Ary Brasil Marques
O caso que vou relatar é real e aconteceu com minha própria família. Minha tia Lourdes, irmã de minha mãe, sempre havia morado no interior de Minas Gerais, na cidade de Guaranésia, pequeno município que hoje ainda não alcança 10.000 habitantes. Naquela cidade, tia Lourdes frequentava a Igreja Católica, e tinha verdadeiro pavor de Espiritismo. O pavor era tanto que ela atravessava a rua para não passar em frente da casa de uma mulher conhecida na cidade como espírita, e que tia Lourdes considerava coisa do demônio.
Por volta do ano de 1937, tia Lourdes mudou-se com a família para a capital paulista, indo morar no centro da cidade, na Travessa Nosquese. São Paulo, já naquela época, era uma cidade grande, de mais de um milhão de habitantes, e tia Lourdes não conhecia ninguém.
Minha avó Umbelina, mãe dela, morava em Movimento, e às vezes ia passar dias conosco lá em Alfenas, onde morávamos. A vovó, lá em Alfenas, foi muitas vezes com a Mamãe ao Centro Espírita tomar passe, pois os passes lhe faziam muito bem e ela sempre ficava melhor quando ia ao Centro.
Posteriormente, vovó também se mudou para São Paulo, indo morar com a filha Lourdes. E pedia frequentemente para a filha lhe levar a algum centro para tomar seu passe, uma vez que vovó sempre foi uma criatura doente e necessitava de assistência espiritual. Tia Lourdes, contudo, por medo e desinformação, sempre arranjava uma desculpa e tirava o corpo dos pedidos da mãe. Certo dia, contudo, passando por uma rua central, viu a tabuleta de um centro espírita (Creio que a União Federativa Espírita Paulista), e resolveu, num acesso de amor filial, deixar de lado o medo e levar sua mãe, à noite, para tomar um passe.
Assim fizeram. As duas entraram no salão de reuniões e se postaram na última fileira, quietinhas.
Durante a reunião, lá na mesa na frente da assembleia, um médium (que posteriormente ficaram sabendo se chamar Manoel de Oliveira Cravo), pôs-se a desenhar. Terminado o desenho da figura de um homem, o espírito que ditava o retrato escreveu o seguinte: – À minha filha Maria de Lourdes para tornares mais crente. O teu pai.
Em seguida o espírito pediu ao presidente da mesa que fizesse a entrega do retrato à sua filha Maria de Lourdes, que se encontrava no recinto.
Atendendo ao solicitado, o presidente chamou em voz alta a dona Maria de Lourdes. Minha tia, tremendo de medo, ficou quietinha. Julgou não ser nada com ela. Após alguns instantes de silêncio, o presidente virou-se para o espírito comunicante e lhe disse que não havia nenhuma Maria de Lourdes no recinto. O espírito, então, repetiu o apelo, dizendo ser dona Maria de Lourdes Moreira a pessoa que estava sentada na última fileira, e que era para lhe ser dada como presente a fotografia feita.
Diante da enérgica postura do espírito, tia Lourdes resolveu atender ao convite e se aproximou da mesa. Lá, emocionada, recebeu de presente a fotografia de meu avô, João Noronha Maciel, com seu cavanhaque característico e sua fisionomia inconfundível (Meu avô pareceria hoje com o ator Ednei Giovenasi).
A foto feita pelo espírito é de uma fidelidade absoluta, e pode ser comparada com as fotos de meu avô existentes em casa. E o fato acima narrado foi a porta de abertura para que minha tia encontrasse a maravilhosa Doutrina Espírita com seus esclarecimentos e diretrizes luminosas em torno da vida. A minha entrada para a Doutrina também teve origem nesse fato, pois foi tia Lourdes quem me encaminhou e me deu os primeiros livros doutrinários.
Meu querido avô foi, pois, o mentor amigo que lá da Pátria Espiritual se preocupou com aqueles que aqui ficaram, e veio do túmulo para proclamar que a morte não existe, abrindo para todos nós um caminho de esperanças e de consolações.
SBC, 16/09/1998.