Francisco Valdomiro Lorenz
Às 13 horas de 24 de maio de 1.957, na cidade de Porto Alegre (RS), regressou à Pátria espiritual o nosso venerando Irmão, nascido na pequena aldeia de Zbislav, perto da cidade de Tcháslav, na Boêmia, no dia 24 de dezembro de 1.872, mas que adquiriu cidadania brasileira e aqui viveu como cidadão utilíssimo durante 64 anos de sua existência.
Filho de pais muito pobres, sem recursos para estudar nem meios de comprar livros, a imensa cultura de Lorenz não poderia ser compreendida sem a doutrina das encarnações sucessivas e da mediunidade superior. Ele chegou a possuir bem oitenta idiomas diferentes, do Ocidente e do Oriente, antigos e modernos, inclusive o velho sâncristo, do qual fez a maravilhosa tradução de “Bhagvad-Gitá”, em versos no mesmo ritmo original. Seu conhecimento da língua do antigo Egito lhe permitiu preparar um livro pasmoso para a nossa Federação, intitulado “A Voz do Antigo Egito”.
Seu primeiro livro sobre Esperanto foi publicado na Boêmia, em 1.890, com o título “Plena Lernolibro de Esperanto por Cehoj”. Logo depois de publicar esse compêndio, teve que deixar a pátria, onde suas ideias religiosas de espírita e seu ideal de política democrática eram coisas proibidas pelo Governo imperial, católico e reacionário. Para comemorar o jubileu de ouro desse livro, os amigos do poeta fundaram em Santos (SP), no ano de 1.940, o “Grupo Espírita Francisco Valdomiro Lorenz”.
No Brasil, foi habitar em Dom Feliciano, no município de Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul, onde tinha conhecidos. Vivendo num pequeno lugar, sem relações nos grandes centros, ser-lhe-ia impossível publicar um livro sobre Esperanto. Realmente, entre seu primeiro livro e o segundo, decorreram 51 anos. Nesse meio tempo, escreveu em jornais e revistas, e em 1.929, deu a público a importante obra – “Iniciação Linguística”, que lhe granjeou grande autoridade a respeito de assuntos linguísticos.
Só quando a FEB criou sua seção de edições em Esperanto, em 1.937, abriu-se uma Editora para recomeçar ele sua missão espírita-esperantista. Publicou-se então, em 1.941, a coletânea de poemas traduzidos de 40 línguas diferentes, com o título “Diverskolora Bukedeto”; em 1.942, sua tradução de “Bhagvad-Gitá”. Em 1.944, apareceu a primeira coleção de poemas mediúnicos em Esperanto, com o título “Vocoj de Poetoj el la Spirita Mondo”, formado em grande parte por poesias recebidas pelo próprio Lorenz como médium, e outras por ele traduzidas de “Parnaso de Além-Túmulo”. O valor literário desse livro foi posto em relevo por “La Nica Literatura Revuo”, em seu número 5, de 1.956, que transcreveu do livro dois poemetos como modelo de bela poesia.
Refez e permitiu fosse publicado sob seu respeitado nome o livro didático “Esperanto sem Mestre”, editado pela Federação Espírita Brasileira e que já conta inúmeras edições.
Sua última obra de Esperanto foi a “Antologio de Brasilaj Poetoj”, cujo manuscrito foi preparado a pedido da Liga Brasileira de Esperanto.
Em português publicou muitos livros interessantes.
A vida intelectual de Lorenz revelou desde a infância, um Espírito de Alta Esfera, mas não só intelectualmente foi um ideal que todos teremos que lutar por alcançar; moralmente, foi também um modelo e deu exemplos que viverão na lembrança das gerações.
Lorenz nunca poderá ser esquecido.
Três dias antes de sua partida, um de nossos amigos recebeu do Rádio-Roma um pedido de notas biográficas para uma homenagem que o Rádio oficial da Itália lhe iria prestar, pelo fato de ser ele então o mais antigo esperantista vivo. Esses dados foram logo remetidos por via aérea para o Sr. Luigi Minnaja, que dirigia o programa de Esperanto naquela grande estação de rádio. A revista oficial da Universala Esperanto-Asocio publicou, em seu número de maio, que Lorenz era esperantista desde 1.887, por isso a Rádio-Roma lhe prestaria aquela homenagem. Antes, porém, de ser irradiado o programa, já se havia transformado em homenagem póstuma.