Colunista: Marta Antunes Moura, coordenadora das Comissões Regionais na área da Mediunidade da Federação Espírita Brasileira (FEB), Vice-presidente da FEB.
O espírita consciente compreende que qualquer tarefa, realizada ou não na Casa Espírita, está passível de sofrer interferências que podem comprometer o seu funcionamento harmônico. No que diz respeito à prática mediúnica em geral, e ao comportamento dos integrantes da reunião mediúnica, em particular, a vigilância deve ser redobrada, a fim de que a obsessão não se instale. Daí Emmanuel recomendar: “Toda vez que obstáculos se nos interponham entre o dever da ação e a necessidade da cooperação no serviço do bem aos semelhantes, que redundará sempre em benefício a nós mesmos, peçamos ao Auxílio Divino, através da prece silenciosa […]”(1)
A obsessão é, segundo Allan Kardec, uma das maiores dificuldades que a prática espírita pode apresentar. Caracteriza-se pelo “[…] domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas. É praticada unicamente por Espíritos inferiores, que procuram dominar, pois os Espíritos bons não impõem nenhum constrangimento […]”(2). A obsessão por sua vez, está relacionada há três fatores básicos: a) falta moral ou comportamento social, incompatíveis com o bem (viciações); b) grave desarmonia mental/psíquica (distúrbios mentais); c) lesões físicas que afetam certas estruturas ou órgãos relacionados ao raciocínio, à cognição, à emoção, etc. (por exemplo, certas enfermidades do sistema nervoso).
A obsessão é considerada fator primário quando a pessoa sofre ação direta de um perseguidor espiritual. As imperfeições morais (egoísmo, orgulho, vaidade, ciúme, inveja, ganância, rancor, entre outras) e vícios de qualquer natureza, são em geral definidos como fator secundário, uma vez que o indivíduo se compraz em manter sintonia mental com entidades que apresentam as mesmas tendências/inclinações e gostos.
De uma forma ou de outra, a obsessão conduz a pessoa a quedas morais, pois suas estruturas mentais e o seu pensamento são continuamente submetidos a influências perniciosas, próprias ou estranhas, que produzem, em consequência, atordoamento do raciocínio, da ideação e dos sentidos como pondera Emmanuel:(3)
Não ignoramos, porém, que os sentidos transviados conduzem fatalmente à deturpação e ao desvario. Os olhos são auxiliares imediatos dos espiões e dos criminosos que urdem a guerra e povoam as penitenciárias […]. Os ouvidos são colaboradores diretos da crueldade e da calúnia que suscitam a degradação social […]. As mãos, quando empregadas na fabricação de bombas destruidoras, são operárias da morte […]. O sexo, que constrói o lar em nome de Deus, por toda parte é vítima de tremendos abusos pelos quais se amplia terrivelmente o número de enfermos cadastrados nos manicômios […].
Em se tratando da prática mediúnica, Kardec apresenta nove sinais mais evidentes do processo obsessivo, aplicados tanto ao médium, propriamente dito, ou seja, aquele que é portador de mediunidade de efeitos patentes (psicofonia, psicografia, vidência, etc.) como a qualquer outro trabalhador da reunião mediúnica:(4)
1.ª persistência de um Espírito em se comunicar, queira ou não o médium, pela escrita, pela audição, pela tiptologia (ruídos, como pancadas e batidas), etc., opondo-se a que outros Espíritos o façam; 2.ª ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações que recebe; 3.ª crença na infalibilidade e identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem coisas falsas e absurdas; 4.ª confiança do médium nos elogios que lhe fazem os Espíritos que por ele se comunicam; 5.ª disposição para se afastar das pessoas que podem dar-lhe conselhos úteis; 6.ª reagir mal à crítica das comunicações que recebe; 7.ª necessidade incessante e inoportuna de escrever (ou de se manifestar por outro tipo de mediunidade); 8.ª constrangimento físico qualquer, que domine a vontade do médium e o force a agir ou falar contra a vontade; 9.ª ruídos e perturbações persistentes ao redor do médium, dos quais ele é a causa ou o objeto visado.
O Codificador esclarece, também, em A Gênese, como prevenir e combater as obsessões:
Assim como as moléstias resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral é preciso que se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, é preciso fortificá-lo; para garantir a alma contra a obsessão, tem-se que fortalecê-la. Daí, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de pessoas estranhas. Este socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão (entendida aqui como uma manifestação gravíssima da subjugação), porque neste caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio. (5)
O Espírito André Luiz, por sua vez, esclarece:
Você enfim, talvez se veja em qualquer estado de introdução ao desequilíbrio espiritual, prestes a cair sob cadeia obsessivas… Mas, se você realmente deseja livrar-se disso, deve compreender, antes de tudo, que precisa de esclarecimento e de amparo. Entretanto, para que você obtenha luz e auxílio é indispensável adote duas atitudes fundamentais: Estudar e raciocinar, a fim de instruir; trabalhar e servir para merecer. (6)
Referências:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Rumo Certo. Pelo Espírito Emmanuel. 12 ed. 1 imp. Brasília: FEB Editora, 2013. Cap. 8, pág. 30.
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Pt 2, cap. XXIII, it. 237, p. 259.
(3) XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 20 ed. 1 imp. Brasília: FEB Editora, 2013. Cap. 43, pág. 146/147.
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Pt 2, cap. XXIII, it. 237 pág. 259.
(5) KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. XIV, it. 46, pág. 259.
(6) XAVIER, Francisco Cândido. Meditações diárias. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. Araras: IDE, 2009. Capítulo: Terapêutica desobsessiva, p. 142.