O PERDÃO

Ary Brasil Marques
Certa ocasião presenciei um fato muito ruim e preocupante. Um cunhado meu, o Manoel, foi consertar um chuveiro elétrico, de repente deu um grito e ficou grudado no cano. Por sorte, alguém desligou a chave geral da eletricidade da casa e ele se soltou, caindo no chão. Suas mãos ficaram queimadas, e ele só não morreu aquele dia pela ajuda divina.
Esse fato me faz lembrar do perdão. A pessoa que não perdoa fica grudada ao seu ofensor e à ofensa. Não consegue se libertar. E sofre muito quando encontra com seu antagonista, ou quando se lembra dele.
A única maneira de se libertar desse momento infeliz de sua vida é perdoando. Ao perdoar, a pessoa desliga a chave que o prende ao assunto e o solta.
Quando não se perdoa, fica a mágoa, a tristeza, a raiva e muitas vezes o ódio, venenos terríveis que atingem não só o adversário, mas principalmente a nós mesmos. Como resultado dessa prisão, causamos várias doenças em nosso corpo físico.
Quem pensa que o perdão é um ato magnânimo de nossa parte e que favorece o nosso inimigo, está enganado; na realidade o perdão é um ato de defesa própria. Não devemos ficar ligados a situações desagradáveis, a momentos de tristeza e de desavenças. Perdão é esquecimento da ofensa. Perdão é sabedoria. Perdão nos faz evoluir e nos ensina que todos somos ainda imperfeitos e que aquilo que consideramos ofensa a mais das vezes é nosso amor próprio ferido, nosso orgulho sendo posto à prova.
Quando alguém nos ofende, há duas coisas a considerar. Ou o ofensor está enganado no que fala a nosso respeito, ou está certo. Se está enganado, o que ele está dizendo não se refere a nós e não nos atinge, pois não somos o que ele pensa que somos. Se está certo, ele está nos fazendo um favor de nos mostrar o ponto em que estamos errados e isso vai fazer com que melhoremos. Então temos é que agradecer essa pessoa, pois dificilmente recebemos essas informações de nossos amigos, que sempre vêm em nós apenas qualidades.
Além de eliminar os problemas que ficariam em nós caso não perdoássemos, conquistamos um amigo ao fazer isso, pois aquele que é nosso adversário é nada mais nada menos que um irmão querido, em processo de evolução como nós mesmos, e sujeito a falhas e erros como todo ser humano.
A falta de perdão pode levar a muitos casos de obsessão. Isso ocorre quando um dos contendores leva ao desencarnar seu ódio para o plano espiritual e seu adversário fica na Terra, ambos não dispostos a perdoar. Aquele que vai, agora sem o corpo físico, vem muitas vezes obsidiar aquele que fica.
Resumindo, o perdão é uma forma de se praticar o amor aos nossos semelhantes. Todos somos ainda espíritos imperfeitos, e o perdão, a reconciliação, a amizade, deve substituir o ódio e o desamor. Ele nos libertará. Não ficamos amarrados, presos, ao mal e isso nos leva ao bem.

SBC, 01/06/2007.