AS DORES REPARADORAS
Se a Terra assim considerada pela Doutrina Espírita como um “mundo de provas e expiações”, onde a imensa maioria dos espíritos a ela ainda jungidos em decorrência da atração vibratória existente, carregam em sua bagagem de experiências pretéritas, altas cargas de erros, equívocos e vícios os mais diversos, estejam estes espíritos que compõem a Humanidade que aqui habita, tanto na carne quanto dela desvestidos, certamente, encontram-se inscritos em um programa de aprendizado evolutivo, visando o autoaperfeiçoamento, através do ressarcimento de débitos ou retificação de roteiros enganosos por meio das provas e expiações, que serão utilizadas como moeda de cobrança, afim de se lhe fixar o aprendizado realizado.
Entretanto, é imperioso lembrar que a cobrança realizada através dos testemunhos provacionais ou das expiações redentoras acontecem somente com aqueles espíritos recalcitrantes e rebeldes, que recusam-se em abandonar ou renunciar aos vícios morais, já que neles se comprazem, sem se permitirem uma mudança de conduta que promova uma reforma íntima e profunda nos valore que cultiva.
Faz parte do conhecimento espírita, que o exercício do amor ao próximo, em qualquer circunstância, desde que feito desinteressadamente, sem outras intenções além de prestar auxílio a quem dele necessita, de forma anônima e sem cobrança de reconhecimento e gratidão da parte daqueles que foram ajudados, mostra que o amor anula os malefícios nascidos das ações que provocaram mágoas, dores, sofrimentos e demais padecimentos impostos aos semelhantes, mesmos que estes sofrimentos não tivessem essa intenção.
As dores, provas ou expiações quando vistas pela ótica da espiritualidade são naturalmente catalogadas como dores reparadoras, a priori, não objetiva uma punição ou penalização para atingir as criaturas que erraram por maldade ou intencionalmente ao seu próximo, porém visa reparar um hábito nocivo, retificar um roteiro equivocado, reeducar uma conduta prejudicial, alertar uma postura tendenciosa, remover algum preconceito, reconsiderar um julgamento precipitado ou esclarecer atitudes agressivas para que não gerem violência ou crueldade, fomentando um ambiente de intrigas ou maledicências, muito distante do exercício do amor e da caridade cristãs.
Certamente, a Terra como escola de educação moral dos espíritos aqui domiciliados, na carne ou fora dela, ainda se movimenta entre provas e expiações, em razão das escolhas infelizes decorrentes do uso abusivo do livre-arbítrio, que se permite todos os excessos sem qualquer disciplina ou censura moral, onde não viceja o mais leve sinal de conhecimento da ética, da lisura de caráter, do autodomínio das paixões subalternas, da amizade respeitosa e da tolerância para com as fraquezas alheias, a fim de que a convivência possa ser salutar, mesmo que haja discordâncias de pontos-de-vista, sem que isso leve a dissidências ou cizânias nas relações do cotidiano.
Jesus ao questionar a conduta dos discípulos, esclarece assim: “Se a tua justiça não for mais perfeita que a das demais”, pergunta em seguida: O que fazeis de especial?
E assim, nos oferece farto material para as nossas reflexões, não apenas nas questões que envolve a justiça, porém, em todas as demais que dizem respeito ao amor e a caridade, pois, se a justiça divina nos alcança, individualmente, através das chamadas dores reparadoras, também somos alvos do amor incondicional de Deus, que nunca nos abandona, entregues à própria sorte, como se estivéssemos excluídos de sua paternidade, condenado sem remissão, sofrendo inapelavelmente sob o acicate de excruciantes dores, posto que o amor que, cobre a multidão dos pecados conforme preceitua as lições de Jesus, vem por intermédio da caridade, sem a qual não há salvação, balsamizar os corações em sofrimentos, luarizando os sentimentos desencontrados e contraditórios, acenando com uma réstia de esperança para que a fé mantenha-se ativa permitindo que aceitemos resignadamente, o cumprimento dos exercícios de Deus em nós, despertando nossa consciência quanto ao real papel da dor em nossas vidas, para que a nossa jornada seja redentora, profícua de lições edificantes, rumo ao aperfeiçoamento moral que nos cabe realizar, a fim de atingirmos a plenitude e a paz.
José Maria de Medeiros Souza, pelo Espírito Espírita, Albino da Santa Cruz.