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A PODA



Quando é necessário ao campo
Produção forte e fiel,
Não se pode prescindir
Da poda quase cruel.

É dolorosa a tarefa
Que se comete ao podão,
Não só nos tempos de inverno,
Como em tempo de verão.

No pomar esperançoso,
Na vinha feita em verdura,
Há dores indefiníveis
Que nascem da podadura.

Velhos ramos opulentos,
Dilacerados ao corte,
Despenham-se amargurados,
Vencidos de angústia e morte.

Esforça-se a podadeira
No galho que cede a custo,
E as frondes carinhosas
Parecem tremer de susto.

Muita vez, toda folhagem
Sucumbe, desaparece,
Nobres hastes mutiladas
Dão mostras de mãos em prece.

Mas, depois, findo o tormento,
Passada a grande agonia,
Vem a luz da primavera
Nas colheitas de alegria.

Tudo é festa de beleza,
Abundância, fruto e flor,
Devendo-se tudo a bênção
Da poda que trouxe a dor.

Necessita-se igualmente,
No campo das criaturas,
Das podas em tempo calmo,
Em tempos de desventuras.

*

Nas fainas da luta humana,
O sofrimento é o podão:
Não te furtes à grandeza
Das leis de renovação.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A CAPINA



Nos serviços de defesa
Da semente que germina,
Não se pode descuidar
Dos trabalhos da capina.

Em torno à planta que nasce
No escuro lençol do chão,
Surgem ervas venenosas
Formando comprida esteira
Tentando a sufocação.

Crescem fortes, espontâneas,
Nocivas e desiguais,
Formando comprida esteira
De grosseiras ervaçais.

Alastram-se em toda parte…
São verduras traiçoeiras
E, se vivem conformadas,
Dominam a roça inteira.

Que o lavrador cuidadoso
Jamais se esquive à atenção,
Trazendo-lhe, decidido,
A justa eliminação.

Ainda que mostrem flores
Entre os ramos de alegria,
Que todas sejam tratadas
A lâmina da energia.

Enquanto o grão não se forme
Para a colheita madura,
Capine a enxada ao redor,
Tão atenta, quão segura.

De outro modo, o mato inútil,
Vadio, cruel, sem nome,
Rouba grelos promissores,
Deixando ruína e fome.

Assim no mundo, igualmente,
Quem deseje o nobre dom,
Destrua dentro de si mesmo
Todo impulso menos bom.

*

Cultiva diariamente
A vida elevada e sã:
Não te esqueças da capina
Se queres fruto amanhã.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O VOO



Aos que aprendem no silêncio,
Sem sombras e sem entraves,
Há sempre grandes lições
No voo comum das aves.

Todas elas têm nas asas
Um dom formoso e excelente,
Mas cada grupo utiliza-o
De maneira diferente.

Recordemos que a avestruz,
Exemplo que mais destoa,
É a maior das grandes aves,
Muito bela, mas não voa.

As galinhas igualmente,
Queridas e admiradas,
Se voam alguns segundos,
Caem trêmulas, cansadas.

Os patos, perus e gansos,
De grande conformação,
Toleram somente os vôos
Que as arrastem junto ao chão.

Os corvos pairam no alto,
Mas o abutre da preguiça
Aproveita a elevação
Para a busca de carniça.

As andorinhas, porém,
Librando no azul da esfera,
Esquecem o inverno e a lama,
Procurando a primavera.

A pomba bondosa e terna
Sobe, sobe, além dos montes,
E presta serviços nobres
Devorando os horizontes.

Entre os homens, vê-se o mesmo,
Nos caminhos da existência;
A ninguém falta na terra
As asas da inteligência.

*

Há, porém muita avestruz,
Muitos corvos e galinhas,
E em todo o lugar são raras
As pombas e as andorinhas.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A ÁGUA



Água santa, benção pura
Das bênçãos celestiais,
Que o Senhor te multiplique
Os doces mananciais.

Água que lavas o corpo
De todas as criaturas,
És a fonte de bondade
Que dimana das alturas.

Sangue vivo do planeta,
Na forma que aperfeiçoa,
Nos campos do mundo inteiro
Toda a terra te abençoa.

O teu impulso amoroso
É vida, perfume, essência,
És em todos os recantos,
Mãe das forças da existência.

Por ti, há pomares fartos,
Doçuras no lar que abriga,
Ventos frescos no deserto,
Orvalho na noite amiga.

Água tranqüila e bondosa
Que acaricia o sedento,
Lavas manchas, lavas sombras,
Desde o solo ao firmamento.

Aclaras a imensidade,
Na borrasca, no escarcéu,
Circulas em toda a terra,
Depois de voltar ao céu.

Água santa, irmã da paz,
Da abundância, da limpeza,
Garantes o dom da vida
Nas luzes da Natureza.

Doce bem da Divindade
Que envolve os lares e os ninhos,
És a terna mensageira
Do amor de Deus nos caminhos.

*

Em todo o lugar do mundo,
Haja paz, haja discórdia,
És a benção paternal
Da Eterna Misericórdia.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A ENCHENTE



O quadro é lindo e imponente
Na calma da natureza,
A massa d’água é mais bela,
Mais suave a correnteza.

O rio enorme extravasa,
Conquistando as cercanias,
Encaminha-se às baixadas,
Desce às furnas mais sombrias.

A torrente dilatada
Estende a dominação,
Refresca e fecunda o solo
Nas zonas de plantação.

Mas, em haurir-lhe a grandeza,
Os bens, a virtude, a essência,
Precisa-se em toda parte
Muita luta e previdência.

Aterros, diques, cuidados,
Trabalhos e sacrifícios,
Todo esforço é necessário
Por colher-lhes os benefícios.

Sem isso reduz-se a enchente
Às grandes devastações,
Ameaças, lodo e vermes,
Mosquitos, flagelações.

A abundância generosa
Foi vista e considerada;
Entretanto, a imprevidência
Guarda a lama envenenada.

Reconhecendo a beleza
Deste símbolo profundo,
Podemos ver no seu quadro
Muita gente deste mundo.

O poder, a autoridade,
A fortuna, a inteligência,
São enchentes dadivosas
Da Divina Providência.

*

Mas, se o homem não vigia,
É várzea que inspira dó.
A abundância não lhe deixa
Mais que lodo, lixo e pó.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A PRAIA



Mar revolto. Sombra densa,
Ao longo da vastidão.
Vibra a angústia em cada rosto
Na frágil embarcação.

O vento sopra de rijo
Espalhando a tempestade,
As ondas são monstros verdes
No dorso da imensidade.

Dolorosas inquietudes,
Amarguras, nervosismos…
Céu e mar desesperados –
É o choque de dois abismos.

Não mais bússolas, nem velas,
Tudo horror, trovões e vento,
Só resta, entre vagalhões,
O esforço do salvamento.

Ninguém define a distância
E o mais lúcido, o mais forte,
Mergulha-se em pensamento
Nos caminhos para a morte.

É quando a costa aparece,
Trazendo nova esperança.
É a mensagem carinhosa
Dos planos de segurança.

Que alívio dos viajores,
Cansados de sofrimento!…
Eis que a praia simboliza
A luz dum renascimento.

Ao seu lado, volta a calma,
Extinguem-se a sombra e a dor,
Renova-se a confiança
Na esfera superior.

Esse quadro nos recorda
O mundo desesperado,
Que parece muitas vezes,
Grande mar encapelado.

*

Mas todo cristão sincero
É uma praia apetecida,
Onde há paz e segurança,
Caminho, verdade e vida.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O OÁSIS



Em torno, o despovoado,
Os lençóis de areia ardente…
O viajor vive o seu drama
Doloroso e comovente.

Nenhuma vegetação,
Nem a benção de uma fonte,
O quadro é desolador,
Embora a luz do horizonte.

Cansado de sede e fome,
Sofre e sua, sonha e chora,
Desde a aurora rutilante
Às promessas de outra outrora.

Pede em vão, suplica a esmo,
No auge das aflições,
Guardando nalma ansiedades,
Angústias, recordações.

O vento levanta a areia,
Desfigurando as paisagens,
E o pobre sorri chorando
Na carícia das miragens.

Concentra-se, avança mais,
Quase morto de alegria;
Contudo, desfaz-se a tela
Dos planos da fantasia.

Arrasta-se amargamente,
Ralado de desventura,
Mas, na última esperança,
Surge um canto de verdura.

É o oásis que o Senhor,
Atento à nossa viagem,
Mandou para os caminheiros
Que persistam na coragem.

Nos trabalhos deste mundo,
Em rumo obscuro, incerto,
Muita vez encontrarás
Inclemências do deserto.

*

Deus vela. Prossegue a luta,
Sem lamento, sem gemido…
Atingirá, talvez hoje,
O oásis desconhecido.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



O VAU



Por benfeitor venerável,
No seio da natureza,
Rola o rio caudaloso
Escondendo a profundeza.

Enquanto busca reserva,
Guardando seu próprio leito,
Ninguém se arrisca à passagem
Sem cuidado e sem respeito.

O rio jamais se nega
A ceder na travessia,
Mas todos se acercam dele
Com a máxima cortesia.

Socorrem-se os viajantes
Do auxílio de embarcação,
E espera-se a ponte amiga
Como justa construção.

Mas, se um dia, por descuido,
O rio apresenta o vau,
Ai dele! O destino agora
É triste, amargoso e mau.

Ninguém lhe receia as águas
Noutro tempo respeitadas;
Invadem-nas cavaleiros,
Carros, toras e boiadas.

As correntes que eram puras,
E amadas por justa fama,
Rolam sujas e insultadas
De lodo, de lixo e de lama.

A ponte dorme em projeto
E o rio, embora a beleza,
Depois que exibiu o vau,
Nunca mais teve defesa.

As nossas almas também
São como o rio profundo…
A zona de intimidade
Precisa ocultar-se ao mundo.

*

O mal quer turvar-nos sempre.
Vigia, resiste e vence-o.
Se queres respeito e paz,
Não te esqueças do silêncio.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A NUVEM



Céu sereno luminoso,
Entretanto, avulta em cima
Um ponto sombrio e triste –
É a nuvem que se aproxima.

Quem mirar o firmamento,
Descansando a luz do olhar,
De súbito, experimenta
Doloroso mal-estar.

Dilata-se o ponto negro,
Em todo o céu que se altera,
O calor é intolerável
Na pressão da atmosfera.

A planta parece aflita,
Mergulhada em solo ardente.
O vento para. O caminho
Sufoca penosamente.

Vem a nuvem dividida
Em vastíssimos pedaços,
Atritam-se os elementos
Em confusão nos espaços.

Em breve, porém a chuva,
Em gotas cariciosas,
Mata a sede das raízes,
Lava as pétalas das rosas.

As folhas ganham verdura,
A estrada se modifica,
É a seiva do céu que cai,
Profusa, bondosa e rica.

Aí, reconhecem todos
Que a nuvem, como ninguém,
Sabia trazer consigo,
A paz, a alegria, o bem.

Assim, a nuvem da vida
Do infortúnio e da desgraça,
Vem sombria e dolorosa,
Chove lágrimas e passa.

*

Um homem, depois das dores,
É mais lúcido e melhor.
Toda sombra de amargura
Traz consigo um bem maior.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier



A CHUVA



Folhas secas. Terra ardente.
Calores. Desolação.
Mas a chuva vem do céu
Trazendo consolação.

Toda semente que é boa,
Entre júbilos germina,
É a bela fecundação
Da natureza divina.

As árvores ganham forças,
Alimpa-se a atmosfera,
A verdura em toda parte
Tem cantos da primavera.

Às cidades, como aos campos,
Aos ninhos, à sementeira,
O pombo níveo da paz
Traz o ramo da oliveira.

Sopra o vento brando e amigo,
Em vagas cariciosas,
Levando a mensagem doce
Que nasce do odor das rosas.

A chuva que cai do alto
É benção que se derrama…
Na flor é orvalho celeste,
No pó do chão faz a lama.

Assim, também, os ensinos,
Que nos dão verdade e luz,
São a chuva generosa
Da inspiração de Jesus.

Cai sobre todos. No amor
É raio de perfeição,
Mas no pó da ignorância
É falsa compreensão.

Deus, porém, que é Pai Bondoso
Entre as leis universais,
Faz com que a lama produza
Sementes, flores, trigais.

*

Eis a razão pela qual
Nossa indigência produz:
Inda mesmo em nossas sombras,
O evangelho é sempre luz.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier