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A DERRUBADA



Rangem troncos seculares
Aos golpes do lenhador.
E’ o machado formidando
No impulso renovador.

Toda a floresta se agita
Em terríveis convulsões,
Continua a derrubada
Que precede as plantações.

Sol quente. Suor. Serviço.
E as árvores vigorosas
Estraçalham com fragor
As frondes cariciosas.

Após o trabalho ingente,
A invasão do fogaréu;
Fumo espesso devorando
A doce amplidão do céu.

Gritam aves assustadas,
Sem ninho, sem paz, sem guia,
Animais inferiores
Vão fugindo em correria.

A seguir vem a coivara
Completando a grande prova,
E’ o termo da derrubada
A favor da vida nova.

Somente aí são possíveis,
Pasto verde e espiga loura,
Pomares e sementeiras,
Celeiro, casa e lavoura.

Já observastes que o homem,
Ao longo de toda a estrada,
Precisa também, por vezes,
Das foices da derrubada?

E’ a dor proveitosa e rude,
Surgindo em golpes violentos,
A força que retifica
A mata dos sentimentos.

*

Sem trabalho não teremos,
No caminho universal,
Nem casa com Jesus-Cristo
Nem pão espiritual.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O AGULHÃO



Na esteira da confusão,
Há perigo, o carro empina.
São golpes de bois madraços
Em horas de indisciplina.

Avançam, rumo ao barranco,
Atiram-se à revelia,
São cegos à estrada enorme
E surdos à voz do guia.

O carreiro vigilante
Atende à situação:
Na canícula dourada
Vibram golpes de aguilhão.

A custa de esforço ingente,
A poder de ferroada,
A ordem volta ao serviço,
A harmonia volta à estrada.

Há revolta momentânea
Nos bois rudes, a tremer,
Mas, a bem da paz de todos,
Cada qual cumpre o dever.

E o carro prossegue firme,
Sem desvios, sem parar,
Buscando os objetivos
Que, por fim, deve alcançar.

Na Terra, também é assim:
Nas sendas de redenção,
Todo homem necessita
Estimulo à própria ação.

No lar, como no trabalho,
Desde o berço até a morte
A criatura precisa
Aguilhões de toda sorte.

Muita gente fala deles
Com desespero e com asco;
Mas, Jesus santificou-os
No caminho de Damasco.

*

Obedece a Deus e passa,
Vive sempre atento a isto:
Todo aguilhão que te fere
E’ bênção de Jesus-Cristo.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A CANGALHA



Nos círculos de serviço,
Toda a gente que trabalha
Nem sempre sabe entender
A nobreza da cangalha.

Não fosse ela, entretanto,
Que atende, promete e faz,
E talvez o campo inteiro
Viveria estranho à paz.

Convenhamos na prudência
Que vem do rifão de antanho –
Basta, às vezes, uma ovelha
Para perder o rebanho.

O muar deseducado,
Que a força brutal anime,
Nunca perde ensejo ao coice
E está sempre pronto ao crime.

Viveu ao léu, ameaçando
A golpes de grosseria;
Aparentando brandura,
Transborda selvageria.

Transforma-se, comumente,
No animal rude e vilão,
Que se esquiva do trabalho,
Por preguiçoso e ladrão.

Todavia, chega o instante
Em que a cangalha, bondosa,
Comparece orientando,
Honesta, laboriosa.

Ligada por laço forte
Ao amigo da indolência,
Dá-lhe os bens da utilidade
Em luzes de experiência.

Perguntemos a nós mesmos,
Notando-a, modesta e bela,
Quais os homens deste mundo
Que podem viver sem ela.

*

O dever, como a cangalha,
Que tanta grandeza encerra,
E’ a balança de equilíbrio
Nas vidas de toda a Terra.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A PICARETA



No serviço inicial
Das construções no planeta,
Aparece, indispensável,
O esforço da picareta.

E’ quase desconhecida
Na casa elegante e bela;
Pouca gente se recorda
Que não se abrigou com ela.

E’ que a nobre picareta
Atende à primeira fase
De cada edificação
Que precise erguer a base.

No trabalho do princípio,
Vencendo a pedra, a rudeza,
Revela ao trabalhador
Obediência e presteza.

Do serviço eficiente
Fornece as maiores provas,
Quebra espinhos, vara outeiros,
Desdobrando estradas novas.

Traça e atende com firmeza,
No início das construções,
Dando forma aos alicerces,
Prezando as obrigações.

Escava terrenos duros,
Humilde, criteriosa,
Por trazer à superfície
A bênção da água bondosa.

Obstáculo? Empecilho?
Oposições de rochedo?
A picareta resolve
Totalmente estranha ao medo.

Na esfera espiritual
Onde o bem pede cuidados,
Há construções igualmente
Com serviços bem pesados.

*

Lembra sempre, meu irmão,
Se queres a Luz Divina,
Que a vontade é picareta
Nas terras da disciplina.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier





A ENXADA



No conjunto dos trabalhos,
A enxada pobre e esquecida
E’ uma agulha generosa
Que borda o lençol da vida.

Com desvelos carinhosos,
Faz o berço às sementeiras,
Protege os rebentos frágeis,
Traçando caminho às leiras.

Essa agulha delicada,
Vibrando de pólo a pólo,
Aperfeiçoa a paisagem,
Lançando mais vida ao solo.

Obediente e bondosa,
Coopera com o lavrador,
E onde passa costurando,
Eis que o chão transborda em flor.

Devem-lhe muito os celeiros
Na colheita farta, imensa,
Mas a enxada dadivosa
Nunca pede recompensa.

Seu prazer está nas lutas,
Nos trabalhos naturais;
Alguém lucra em seus esforços?
Mais serviço e terás mais.

Não sabe se há chuvas fortes,
Se há calor de requeimar,
Disposta sempre ao possível,
Tem gosto de trabalhar.

Modesta, criteriosa,
Atende ao labor que a chama,
Fiel ao bom lavrador,
Executa o seu programa.

Instrumento valoroso,
Que não trai nem esmorece,
Exemplifica no mundo
A humildade que obedece.

*

Imagina a tua glória,
Teu triunfo jamais visto,
Quando fores boa enxada
Nas divinas mãos do Cristo.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O CAMPO E O JARDIM



Nas lutas de cada dia,
Nas estradas da existência,
Lembra que o campo e o jardim
São pontos de referência.

Um é a esfera de trabalho
Que fica estranha ao teu lar,
O outro é a intimidade
Da vida particular.

No primeiro é a mão de Deus
Que decide com grandeza,
Na harmonia inescrutável
Das forças da Natureza.

No segundo é a criatura,
Que, usando elementos seus,
Ganha a vida, usufruindo
Os opimos bens de Deus.

O campo eterno, infinito,
Vai de um mundo a outros mundos,
E’ a vibração do universo,
Em seus problemas profundos.

O jardim é a casa amiga,
Pobre ou rica, sempre boa,
E’ a bela oportunidade
Da luta que aperfeiçoa.

As penas, as amarguras,
De um lar de trabalho e dor,
São trilhas que dão acesso
Ao bem santificador.

Quem não zele seu jardim,
Com sacrifício e bondade,
Mui longe está de atender
No campo da humanidade.

Entretanto, vemos homens,
Herdeiros dos fariseus,
Que já pretendem ser anjos,
Sem serem bons para os seus.

*

Se queres segar o campo
Da luz e do amor sem fim,
Não descuides um minuto,
Das coisas do teu jardim.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier





A PLANTAÇÃO



E’ muito grande o trabalho,
Enorme a preparação,
Na terra que se destina
Às fainas da plantação.

E’ preciso desprezar
Certas plantas, certas flores
Retirar os espinheiros
E arbustos inferiores.

Depois da foice aguçada,
Que opera o desbravamento,
Vêm, a golpes de enxadão,
Limpeza e destocamento.

No corpo da terra nua,
Em lutas laboriosas,
Há frondes e flores murchas,
Cicatrizes escabrosas.

Logo após, o arado amigo,
Cuidadoso, traça a leira,
Completando atividades,
Devidas à sementeira.

O solo dilacerado
Dá conta do esforço ingente,
A terra aberta e ferida
E’ o berço justo à semente.

A zona que se consagra,
Às tarefas de cultura,
Fornece lições diversas
Ao campo da criatura.

Muita gente julga, a esmo,
Que as lutas da educação
Se resumem a teoria,
Discurso e doutrinação.

Mas o problema é bem outro:
Não se dispensa a harmonia
Entre ação e ensinamento,
Nos quadros de cada dia.

*

Dores, lutas, sofrimentos,
São bênçãos de formação
Da Divina Sementeira
Nas zonas do coração.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O MILHARAL



O milharal nos parece,
Do caminho que o sol doura,
Uma esperança de Deus
Sobre as bênçãos da lavoura.

Além disso, representa
Uma elevada oficina,
Da nobre lei do trabalho
Que o Pai de Amor nos ensina.

Deus dá tudo: a terra, o ar,
As chuvas e os instrumentos,
Indicando o tempo próprio
Com a força dos elementos.

Manda o homem, que é seu filho,
Cuidar da terra que é sua
E esse filho convocado
Guia o traço da charrua.

Germina a semente amiga,
Mas até que dê seus frutos,
Exige muitos cuidados,
Constantes e absolutos.

Em seguida, o céu concede
A espiga amada e perfeita,
Pedindo as dedicações
Nas tarefas da colheita.

Vem logo a descascadura,
Depois o debulhador,
E o moinho em movimento
Nas lides do lavrador.

Somente agora o celeiro
Guarda as forças do bom grão,
A esperança carinhosa
Da véspera de seu pão.

E’ um ensino generoso
Que a leira de milho encerra,
Um quadro de exemplo amigo,
Das lutas de toda a Terra.

*

Deus palpita em toda a parte,
Nada faz ou cria a esmo,
Mas pede em tudo a seu filho
A elevação de si mesmo.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A CONSTRUÇÃO



O homem sensato e nobre,
Quando faz a moradia,
Toma alvitres à prudência,
Conselho à sabedoria.

Primeiramente examina
O local, a posição,
E edifica os alicerces
Devidos à construção.

Não se cansa de escutar
As vozes da sensatez,
Que sugerem vigilância
E induzem à solidez.

Muito antes da parede,
Da janela, do portal,
Reflete fazendo contas
E escolhe o material.

Raciocina por si mesmo,
Não perde ponderações,
E estuda todo problema
Das suas aquisições.

Não se atira a preço baixo,
De matéria condenada;
A sucata não lhe serve,
Nem madeira carunchada.

Acima de toda idéia.
Vibra a idéia de seu lar,
Seleciona a caráter
Cada coisa em seu lugar.

Impõe-se nos seus desejos,
Sereno, prudente, ativo;
O senso da qualidade
Garante-lhe o objetivo.

Esse homem previdente
Dá lições a cada qual,
Na construção do edifício
Da vida espiritual.

*

Escolhe teus pensamentos
No dever que te governa.
Idéias, palavras, atos,
Constroem-te a casa eterna.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A TERRA E O LAVRADOR



Nos quadros da Natureza,
A terra e o cultivador
São personagens sublimes
Do livro do Pai de Amor.

A terra mais seca e dura
Conserva, no coração,
As bênçãos da Luz Divina
Que fornece o nosso pão.

E o lavrador é o amado,
A mão simples, meiga e boa,
Que regenera e semeia,
Que cultiva e aperfeiçoa.

Pesados desbravamentos,
Arado rude a ferir…
Humilde, dilacerada,
Toca a terra a produzir.

Quanto mais a enxada vibre
No sulco forte e profundo,
Mais a flor promete fruto,
Mais o celeiro é fecundo.

Muita vez, o solo agreste
E’ lama desamparada,
Mas a mão do lavrador
Traz a vida renovada.

Onde queimava o deserto
E o calor não tinha fim,
Brincam asas buliçosas,
Cantam flores de jardim.

Quem não viu da própria estrada
O esforço do lavrador
E a terra aberta em feridas
Dando a riqueza interior?

Assim, no mundo, a alma pobre,
Inda vil, inda assassina,
Oculta a fagulha excelsa
Da Consciência Divina.

*

E a dor, nossa grande amiga,
Na terra do coração,
E’ o lavrador bem-amado
Da vida e da perfeição.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier