GRÃOS DA VERDADE



Se pretendes grande prêmio,
Bela vida e boa fama,
Não te faças tagarela,
Nem te demores na cama.

Suporta com paciência
As dores de teu roteiro.
Mais vale a senda espinhosa
Que as mãos de mau companheiro.

Dois dardos arremessamos,
Lacerando o coração:
– O insulto que sai da boca
E a pedra que sai da mão.

Não publiques teu desgosto
Por mais humilde e singelo.
Quando o touro cai na praça
Alguém afia o cutelo.

Cultiva o silêncio amigo.
O tolo que cerra os lábios
Pode ser admitido
Como sábio entre os mais sábios.

Se procuras a alegria,
Sonhando dias serenos,
Pensa muito na jornada,
Fala pouco e escreve menos.

No serviço construtivo,
Guarda a vida bem segura.
Meio palmo de preguiça
Traz dez léguas de amargura.

Quem adota por sistema
Cerimônia e condição,
Começa gozando a paz
E acaba na solidão.

Haja pranto na bigorna,
Haja aspereza no malho,
Ergue o corpo cada dia
Para a bênção do trabalho.

De opiniões tresloucadas
Não te percas ao sussurro.
O burro que vai a Roma
Segue asno e volta burro.

A caridade cortês,
Desconhecida no céu,
Costuma esconder a bolsa
E arregaçar o chapéu.

Quem foge à paz e à bondade
Semeia discórdia e treva.
Toda obra sem amor
É folha que o vento leva.


Do livro “GOTAS DE LUZ” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier