ditara para os seus familiares os termos do convite para os seus funerais: “A família Inácio Bittencourt comunica o seu falecimento. A pedido do morto, dispensam-se flores”. Dona Rosa, sua bondosa companheira, ponderou: “Você amontoou flores na vida terrena, e essas flores virão agora engalanar a sua vida espiritual”. O velho seareiro, dando, mais uma vez, prova admirável da capacidade de transigência do seu Espírito altamente evoluído, aquiesceu: “Está bem. Concordo com você e aceito as flores. Elas significarão a simpatia e o afeto de bondosos amigos para com o meu Espírito. Mas desejo que se transformem na derradeira homenagem que presto a você, nesta encarnação, ofertando-as logo após recebê-las. Nosso filho Israel se encarregará de proceder à oferenda”.

Inácio Bittencourt foi um exemplo vivo de virtudes santificantes. A todos os golpes de malquerença e a todos os gestos de ofensa, sempre replicava com sorriso e perdão. Soube sempre ser tolerante e compreensivo para com aqueles que o criticavam. Levou sempre a assistência material e espiritual a todos aqueles que dela necessitavam, fazendo com que sua ação fecunda e benfazeja se baseasse sempre nos lídimos preceitos evangélicos, pois, como poucos, ele soube viver e praticar os ensinamentos do Meigo Rabi da Galileia.
Falando com clareza e simplicidade, esforçou-se sempre em desvendar, para os seus semelhantes, o véu que oculta as verdades eternas que os homens chamam de mistérios divinos.

Caminhou sempre sem protestos ou lamentações. Que a vida bem vivida desse grande propagador do Espiritismo possa nos servir de bússola a fim de nos orientar nos momentos de vacilações e de tribulações.

Fonte: site: www.espirito.org.br/portal/biografias

SEGURANÇA E LIBERDADE

Ary Brasil Marques
O Brasil está vivendo hoje uma situação curiosa. Os cidadãos comuns estão presos em suas próprias casas, com grades de proteção nas janelas, ferrolhos e cadeados nas portas e impedidos de sair às ruas, principalmente no horário noturno.
Ao contrário, os assaltantes estão livres nas ruas, sem serem molestados e agindo com toda liberdade.
Há cidades em nosso país que perderam a sua condição de famosos pontos turísticos, para se tornarem reféns do crime organizado e da droga.
Os pais têm medo de que seus filhos andem pelas ruas, e a preocupação de todos é a segurança.
Na atualidade, a grande maioria dos automóveis possui alarmes e equipamentos de proteção, e muita gente usa veículos blindados para sua locomoção.
Os edifícios de apartamentos estão guarnecidos de sistemas sofisticados de proteção, o mesmo acontecendo com os condomínios fechados.
Todo esse aparato para se alcançar um bom nível de segurança acaba por tirar a liberdade do ser humano, transformando-o em refém do medo e do perigo que o cerca.
As pessoas se transformam em indivíduos neuróticos e inseguros, e o medo superdimensiona o perigo e pode até mesmo atrair o mal.
Acredito que somos todos filhos de Deus, portanto fontes de luz e de poder.
A melhor proteção que cada um tem é a sintonia com o bem e com as coisas belas e positivas da vida.
Somos protegidos quando nos ligamos aos nossos mentores, e temos uma cúpula que nos envolve e que impede a ação das forças do mal.
Confiemos em Deus e vivamos a nossa vida normalmente. Não devemos nos prender em casa por medo. Vamos sair da prisão em que voluntariamente nos colocamos.
Vamos usar um lema todos os dias, acreditando que ele nos protegerá.
O lema é: Se Jesus está conosco, quem poderá estar contra nós?

SBC, 11/08/2008.

PSICOGRAFIA CONSOLADORA

Ary Brasil Marques
O ser humano ainda não se conforma com a morte. A partida para o outro lado da vida de pessoas queridas deixa uma grande saudade e um vazio no coração das famílias que são atingidas por esse tipo de dor.
Embora a maioria acredite na imortalidade, todos gostariam de ter um contato mais próximo com os entes queridos que partiram para a espiritualidade.
Sabemos que os espíritos desencarnados estão em outro plano, em outra dimensão, possivelmente muito próximos de nós, e que muitas vezes as pessoas amadas chegam a nos trazer inspirações e carinho que não são percebidos pela razão de estarmos envolvidos na matéria.
Podemos nos encontrar com eles durante o nosso sono, quando nos libertamos transitoriamente de nosso invólucro físico, e penetramos durante algum tempo no mundo espiritual.
Uma das formas utilizadas pelos espíritos para sua comunicação com os encarnados é a psicografia.
Conhecemos centenas de casos de mensagens enviadas pelos espíritos aos seus entes queridos que ainda se encontram na Terra, recebidas por meio da mediunidade de psicografia.
Pela psicografia, Francisco Cândido Xavier, o médium mais perfeito que tivemos na atualidade, trouxe consolo e esperança a muita gente, com mensagens maravilhosas que traziam inclusive revelações particulares não conhecidas pelo médium e que mostravam serem autênticas comprovando a identidade dos missivistas.
No domingo passado, um médium de Curitiba, Orlando Noronha Carneiro, proporcionou aos frequentadores do Joanna de Ângelis uma sessão de psicografia.
Quase 400 pessoas estiveram presentes à reunião, sendo que 150 delas puderam dar ao médium apenas o nome e a data do desencarne da pessoa querida.
Durante mais de 4 horas, o médium trabalhou intensamente escrevendo as mensagens que os espíritos iam lhe ditando, terminando por ler, diante do parente de cada um que ia se apresentando quando era falado o nome do espírito, 8 mensagens de entes queridos dos mesmos.
Todas as mensagens traziam detalhes minuciosos de fatos que não podiam ser conhecidos do médium, além de nomes de muitos parentes encarnados e desencarnados do missivista, provocando lágrimas de emoção em toda a plateia e principalmente por parte dos familiares presentes.
É a demonstração da bondade infinita de Deus e da certeza de que somos imortais, e que o amor que nos une vai além do plano físico e continua no além.

SBC, 25/08/2008.

O PARAÍSO PERDIDO

Ary Brasil Marques
Certa vez, o Senhor da Vida criou um paraíso. Um verdadeiro jardim. Um planeta maravilhoso, azul, chamado Terra.
Colocou ali toda a arte, toda a beleza. Montanhas verdejantes, florestas, rios, lagos, cascatas, mares, animais de milhares de espécies, pássaros coloridos que enchiam o ambiente de música e alegria, plantas e flores de várias as matizes, campos e toda a variedade de coisas belas destinadas à felicidade dos habitantes do planeta.
Deu ao mesmo o ar, o vento, a chuva. Deu o dia, permitindo que o Sol aquecesse todos os seus recantos, trazendo energia e calor.
Deu a noite, para o descanso e recuperação de toda a criação, através do sono reparador.
Deu o céu, a lua, as estrelas, e uma visão maravilhosa de milhares de mundos do Universo.
Depois de criar tudo isso, criou o homem, ser inteligente a quem confiou a administração de todo esse maravilhoso patrimônio. Conferiu ao homem todas as condições para que ele pudesse viver no paraíso para sempre.
Deu ao homem o livre arbítrio, mas lhe advertiu: “Cuide bem do paraíso que estou lhe entregando. Crescei e multiplicai-vos, dirigindo-se ao homem e à sua companheira, a mulher. Preservem a natureza, amem a vida, os animais, as árvores, o jardim que estou lhes entregando. Mas tenham cuidado, não abusem da liberdade que estou lhes concedendo, pois do contrário poderão perder o paraíso.”
O homem começou a desfrutar do paraíso que recebeu de seu Pai. Era livre, podia fazer o que quisesse. Podia dispor de tudo, era inteligente, o rei, o dono.
Passou do uso ao abuso. Seu orgulho e egoísmo fizeram com que matasse os animais, as aves, os peixes. Destruiu florestas, cortou árvores, poluiu o ambiente, as cidades, os rios e os mares.
O homem destruiu a fauna e a flora. Ao contrário dos animais que só matavam para se alimentar, o ser humano passou a matar por prazer.
Utilizou os animais para sua recreação nos circos, nos rodeios, nas touradas. Escravizou, matou, dizimou milhares de seus irmãos inferiores.
Ao contrário do que lhe foi recomendado, buscou o desamor. Matou seu semelhante. Fez guerras de extermínio. Inventou armas, foguetes, bombas atômicas.
O Pai tentou lhe ajudar. Mandou-lhe mensageiros, profetas, mandou seu próprio filho para lhes ensinar o caminho.
Seu filho veio. Falou-lhe de amor e de perdão. Foi massacrado, crucificado.
O homem continuou a destruir seu paraíso. Fez da violência sua conduta. Derramou sangue. Destruiu cidades e países.
O planeta azul reagiu. Furacões, Vulcões, Terremotos, Tsunamis, Inundações, Doenças, AIDS, Câncer.
Surdo e teimoso, o homem não ouviu seu criador nem a natureza. Continuou em sua faina destrutiva.
O que fizeste do tempo que te foi confiado? O que fizeste do planeta lindo que te foi dado?
Até que um dia, tudo acabou. O paraíso foi perdido. O homem, ele próprio, se expulsou do paraíso.
Transformou um lindo jardim em um charco, onde agora terá que viver.
Um dia, pelo amor e só por ele, encontrará de novo a possibilidade de voltar a viver num paraíso.

SBC, 10/09/2008.

O GRANDE ESPETÁCULO PERDIDO

Ary Brasil Marques
Estamos em 27 de novembro de 1872. Camille Flammarion, o grande astrônomo, estava na cidade de Roma. Ele estava se recuperando de uma terrível doença que tivera, a malária. Sentia-se ainda muito fraco, e por essa razão deitou-se cedo. Eram ainda 6 horas da tarde, e o nosso querido astrônomo estava acostumado a varar a noite em suas observações. Aquele dia, porém, não conseguiu ficar em pé e foi repousar.
Existia no século XIX um cometa chamado Biela, que cortava os céus de nosso planeta a cada seis anos e meio. Mas, em 1846, aconteceu algo que não estava no programa: o cometa dividiu-se em dois! Cada um dos novos cometas seguiu então sua órbita própria, embora paralelas. Entretanto, um deles foi-se afastando do outro gradativamente: passado um mês, estava 60.000 léguas na dianteira do parceiro. Quando os dois foram de novo avistados na Terra, seis anos e meio depois, já estavam a 50.000 léguas um do outro. Os dois cometas irmãos ficaram muito tempo desaparecidos, mas exatamente no dia 27 de novembro de 1872 voltaram. Só que estavam mudados: agora haviam-se transformado em milhares de meteoritos brilhantes disparando sempre pela mesma trajetória no espaço. Os dois cometas tinham-se fragmentado completamente, passando a cruzar os céus transformados em poeira de estrelas. Os astrônomos da época chegaram a contar 160.000 pedaços do ex-cometa passando pelo firmamento terrestre naquela noite de 1872. Para os astrônomos, aquele era um espetáculo dos deuses. Imperdível.
Segundo nos conta Monteiro Lobato, em seu livro Viagem ao Céu, justamente no dia do maior espetáculo acontecido nos céus, Camille Flammarion, astrônomo e um dos precursores da ciência espírita, perdeu essa visão maravilhosa. Ninguém o avisou, porque estavam todos fascinados pelo espetáculo celeste, e quando Flammarion acordou ficou amargurado por sua perda. Um espetáculo que jamais iria acontecer novamente, e que para ele, profissional da Astronomia, representou a maior perda que um ser humano teria na vida.
Vejam vocês, até os grandes homens, podem ter momentos de tristeza e de fracasso.

SBC, 15/08/2007.

MENTORES E SANTOS

Ary Brasil Marques
Os homens gostam de ter ídolos. Em todas as atividades da vida, as pessoas elegem sempre os melhores para servirem de modelo.
Milhões de pessoas idolatram até hoje figuras exponenciais do esporte, tais como Pelé, Ayrton Senna, Hortência, João do Pulo, e muitos outros.
Na música, Frank Sinatra, Bing Crosby, Daniela Mercury, Roberto Carlos, Elis Regina e um número enorme de grandes astros, são motivo de verdadeiro fanatismo na adoração por parte de seus fãs.
A Igreja canoniza as pessoas que julga merecedores e os torna santos. A partir daí há uma devoção muito grande por parte dos fiéis que seguem a religião católica em relação aos santos. Recentemente, a Igreja canonizou e transformou em santo um brasileiro ilustre, o nosso querido frei Galvão.
Conheci o espírito frei Galvão no ano de 1966. Ele era o mentor de minha tia Lourdes, e se comunicava por ela nas reuniões mediúnicas que eram realizadas na Rua Botucatu, em São Paulo. Suas mensagens eram de uma elevação muito grande, cheias de amor e de doçura.
Acredito que o seu reconhecimento como santo é muito justo, pois consta ter um grande número de milagres que são atribuídos a frei Galvão. No entanto, não importa o reconhecimento dos homens. Tornar santo alguém por decreto é colocar uma autoridade a homens que não têm poder para medir a elevação espiritual de grandes personalidades que dedicaram sua vida a prática do bem e do amor ao próximo.
Existem mentores maravilhosos que atuam em nosso meio, nos ajudando de todas as maneiras, tais como Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Joanna de Ângelis, Francisco Cândido Xavier, André Luiz, Emmanuel, Cairbar Schutel, Atanásio, Jerônimo Mendonça e centenas de outros. Esses espíritos, de elevada posição espiritual, não estão preocupados em serem ou não considerados santos. São criaturas humanas, altamente evoluídas, assim como o nosso frei Galvão.
Certa vez chamaram o mestre Jesus de bom. E Ele, a bondade por excelência, a expressão maior do amor na face da Terra, recusou o adjetivo, dizendo que bom é o nosso Pai que está nos céus.
A mesma coisa acontece com os chamados santos. Quanto mais evoluídos eles são, menos dão importância aos elogios e às devoções. O que importa para eles é nos amar, incondicionalmente.
SBC, 23/05/2007.

MEDIUNIDADE DE ANIMAIS

Ary Brasil Marques
“A lei do progresso não se aplica somente ao homem; é universal. Há, em todos os reinos da Natureza, uma evolução que foi reconhecida pelos pensadores de todos os tempos. Desde a célula verde, desde o embrião errante, boiando à flor das águas, a cadeia das espécies tem-se desenrolado através de séries variadas até nós. Cada elo dessa cadeia representa uma forma da existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, mais bem adaptado às necessidades, às manifestações crescentes da vida; mas, na escala da evolução, o pensamento, a consciência e a liberdade só aparecem passados muitos graus. Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; à partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas”.
Um assunto polêmico é a existência ou não de inteligência nos animais.
Por observação, ao longo de minha vida, acredito que os animais possuem inteligência, embora essa inteligência seja relativa e não pode ainda ser comparada à que possui o ser humano.
Certamente, os animais estão dentro da lei de progresso, e penso que um dia eles alcançarão também a condição humana. Essa forma de pensar está de acordo com o que nos diz Leon Denis, como consta no início deste texto.
Com referência à mediunidade de animais, minha opinião é a seguinte:
Os médiuns funcionam para o espírito que vai se comunicar, como uma espécie de telefone. O telefone oferece a todos nós as condições necessárias para que a nossa linguagem seja transmitida a outras pessoas. Para que isso ocorra, o instrumento que serve de intermediário, no caso o aparelho telefônico, tem que estar em perfeitas condições para que o pensamento do comunicante chegue completo e limpo ao seu interlocutor.
No caso da mediunidade, é a mesma coisa. Os espíritos utilizam da capacidade intelectual do médium, de seus conhecimentos do idioma, das suas condições fonéticas ou físicas, e transmitem suas ideias utilizando esses recursos. Ora, os animais não possuem tais condições, portanto não têm possibilidade de servir de intermediários de uma linguagem que não conhecem.
Os animais são sensíveis à presença de espíritos desencarnados, e há uma série de fatos dessas ocorrências. Eles podem sentir a presença de espíritos, mas não são médiuns e não possuem as condições necessárias para servirem de intermediários dos mesmos com os homens.

SBC, 22/09/2008.

JOANNA DE ÂNGELIS 35

Ary Brasil Marques
Um espírito iluminado. Seguidora de Jesus, preferiu a morte na fogueira a renunciar sua fé, em Roma, no ano 68, como Joana de Cusa.
Socorrendo doentes durante uma epidemia de peste, no México, em 1695, desencarna dessa doença como Sóror Juana Inês de La Cruz.
Após a independência do Brasil proclamada em 7 de setembro de 1822, as tropas portuguesas resistiram na Bahia, enfrentando tenazmente as forças mandadas para lá por D. Pedro I.
Durante as lutas pela Independência, os soldados portugueses invadiram o Convento N. S. da Lapa, na capital baiana.
Sóror Joana Angélica de Jesus sai à porta do Convento, alçando uma cruz, e os intima a não profanarem o abrigo de suas protegidas, dizendo que eles só entrariam ali se passassem por cima de seu cadáver.
Atacada a golpes de baioneta, resistiu bravamente. Foi massacrada.
Seu martírio levou o tempo suficiente para que todas as outras internas pudessem escapar e se refugiar em outro local, o Convento da Soledade.
Mesmo socorrida, Sóror Joana Angélica de Jesus desencarnou no dia seguinte, 20 de fevereiro de 1823.
Colaboradora espiritual de Kardec, Joanna de Ângelis, esse espírito luminoso, participou da Codificação ditando mensagens sob o nome de “Um Espírito Amigo” no Evangelho Segundo o Espiritismo.
Joanna de Ângelis continua em seu trabalho de amor, protegendo e orientando suas antigas discípulas e a todos nós, por meio de livros e de mensagens, principalmente através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco.
Inspirou a fundação de diversos núcleos espíritas em todo o Brasil e no exterior.
Santo André, 1 de setembro de 1973. Nossa querida mentora resolveu arrebanhar e unir em um mesmo local os seus antigos discípulos e colaboradores.
O propósito era formar um grupo espírita para, além de difundir a consoladora Doutrina dos Espíritos, pudesse transformar-se em um ponto de irradiação luminosa do Evangelho de Jesus, e figurar como um verdadeiro “ninho de amor”.
Sob a inspiração desse iluminado espírito, surgiu o Grupo Espírita Joanna de Ângelis, que completa no próximo dia 1 de setembro, 35 anos de fundação.
Nosso Joanna nasceu pequenino. No início, apenas um grupo de senhoras que se reunia para estudar o Evangelho em casa de nossa irmã Fiameta Giusti.
Depois de uma pequena temporada no salão de festas da casa da Rua Laranjeiras, 33, residência de nosso companheiro Maury de Campos Dotto, o Grupo teve sua sede própria construída pouco a pouco pelo esforço de uma plêiade de trabalhadores da casa.
O que se espera de um Centro Espírita?
O insigne codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, exortava os espíritas com essa afirmação:
“Espíritas, instruí-vos; Espíritas, amai-vos.”
O Joanna de Ângelis, ao longo de seus trinta e cinco anos de existência, tem pautado a sua conduta baseada justamente no conhecimento e no amor.
Uma pessoa para ser considerado um verdadeiro espírita, tem que estudar bastante e colocar em sua vida os ensinamentos da maior personalidade que pisou a face da Terra, Jesus de Nazaré, aplicando em tudo o amor de Deus e o amor ao próximo.
Nosso Joanna cresce cada dia. Através dos diversos cursos existentes na casa, tais como o T2, o Curso de Educação Mediúnica, o Curso de Doutrina, o Curso de Passes, a Escola de Aprendizes do Evangelho e outros, busca-se aprender e aplicar na prática esses ensinos.
O resultado tem sido tão bom que uma grande maioria de pessoas assistidas pela instituição, quando termina os seus tratamentos espirituais, passa a integrar a equipe de trabalhadores da casa.
O Grupo Espírita Joanna de Ângelis procura dar a todos aqueles que procuram ajuda para tratamento espiritual ou aconselhamento, muito carinho e orientação de acordo com o que o Espiritismo ensina.
Allan Kardec classificou os espíritas em três categorias:
1) Os espíritas experimentadores, que são aqueles levados à fé pelos fenômenos;
2) Os espíritas imperfeitos, que são aqueles que frequentam os centros espíritas em busca de curas e proveitos pessoais e finalmente,
3) Os espíritas cristãos ou verdadeiros espíritas.
Para alcançarmos o terceiro estágio, precisamos conhecer. Além dos cursos, o Joanna divulga as boas obras espíritas através da Livraria, anexa ao Arlequim Dourado.
No campo do trabalho assistencial, o Joanna tem hoje a Casa de Lucas, dando apoio e ensino a 130 crianças moradoras da periferia, bem como fornece cestas básicas aos familiares das mesmas.
Como trabalho ainda no campo da assistência social, existe o sopão que consiste na elaboração de sopa e alimentos distribuídos a moradores de rua.
Há no Grupo uma loja, a Francisco de Assis, onde se vende roupas e objetos importantes para a vida humana a preços simbólicos, para ajudar à população mais carente.
Temos o projeto Mãe Maria, que atende as gestantes carentes, a quem damos acompanhamento, instrução e ajuda até o parto, com fornecimento de enxovais e cestas básicas a todas elas.
Cuida-se com muito carinho da criança, com evangelização infantil, e da mocidade, com uma juventude atuante.
Há uma preocupação também com o idoso, a quem a casa dedica muito carinho.
Na área de assistência espiritual, procura-se dar ao assistido toda a ajuda e orientação, com tratamentos específicos para casos de obsessão, passes e tratamentos pela Apometria.
No período da existência do Joanna de Ângelis registrou-se um grande número de casos de pessoas que chegaram à casa em estado crítico e que depois, curadas pela bondade infinita de nosso Pai, se tornaram grandes colaboradores e trabalhadores fiéis do nosso “ninho de amor”.
A casa, além das reuniões públicas que realiza às segunda feiras no período noturno, quintas feiras nos períodos diurno e noturno, sextas feiras no período noturno e sábados no período diurno, com palestras e tratamento espiritual, tem várias reuniões apenas para os trabalhadores da casa, de caráter mediúnico.
A todos os colaboradores do Joanna de Ângelis, os nossos parabéns.
Estou certo de que todos nós estamos de parabéns, pois o Grupo Espírita Joanna de Ângelis é um ponto de luz em nossa região.

SBC, 28/08/2008.

FUTEBOL BRASILEIRO

Ary Brasil Marques
Comecei a gostar de futebol em 1938. Eu era criança e morava na cidade de Alfenas, em Minas Gerais. Naquele tempo, ouvíamos pelo rádio os narradores esportivos transmitir com detalhes e emoção as partidas de futebol do Rio e de São Paulo. Não havia televisão, mas era tal a perfeição dos locutores que “víamos” em nossa tela mental cada lance das partidas.
A Copa do Mundo de 1938 se realizou na França, e acompanhamos pelo rádio a transmissão feita pelo técnico da seleção brasileira, Adhemar Pimenta, pois naquele tempo as emissoras não tinham recursos para enviar seus profissionais a viagens internacionais. De longe, embora com as deficiências de uma rádio cheia de chiados e de pouca qualidade, vibramos com as defesas de Batatais, as avançadas de Zezé Procópio e os gols de Leônidas.
O Brasil ficou em terceiro lugar, pois foi prejudicado pelo juiz no jogo com a Itália. A bola havia saído pela linha de fundo, portanto não estava mais em jogo, quando Domingos da Guia, o nosso extraordinário zagueiro, atingiu o atacante italiano na área brasileira. Não era possível dar o pênalti que o juiz deu, pois a bola havia saído antes. Essa penalidade determinou a vitória da Itália na semifinal, e os italianos acabaram sendo campeões.
De acordo com a imprensa do mundo inteiro, a melhor seleção foi a do Brasil, que encantou a todos com jogadas magistrais.
A partir dessa data, o Brasil se agigantou no futebol. A guerra fez com que a Copa do Mundo ficasse muitos anos sem ser disputada.
Em 1950 a Copa do Mundo foi no Brasil. O Maracanã, maior estádio do mundo, foi construído para essa competição.
O Brasil venceu todos os adversários com facilidade, e entrou em campo para disputar a final com o Uruguai como favorito, pois tinha uma equipe muito melhor do que as equipes competidoras.
Com o estádio lotado, mais de 200.000 espectadores, fomos derrotados por 2 x 1. Foi uma decepção. Os nossos supercraques foram vencidos, e aprendemos com amargura que ninguém é imbatível e que os adversários também sabem jogar e podem vencer.
A decepção de 1950 foi esquecida pela maravilhosa vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo da Suécia em 1958, quando mostramos ao mundo craques espetaculares como Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos, entre outros.
Em 1962, no Chile, repetimos a dose, o mesmo acontecendo depois, no México, em 1970, quando fomos tri campeões mundiais.
Os jogadores brasileiros passaram a ser considerados os melhores do mundo, e houve um grande êxodo de jogadores para o exterior.
Quando o Brasil entrava em campo, os adversários tremiam diante da camisa amarela de nossa seleção.
O Brasil alcançou o tetra e posteriormente o penta campeonato, sempre demonstrando muita técnica, garra e superioridade ante os países mais poderosos do mundo na prática do futebol.
Fomos acostumados a ganhar. O Brasil era considerado por todos o país do futebol, e sempre entrava em campo para disputar o título de campeão.
Quem viu jogadores do nível de Zizinho, Ademir da Guia, Leônidas, Didi, Garrincha e o maior deles, Pelé, não pode entender como hoje aquele futebol de sonho tenha se transformado em um futebol monótono, de troca de passes no meio do campo, sem trazer perigo aos adversários.
Durante 90 minutos, são poucos os lances de brilho, de jogadas individuais acima da média, de demonstração de garra e de vontade de vencer.
Estamos perdendo a antiga valentia, a classe, o improviso característico do jogador brasileiro.
Os técnicos de hoje armaram defesas que baseiam o seu jogo muito mais na força física do que na técnica, e não conseguem mais usar da grande capacidade de improviso dos craques, pois os chamados craques de hoje não são nem de longe a sombra do que foram os do passado.
Com tristeza, nos dias de hoje, vemos a camisa amarelinha de nossa seleção, tão cheia de glórias, ser vencida com relativa facilidade por seleções de países que sempre foram derrotados por nós.
Ainda bem que a seleção brasileira feminina está se apresentando ao mundo com o brilhantismo que esperávamos de nossa equipe masculina.
“Quousque tandem patientia nostra”, futebol brasileiro.

SBC, 19/08/2008.