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O VENTO



Quando passes no meu caminho
Dando luz ao pensamento,
Não deixes de meditar
Na doce missão do vento.

Quem lhe imprimiu tanta força?
Donde vem? De que maneira?
Parece o sopro do céu
Alentando a sementeira.

Une as frondes amorosas,
Acaricia a ramagem,
É um fluido caricioso
Amenizando a paisagem.

É o mensageiro bondoso
Da alegria e da abundância,
Trocando os germes da vida,
Vencendo a noite e a distância.

De outras vezes é um amigo
Com fraternas exigências,
Que pratica nos caminhos
Profundas experiências.

Se a flor é infiel à seiva
Que lhe deu força e guarida,
O vento condu-la ao chão,
Só deixando a flor da vida.

Seu papel na natureza
Vai da vida à seleção,
Permutando os germes puros
Das sementes de eleição.

Também, na vida da Terra,
A função do sofrimento
Parece identificar-se
Com os fins da missão do vento.

Troca ele as nossas almas,
Mata as flores da ilusão,
Refunde os nossos valores
Em nova fecundação.

*

O turbilhão de amargores
É mais vida envolta em véus
Povoando a nossa estrada
Com os germens da luz dos céus.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O MAR



Na expressão profunda e viva
Das forças da Natureza
Eis que o mar a tudo excede
Em formosura e grandeza.

Nos seus abismos trabalham
Milhões de laboratórios,
De onde nascem para a vida
As larvas e os infusórios.

As almas se modificam,
Renova-se o esforço humano,
Mas é sempre inalterada
A oficina do oceano.

Desde os primórdios do tempo
De sua edificação,
A sua finalidade
É a força da criação.

Foi nas águas generosas
De seu seio almo e fecundo,
Que alcançaram nascimento
As formas de todo o mundo.

Depois de sagrar a vida,
Eis que opera em todo o dia,
Fazendo as nuvens da chuva,
Que alenta, renova e cria.

Deus concedeu-lhe a grandeza
De ser profundo e inviolável,
Protegendo-lhe a missão
Do equilíbrio inalterável.

Com a sua dominação
Esplêndida e solitária,
É fator de ordem perfeita
De toda a lei planetária.

É o testemunho fiel,
De Deus em nossa existência,
Dando o ensino da equidade
Que nasce da providência.

*

Mas se pode demonstrar
Tão grande revelação,
É que o lugar onde os homens
Não podem meter a mão.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O TRONCO E A FONTE



Um tronco frondoso e verde
Erguia-se além da fonte.
Perto, o solo pobre e seco,
Longe, as luzes do horizonte.

Certo dia, disse a fonte:
– Dá-me a sombra de teu galho,
O duro chão me consome,
Dá-me teu brando agasalho!…

Respondeu-lhe o tronco antigo:
– Vem a mim! Serei feliz!…
Serás a seiva da seiva
Que me alimenta a raiz.

Desde então, o tronco e a fonte
Uniram-se a plena luz
Da grandeza que dimana
Da bondade de Jesus.

O tronco reconheceu,
Vibrando de terno amor,
Que a fonte era a mãe bondosa
De sua seiva interior.

E a fonte viu nele o pai
De sua imensa alegria,
Repousando em sua paz
Nas lutas de cada dia.

Desde então, cantaram hinos
De hosanas ao criador,
Entre frutos dadivosos
Na estrada cheirando à flor.

À raiz, a água da vida
Levava consolação;
E o tronco elevou-se ao Céu
Com a fonte no coração.

Houve sol e sombra amiga,
Flor e frutos na ramagem;
Cantigas de passarinho,
Harmonizando a paisagem.

*

Duas almas que se irmanam
Na luz dos afetos seus,
São esse tronco e essa fonte
Guardados no amor de Deus.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O LAGO



Todo lago tem seu nível.
Qualquer um, raso ou profundo,
É patrimônio a dispor
Na tábua dos bens do mundo.

A questão toda é saber,
A golpes de paciência,
Utilizar-lhe os proveitos
Com bondade e inteligência.

Diversos homens acusam
As águas estacionadas,
Como poços enfermiços
De forças envenenadas .

Mas, como tudo na terra,
O lago pede, também,
A compreensão de seus donos
Na lei que edifica o bem.

Se recebe o seu auxilio,
Retribui toda a atenção,
Dando vida e movimento
Aos quadros da Criação.

Se alguém lhe defende as águas,
Protegendo-lhe a limpeza,
É um espelho cristalino
Na estrada da natureza.

De dia, trabalha e dá,
Sob os ventos generosos;
De noite, reflete a luz
Dos astros cariciosos.

Mas, a fim de ser mantido
No esforço nobre e fecundo,
É bom que ninguém lhe agite
O lodo que está no fundo.

O lago retrata a vida
Nos quadros em que repousa.
Todo homem tem seu nível.
Para o bem de alguma coisa.

*

Um a um, pedem respeito
Aos seus níveis de existência,
Pois todos guardam consigo
O lodo da experiência.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O GRANDE RIO



Em marcha laboriosa,
No sulco amplo e sombrio,
Profundo e silencioso
Eis que passa o grande rio.

Ao seu seio dadivoso,
Afluem fontes da serra,
Ribeiros de níveis altos,
Detritos de toda terra.

O rio mais elevado
Desce os montes à procura
De sua paz generosa
Na marcha calma e segura.

Por saber harmonizar-se
Nos bens do mais baixo nível,
Conserva toda a imponência
Da grandeza indefinível.

Faz caminhos gigantescos,
Cria povos eminentes,`
É ele quem leva ao mar
As águas dos continentes.

É pai das economias
De todo o humano labor,
Mas quase ninguém se lembra
Dessa dívida de amor.

Que importa, porém? O mundo
É o homem que esquece e cai,
Sem ver a missão do bem,
Nas bênçãos do próprio Pai.

O grande rio conhece
A luz desse imenso arcano
Sobre o nível mais humilde
Busca a força do oceano.

Assim também a alma grande,
Nas últimas posições,
Recebe as ânsias de paz
De todos os corações.

*

Em dores silenciosas,
É o grande rio que vai,
Dando o bem a todo o mundo,
Em busca do amor do Pai.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O RIBEIRO



Entre os bens da Natureza,
Tem o homem, cada dia,
No ribeiro claro e manso
Lições de sabedoria.

Ei-lo que passa sereno,
Em doce fidelidade,
Dá vida aos paióis do campo,
Conforta e limpa a cidade.

Busca as terras desprezadas
Que nunca tiveram dono,
Atende as raízes tristes,
Deixadas ao abandono.

Converte toda tarefa
Num dom gratuito e suave,
Mata a sede da serpente,
Como o faz à flor e à ave.

Cumprindo o labor de sempre,
Nunca cessa de correr,
Ensina a perseverança,
Exemplifica o dever.

Se a chuva lhe traz a enchente,
Vai além da obrigação,
Busca a terra deserdada
E lhe ensina a dar mais pão.

É tão sereno e bondoso,
Tão amigo e tão perfeito,
Que não se nega a ajudar
A mão que lhe muda o leito.

O ribeiro carinhoso
Não cessa de trabalhar,
Parece o semeador
Que saiu a semear.

E vendo que Deus é o dono
Das sementes multifárias,
Nunca volta no caminho
As contas desnecessárias.

*

Ao homem do mundo inquieto,
O ribeiro calmo ensina
Como agir e confiar
Na Providência Divina.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O PÂNTANO



É um quadro sempre inquietante
Que inspira pena e cuidado
Quando vemos no caminho
O pântano abandonado.

Enquanto, em redor de si,
Há cantos que a vida entoa,
Ele espera ansiosamente
O esforço que aperfeiçoa.

Todo o ar é pestilento
Em sua fisionomia,
Nos seus bancos lamacentos,
Ninguém descansa ou confia.

Muitos poucos se aproximam
Do barro de sua imagem;
É ferida cancerosa
No organismo da paisagem.

Mas, um dia, o lavrador
Dá-lhe atenção, dá-lhe drenos,
E o pântano desolado
É o melhor dos seus terrenos.

Onde havia lodo e lama,
Águas sujas e amargosas,
Os legumes são mais ricos,
As flores mais perfumosas.

Essas terras desprezadas,
Tão pobres e desiguais,
Ensinam, em toda parte,
Que Deus é o melhor dos pais.

Entre as quedas dolorosas,
Nos erros e nos desvios,
Nós somos, na Criação,
Pontos tristes e sombrios.

Nossa ideia de virtude,
A mais bela em sentimento,
É a que nasce nos monturos
Da lama do sofrimento.

*

Deus, porém, que é o Pai Amigo,
Jamais nos deixou a sós,
Jesus é o bom lavrador,
E o pântano somos nós.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A EROSÃO



Quem busca na paz do campo
Os bens da contemplação,
Costuma encontrar, por vezes,
As surpresas da erosão.

Dos cumes da paisagem,
Eis que a visão descortina
Horizontes luminosos
Na vastidão peregrina!

Em torno rebentam flores
Nas folhagens perfumosas,
Entre as árvores e os ninhos
Sopram brisas buliçosas.

Misturando-se , à verdura,
Há caminhos de enxurrada,
Formando abismos escuros
Na terra dilacerada.

Em derredor, tudo é glória
Do campo verde e florido;
Céu de anil, promessa e luz,
Mas o solo está ferido.

Somente à custa de esforço,
De luta excessiva e estranha,
É possível reparar
As ulceras da montanha.

É um quadro que faz lembrar
As almas de grande altura,
Que, embora a ciência e o brilho,
Tem abismos de amargura.

São montes iluminados
De sonho e conhecimento,
Mas, degradados por vezes,
Nos planos do pensamento.

Recebem, da luz de Deus,
Dons sublimes e infinitos,
Mas se deixam avassalar
De enxurradas e detritos.

*

Quem guarde na intimidade
Tais feridas de erosão,
É que vive sem defesa
Nos campos do coração.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier




O CUPIM



Causa pena olhar o campo
Quando pobre de verdura,
Sofre a terra a intromissão
Do cupim que a desfigura.

Debalde a vegetação
Se estende em ramaria,
O solo não apresenta
A mesma fisionomia.

O cupim obstinado
Multiplica-se em rebentos,
Parece que o chão se cobre
De tumores pustulentos.

Em vão, a chuva convida
Às forças de produção,
Debalde o Sol traz a luz
De paz e renovação.

Não faltam bênçãos do Céu
Que atendam aos dons da vida,
Mas a terra permanece
Desolada e ressequida.

O cupim vai provocando
Estrago, calamidade,
E o campo mostra ruínas,
Miséria, esterilidade.

Às vezes são necessários
Muito esforço, muitas dores,
Por expulsar a família
Dos insetos invasores.

Sem trabalhos decididos
Por parte da agricultura,
O cupim transforma a terra
Numa extensa sepultura.

Lembremos, vendo esse quadro
Da esfera dos lavradores,
As almas avassaladas
De idéias inferiores.

*

Sê forte em qualquer trabalho,
Cada luta é uma lição.
Tristezas e desalentos
São cupins no coração.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A MONTANHA



Dentre todas as paisagens,
Talvez a mais bela e estranha,
É aquela que se observa
Na solidão da montanha.

Dura e estéril muitas vezes,
Deserta, triste, empedrada,
A montanha nos parece
A terra amaldiçoada.

Entre as rochas do seu corpo,
Florescem cardos somente,
Flores rudes e espinhosas
Da soledade inclemente.

Seus píncaros elevados,
Na figura da paisagem,
Chamam somente a atenção
Do espírito de coragem.

Comparada ao movimento
Do vale em relva macia,
Fornece a impressão penosa
Da aridez e da agonia.

Entretanto, em todo tempo,
É a sua força que encerra
O amparo cariciosa
Aos vales de toda a Terra.

Sem sua dureza agreste,
Repleta de solidão,
As planícies morreriam
Por falta de proteção.

É ela a mão silenciosa
Da energia que produz;
No seu cume nunca há sombras,
Seu dia inteiro é de luz.

No mundo, as almas do amor,
Mais sábias, mais elevadas,
São montanhas que parecem
estéreis e desprezadas.

*

Todavia, é o sacrifício,
De sua desolação,
Que sustenta em toda a vida
Os vales da evolução.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier