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A FACA



A faca, inegavelmente,
Embora não acerada,
Oferece algum perigo
À pessoa descuidada.

Entretanto, muitas vezes,
No serviço rude e forte,
Não se pode prescindir
Do concurso do seu corte,

Pleno campo. Plantações.
Verdura a perder de vista.
A faca auxilia sempre
No trabalho ruralista.

Nas fábricas operosas,
Onde a prudência a conserva,
Está pronta e decidida
No serviço ou na reserva.

No esforço de cooperar,
Permanece dia inteiro
Atendendo eficazmente
Ao lado do sapateiro.

Contribui nas selarias,
Onde o trabalho é uma escola,
Obedecendo ao seleiro,
Dando o bem, cortando a sola.

Em casa, está sempre firme,
Excelente companheira,
Respondendo a muito caso
Que concerne à cozinheira.

Depois de formar, atenta,
No preparo à refeição,
Segue, humilde, para a mesa
E ajuda a partir o pão.

Mas a faca que é tão útil,
Tão valorosa e singela,
É muito desagradável
No pulmão ou na costela.

*

Forçoso é reconhecer
Que a faca vive a ensinar
Que cada coisa no mundo
Tem seu tempo e seu lugar.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A BOA ÁRVORE



Nos quadros vivos da Terra,
Desde a sua formação,
A árvore generosa
É imagem da Criação.

É a vida em Deus que nos ama,
Que nos protege e nos cria,
Que fez a bênção da noite,
E a bênção da luz do dia.

Seus ramos são como a infância,
As flores, a adolescência,
Seu fruto, a velhice amiga
Repleta de experiência.

Seu trono transforma sempre
Toda a lama da raiz,
No pomo caricioso,
Alegre, doce e feliz.

As sementes que renascem,
Com método e perfeição,
São nossas almas na lei
De vida e reencarnação.

Silenciosa na estrada,
Seu exemplo nos ensina
A refletir sobre a Terra
Na Providência Divina.

Se a poda foi rude e forte
Ao rigor do braço humano,
Sua resposta mais bela
É mais frutos no outro ano.

Se tomba desamparada
Ao pulso do lenhador,
Faz-lhe a casa, dá-lhe a mesa,
Aquece-o com mais amor.

Dá sombra a todos que passam,
Sem jamais saber a quem,
Colocada no caminho,
Seu programa é sempre o bem.

*

É santa irmã de Jesus
Essa árvore estremecida:
Se vive, palpita em Deus,
Se morre, transmite a vida.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier





A MINA



É o poço escuro e enorme
Que a mãe Natureza ensina,
Entre exemplos de trabalho,
A grande lição da mina.

Picaretas formidandas,
Batendo a terra escabrosa,
Procuram localizar
A matéria preciosa.

Sob rudes ameaças,
Constroem-se galerias,
O filão exige sempre
Sofrimentos e agonias.

Aqui, maquinismo imenso,
Acolá, perfuradores,
Na conquista do metal
Das zonas inferiores.

Milhares de braços fortes,
Calejados na aspereza,
Afrontam a treva e a morte
Nas sombras da Natureza.

Depois de suor intenso,
Nas câmaras do trabalho,
Retira-se para exame
Grande acervo de cascalho.

Mas o ouro em toda parte
Tem problemas e programas,
Em toneladas de pedra,
Dá somente poucos gramas.

De muita luta e serviço,
Em provações da coragem,
A mina fornece o ouro
Em pequena porcentagem.

Repara que a vida humana,
Doente, pobre ou faustosa,
Em todo lugar da Terra
É mina laboriosa.

*

De muito cascalho inútil,
Nas labutas da existência,
Aprende a extrair na vida
O ouro da experiência.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A COVA



Raro é aquele que medita
Contemplando a terra impura,
No trabalho peregrino
Da cova pequena e escura.

Assemelha-se à ferida
Sobre a leira dadivosa,
Indicio de golpes fundos
Da enxada laboriosa.

Mas, na essência, a cova simples,
Singela, desconhecida,
É o altar da Natureza,
Celebrando a luz da vida.

É seio aberto à beleza,
Ao bem que se perpetua,
A existência renovada
Que se eleva e continua.

É o sepulcro onde a semente,
Em sombra e separação,
Vai, morrendo, reviver
Nas bênçãos da Criação.

E eis que a vida se elabora
Nessa doce intimidade,
Renovando-se aos impulsos
De força e imortalidade.

Depois do apodrecimento,
Germinação e esplendores,
Verdes galhos de esperança,
Tenros ninhos promissores.

Mais tarde, o tronco, a colheita
Na fartura indefinida…
Tudo, a obra generosa
Da cova humilde e esquecida.

Esse símbolo expressivo
Vem lembrar, à criatura,
O campo do cemitério
E o quadro da sepultura.

*

Inda aí, a cova amiga
É sempre o sublime umbral,
Porta aberta ao crescimento
No plano espiritual.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier





O ESTERCO



O esterco que espalha o bem,
Vive em luta meritória;
Se é pobre, tem seu proveito,
Seu caminho, sua história.

Quase sempre, chega aos montes
Dos redis e dos currais,
Escuros remanescentes
Da esfera dos animais.

De outras vezes, vem das zonas
De imundície e esquecimento,
Onde a vida se transforma
Em triste apodrecimento.

Em outras ocasiões,
É detrito das estradas,
Lixo estranho e nauseabundo
Das taperas desprezadas.

É a decadência das coisas,
No resumo do imprestável,
Fase rude e dolorosa
Da matéria transformável.

Em síntese, todo esterco
É derrocada ou monturo,
Que das sombras do passado
Lança forças ao futuro.

Analisando esse quadro,
Veremos que a podridão
Vai ser cor, perfume, fruto,
Doçura e renovação.

Notemos, porém, que a flor
Vibra ao alto, linda e santa,
Enquanto o adubo não passa
Do solo, dos pés da planta.

Na vida também é assim:
O erro, a miséria, o mal
Podem ser algumas vezes,
Esterco espiritual.

*

Todavia, é necessário
Que das lutas, através,
Aproveitemos o adubo,
Esmagando-o sob os pés.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O MÁRMORE



No gabinete isolado
Dos serviços de escultura,
Há muita coisa que ver
Com a vida da criatura.

O mármore chega em bloco
Dos centros da Natureza,
Em trânsito para o campo
Do espírito e da beleza.

É pedra, vai ser tesouro;
É rude, vai ser divino;
Todavia, não se sabe
Quando chega ao seu destino.

Golpe aqui, golpe acolá,
O artista começa a luta,
É o sonho maravilhoso
Amando a matéria bruta.

As arestas vão caindo…
É a carícia do martelo,
Desponta o primeiro traço
Vigoroso, firme e belo.

O cinzel fere e desbasta,
E, às vezes, pede o formão.
O artista prossegue atento
Dando vida à criação.

Golpes fundos, ferimentos…
Mas, eis quando se aproxima
O termo do esforço longo
Na aquisição da obra prima.

Depois, é a jóia formosa,
De valor alto e profundo,
Que as fortunas de milhões
Não podem fazer no mundo.

Esse mármore da Terra,
No fundo, é qualquer pessoa,
O artista, é o tempo, e o cinzel,
A luta que aperfeiçoa.

*

Quando os golpes de amargura
Te cortarem o coração,
Recorda o cinzel divino
Que dá forma e perfeição.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A PÉROLA



Dos trabalhos de conquista
Da fortuna dadivosa,
Destaca-se a pescaria
Da pérola preciosa.

Nem todo mar serve à pesca,
Há nas ostras exceção,
Em verdade, muito poucas
Atendem na seleção.

Extremas vicissitudes,
Trabalhos, perigos, dores,
Tudo isso desafia
O esforço dos pescadores.

Não se pode prescindir
De serviços sobre-humanos,
Com cuidado e intrepidez,
No fundo dos oceanos.

É preciso haver coragem
Estranha a qualquer temores,
No justo desprezo aos monstros
Das zonas inferiores.

A descida no mergulho,
Ao longo do enorme abismo,
Traduz um ato de fé
Que descende do heroísmo.

Mas, depois do sacrifício,
A que o homem se conduz,
Vem a pérola mostrando
Um sonho formado em luz.

Todo o ouro amoedado,
Nos arquivos da avareza,
Não cria esse dom de Deus
Que surge da Natureza.

No esforço do pensamento,
Imita essa pescaria:
No oceano do Evangelho
Há paz e sabedoria.

*

Trabalha, despreza os monstros,
Esquece a dificuldade
E acharás com Jesus-Cristo
As pérolas da Verdade.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O DIAMANTE



No serro desamparado
Que chama ao suor e à luta,
O diamante luminoso
Descansa na pedra bruta.

Por conquistá-lo é preciso
Vencer enorme aspereza,
Eliminando os percalços
Que surgem da Natureza.

Sobretudo, é imprescindível
Estudar todo o cascalho,
Sem desprezar-lhe a dureza
No espírito do trabalho.

Longo esforço, longa espera,
Serviço e compreensão,
Tudo isso é indispensável
Ao bem da lapidação.

Ao preço de luta ingente,
A pedra sonha e rebrilha.
É a divina descoberta
Da gota de maravilha.

Pouca gente lembrará
Que a jóia de perfeição
Constitui a experiência
Dos átomos de carvão.

A princípio, não passava
De míseros fragmentos
De carbono desprezível
Na força dos elementos.

Nas grandes transformações,
Viveu obscura e ao léu,
Mas, agora, é flor de luz,
Refletindo a luz do céu.

Quem não vê na jóia rara,
Sublimada e soberana,
A história maravilhosa
Dos caminhos da alma humana?

*

Nos serros da Humanidade
Que a ignorância domina,
Cada ser guarda o diamante
Da Consciência Divina.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






A LENHA



Essa lenha pobre e seca,
Que se entrega com bondade,
É sugestão do caminho
E exemplifica a humildade.

Já pensaste em seu passado?
Um lenho seco… que era?
Talvez o galho mais lindo
Dos dias da primavera.

Quem sabe? talvez um tronco,
Terno abrigo nos caminhos,
Um palácio nobre e verde
De flores e passarinhos.

No entanto, em missão de auxílio,
Com santa resignação,
Não se nega a cooperar
Nas máquinas de carvão.

Em noite chuvosa e fria,
Ela é a doce companheira
Que aquece as recordações,
Crepitando na lareira.

Ao seu calor, os mais velhos
Acham prazer na lembrança;
Os mais moços a alegria
De comentar a esperança.

Morrendo animosamente,
Em chamas de luz e graça,
Ela sabe que é de Deus,
Por isso trabalha e passa.

Se viveu rindo e cantando,
Entre seivas e prazeres,
Com os mesmos encantamentos,
Cumpre os últimos deveres.

Ah! quão poucos na jornada
Convertem reminiscências
Em calor, vida e perfume
De novas experiências!…

*

Mas chega o dia em que o homem,
Sem combater, sem negar-se,
Precisa, como essa lenha,
Da coragem de apagar-se.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier






O TIJOLO



Dos serviços da olaria,
Onde há lama em desconsolo,
É justo aqui salientar
As sugestões do tijolo.

Barro pobre e ignorado,
Extraído em baixo nível,
A princípio não parece
Mais que lama desprezível.

Batido, dilacerado,
Ao peso do amassador,
É pasta lodosa e humilde
Do subsolo inferior.

Após o rigor imenso
De luta grande e escabrosa,
Levado ao forno candente,
Sofre a queima dolorosa.

Apagado o fogo rude,
O tijolo pequenino,
Embora a modéstia enorme,
É retângulo divino.

Saiu da lama humilhada,
Foi pisado de aspereza,
Foi queimado, mas agora
É base de fortaleza.

Apesar da pequenez,
É a nota amiga e segura,
Que constrói bondosamente
A casa da criatura.

É a bênção, filha do pó,
Que as fornalhas não consomem,
É terra purificada,
Servindo de abrigo ao homem.

Procura, amigo, entender
Este símbolo profundo:
Não te esqueças do trabalho
Na olaria deste mundo.

*

Tão logo purificares
O barro inferior do mal,
A experiência é o tijolo
Em tua casa imortal.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier