Quem não sabe refletir,
Nem sofrer, nem tolerar,
Jamais chega a discernir,
Nem sabe administrar.
Ouvimos de muita gente,
De fraco e de forte siso,
Muita gueixa da memória,
Mas nenhuma do juízo.
Quem pretende algo de bom,
Pelas estradas da vida,
Examine, de hora em hora,
O peso, o tempo e a medida.
Os médicos deste mundo
Remediam cutiladas,
Mas não curam as feridas
De frases precipitadas.
Mal de ti nas alegrias,
Se te ris em catadupa!…
O prazer anda a cavalo
E leva a dor à garupa.
Foge à língua viperina!…
Para o extermínio sem dó,
Contra o esforço de milhões,
Basta a maldade de um só.
Quem se abstém, por vergonha,
De suar em seu dever,
Abstenha-se, igualmente,
De vestir e de comer.
Há muita gente que estima
O culto à legislação,
Para ver o melhor meio
De fugir à obrigação.
Vai devagar, mundo afora,
Foge ao vício de ir e vir.
Mais vale ser alpercata
Que ser coroa a cair.
Quem sabe viver na Terra
Na bênção do pouco em paz.
Muito serve em cada dia,
Muito ganha e muito faz.