Ary Brasil Marques
O organismo humano possui vários mecanismos de defesa, os quais são acionados automaticamente, no instante mesmo que ele se vê ameaçado por agentes externos. Assim, o espirro, a tosse, a febre, o piscar rápido e milhares de pequenas reações defendem o nosso corpo, protegendo-o contra tudo o que lhe possa ser nocivo.
Da mesma maneira, o trabalho dos leucócitos e a formação de anticorpos e antígenos representa um verdadeiro exército protetor, e a moderna imunologia se utiliza das lições da natureza para a feitura de vacinas que ajudam o organismo na luta contra os vírus, micróbios e outros invasores.
As nossas reações de medo, revolta, ira, etc., são formas naturais de defesa contra os males causados pelos semelhantes e pelo meio ambiente.
Ocorre que todos esses mecanismos de defesa são utilizados em doses adequadas e nos momentos certos, cabendo ao indivíduo, pela sua vontade, evitar que essas formas de defesa venham a se tornar nocivas e prejudicar o próprio organismo.
Por funcionamento deficiente dos meios de defesa, muitas vezes o indivíduo pode ter seu sistema imunológico prejudicado, e muitas doenças hoje desafiam a ciência, como a leucemia, o câncer, a AIDS, etc.
Existem formas de defesa orgânica que atingem nosso corpo, como certas formas de eczema, a asma, a psoríase e outros, que nada mais são do que efeitos da luta do organismo contra o agente externo, muitas vezes representados pela poluição, pela agressividade do ambiente, e por diversos outros fatores.
Os cientistas buscam a cura desses efeitos, mas dificilmente conseguem atingir a causa, não conseguindo assim eliminar os problemas.
No relacionamento com nossos semelhantes, duas correntes opostas mostram maneiras diferentes de agir, ambas procurando o melhor para cada um de nós. Uma delas, alicerçando seu ponto de vista na existência de duas entidades diferentes, sendo uma o corpo físico e a outra, a verdadeira sede da vida e da inteligência, o espírito imortal, e seguindo o caminho da tolerância, paciência e amor a todos os semelhantes preconizados pelo Cristo, recomenda a aceitação de tudo aquilo que nós não podemos mudar, como sabedoria de vida e norma de conduta. Isso não quer dizer uma atitude passiva, de aceitação total, pois temos que lutar com todas as nossas forças para mudar o que pode ser mudado, sendo porém lógico que a revolta, a briga contra forças superiores ou alheias à nossa vontade, representa uma verdadeira luta contra os moinhos de vento de Dom Quixote, e inúteis por isso mesmo. Diz-se que a diferença entre um craque de futebol e o cabeça de bagre é que o primeiro só molha a sua camisa quando sabe, pela sua experiência de craque, que terá sucesso no lance, enquanto o segundo se esfalfa em loucas correrias inúteis, gastando suas energias e não conseguindo resultado.
A outra corrente, representada na atualidade por uma ala de psicólogos, preconiza a reação, a revolta, a agressividade, a liberação dos instintos, dando vasão ao funcionamento sem reservas e sem censura dos meios naturais de defesa, dando prioridade ao egoísmo, em primeiro lugar eu, depois os outros.
Tal maneira de pensar, quando não caminha para os excessos que tornam a pessoa uma ilha de ódio, rancor e irritação, chega até a ser benéfica, mesmo porque todas as coisas têm dois lados e o melhor sempre é não radicalizar nem de um lado nem de outro; o melhor ‚ achar um denominador comum de equilíbrio para que possamos agir sempre com bom senso.
Analisando com serenidade, de longe, pessoas que utilizam as duas correntes de ideias, vemos que a primeira ainda é a que dá ao indivíduo maior segurança, mais calma para vencer os obstáculos, principalmente porque a segunda mata a esperança, torna as pessoas amargas e pessimistas, e contrariamente ao que se propala, são as segundas as pessoas que mais se omitem, não passando nunca para ação e ficam sempre nas reclamações. São infelizes e não fazem questão nenhuma de agradar os outros, fechando-se em um mundo particular e conseguindo, com o tempo, afastar os outros do convívio que não têm a menor intenção de manter. Na política, por exemplo, vemos que os primeiros procuram escolher o melhor candidato e são atuantes no sentido de tentar melhorar o que reconhecem está cheio de erros, mas sem generalizar. Os segundos, ao contrário, acham que está tudo errado, que ninguém presta, e se omitem na solução dos problemas, limitando-se a esbravejar, reclamar e xingar.
Analisando-se ainda os efeitos danosos de tal procedimento no seu próprio organismo, verificamos que os mesmos se agigantam ainda mais, o que não ocorre com os primeiros, que com o uso racional da aceitação conseguem, se não eliminar os referidos efeitos, pelo menos conviver com eles em nível aceitável, mantendo-se otimistas e felizes, pois sabem que cada um colhe, ao longo do caminho, aquilo que plantou, e que culpar os outros não vai resolver problema algum, o que resolve é agir, agir positivamente, acreditar, trabalhar. No futuro, a união dessas duas correntes possibilitará a postura adequada para cada caso, sem excessos, e as pessoas darão igual importância ao que é seu e ao que‚ de seu semelhante, com a implantação incondicional da Lei do Amor, cuja lei, é claro, deve ser iniciada por nós mesmos, pois se não soubermos amar a nós próprios não saberemos amar aos outros. Agindo assim, daremos a nós os meios de vencer as dificuldades ambientais e de relacionamento, e teremos mais facilidades em utilizar os recursos naturais de defesa, melhorando com isso nossa saúde física, mental e espiritual.
SBC, 08/04/1998.